Por José Mendes Pereira
Foto do acervo da Martha Ruas
Segundo Martha Ruas esta foto foi feita no interior da casa de Pedro de Cândido, que foi apontado como traidor de Virgolino Ferreira da Silva, o afamado, sanguinário e rei do cangaço Lampião.
Ex-cangaceira Dulce Menezes
Será Martha Ruas, que a biografia da sua querida mãe já foi feita? Não deixe para amanhã!
Vemos o pilão já meio estragado, que com certeza, dona Guilhermina a mãe de Pedro de Cândido e Durval Rosa pilava seu fubá, e principalmente o café em grão misturado com açúcar.
A
TRAIÇÃO DE PEDRO E A MORTE DE LAMPIÃO
A seguir, material do acervo do pesquisador e colecionador do cangaço Ivanildo Silveira
Segundo o cangaceiro Balão
"Nunca
pensei que Lampião morresse."
Estávamos
acampados perto do Rio São Francisco. Lampião acordou às 5 da manhã e mandou um
dos homens reunir o grupo para refazer o ofício Nossa Senhora. Enquanto lia a
missa, em voz alta, todos nós ficamos ajoelhados, ao lado das barracas,
respondendo "amém" e batendo no peito na hora do "Senhor
Deus
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Terminado o
ofício, Lampião mandou Amoroso buscar água para o café. Mas, quando ele se
abaixou no córrego, veio o primeiro tiro. Havia uma metralhadora atrás de duas
pedras a 20 metros da barraca de Lampião. Pedro de Cândido, um dos nossos,
havia nos traído, e acho que tinha dado ao sargento Zé Procópio até a posição
das camas.
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Numa rajada de metralhadora serrou a ponta minha barraca. Meu companheiro
Merguião, levantou-se de um salto, mas caiu partido ao meio por nova rajada. Eu
permaneci deitado, com jeito coloquei o bornal de balas no ombro direito, o
sobressalente no esquerdo, calcei uma alpercata. A do pé esquerdo não quis
entrar, e eu a pendi também no ombro.
Quando levantei vi um soldado batendo com o fuzil na cabeça de Merguião. De
repente, ele estava com o cano de sua arma encostada minha perna, e eu apontava
meu mosquetão contra sua barriga. Atiramos. Caímos os dois e fomos formar uma
cruz junto ao corpo de Merguião. Levantei-me devagar. O soldado estava morto, e
minha perna não fora quebrada.
Então vi Lampião caído de costas, com uma bala na testa. Moeda, Tempo Duro;
Quinta-feira, todos estavam mortos. Contei os corpos dos amigos. Nove homens e
duas mulheres. Maria Bonita, ferida, escondeu-se debaixo de algumas pedras. Mas
foi encontrada e degolada viva. Não havia tempo para chorar. As balas batiam
nas pedras soltando faíscas e lascas, ouviam-se; os gritos por toda parte, um
inferno. Luis Pedro ainda gritou: "Vamos pegar o dinheiro e o ouro na
barraca de Lampião".
Não conseguiu, caiu atingido por uma rajada. Corri
até ele, peguei seu mosquetão e, com Zé Sereno, consegui furar o cerco. Tive a
impressão de que a metralhadora enguiçou no momento exato. Para mim foi Deus.
No rancho do Minduim encontramos os cangaceiros: Cobra Verde, Novo Tempo,
Candeeiro, todos feridos. De lá fomos para a Fazenda Cuiabá. , Muitos se
entregaram. Eu resolvi seguir com um grupo, para Pinhão, onde estava Corisco.
Mas no caminho fomos cercados pela: forças do sargento Zé Luis. Os cangaceiros
Cruzeiro, Amoroso, Zé de Vera foram mortos.
Consegui esconder-me ate escurecer e então comecei a descer, seguindo o rio. Os
soldados, porém, não haviam desistido logo eu os senti na minha pista Resolvi
tentar driblá-los. Voltei e consegui outra vez furar o cerco No caminho
derrubei um soldado que gritou, antes de morrer: "Pelo amor de Deus, eu
não tenho culpa!" Depois contei mais de quinhentos buracos de bala, na
minha roupa e nos bornais.
Como é que gente não morre?
Em Pinhão encontrei Corisco, Zé Sereno e Anjo Roque. Corisco era chamado
também, de Diabo Louro; brigava muito. Nunca si entregou. Zé Rufino o matou. E
como são as coisas: Dadá, mulher de Corisco, foi quem mais tarde colocou a vela
nas mãos de Zé Rufino, que morreu pedindo perdão.
O descanso da guerra na cidade grande:
— Estávamos cansados de brigar. Ficamos nos divertindo em Pinhão, passeando
dançando. Era a despedida - íamos nos entregar. Fomos bem recebidos em
Jeremoabo, pelo capitão Aníbal. Não ficamos presos, mas apenas detidos. O
capitão Aníbal era nosso amigo e algumas vezes chegou a desviar as volantes
para evitar um encontro. Tive até privilégio de ter até um ordenança, à minha
disposição, chamado Doutor.
Depois de soltos, tivemos de nos acostumar aos poucos com a civilização. Nas
caatingas de Sergipe vi pela primeira vez um zepelim. Parecia um fim de mundo.
Nesse tempo, em 1939, diziam que o mundo todo estava em guerra, e eu me
apavorei: "Corre, gente, é um bombardeio".
Todos se esconderam numa moita de mucunã. Numa cidade, Anjo Roque não deixou um
homem ligar o rádio perto de bando: “Essa máquina é de prender, vai nos
deixar sem movimento!"
Viajei muito. Trabalhei em Minas, como pagador da estrada de ferro. Um serviço
perigoso na época, mas nenhum assaltante se meteu comigo. Depois morei muito
tempo em Marília, no interior de São Paulo, e finalmente vim para a capital. Há
algum tempo comecei a trabalhar numa construção. Tomava o trem às três e meia
da madrugada e entrava no serviço as oito na Lapa. Havia perigo de desabamento,
no poço que estávamos cavando, e eu já avisara o engenheiro. Mas ele não ligou.
Um dia aconteceu: veio tudo abaixo. Eu, que enfrentara tanto fogo sem sofrer um
arranhão, quebrei a espinha, cinco costelas e perdi oito dentes. A espinha
nunca mais sarou. Tenho a impressão de estar com ela atravessada por uma porção
de agulhas. Segundo o advogado do INPS, a firma, terá de me indenizar.
Até agora,
nada, e já faz um ano.
Mas vou
deixando. Eu sou caboclo, não me afobo, eu espero.
Esse depoimento do "Balão" é muito interessante, pois traz muitas
informações importantes, sobretudo s/ o combate de Angicos, local da morte de
Lampião.
Um abraço a todos e obrigado pela atenção.
Ivanildo Silveira
NATAL/RN
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