Seguidores
segunda-feira, 5 de abril de 2021
Os Irmãos de Lampião | O Cangaço na Literatura #155
SINHÔ PEREIRA: O CANGAÇO E O CICLO DE VINGANÇAS FAMILIARES
Por EBC na Rede
PEÇA LOGO ESTES TRÊS LIVROS PARA VOCÊ NÃO FICAR SEM ELES. LIVROS SOBRE CANGAÇO SÃO ARREBATADOS PELOS COLECIONADORES.
Por José Mendes Pereira
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
RAINHA E PRINCESA
Clerisvaldo B, Chagas, 5 de abril de 2021
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.504
Vamos esclarecer geograficamente sobre Palmeira dos Índios e Santana do Ipanema. Uma se diz Princesa e a outra Rainha do Sertão, onde está o erro?
Cognomes de pessoas e lugares são coisas tão antigas que suas origens se perderam no tempo. Apelida-se tanto para denegrir quanto para elogiar. Temos uma cidade vizinha a nossa no sertão de Alagoas que todos os elementos masculinos têm apelidos, até o prefeito. Temos ainda no estado vário cognomes e citamos como exemplo: “Maceió, Cidade Sorriso”. Maceió, Paraíso das Águas” e assim por diante. E quando se trata de Palmeira dos Índios, a tradição fala: “Palmeira, a Princesa do Sertão” e Santana do Ipanema, “A Rainha do Sertão”. Falaríamos dessa maneira uma princesa e uma rainha?
Vejamos sobre Santana do Ipanema. Foi cognominada primeiro “Terra dos carros de boi. Em seguida, “Rainha do Sertão” e agora “Capital do Sertão”. Todos justificados: o carro de boi nunca deixou de existir em grande quantidade. Rainha, pela beleza, principalmente nos dias atuais. E no caso da Capital, é por funcionar no sertão e alto sertão como a mais importante aglutinadora da área. Correta a sua posição que é no Médio Sertão Alagoano.
Vejamos agora Palmeira dos Índios: “Princesa do Sertão”. Princesa deve ter sido por sua merecida beleza. Sertão, creio basear-se ainda numa Geografia que não estava bem definida na época do epíteto. Não existe demarcação de fronteira natural exata. Mas, em nosso estado, como dizia o professor Ivan Fernandes Lima com sua respeitada Geografia de Alagoas (1965) o Sertão alagoano – para quem trafega pela BR-316, vindo de Maceió para o extremo Oeste – a grosso modo se inicia no rio Traipu. Portanto, Palmeira dos Índios é agreste bem como Estrela de Alagoas, sua vizinha, que está situada quase no limiar da fronteira, o que eu não diria sobre Minador do Negrão que tem características totais do semiárido.
Visto o que foi apresentado acima, seria correto: Palmeira dos Índios, a “Princesa do Agreste”. Aliás, a segunda cidade em importância nessa faixa classificatória, perdendo apenas para Arapiraca, segunda capital de Alagoas com apelido ou sem apelido. Caso você venha de Maceió para o extremo Oeste via Arapiraca, a primeira cidade sertaneja será Jaramataia, pertinho do limiar do agreste.
Esclarecida a dúvida, cada um coloca o cognome que quiser, tendo um respaldo seguro, melhor ainda.
“Princesa do Agreste”, “Rainha do Sertão”, duas tradicionais e gigantes cidades que honram e orgulham nossa gente.
TERRAS DE JARAMATAIA VISTAS DA AL-220. BARREIRO EM CASA DE FAZENDA. AO FUNDO, SILHUETA DO SERROTE DO JAPÃO (FOTO: ÂNGELO RODRIGUES).
http://clerisvaldobchagas.blogspot.com/2021/04/rainhae-princesa-clerisvaldo-b-chagas-5.html
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
UMA TRAGÉDIA COM AVÓ E NETO
Por José Mendes Pereira
Já se passaram muitos anos que isso aconteceu em uma comunidade de Mossoró, bem próxima ao Mulungu, mais ou menos na década dos anos 80. Conheci o casal de vista e chapéu, apenas vestido com roupas de camponês em alguma de suas viagens à Mossoró, e nunca dei um dedal de conversa com nenhum dos cônjuges.
O casal vivia da agricultura e de uma pequena criação de ovino, bovino e caprino aos arredores de Mossoró, ao lado do nascente da cidade, com uma distância mais ou menos de 18 quilômetros.
O casal já era de idade avançada, mas equilibrado na sua atividade rotineira. Nada lhe era difícil movimentar em sua pequena propriedade, muito embora, assim como qualquer outra pessoa que passa dos 60, 70 anos, a saúde do casal era comprometida.
O velho se chamava José e por mais que eu tentei me lembrar do nome da sua senhora não veio na minha mente, e no decorrer de nossa história, chamá-la-ei de dona Maria.
O dia em que isto aconteceu não foi diferente dos outros dias passados, mas, algo, ao anoitecer, caminhava para mudar os destinos do casal idoso.
O sol já caminhava para se deitar no meio de um enorme lençol de nuvens amarelado, e a tarde estava preste a ir embora, porque logo mais, alegremente, chegaria a noite para rendê-la, assim como dizem os vigilantes de empresas.
Nos pequenos chiqueiro e curral seu José cuidava da sua criação, separando cabritos e bezerros das mães e os colocando fora, porque no dia seguinte, um homem vinha apanhar o líquido extraído dos úberes das vacas para ser vendido na freguesia. Lá dentro da casinhola dona Maria esposa do fazendeiro José cuidadosamente, preparava o jantar para os que ali estavam.
Assim que seu José terminou as suas atividades de sempre caminhou para casa, entrou, e lá, apoderou-se de uma bacia de alumínio, pôs água, pegou uma toalha que estava sob a varanda que fechava a parte de baixo da casa, e foi lavar os seus encardidos pés no terreiro da casinhola.
Os filhotes miúdos de cabras e vacas corriam de ponta a ponta no interior do imenso terreiro que ficava em frente à casa grande da Fazenda, toda rodeada de alpendres.
O cachorro de cor preta com lavras brancas espalhadas por todo seu corpo, e nomeado por “Lamari” muito mimado por todos dali, e totalmente de raça "vira-lata", fazia a segurança do fazendeiro José e da sua generosa e unida família.
Dona Maria permanecia na cozinha preparando o jantar, e após de tudo pronto, ela percebeu que a lamparina que estava na sala não clareava bem o ambiente. Pegou-a e balançou-a, na intenção de calcular o tanto de óleo diesel que ainda tinha dentro dela, e ao balançá-la, notou que estava precisando ser abastecida com o líquido inflamável. Mas resolveu deixar o abastecimento na lamparina assim que terminasse o jantar.
Logo que terminou de lavar os pés ao ar livre do terreiro o fazendeiro José dirigiu-se até a sala de jantar, e lá, sentou-se ao lado esquerdo da esposa Maria, que já o aguardava sentada em uma cadeira ao redor da mesa. Filhos e alguns netos fizeram o mesmo, aconchegaram-se aos arredores da mesa para o jantar.
Antes de iniciarem, como do costume dos sertanejos, seu José, dona Maria, filhos e netos presentes, todos puseram as suas mãos postas para os céus, e iniciaram uma reza, que no mínimo, demorou 3 minutos. Dona Maria foi quem iniciou a reza. Primeiro, um pai nosso, e em seguida, as Ave-Marias.
Terminada a bênção do “Pai Poderoso” no meio de conversas e risos, o jantar satisfez o prazer de todos ali. Seu José foi o primeiro a abandonar a mesa, apoderando de uma cadeira e foi para o terreiro receber um ventinho que vinha do Norte e em seguida, dirigia-se para o Sul. Os outros foram saindo paulatinamente.
Como é hábito de "dona de casa" a esposa do fazendeiro dona Maria ficou ao redor da mesa recolhendo os pratos, colheres e restos de comida para levar até ao local onde estava o cachorro “Lamari”, que aquelas alturas, impacientemente, já estava aguardando o seu jantar.
Depois de limpar a mesa e guardar os objetos que foram usados no jantar dona Maria abandonou a cozinha, e foi em busca do terreiro, e em uma das mãos, uma xícara de café para seu José. E ao passar pela sala lembrou que a lamparina precisava ser abastecida, vez que ela tinha diminuído bastante o claro. E logo, convidou um dos netos para ir até ao armazém ao lado da casa, onde lá, o óleo diesel era guardado em um balde (espécie de tonel) que cabia aproximadamente 20 litros do líquido inflamável.
Os dois chegaram ao local. Abriram a porta e entraram para a retirada do líquido, sempre clareados por uma lamparina que estava em uma das mãos da dona Maria.
E de repente, tentaram passar uma parte do óleo diesel para uma outra vasilha. Dona Maria esquecera que ela e o neto estavam transferindo um líquido inflamável. E foi nesse momento que os dois se atrapalharam.
O fogo da lamparina lambeu o óleo e ambiciosamente, tomou de conta incendiando tudo, causando uma espécie de explosão. Com a explosão, o óleo foi de encontro às roupas e os corpos dos dois, fazendo com que cada um, era uma chama só. Os gritos eram tristes: "Meu Deus! Meu D..." Sem nenhuma solução os dois se abraçaram no meio do fogo ficando os seus corpos colados.
Ao verem o clarão e ouvirem a explosão e os gritos dos infelizes, seu José, filhos e netos correram para um possível socorro, mas já era tarde demais. O fogo tinha se alastrado, transformando os dois viventes em uma só tocha humana.
Por último, o que o seu José, netos e filhos tinham de fazer era somente carregarem água em baldes para apagar a língua de fogo que já tentava alcançar o teto. Ali, a tristeza permanecia em todos os corações que ficaram vivos.
Chamada a perícia para os possível trabalhos técnicos descobriram que foi a lamparina que estava bem próxima do óleo. E ao transferirem o líquido de um balde para o outro, o fogo faminto, com a sua língua traiçoeira, lambeu de uma só vez o líquido inflamável.
SILA, PRECONCEIRO E SOFRIMENTO
Entrevista...vídeo
Ex-Cangaceira SILA..sofrimento, preconceito e lançamento do seu livro..
...
Ano: 1998
Local: UFCE
Entrevistadora: Inês Romano
https://www.facebook.com/groups/lampiaocangacoenordeste
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
CANGAÇO E CORONELISMO NO RIO GRANDE DO NORTE
Por Bárbara Lima
Honório de Medeiros (honoriodemedeiros@gmail.com).
Desde 2010 venho publicando alguns livros que compõem uma trilogia por mim denominada "CANGAÇO E CORONELISMO NO RIO GRANDE DO NORTE".
Em 2010 publiquei Massilon:
"Este livro não é uma obra científica, muito embora eu tenha tido a cautela de utilizar a metodologia apropriada quando possível, e parte do que possa ser lido tenha o rigor de pequenos ensaios. Também não é literatura, apesar das crônicas nele contidas. A bem da verdade é um livro, apenas. Sem adjetivos.
Apesar de seu tema central ser Massilon, não houve uma preocupação minha em me limitar. Ao contrário. Deliberadamente extrapolei. E não há razão objetiva para tal. Apenas senti o impulso de fazê-lo: somente assim posso explicar a presença de algumas divagações acerca do conceito de cangaço e outras quaisquer. Também foi opção pessoal transcrever, ao invés de interpretar, muitos dos textos que serão encontrados no livro, embora todos estejam conectados entre si. Preferi, ao fazer essa opção, que o leitor pudesse tirar suas próprias conclusões a partir da transcrição do texto.
A prova inconteste da minha despreocupação com os limites do tema é o “Diário de Viagem”, constituído de crônicas escritas nos locais por onde andei em busca do rastro de Massilon. Nessas viagens tudo foi gratificante: as pessoas, os lugares, os fatos. Aprendi muito, ensinei alguma coisa, aproximei-me de pessoas e me afastei de outras. Revi conceitos e posturas. Construí perspectivas inesperadas. Vivi".
Em 2015, lancei Histórias de Cangaceiros e Coronéis:
"Passados dez anos do lançamento, no Cariri cearense, de “Massilon – Nas Veredas do Cangaço e Outros Temas Afins”, eis que Honório de Medeiros nos entrega “Histórias de Cangaceiros e Coronéis”, o segundo volume de sua trilogia acerca desse tema fascinante.
Desta vez o livro é dividido em três grandes eixos: no primeiro, “Jesuíno Brilhante, Herói ou Bandido”, o autor, com base em farta documentação, em primeiro lugar nos apresenta uma face mais visível do pouco conhecido, mas muito famoso em sua época, José Brilhante, o “Cabé”, tio materno do único cangaceiro potiguar conhecido, e que foi personagem do romance “Os Brilhantes”; e, em segundo lugar, mostra o quanto talvez seja equivocada a percepção romântica, calcada no mítico Robin Hood, tanto do senso comum quanto dos escritores que se dedicaram a escrever acerca do primeiro dos grandes bandidos rurais do ciclo do cangaço, Jesuíno Brilhante.
No segundo eixo trata do famoso ataque de Lampião a Mossoró analisando-o a partir de uma perspectiva inédita e com informações até então desconhecidas da literatura específica acerca do tema. Aparece, por exemplo, pela primeira vez na história do cangaço, identificado inclusive com imagem, a “oposição oficial” ao Coronel Rodolpho Fernandes e que a ele se contrapôs veementemente nos dias que antecederam a invasão da cidade.
Por fim, no terceiro eixo, constituído de crônicas acerca de temas diversos do cangaço e do coronelismo, trata, por exemplo, de uma misteriosa amante de Antônio Silvino, bem como acerca da famosa “teoria do escudo ético”, ou mesmo do “pacto dos governadores para eliminar os cangaceiros”, dentre outros, que se colocam para o leitor como textos menos densos, mas, nem por isso, menos instigantes.
Como dito outrora, na orelha do “Massilon”, e ainda válido hoje, o que o Autor pretende, e não há razão para que não ocorra da forma como ele deseja, este livro é “nada tão sério que pareça maçante, tampouco tão leve que pareça desfrute”.
Finalmente, encerrando a trilogia, veio a tona Jesuíno Brilhante, o Primeiro dos Grandes Cangaceiros:
"Naquelas noites, no Sertão, a escuridão tomava conta do Sítio onde, à luz do lampião, no terreiro, meu Compadre – eu, menino, o tratava assim, e ele assim me tratava – reunia, no seu entorno, a família e os amigos, para ouvirem as estórias que faziam parte da antiga tradição oral dos nossos antepassados sertanejos, acompanhadas de uma xícara de café quente, coado na hora, e bolachas pretas.
Às vezes havia lua e o mar de prata criava imagens fantasmagóricas nos arbustos, lá fora, confins da luz; ao vê-las, instintivamente nos aproximávamos um pouco mais do círculo dos adultos, e somente relaxávamos quando a gargalhada do meu Compadre pontuava suas estórias. Até então, ele tinha nos deixado, a todos, em permanente suspense, por um tempo aparentemente sem fim.
Decerto, nunca mais pude fugir de um compromisso alegando uma mentira inocente sem recordá-lo e a um desses “causos” que ele nos contou. Dizia respeito a alguém do seu conhecimento, “parente distante”, que para fugir de uma obrigação social, jurou, por intermédio de um bilhete, estar em casa, de repouso, por motivo de doença. Ao voltar de um forró onde se esbaldara a noite inteira, em outra localidade, mal apeou do cavalo escutou choro e lamentações, e seu pressentimento foi confirmado pelos fatos – ela, sua esposa, jazia, muito doente, nos braços das filhas.
Exposto assim parece pouco, quase nada, mas somente sabe acerca da magia sobrenatural daquelas noites quem as viveu no Sertão, à luz bruxuleante do lampião, céu estrelado, ouvindo, de quando em vez, dentre outros, o canto sinistro dos rasga-mortalhas.
Eram estórias de amores; assombrações; gestas; valentias; honras; ódio entre famílias; cangaceiros; botijas, descobertas por intermédio de sonhos que precisaram de uma sabedoria centenária para serem interpretados corretamente; raptos consensuais ou não; caçadas às onças, nas quais somente a habilidade espantosa do caçador o fez escapar com vida; pescarias milagrosas; recuperações da saúde através de feitiços, poções ou orações de benzedeiras e curandeiros; vidências; estórias de maus-olhados e mandingas; secas e invernadas desmedidas; justiças divinas a corrigirem desmandos humanos; feitos com armas; aventuras de parentes e amigos nas terras desconhecidas da Amazônia, para a qual tantos tinham ido e não mais voltado; relatos dos segredos da Serra das Almas, onde foram encontradas as ossadas de vários homens ao lado de espadas, escudos, elmos, pepitas de ouro e outros apetrechos do tempo em que o Brasil era recém-nascido; e tantas outras...
Na forma arrastada com a qual meu Compadre as contava havia uma magia que prendia nossa atenção, uma sabedoria antiga da qual ele era herdeiro e na qual era mestre; havia alguém que cultivara a tradição, o dom de contar um “causo”, uma cadência hipnótica na voz, uma lógica precisa para o encadear das frases engastadas com palavras que o mestre Luís da Câmara Cascudo não hesitaria em classificar como egressas do puro português colonial, e que os folgados das cidades grandes alcunhariam de “matutês”, por pura ignorância.
O desfecho sempre apresentava uma lição de vida e, não raro, belas conclusões a externar uma apropriada observação acerca da natureza dos homens e seu destino de desprezar o caminho certo, a senda justa, a trilha verdadeira na vida, em troca das facilidades enganosas que o diabo apresentava, enquanto armadilhas, para a perdição da alma dos incautos.
Meu Compadre não era somente um contador de estórias sem igual e um dos últimos herdeiros daquela raça de titãs que colonizara o Sertão, alguém dotado de arguta percepção a respeito dos homens e das coisas, a quem eu escutava embevecido; também era uma fonte inspiradora, a principal delas quando penso na cultura sertaneja, como se tudo quanto eu lesse acerca do tema precisasse ser confrontado com a memória de sua existência, para, em mim, adquirir a necessária credibilidade.
Passaram-se os anos, muitos, desde então, até que resolvi escrever uma história do cangaço no Rio Grande do Norte, a partir de uma perspectiva muito pessoal, em três volumes.
Eu desejei fazê-lo, primeiro, porque nasci no Sertão, e sou filho de um cantador de viola que muito cedo abandonou a profissão, mas, enquanto pôde, participou ativamente de associações de violeiros, congressos de cantadores, seja como espectador, seja como juiz, e foi amigo pessoal de grandes artistas do ramo, tais como Ercílio Pinheiro e Dimas Batista, verdadeiros gênios, a quem hospedou em sua residência, em Mossoró.
Desde muito cedo percebi que as cantorias, assim como toda a tradição oral, das quais fui testemunha maravilhado em minha infância, meninice e adolescência, são sempre um dizer acerca de tudo quanto nos cerca e envolve, formando uma complexa teia de conhecimento e memória na qual os fios que descrevem a realidade estão emaranhados com aqueles outros cuja consistência têm a dimensão do imaginário, das fabulações, mitos, lendas, e são consequências das reflexões, ansiedades, perplexidades e desejos mais profundos da alma humana.
Isso sempre me fascinou.
O segundo motivo diz respeito a uma perene insatisfação com as explicações acerca do surgimento do cangaceirismo.
Treinei-me desde muito cedo para contra-argumentar ante as explicações aparentemente fáceis, óbvias, desde as mais simples até as mais complexas, mesmo se em silêncio a mim mesmo imposto, quando minha fragilidade, tão humana, sucumbia à pressão externa.
As explicações fáceis, singelas, óbvias, existentes acerca do cangaceirismo não me convenciam.
O terceiro e último motivo diz respeito a descobertas que fiz enquanto analisava a trajetória de Massilon, o grande responsável pelo ataque de Lampião e seu bando a Mossoró, no Rio Grande do Norte, bem como, no caso de Jesuíno Brilhante, quando encontrei algumas fontes fundamentais para a elaboração de uma imagem diferente do grande cangaceiro potiguar, que se contrapunha, como em uma composição chiaroscuro, à do “cangaceiro romântico”, “Robin Hood”, do “bem”, onipresente, desde há muito, no imaginário nordestino sertanejo, assim como entre os estudiosos do assunto.
Não que ele tenha sido ruim, no sentido em que o senso comum percebe Lampião e Corisco, mas, com certeza, não foi aquilo que a tradição oral e o talento de Câmara Cascudo construíram ao longo do tempo.
Ou seja, talvez, quem sabe, no caso de Jesuíno Brilhante, o senso comum estivesse errado.
Então escrevi Massilon, uma história de vida, uma biografia, mas não somente. Depois, Histórias de Cangaceiros e Coronéis, na qual apresentei algumas hipóteses acerca das causas ocultas que motivaram a invasão a Mossoró, até hoje incontestadas. Finalmente, escrevi Jesuíno Brilhante, o Primeiro dos Grandes Cangaceiros, este livro, o último da trilogia, um misto de biografia e ensaio acerca do cangaceirismo.
A imagem de Jesuíno Brilhante é bem um produto cultural do Sertão Arcaico. É quase consensual a lenda de que ele foi um cangaceiro diferente, mas, enquanto fato, isso provavelmente não é verdade. Creio que a Luís da Câmara Cascudo devemos, em grande parte, a construção dessa imagem de cangaceiro “romântico”, a ele atribuída.
Entretanto, antes de partirmos para qualquer opinião mais complexa, e enquanto tributo pago à Academia e seus métodos, ouso apresentar, desde logo, a hipótese de que Jesuíno Brilhante foi um homem do seu tempo, nada mais, nada menos.
Que se abra, pois, o debate!
Nunca podemos julgar quem quer que seja, se não for possível fugir de julgamentos, com os olhos de um observador onisciente. Essa é uma tarefa para os deuses, se é que eles existem.
Não por outra razão uma verdadeira história do cangaceirismo precisa começar com uma pergunta que jaz à disposição de quem se proponha enfrentar o desafio de escrevê-la segundo as regras da ciência, fugindo do “achismo” próprio das opiniões superficiais: o que levou alguns homens a não se conformarem com o papel que lhes destinavam suas circunstâncias, e ousarem tomar seus destinos com as mãos, construindo suas próprias histórias?
De outra forma: por que surgiram homens como Jesuíno Brilhante, Antônio Silvino, Sinhô Pereira, Lampião e Corisco, para ficar na senda do cangaceirismo?
Tarefa ousada, a ser desenvolvida por muitas mãos apropriadas. Resolvi dar o primeiro passo questionando a imagem consagrada de Jesuíno Brilhante. Trazendo-o do cume à planície, se for o caso, apresentando, a seguir, uma conjectura ousada como resposta.
Na medida em que escrevia este livro e apresentava, através de fatos, um Jesuíno Brilhante diferente daquele que nos acostumamos a conhecer ou mesmo imaginar e pensava acerca do surgimento do cangaceirismo, quando o cansaço tomava conta de mim ante tão árdua tarefa, e a vontade de largar tudo queria assumir o controle, eu me lembrava daquelas noites no Sertão, e do quanto meu Compadre gostaria de escutar essas minhas histórias (ou estórias), à luz da fogueira.
Pois se ele, quando se foi, há muito tempo, imaginasse que um dia alguém ia lembrar daquelas noites no terreiro de sua casa, no Sítio, Encanto, beiradas da Serra das Almas, à luz das estrelas, da lua, e de uma fogueira bruxuleante, daria uma grande risada e ficaria muito satisfeito.
Então tal livro também é, além do fecho de uma trilogia, a homenagem que posso fazer ao Sertão da minha infância e meninice, personificada na lembrança que tenho do meu Compadre, e materializada nesse relato acerca de uma de suas lendas mais significativas, a de Jesuíno Brilhante, o primeiro dos grandes cangaceiros.
Finalizo lembrando que os textos que iniciam os capítulos são história ou estórias tendo Jesuíno Brilhante como personagem principal, e foram colhidas no estuário esplêndido da tradição oral nordestina sertaneja, por Gustavo Barroso, Câmara Cascudo, Raimundo Nonato, Alicio Barreto e José Gregório. Não têm um autor, são construções coletivas. O meu trabalho consistiu em cruzá-las umas com as outras e transcrevê-las, mudando um pouco a forma, mas mantendo o conteúdo. O objetivo foi mostrar como Jesuíno Brilhante era (e é) “percebido” pelos sertanejos nordestinos. Aos pesquisadores que me antecederam, minha gratidão.
Deus tenha a todos em sua infinita bondade".
http://honoriodemedeiros.blogspot.com
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
LAMPIÃO EM PAULO AFONSO
Por João de Sousa Lima
Saiu a 4ª tiragem do livro Lampião em Paulo Afonso ..., para adquirir pode ser direto com o autor:75-988074138 ou na Suprave e Hotel Belvedere...
https://www.facebook.com/groups/545584095605711/?multi_permalinks=1897768097053964¬if_id=1617644141814186¬if_t=group_activity&ref=notif
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
UM DESEJO REALIZADO E DEPOIS FOI DE ÁGUA ABAIXO.
Por José Mendes Pereira
Querer possuir algo é um desejo de todos. Um quer um carro novo, outros querem casas, barcos, armas, dinheiro suficiente para satisfazerem os seus desejos, outro, avião e tudo mais, outro, uma biblioteca negrejando com livros de todos os assuntos..., e assim, caminha a humanidade. Cada um de nós com gosto diferente, e vai levando a vida, e com isso, se sente realizado com o que adquiriu quando sonhava em possuí-lo. Mas muitos desejos são realizados, e de repente rolam de ladeira abaixo, e às vezes, nem se sabe o porquê do bruto acontecimento com o sonho concretizado.
Foi o que aconteceu com os gêmeos Francisco das Chagas do Nascimento e Francisco de Assis do Nascimento, ambos aposentados do Banco do Brasil, pesquisadores do cangaço, Padre Cícero e outros temas. Os Irmãos que são donos de boas condições financeiras adquiridas com os seus trabalhos e competências, queriam criar um acervo de livros com temas variados, e o que queriam, deu certo e fundaram o acervo. Fizeram o que bem puderam.
Os manos unidos compraram uma propriedade e através da sociedade entre eles construíram um prédio, mobiliaram o ambiente com estantes e livros, mesas e cadeiras para os visitantes, uniformes e chapéus apropriados de facínoras do cangaço, principalmente para aqueles que gostam também do tema, ou dos temas, terem a oportunidade de se vestirem em trajes de Padre Cícero Romão Batista, ou a gosto, de cangaceiros, vestidos de Lampião, Maria Bonita, Corisco, Dadá, o Zé Sereno, ou com roupas lembrando outros cangaceiros qualquer, e ali, fazerem as suas fotos de acordo com os seus desejos. O lugar do acervo era distante de Mossoró, mais ou menos 15 quilômetros, estrada que leva até a cidade de Tibau.
Tibau já pertenceu à Mossoró com uma distância de 33 min (38,0 km) via BR-304 e RN-013. Esta localizado na extremidade setentrional do Estado do Rio Grande do Norte. Pertencente ao Polo Costa Branca, à Mesorregião do Oeste Potiguar e à Microrregião de Mossoró, localiza-se a noroeste de Natal, capital do Estado, distando desta 323 quilômetros. Ocupa uma área de 169,237 km², e sua população estimada em 2015 era de 4 019 habitantes. Mas vale lembrar ao leitor que há uma variação enorme de pessoas, porque Tibau diariamente recebe muitos mossoroenses, e nos finais se semana não se tem nem ideia quantas pessoas ocupam aquela área de terras.
Digo ao leitor que por 2 vezes eu visitei aquele excelente acervo através do meu filho José Mendes Pereira Filho, que também é funcionário do Banco do Brasil de Mossoró, e por ter boas amizades com os manos por terem trabalhados juntos, fui convidado por ele para irmos juntos fazermos uma visita ao acervo dos gêmeos.
Um acervo com uma grande quantidade de livros colocada nas estantes (muitos livros), e nele, foram feitos muitos gastos, porque qualquer um colecionador, seja qual for o assunto, ele não tem dó do seu bolso, o que ele quer, é possuir em quantidades em sua ou suas estantes, livros que guardam importantes histórias culturais, registros sobre o tema ou os temas que ele gosta de estudar.
Vi também uma bolsa feita pela cangaceira Sila, e que foi doada aos irmãos em uma das suas visitas que fez à Mossoró. Vi também pedaços de tijolos da casa do fazendeiro Zé Saturnino, o maior inimigo de Virgolino Ferreira da Silva o rei do cangaço capitão Lampião. Vi várias fotos de cangaceiros, vi punhais, armas brancas...
Segundo o pesquisador Chagas Nascimento me contou em 2016, à noite, em seu apartamento, localizado no bairro Nova Betânia em Mossoró, que infelizmente, em 2015, (não disponho do dia e do mês) os irmãos ao chegarem ao prédio, que antes só tinham prazeres, viram o seu amado acervo todo queimado, os montes de livros estavam em cinzas, portas, estantes, paredes e tudo mais. O que tinha de madeira foi tudo atingido. O pior é que ninguém soube quem praticou aquela maldade contra um patrimônio que era propriedade dos gêmeos, e também propriedade de todos os mossoroenses, mesmo sendo um acervo particular, organizado com o dinheiro dos irmãos gêmeos, porque os seus desejos, lógico, claro, com certeza, iriam um dia abrir as postas para quem quisesse fazer visitas para conhecê-lo.
Hoje, os irmãos gêmeos perderam o gosto e não pensam mais começar tudo de novo, isto é, de organizar um novo acervo sobre cangaço..., para uma outra história, porque o que fizeram, foi uma maldade sem tamanha. Tudo que pertence a gente é bem amado, mas uma das coisas que aquele que gosta de ler, e que tem manias de ler, o que mais ama é uma biblioteca cheia de conhecimentos e sabedoria.
Infelizmente, o livro não fala, porque ele é mudo. O livro não ouve, porque ele é surdo. O livro não vê, porque ele é cego. O livro não discute, porque ele se acomoda e se adapta em qualquer lugar do universo com o ser humano. O livro não odeia, porque ele além de ser generoso, é o mais sábio do nosso planeta. O livro não reclama, porque ele concorda com tudo e com todos. O livro guarda com muito cuidado e carinho as histórias da humanidade, de um povo, de uma nação.
Parabéns
para o livro!
Parabéns
por você se preocupar com as nações mundiais de todo o universo, registrando todos os fatos que acontecem no dia a dia com a humanidade. Você é para ser homenageado, muito embora, simbolicamente!
Minhas Simples Histórias
Se você não gostou da minha historinha não diga a ninguém, deixa-me pegar outro.
ALERTA AO LEITOR E LEITORA!
Quando estiver no trânsito, cuidado, não discuta! Se errar, peça desculpas. Se o outro errou, não deixa ele te pedir desculpas, desculpa-o antes, porque faz com que o erro seja compreendido por ambas as partes, e não perca o seu controle emocional, você poderá ser vítima. As pessoas quando estão em automóveis pensam que são as verdadeiras donas do mundo. Cuidado! Lembre-se de pedir desculpas se errar no trânsito, para não deixar que as pessoas coloquem o seu corpo em um caixão. Você pode não conduzir arma, mas o outro, quem sabe! Carregará consigo uma maldita matadora, e ele poderá não perdoar a sua ignorância.
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
CARYBÉ RETRATA O CANGAÇO
Por Beto Rueda
O grande artista plástico Hector Julio Páride Bernabó(Carybé), retratou o cangaço em várias formas de sua expressão artística, contribuindo para o enriquecimento e divulgação do tema.
Por Beto Rueda
https://cariricangaco.blogspot.com/2021/04/carybe-retrata-o-cangaco-por-beto-rueda.html
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
GRANDES ENCONTROS CARIRI CANGAÇO
Por Manoel Severo
Nesta quarta, 07 de abril de 2021, às 19h30 simplesmente imperdível. Canal do Cariri Cangaço no YouTube, vem com a gente e confere. Clica no link abaixo, faz a inscrição e ativa as notificações, avante !
https://www.facebook.com/groups/545584095605711/?multi_permalinks=1897553457075428%2C1891615761002531%2C1897560807074693%2C1895730497257724%2C1892688314228609¬if_id=1617025212893785¬if_t=group_activity&ref=notif
http://blogdomendesemendes.blogspot.com