Vingt-un
Nascido em Mossoró, no Estado do Rio Grande do Norte, no dia 25 de setembro de 1920. teve uma vida dedicada ao desenvolvimento da cultura e da educação de sua terra natal. Sua formação educacional começou em 1928, quando iniciou o primário estudando com Egídia Saldanha e Delourdes Leite, para depois concluí-lo no Colégio Diocesano Santa Luzia, em 1931.
Raibrito, Vingt-un Rosado e Dorian Jorge Freire. Imortais.
Na mesma escola cursou o ginasial entre os anos de 1932 e 1936. Após essa fase iniciou o curso de pré-engenharia no Ginásio Osvaldo Cruz, em Recife, nos anos de 1937 a 1938.
Formou-se em Agronomia no ano de 1944, pela Escola Superior de Agricultura de Lavras (atual Universidade Federal de Lavras), Minas Gerais.
Vingt-un
Após a formatura, em 23 de janeiro de 1945, iniciou o sonho de trazer o ensino superior para Mossoró num projeto que resultaria na instalação da Escola Superior de Agricultura de Mossoró (Esam) Vingt-un foi reservista do Tiro de Guerra 42, Mossoró, em 1936, e soldado padioleiro pela Cia Escola de Engenharia, de 1944 a 1945, em Lavras.
De volta a Mossoró iniciou a luta para a criação daquela que viria a ser a Escola Superior de Agricultura de Mossoró (ESAM), em 1967, hoje Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA).
Vingt-un
Antes desse feito, iniciou um outro marco de sua vida com uma progressiva prioridade: a Coleção Mossoroense, que começou a funcionar em 1949 e se tornou uma das maiores editoras de títulos do país, com destaque para as mais de 700 obras que analisavam a temática da seca.
Na luta contra o maior flagelo do sertão nordestino, a seca, ele deu outras duas contribuições, uma delas a luta para a construção das adutoras que viriam a abastecer Mossoró e a descoberta do petróleo que ajudou no progresso da cidade.
No campo da educação, Vingt-un foi professor de matemática e estatística, tanto no ensino ginasial quanto no superior.
Laços familiares
Filho de Jerônimo Rosado, patriarca de uma família de políticos, irmão do ex-governador Dix-sept Rosado, do ex-deputado federal Vingt Rosado e do ex-prefeito Dix-huit Rosado, Vingt-un enveredou para o campo da ciência e da cultura erudita, com destaque para a educação.
O nome Vingt-un, 21 em francês, explica-se pelo fato de o pai dele haver numerado a maioria dos filhos.
Dona América, sua esposa
Casado com a assistente social América Fernandes Rosado Maia, desde 1947, ele trouxe a esposa de Minas Gerais para morar em uma casa de taipa na pedreira de São Sebastião, atual Governador Dix-sept Rosado, uma cidade até então sem energia elétrica e nenhum conforto.
Residência de Vingt-un
Com ela, Vingt-un teve cinco filhos, dos quais quatro ainda vivos: Maria Lúcia, Dix-sept Rosado Sobrinho, Lúcia Helena e Leila Rosado. O quinto filho, Vingt-un Júnior, morreu em 1950, uma semana após o nascimento.
Amor pela escrita surgiu nos anos 40
Jornalista Geraldo Maia e Vingt-un
Em 1940, com apenas 20 anos, Vingt-un ingressou na carreira de escritor, publicando a primeira história de sua cidade. O trabalho recebeu o título de Mossoró com tiragem de 500 exemplares e custou pouco menos de três contos de réis a dona Izaura Rosado Maia, mãe do novo literato e futuro "feiticeiro das letras", como certa vez o chamou o médico e escritor Raimundo Nunes.
Poeta Caio Muniz, D. América e Vingt-un Rosado
A literatura passara a circular em suas veias quatro anos antes da estréia. O garoto se impressionara com uma série de palestras ministradas pelo saudoso historiador Luís da Câmara Cascudo, durante a semana da pátria de 1936, no Colégio Diocesano Santa Luzia (CDSL). Cascudo ali estava a convite do padre Jorge O'Grady de Paiva, diretor do Diocesano.
Vingt-un
No seu livro, o jovem historiador se reportou a uma das passagens mais importantes da história mossoroense, a libertação antecipada dos escravos, como sendo uma "conjuração tipicamente maçônica, gerada e tornada vitoriosa dentro dos muros sagrados da Loja Maçônica 24 de Junho".
France, Bruno, Vingt-un Rosado Maia e Anna Bella Rosado Maia, ...
Baseado nos fatos que apurou acerca da abolição, em 1953 Vingt-un pediu ao irmão Jerônimo Vingt Rosado Maia, então prefeito do "País de Mossoró", que homenageasse a 24 de Junho com uma placa alusiva ao episódio. Vingt, sensível à importância da participação daquela loja no movimento libertário, presenteou-a com uma placa de bronze na qual está escrito: "Aqui nasceu a Abolição".
Vingt-un
Além de inspirador, Câmara Cascudo foi também incentivador de Vingt-un. Certa feita, escreveu uma carta ao novo discípulo fazendo-lhe elogios e encorajando-o a vencer as dificuldades. Dizia Cascudo: "Você está na obrigação de ser o primeiro mossoroense que levantará do olvido (tirará do esquecimento) as tradições de sua grande terra. Vá para diante e não desanime com as ironias dos pessimistas, espécies de lesmas que nem andam e nem admitem que outros andem".
Seis meses sem o mestre Vingt-un Rosado
KALIANNE PEREIRA
Da Redação
Parece que foi ontem, mas completam-se hoje seis meses desde a partida do pesquisador Vingt-un Rosado. Ele deixou Mossoró órfã de sua sabedoria, além de projetos na área cultural.
O impacto causado pela partida de Vingt-un Rosado provocou muitas incertezas no cenário intelectual do Rio Grande do Norte. Mesmo assim, desde então seus seguidores tentam seqüenciar os projetos desse historiador.
De acordo com o editor-assistente da Coleção Mossoroense, poeta Caio César Muniz, existia uma pergunta que pairava sobre a cabeça de todos, mas que ninguém tinha coragem de fazê-la: "O que vai ser da Coleção Mossoroense depois que Vingt-un partir?". Segundo ele, muitos apostavam até no fechamento das portas da Fundação que leva o seu nome e é responsável pela editora criada em 30 de setembro de 1949.
"Eu sabia que haveria uma continuidade deste trabalho tão valoroso. Mossoró e o próprio Estado não deixariam morrer uma luta que na verdade era tão sua, porque, são os grandes beneficiados com este trabalho que Vingt-un realizou ao longo de mais de meio século, muitas vezes sozinho, muitas vezes lutando contra tudo e contra todos", disse.
Prudente e zeloso pela sua Coleção, Vingt-un pediu a Dix-sept Rosado Sobrinho, seu filho, que desse seguimento a este projeto editorial e este, já no dia 23 de dezembro - um dia após o sepultamento de seu pai - reuniu a família e alguns funcionários para traçar os rumos iniciais deste trabalho do qual ele só acompanhara até então, de longe, ocupado que é, com as crianças mossoroenses, futuro do "país de Mossoró".
Caio Muniz explica que os primeiros momentos não foram fáceis, pois todos estavam atordoados, perdidos, sem chão e sem ar. Ele descreve com propriedade os passos iniciais, dados a partir do momento da morte de Vingt-un até agora. A questão naquele primeiro instante era como continuar esta luta sem a influência que o pesquisador tinha, sem a força que seu nome tinha, sem o peso da sua teimosia.
"Mesmo eu, que estava mais próximo de Vingt-un nas lides editoriais, não sabia ao certo pra onde ir. Por muitas e muitas vezes, recebi os livros recém-chegados das gráficas e os coloquei em frente à cadeira de Vingt-un, na cabeceira da mesa, como se ele fosse correr o olho em cima da publicação, como sempre fazia, para certificar-se do trabalho bem executado", fala.
Caio acrescenta que por muitas vezes ouvia o barulho da bengala que lhe apoiava os passos após o almoço rápido, voltando para a biblioteca. "Mas, parece que ele ainda estava ali, naquele ambiente, agora silencioso querendo nos mostrar caminhos, nos pedindo pra ter um pouco de calma porque as soluções viriam, com certeza", enfatiza.
O editor-executivo da Fundação Vingt-un Rosado, Dix-sept Sobrinho, é humilde em afirmar que é "um simples médico" e não tem a cultura do seu pai. "Ele tinha um conhecimento cultural muito grande. Estamos fazendo um esforço danado para dar continuidade a Fundação. Sem ele é muito difícil, é muito difícil de ser substituído", assegura.
Dix-sept acrescenta que Vingt-un apoiava todas as iniciativas ligadas a cultura, pois tinha em mente a necessidade dessa área em ter o seu apoio. Segundo ele, mesmo doente a sua rotina era estar presente nos eventos. "Às vezes ele saia dos eventos direto para a UTI ou mesmo quando saia do hospital era direto para algum evento", disse.
Caio Muniz conclui: "Não sabíamos ainda que seu nome iria permanecer forte, que sua influência iria ultrapassar a barreira do seu tempo e que a sua teimosia agora, como uma doença boa de se ter, havia nos contaminado, claro, em proporções bem menores".
Projetos do pesquisador continuam sendo feitos
O editor-executivo da Fundação Vingt-un Rosado, Dix-sept Sobrinho, informa que o Projeto Rota Batida II, apoiado pela Petróleo Brasileiro S/A (Petrobras), está inacabado necessitando apenas da conclusão do primeiro livro do pesquisador intitulado "Mossoró" que está sendo reeditado - não há modificação em seu conteúdo apenas atualizações gramaticais. A publicação deve ocorrer nas próximas semanas.
Já o editor-assistente da Coleção Mossoroense, poeta Caio Muniz, ressalta que o Projeto Rota Batida II ainda teve o seu acompanhamento em todo o processo de editoração das obras contempladas. Em fevereiro, a Prefeitura Municipal de Mossoró (PMM) renovou convênio que trouxe o alívio necessário naquele instante, em razão das contas que se avolumavam.
"Estamos tocando sem brilho, sem a cultura e o conhecimento dele. Mais com ajuda de pessoas amigas estamos preparando projetos futuros com o impulso dado para continuarmos. Posteriormente o acervo da Coleção Mossoroense será todo catalogado para melhor receber os professores, alunos e pesquisadores que visitam freqüentemente a Coleção. Haverá um trabalho de conservação da biblioteca, documentos e videoteca. Pretendemos ainda criar um memorial", adianta Dix-sept.
O poeta comenta que com um rumo já melhor definido, a Coleção Mossoroense segue, a produção editorial caiu consideravelmente, possibilitando apenas a publicação de obras custeadas pelos próprios autores.
Perguntado sobre como ficou a hierarquia agora na Fundação Vingt-un Rosado, Caio sempre responde que está da mesma forma que antes: "Jerônimo Dix-sept Rosado Sobrinho é o seu diretor-executivo desde a criação; Jerônimo Vingt-un Rosado Maia é, e sempre será, o seu eterno editor e eu, estou ao dispor deles enquanto lhes servirem os meus préstimos como editor-assistente", destaca.
Caio disse ainda que enquanto a Fundação achar que são úteis os seus serviços, ele será o eterno assistente de Vingt-un, com muita honra e muito orgulho, sem constrangimento algum. "Assistente de um dos maiores intelectuais de todos os tempos do Rio Grande do Norte e do Brasil, uma das figuras mais maravilhosas que conheci em toda a minha curta vida e um dos maiores amigos que já possuí é uma honra", complementa.
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