Por: José Edilson
de Albuquerque Guimarães Segundo e Edimar Teixeira Diniz Filho
Capela de Nossa Senhora da Conceição
Um dos bairros
mais antigos de Mossoró, o Alto da Conceição, está situado na região sul da
cidade, sendo um dos bairros mais populosos. Era conhecido por outras
denominações, como Alto da Mariseira, Mariseira dos Macacos e Alto dos Macacos.
Registros do século XIX descrevem a citada região como uma área de mata fechada
habitada por macacos ferozes. No final do século XIX, mais precisamente no dia
3/12/1896, em uma reunião na casa do professor da rede municipal de ensino
Manuel Antônio de Albuquerque, e por este presidida, e ainda formada por Manoel
Francisco de Borja, Silvério José de Morais, deliberou-se oficialmente pela
mudança de nome, passando a chamar-se de Alto da Conceição.
A Capela de
Nossa Senhora da Conceição
Foi também na
residência de Manuel Antônio de Albuquerque onde aconteceram ações religiosas
que motivaram o fervoroso educador católico ao movimento em prol da construção
de uma capela
em homenagem a Nossa Senhora da Conceição. A pedra fundamental da capela
foi lançada em
uma solenidade realizada no dia 7 de novembro de 1897, pelo Padre João Urbano
de Oliveira (1828-1904), auxiliado pelo Sr. Francisco Izódio1. Para tanto,
ficou constituída uma comissão responsável pela edificação do templo, formada
por Silvério
José Morais
(tesoureiro), José Antônio de Morais, Manoel Alves Tibão e Luiz Firmino de
Oliveira. Existiu ainda a colaboração de comunitários, com destaque para Manuel
Francisco de Borja, José Freire da Costa, Francisco Justino de Melo, Francisco
José de Lima, Francisco
Antônio de
Melo e alguns alunos do Pai Vobis. Em 8 de dezembro de 1904, a Capela de Nossa
Senhora da Conceição, como era mais conhecida, foi finalmente inaugurada. O
aludido sacerdote, cearense de União e vigário da Paróquia de Santa Luzia, de
1894 a 1904, infelizmente não pôde comparecer, pois havia falecido em 26 de
julho daquele ano. Todavia, sua presença está sempre viva naquele belo templo
religioso, pois a rua lateral de acesso à atual igreja chama-se Padre João
Urbano. Deste modo, o celebrante da cerimônia festiva foi o vigário da Paróquia
de Santa Luzia, padre Moisés Ferreira do Nascimento, acolitado pelo cônego
Estevam Dantas2. A imagem de Nossa Senhora da Conceição foi benzida pelo
mencionado vigário e doada pelo coronel Vicente Ferreira da Mota 3. Em 20
de abril de 1920, falece em Mossoró, o professor Manuel Antônio de Albuquerque.
Sua filha, Lúcia Albuquerque, o substituiu nos trabalhos de magistério na
escola, agora denominada de Escola Particular Manuel Antônio, e na Capela de
Nossa Senhora da Conceição.
A capela
passou por reformas e ampliações. Em 1920 e 1921, na administração do então
vigário da Paróquia de Santa Luzia Padre Manoel da Costa Pereira (Padre Costa),
realizou-se a construção da torre. Posteriormente, na gestão de 1926 a 1941 do
Padre Luiz Ferreira Cunha da Mota 4 (Padre Mota), foi realizada, no
ano de 1932, mais uma ampliação, e, em 1937, foram construídos os corredores
laterais da capela.
O Alto da
Conceição foi a porta de entrada do bando do temível cangaceiro Virgulino
Ferreira da Silva, vulgo Lampião, em 13 de junho de 1927. Ao avistar, em
direção ao centro da cidade, as torres das igrejas de Mossoró, Lampião
profetizou: cidade com mais de uma torre não é pra cangaceiro atacar. Sábias
palavras. Prenúncio de derrota. Não deu outra.
Paróquia de
Nossa Senhora da Conceição
A
transformação de Capela para Paróquia de Nossa Senhora da Conceição ocorreu no
ano de 1941, graças à reivindicação do primeiro bispo de Mossoró, Dom Jaime de
Barros Câmara 5. Para tanto, Dom Jaime vinha requerendo aos superiores da
Província Franciscana de Santo Antônio do Brasil, a fundação de uma residência
de frades franciscanos na cidade de Mossoró, justamente no Alto da Conceição.
No Capítulo Provincial de 9 de dezembro de 1940, o pleito do eminente bispo foi
de fato atendido. Dom Jaime assinou no dia 19 de maio de 1941, em convenção
aqui em Mossoró, e pelo ministro da referida Província, Frei Pedro Westermam,
de
Recife-PE, no
dia 24 de maio de 1941. A partir daí surgiu a Paróquia de Nossa Senhora da
Conceição. Embora tenha sido criada em 12 de agosto de 1941, os frades optaram
por fazer a festa no dia 15 de agosto – Dia da Assunção de Nossa Senhora. Foi
nessa data que ocorreu a solenidade de posse do primeiro Pároco, Frei Querubino
Monnes, celebrada por Dom Jaime.
Manuel Antônio
de Albuquerque: o educador esquecido
Manuel Antônio
de Albuquerque nasceu em Campo Grande-RN em 1825. Professor primário da rede
municipal de ensino, desde os primórdios da vila de Santa Luzia de Mossoró, na
qualidade de mestre subvencionado pela Intendência, no subúrbio Macacos(Alto da
Conceição), e adjacências. Cidadão de espírito religioso, sendo devoto de Nossa
Senhora da Conceição, além de decicido cooperador daquele subúrbio em que residia,
era considerado um
visionário
iluminado, que vislumbrava tantos sonhos para aquela região. Escrevia em
jornais locais sob o pseudônimo de Pai Vobis, designação latina que significa
pai convosco.
Aposentou-se
na gestão do Presidente da Intendência (Prefeito), Francisco Vicente Cunha da
Mota 6, em 30 de setembro de 1916, após 51 anos de ensino primário no
município. A família da qual fazia parte, os Albuquerques, foi uma das
primeiras a habitarem o bairro.
Referências
Bibliográficas:
BRITO, R. S. Ruas
e Patronos de Mossoró. Coleção Mossoroense. Vol I e II. Série J. Mossoró-RN.
2003.
CASCUDO, L. C. Notas
e Documentos para a História de Mossoró. Coleção Mossoroense. 5ª edição.
Mossoró-RN, 299 p. 2010.
ESCÓSSIA, L. Cronologias
Mossoroenses. Coleção Mossoroense. 2ª edição. Mossoró-RN, 305 p. 2010
MOURA, W. B. Umas
tantas Lembranças da velha Mossoró e sua gente. Coleção Mossoroense. Série C.
Mossoró-RN, 218 p. 2006.
OLIVEIRA, F.
C. Reverências. Paróquia de Nossa Senhora da Conceição. Diocese de Santa
Luzia de Mossoró. Igramol, Mossoró-RN, 148 p. 2011.
SILVA, R. N. À
Sombra dos Tamarindos. Coleção Mossoroense, 209 p. 1979.
1 – Francisco
Izódio de Souza: nascido em Apodi a 1 de abril de 1867. De origem humilde foi
um batalhador pela instrução de Mossoró, um dos fundadores da Sociedade União
Caixeiral e da Sociedade União dos Artistas. Eminente político em Mossoró,
ocupou os cargos de Intendente (Vereador) no período de 1896 a 1898 e de
Presidente da Intendência (Prefeito) no período de 1911 a 1913. È nome de rua
no centro da cidade.
2 – Cônego
Estevam José Dantas: nascido em São José do Mipibú de 13 de agosto de 1860. Foi
diretor do Colégio Diocesano Santa Luzia em 1902. Faleceu em Natal em 29 de
julho de 1929. A Escola Estadual Cônego Estevam Dantas, localizada no lado da
Igreja do Alto Conceição, foi uma merecida homenagem ao sacerdote potiguar. É
também nome de praça no bairro Bom Jardim, popularmente conhecida como Praça
dos Hospitais.
3 – Vicente
Ferreira da Mota (Coronel Mota): nascido em Apodi em 3 de dezembro de 1848.
Comerciante de destaque foi
Intendente em
Mossoró no período de 1908 a 1910. Faleceu em Mossoró em 20 de janeiro de 1942.
Era o genitor de Francisco Vicente Cunha da Mota e de Padre Mota.
4 – Luiz
Ferreira Cunha da Mota (Padre Mota): Filho de Vicente Ferreira da Mota e
Filomena Ferreira Cunha da Mota, nasceu em Mossoró em 16 de abril de 1697.
Sacerdote de relevantes serviços prestados a sua cidade natal. Foi vigário da
Paróquia de Santa Luzia de Mossoró de 1926 a 1941. Participou efusivamente da
resistência ao ataque de Lampião em 1927. Prefeito de Mossoró durante o período de 1937 a 1945. Faleceu em Mossoró em 27 de agosto de 1966. Também é nome de
rua situada no bairro Ilha de Santa Luzia.
5 – Jaime de
Barros Câmara: nasceu em 03 de julho de 1894 em São José - SC. Primeiro Bispo
de Mossoró e foi nomeado pelo Papa Pio XI em 19 de dezembro de 1935. Assumiu a
Diocese de 1936 a dezembro de 1941. Faleceu em 18 de fevereiro de 1973, em
Aparecida – SP. Dá nome a bairro, escola e há uma estátua em sua homenagem na
Praça Cônego Estevam Dantas.
6 – Francisco
Vicente Cunha da Mota: nascido em 10 de abril de 1880, seguiu com brilhantismo
os passos do pai, o Coronel Mota, como comerciante. Ocupou vários cargos
públicos, com destaque para a presidência da Intendência de Mossoró, no biênio
1914 a 1916. Faleceu, em Fortaleza-CE, aos 12 de setembro de 1950. Dois de seus
filhos também foram prefeitos de Mossoró: Mota Neto e Francisco Mota. A avenida
Cunha da Mota, localizada nos bairros Pereiros e Centro, foi uma merecida
homenagem da edilidade mossoroense a essa figura que engrandeceu a história da
cidade.
Extraído do blog do escritor e pesquisador do cangaço:
Honório de Medeiros
http://honoriodemedeiros.blogspot.com.br/