Por Sálvio Siqueira
O Cangaço tem
muito que nos ensinar, em relação a sua historiada... O ‘antes’ do Cangaço, e
‘suas rebarbas’, no durante idem...
Quando vemos acontecimentos ligados ao tema, pensamos nós que são exclusividade
do Fenômeno. Esse nosso pensamento está seguindo por uma trilha errônea,
equivocadamente, muitas vezes deixamos de ver o que aconteceu fora do cangaço e
antes dele... Se não procurarmos saber do que aconteceu anteriormente e extra
Fenômeno, não faremos um bom conceito, uma boa análise, sobre tal.
São vários os
acontecidos que ao sabermos, por meio de documentos em vários arquivos ‘legais’
e por fontes orais, não se ‘encaixam’. Pessoas que viram, presenciaram e/ou
participaram de tais acontecimentos, nos citam uma versão... Já a documentação
tida como ‘original’, “oficial”, por diversas vezes, mostra-nos uma totalmente
diferente. E ainda há, por vezes, aquela da mídia, que na época, também fez
sensacionalismo por ‘n’ motivos, para gerar vendas e/ou, por ordens das autoridades,
prevendo dar uma satisfação para população insatisfeita com os ocorridos,
verdadeiros.
Juazeiro do
Norte, CE, é um centro de visitação anual constante. Hoje, sem a presença
física do Sacerdote que a fez mundialmente conhecida, e também quando o mesmo
por suas ruelas caminhava.
Naquele tempo, com ele ainda vivo, tinha essa visitação anual. Os romeiros
faziam seus afazeres durante quase todo o ano, só que, deixavam sempre o espaço
da visitação ao ‘Padim Pade Ciço’. Lembramos aos amigos que transporte, na
época, de quem tinha posses era a tração animal, de quem nada possuía, era no
pé. Para esses a caminhada era dura, cansativa, e faltavam víveres durante o
percurso... Mesmo em anos em que na estação chuvosa não chovia, para, talvez,
implorarem clemência, ou quando havia fartura, para fazerem seus agradecimentos
e/ou ‘pagarem’ suas promessas.
Certa feita,
um retirante, vindo das bandas das Alagoas, com sua família inteira em função
de visitar ‘o santo padroeiro’, em busca de salvação, não só espiritual, mas,
de alimentação mesmo, devido a seca que corroía o sertão nordestino.
Dentre seus
filhos, já bastante cansado e, com certeza, doente, havia um garotinho que não
queria ou não podia acompanhar o ritmo dos demais... Seu nome era Antônio Rosa.
Ao passar pela propriedade do Sr. José Ferreira, pai dos meninos Antônio,
Livino, Virgolino, João e outros, chegando na moradia, pediu ao patriarca para
que ficasse com a criança. José Ferreira, acreditamos que compadecido com a
situação do mesmo, aceita e fica com o rapazinho. Passa Antônio Rosa a viver e
conviver com seus filhos. É criado igualmente aos seus filhos legítimos,
biologicamente, e ao primogênito da sua senhora, Antônio Ferreira, que não era
seu filho legítimo... E assim a vida seguiu nas terras do sítio Passagem de
Pedra, na vastidão do Pajeú, na Região nordestina.
Derrubar a mata com foices e machado, limpar o mato nos roçados, buscar água em
galão ou em costas de animais, pastorar as reses e/ou as criações, montar e
amansar burros e cavalos bravios, fazer viagens como almocreves , em fim, tudo
o que os filhos de José Ferreira faziam, o adotivo também fazia. Tornando-se
parte da família... Transformando-se em irmão dos demais.
O tempo
passa... Quando os irmãos Ferreira começam suas encrencas com Zé Saturnino,
Antônio Rosa, também está ali, firme e forte, sem medo algum, ao lado de seus
irmãos.
O tempo avança
ainda mais, e Antônio Rosa se mostra astuto, valente e destemido... Passando a
ser chamado pela alcunha, já cangaceiro, “Antônio do Gelo”. Talvez pela
‘frieza’ que expressa em suas ações.
Certo dia, no povoado de São João do Barro Vermelho, isso lá pelos idos de
1924, Antônio encontra-se com um cidadão chamado ‘Constantino’. Esse Senhor,
sabendo das astúcias de Antônio Rosa, o “Antônio do Gelo”, com as armas,
mostra-lhe uma que possuía. Antônio apaixona-se por ela e quer por quer comprar
a arma. Constantino não quer vender. Passando alguns dias do acontecido,
Antônio, volta ao povoado e assassina Constantino, roubando-lhe a arma.
Naquele aglomerado de casebres moravam várias pessoas que gostavam e admiravam
Virgolino, o Lampião. Dentre elas, uma destaca-se mais por ser ‘comadre’ dele.
Era a dona Especiosa.
A população do povoado reuniu-se e formam um grupo de ‘vigilantes’ para irem a
busca de Antônio do Gelo a fim de matá-lo, como vingança pela covardia que
fizera com Constantino. Tendo amigos, admiradores entre eles, os mesmos
procuram o chefe mor do cangaço e o deixam a par do ocorrido e do que está para
acontecer.
O cangaceiro
“Vassoura”, Livino Ferreira, segundo filho de José Ferreira, irmão de Lampião,
escuta o que eles dizem ao irmão comandante. Antes dos mesmos partirem, o chama em um recanto e faz-lhes uma proposta: “... de que se a família do finado
Constantino e o povo de São João do Barro Vermelho, lhes paga-se 10 mil réis, o
mesmo o mataria e nunca mais ouviram falar nele, nem veriam “Antônio do Gelo”,
(o seu irmão de criação Antônio Rosa, por aquela ribeira) (...)”. ( "
Lampião, nem herói nem bandido - a história "- SOUSA, Anildomá Willians
de. )
Proposta
feita, trato acordado...
O “Rei Vesgo” leva sua trupe para terras alagoanas. Depois de certo tempo
fazendo ‘escaramuças’ por lá, resolve voltar e esconder-se por um tempo em seu
Estado natal.
No dia 8 do
mês de Santana do ano de 1924, Lampião chega a fazenda “Situação”, propriedade
do coiteiro Francisco Baião, fincada nas terras da região onde se localiza a
Serra Vermelha.
Todos estão enfadados da dura viagem. Foram vários dias caatinga adentro a pé.
Chegando próximo ao ocaso do mesmo dia, Antônio do Gelo pega sua rede e, no
alpendre da casa sede da fazenda, procura tornos para armá-la. Encontra um
trono num recanto que acha um bom local. Ao passar a corda do punho da rede
no torno, tendo que erguer os braços para isso, e alvejado por tiros pelas
costas.
O “cangaceiro Vassoura” chama o companheiro do cangaço Enéas, e de olho nos
movimentos de Antônio do Gelo, procura a melhor ocasião para por em prática seu
plano. Notando o que o seu irmão de criação pretendia, espera o momento certo,
que surge quando o mesmo ergue os braços para colocar a corda do punho da rede
no torno. Junto com o ‘cabra’ que escolhera, atiram, simultaneamente nas costas
de Antônio do Gelo, que cai sem dar um gemido. Tomba morto Antônio Rosa, seu
irmão de criação... No chão do alpendre da casa sede, na Fazenda Situação, nas
quebradas do Sertão do Pajeú.
Fonte: facebook
Página: Sálvio
Siqueira
Grupo: OFÍCIO
DAS ESPINGARDAS
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