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sábado, 11 de março de 2023
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LAMPIÃO, CANGAÇO E NORDESTE
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O FOGO DE 24 E FERIMENTO NO PÉ DE LAMPIÃO PELA VOLANTE DE TEOFANES FERRAZ
Por Clênio Novaes
Estamos aqui para tentar
responder a três questionamentos sobre o tiro que Lampião levou aqui nas
imediações da Serra do Catolé, as questões básicas são: Onde, quando e quem?
Vamos tentar responder. A maior verdade que consegui identificar, até aqui, foi
escrita por Frederico Bezerra Maciel em Lampião, Seu tempo e Seu Reinado (pag.
148): “Deslumbrante e maravilhoso o panorama descortinado de lá de cima. De um
lado, a serra da Pedra do Reino, com dois gigantescos monólitos no cimo,
esguios e irmãos, coroados de malacacheta faiscante aos raios do sol. Envoltos,
esses grandiosos blocos, nos mistérios da lenda sebastianista do desencanto, ao
bárbaro custo de sangue e vidas, de um rei outrora desaparecido... Ou
envolvidos das névoas que, descendo, se esgarçavam, se estendendo e se
espalhando, pelas imensuráveis ondulações mansas dos vales e vargedos, até o
desalcance da vista... Tudo agora verde com o inverno copioso, espelhando
também em filetes de riachos e córregos e em conchas de lagoas, o prateado de
suas águas abendiçoadas. O sertão virando mar...” Ao final de março de 1924,
Lampião e seu bando desloca-se de Santa Maria (na ocasião distrito de Belmonte)
as margens do Rio Pajeú, passando próximo ao Bom Nome, distrito de Belmonte, com
destino a divisa com a Paraíba, mais precisamente a serra do Catolé passando
próximo a Bernardo Vieira (distrito de Vila Bela). Da Serra do Catolé envia seu
Irmão Levino para fazer compras na Paraíba. Daí Lampião desloca-se com Moitinha
e Juriti em direção a Paraíba, passando junto a Lagoa Vieira, na divisa entre
Pernambuco e Paraíba, para buscar alguns mantimentos que havia encomendado a um
coiteiro, no retorno, por volta das 10:00 encontram-se com tropas de Teófanes
Ferraz, descrição de apenas 4 soldados volantes (nesse momento não há feridos
entre as forças). Nesta localidade, em 23 de março, trava-se intenso tiroteio
onde Lampião é atingido no pé direito e sua montaria (um cavalo) cai sobre sua
perna ferida. Moitinha segura forte tiroteio enquanto Juriti retira lampião
debaixo da montaria. Fogem para localidade próxima, juntam-se a outros
cangaceiros e montam emboscada para a força volante que reagrupa-se, com grande
contingente, há ai forte tiroteio, com baixas em ambos os lados, mas nenhuma
morte. 23 de março de 1924- Primeiro Tiroteio, lugar lagoa Vieira, presentes
Lampião, Moitinha e Juriti. Força volante apenas 4 soldados, que identificados
nominalmente como sendo os baleados no conflito do Barro, não nos permite crer
que foram eles mesmos. Segundo Tiroteio, lugar denominado Barros. Boletim Geral
nº 72, dia 25 de março de 1924 – serviço par 26 telegrama: - Vila Bella, 24. –
Comunico-vos hontem 10 horas logar lagoa Vieira deste município tive encontro
bandido Lampião e seu grupo havendo forte tiroteio. Bandidos recuaram
conduzindo feridos inclusive Lampião ficando morto cavalo este cavalgava
aquella ocasião. Pela grande quantidade de sangue segui trilha grupo que
internou-se caatingas até logar Barros onde fui atacado emboscada. Travando
Novo Tiroteio tombaram gravemente feridos Aspeçada 3º Manoel Amaro de Souza com
ferimento na região palpebral vasando o olho direito, soldados mesma unidade
Manoel Gomes de Sá um ferimento entero (antero) inferior braço esquerdo e outro
terço inferior coxa direita e João Demétrio Soares um ferimento região occiptal
tudo produzido por projectil rifle. Sem dispor medicamento algum e recursos
suficientes garantir feridos e prosseguir pista scelerados tive que tratar
remoção daqueles nas costas próprios companheiros até logar Montevideu onde
consegui arranjar conducções. Peço-vos autorização tratamento. Saudações Major
Theophanes Ferraz Torres. Nesse intervalo são intimados a comparecer a serra do
catolé os oficiais pernambucanos Ibrahim e Alencar. Certamente as forças paraibanas
foram também convidadas. Boletim Geral n.º75, dia 28 de março – Serviço 29.
Telegrama: - “Villa Bella, 27. – Feridos já experimentando algumas melhoras
caso porem estado de saúde possa se complicar chamarei médico Floresta
impossibilitado vir actualmente até aqui contrário evitarei despesa. Sciente
conteúdo vosso telegrama hoje. Fiz seguirem 15 praças serviço emboscada zona
preferida scelerados. Tranzito bandidos: Abóboras, Pereiras, Jardim Santa Rita,
lagoa Vieira, Serra Catolé, Campo Alegre, Natureza, São Paulo, Serrotinho,
Feijão e maior reducto Faz Cristovão fazenda Yoyo Maroto. Logo cheguem Tenentes
Ibrahim e Alencar seguirei diligências distribuindo forças. Saudações Major
Theóphanes Torres. Comandante volante.” Tiroteio dia 2 de abril, mortos Lavadeira
e no dia seguinte Cícero Costa Boletim Geral nº 83, dia 7 de abril- Serviço
para 08. Telegrama: Villa Bella, 6. – Communicuvos que as 17 horas e meia, do
dia 2 Serra Barro centro caatingas encontrei rancho onde bandido Lampião estava
tratando ferimento cercando numeroso grupo distante uma légua local tiroteio
dia 23 de março. Depois cerrado tiroteio ficou gravemente ferido bandido
Lavadeira que logo faleceu tendo grupo se evadido condusindo feridos.
Impossibilitado prosseguir perseguição devido escuridão da noite ali acampei
até manhã seguinte quando tomei pista de scelerados. As 8 horas bandidos
entrincheirados com meia légua distancia aquelle local surprhenderam força com
forte descarga. Esta revestida coragem investiu contra famigerados ficando morto
conhecido e temível scelerado Cícero Costa tendo grupo se esfacelado e
facínoras tomado diferentes direções. Chove quotidianamente o que tem
facilitado a fuga bandidos e dificultado ser descoberto destino de Lampião que
não dá um passo sendo conduzido braços companheiros conforme confessou
Lavadeira antes morrer e civil Manoel Cornélio encarregado compras
medicamentos, viveres referido grupo. Officiaes revestidos melhor bôa vontade
serviço. Espero descobrir novos refúgios feridos inclusive do chefe do grupo.
Santa Rita. 5-4-924. Major Theophanes Torres. Antes do ataque ao esconderijo de
Lampião as forças de Theóphanes, juntamente coma as forças Paraibanas,
conseguem encontrar Casemiro de Tal, que com aperto algum, entrega que quem
sabe onde Lampião encontra-se é Manoel Cornélio, este sim após adequado
interrogatório, entregou até Jesus no jardim de Getsêmani. Toda a região estava
tomada pelas volantes Pernambucanas e Paraibanas uma força capaz de oferecer
combate ao grande grupo de cangaceiros que encontrava-se no coito, tratando e
protegendo o seu chefe. Queremos salientar aqui, nenhuma menção feita às forças
de Tenente Chico Oliveira e Sargento Quelé das forças Paraibanas que estavam
presentes no combate do dia 2 e 3 de abril e que continuaram na região tentando
encontrar Lampião No dia 5 de abril o Tenente Higino regressa a Triunfo,
estando até aí também presente no embate e nas buscas. (conforme telegrama) O
cangaceiro Antônio Rosa é responsável por despistar a volante do local onde
Lampião ficou escondido durante as buscas do dia 3 de abril. Grande contingente
vasculha a região em busca dos feridos, inclusive Lampião, não obtém sucesso
pelas escaramuças feitas pelos cangaceiros para despistar a força e poupar
Lampião da morte certa. Boletim Geral n.º 87, dia 11 de abril- Serviço para 12.
- Villa Bella, 10. Communico-vos que Soldado João Demétrio Soares completamente
restabelecido. Aspeçada Manoel Amaro e Soldado Manoel Gomes muito melhorados
ferimentos. Saudações. Major Theophanes Torres. -Villa Bella, 10- Comunico-vos
cheguei hoje cidade depois ter circulado emboscada logar Barro e percorrido
repetidamente São Lourenço, Santa Rita, Desterro, Triangulo, Cachoeira,
Sanguessuga, Três lagoas, Barriguda, Lagoa Vieira, Cacimba Nova, Campo Alegre,
Montevideo, Poços Cajazeiras e Bulandeira. Em Santa Rita passou bandido
Severino Ferreira com três companheiros direção Patos e Princesa. Depois passou
no mesmo local o também famigerado Moitinha mesma direção igualmente
acompanhado 3 seus comparsas e na sanguessuga passaram os celerados Antonio
Rosa e Vicente Marina e dois outros desconhecidos para Pinhancó. Referidos
bandidos todos pertencentes grupo Lampião e destroçados pelas nossas forças.
Fiz investigação rigorosa sentido descobrir paradeiro até hoje completamente ignorado
facínora Lampião e seu irmão Antônio Ferreira depois tiroteio de que vos dei
sciencia. Depois desse fogo, Lampião fica escondido no mato, em uma moita de
folha de carne, por um tempo entre dois ou três dias, sendo encontrado por um
menino de nome Antônio Terto, filho de Zeca Terto. Lampião é levado para lugar
seguro. Chegaram ao local irmãos e cangaceiros de Lampião, este foi levado para
iniciar os tratamentos, sendo o Sr. João Menezes, morador de localidade
próxima, encarregado do tratamento, em local denominado hoje de casa de pedra
de Lampião na encosta da Serra do Catolé, permanecendo ai por aproximadamente
40 dias. Após esse período o ferido é levado para a cidade de Princesa Izabel
na Paraíba para a Propriedade Pau Ferro do Major Floro Diniz, Casado com Maria
Dulce de Oliveira Barros, sob a proteção de Marçal, Marcolino Diniz e José
Pereira. A fazenda Pau Ferro ficava entre a Fazenda Abóboras, em Vila Bela,
Pernambuco esta era propriedade de Manoel Menino e a fazenda Patos do Irerê,
esta, também de Major Floro. Lampião foi operado por Doutor Severino Diniz, o
mesmo que o tratou do primeiro ferimento sofrido em tiroteio na fazenda
Melancia na cidade de Manaíra (na época Princesa) quando este ainda era do
grupo de Senhor Pereira. Lampião ficou aos cuidados do cangaceiro José Ducarmo,
este posteriormente foi morto por Luiz do Triangulo. Posteriormente foram os
doutores Mota e José Cordeiro de Lima que ficaram tratando o ferido. A imagem
pode conter: 1 pessoa, em pé e atividades ao ar livre A imagem pode conter: 3
pessoas, incluindo Manoel Severo Barbosa, pessoas sorrindo, pessoas em pé Ci
Postado por Giovani Costa
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HISTORIADOR ENCONTRA RARA CARTA DE EX-ESCRAVIZADO TRATANDO DO RACISMO NAS CADEIAS DE SP APÓS A ABOLIÇÃO
Acervo do Pesquisando a História
Escrita em
dezembro de 1888, a carta é considerada pelo historiador Flávio Gomes, que a achou,
uma raridade. Além de dominar as letras, o escritor tinha consciência da
questão racial, exalta o pesquisador A carta, escrita em dezembro de 1888, é
considerada pelo historiador Flávio Gomes, que a achou, uma raridade. O preso,
ex-escravizado, além de dominar as letras, tinha consciência da questão racial,
exalta Gomes. “Senhor. Vem este triste, pobre e miserável sentenciado à galé
perpétua, queira a Vossa Excelência, pela sua humanidade de justiça a fim de
dar as mais divinas providências a este regulamento de absurdo, que há aqui,
nesta Cadeia Pública”, apela o ex-escravizado na carta endereçada ao
“ilustríssimo excelentíssimo senhor doutor alferes de Polícia da Capital”.
Diferenças
para visitas
A escrita
original em duas páginas, com erros de português mas boa caligrafia, foi
transcrita pelo Núcleo de Paleografia do Arquivo Público do Estado de São
Paulo. O ex-escravizado, que deu à carta o caráter de petição, denuncia que “a
cor preta tem sido tocada daqui como cachorro”. Ele considera um absurdo que o
carcereiro proíba a entrada de “mulher de nós, que somos escravos”, mesmo nos
dias de visita, enquanto os encontros para presos estrangeiros eram permitidos
a qualquer hora. Em outro momento, o ex-escravizado fala de discriminação nos
horários impostos aos negros. “A cor preta não pode parar até o meio-dia, e a
cor branca para até o meio-dia”, relata. Embora Flávio Gomes, especialista em
escravidão no Brasil, não saiba a que horário exatamente Queirós se referia —
pode ter, por exemplo, relação com trabalhos forçados — ele sustenta que o
autor tinha noção clara das transformações que o país vivia, sete meses após a
decretação da Lei Áurea, e exigia que a mudança chegasse à cadeia. — Nas
Américas, são raros os documentos escritos pelos escravizados. A carta sugere
que João de Queirós acompanhava os movimentos externos, como a Abolição, assim
como mostrava as diferenças raciais dentro da prisão, vendo o cárcere como
continuidade da escravidão — explica o professor. — Este documento revela
também como o sistema prisional do século XIX se articula com escravidão e
racismo, onde os condenados, muitos ex-escravizados e mesmo africanos, eram
encarcerados por décadas, com suas penas de morte transformadas em prisão
perpétua. Mas as condições de alimentação, visitas, roupas e acompanhamento
médico são atravessadas por diferenças raciais e percepções preconceituosas do
poder público. Na petição, Queirós se apresenta como sentenciado a “galés
perpétua” (à época, era considerada a pena mais severa do código depois da pena
de morte, geralmente aplicada em casos de homicídio). Brasileira, historiadora
e professora em Princeton University, Isadora Mota disse que o documento
encontrado pelo colega Flávio Gomes é raríssimo porque, no caso de homens
escravizados, apenas dois em cada mil possuíam a habilidade de ler e escrever.
— O uso da escrita, no entanto, mesmo que parcial, era mais comum do que os
números oficiais registram. Um condenado a galés perpétua como João, por
exemplo, dificilmente teria sido incluído na contagem oficial. Os caminhos e
manifestações do letramento negro eram múltiplos. Alguns escravizados
aprenderam sozinhos a ler ou tomaram parte em situações informais de leitura
oralizada. Muitos podiam assinar apenas seus nomes quando forçados a comparecer
em juízo — diz. Isadora concorda com a análise de Gomes quando afirma que a
carta é “um incrível testemunho de um homem liberto sobre os limites da
abolição da escravidão no Brasil”. Para ela, Queirós demonstra que o fim do
cativeiro não extinguiu a discriminação racial como realidade cotidiana dos
negros nas prisões do país: — O fato de que ele escreveu um requerimento legal
para contestar a discriminação racial é evidência importante da consciência
política dos ex-escravizados. Sabiam que precisavam lutar para que a liberdade
concedida em lei viesse a existir de fato. Vejo a carta de 1888 também como
legado para o movimento negro no país. A pesquisa de Gomes em arquivos públicos
de São Paulo, Espírito Santo e Maranhão é financiada pelo CNPq, com destaque
para o projeto “Escrita, Escolarização, Cor e no Brasil da Escravidão e
pósemancipação (1860-1908)”, coordenado por ele, e com pesquisadores da UFRJ,
Uerj, PUC-SP, Colégio Pedro II, UFBA e Princeton University.
FONTE: O
GLOBO
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MORTE DO CANGACEIRO BRIÓ
Por José Mendes Pereira - Redigido com as minhas palavras, mas sem sair do assunto ou aumentar os fatos. Texto do saudoso escritor Alcino Alves Costa.
Como muitos sertanejos que saem das suas terras para outras, na intenção de adquirirem uma vida melhor, Zé Neco Camburanga e sua Bubu não foram diferentes desses outros, pois foram empurrados pela seca, deixando a sua velha morada na caatinga, e foram morar no Alto, bem pertinho da cidade de Poço Redondo, no Estado de Sergipe. Em suas companhias, foram sete amados filhos: Santo, Brió, Zé Neco, Maria, Lilinha, Conceição e Tereza.
Zé Neco, influenciado talvez pelas roupas que os cangaceiros usavam ornamentadas, tempos depois foi para o bando, e lá no cangaço, foi apelidado de Demudado, aquele que morreu juntamente com Zé Baiano no massacre do coiteiro Antonio de Chiquinha, que juntamente com outros comparsas, tramaram a chacina. Mas antes de Demudado entrar para o cangaço, sua família presenciou a grande tragédia, o assassinato de seu filho, irmão Brió, pelos seus futuros companheiros, os cangaceiros.
Diz Alcino que o verdadeiro nome de Brió era Benjamim, um rapaz que levava a vida alegre e galhofeira. Era um bom e cativo frequentador de festas. Não perdia uma festa, um leilão, ou mesmo um grande forró de pé-de-serra.
Certa vez, achou-se compromissado com uma moça chamada Maria, esta sendo uma bela jovem, filha de um senhor chamado Cândido Saturnino. Durante o ano, trabalhou com muita garra, no intuído de ir ao altar com Maria no final do ano que corria. Mas Brio não imaginava o que o destino lhe reservava.
Nos finais de semana, Zé de Julião gostava de fazer bailes em sua casa, e em um desses, realizou um bailão, e toda a rapaziada de Poço Redondo estava presente para apreciar o toque e o tinir do triângulo e do pandeiro, agarrando-se a uma cabocla cheirosa e carinhosa.
O baile estava bastante animado sobre os efeitos da cachaça, dominava os dançadores no meio do salão. Lá fora, a noite estava vaidosa, mas já dava sinais de que logo, logo iria embora, pois o dia não mais tardava chegar. De repente, um início de confusões desinquietou os dançarinos do forró. E quem eram os brigões? O noivo Benjamim, o Brió, havia dado uma grande tapa no rosto de um rapaz chamado Lameu. Em tempos longínquos, uma tapa na cara era uma das maiores desonras do sertanejo. Ou ela seria perdoada definitivamente, ou alguém morreria por isso. Mané Lameu, o seu filho tomou suas dores para si, trocando tapas, que com isso, obrigou muitos dançarinos abandonarem o salão. Todos tentavam apartar os brigões.
Zé de Julião, apesar de ter aconselhado os bagunceiros, como era muito amigo de Mané Lameu, ficou a favor deste, retirando a razão de Brió. E posteriormente, sentindo-se decepcionado com a atitude de Zé Baiano, Brió dizia por onde passava que podia esperar, que a cobrança seria cara. Não media o tamanho das palavras, forçando o povo a acreditar que iria entrar na volante de Zé Rufino, somente para se vingar.
Estas ameaças de Brió eram dirigidas a Mané Lameu, e não para Zé Baiano. Brió andava conversando pelos cantos da boca. Melhor seria diminuir o tamanho das palavras ou pesá-la, para ter a certeza do tamanho e do peso. Brió estava dizendo aquilo, porque sabia que todos temiam a carrasca volante que era de Zé Rufino, e queria preocupar toda aquela gente. Mas antes desta confusão, ele já havia sido contratado por Zé Sereno.
Nesse dia, os cangaceiros estavam nas Capoeiras, e naquela semana, já aguardavam a chegada de Brió para acompanhá-los. Mas por infelicidade do novo cangaceiro, o famoso Zé de Julião foi ao coito. Não satisfeito com o que Brió tinha feito em seu baile, formando certas confusões em sua casa, fazendo com que os dançarinos fossem embora, e ainda por cima, boatando que iria entrar na força volante do tenente Zé Rufino, o famoso Zé de Julião contou aos cangaceiros todos os fatos do baile e as palavras ditas por Brió.
Chateados, julgando uma traição, os cangaceiros tomaram uma solução de imediato. Matar Brió assim que chegasse ao coito. Não iriam dar armas para um suspeito. As intrigas que tantos males levavam para as famílias sertanejas, acabavam de desgraçar mais uma inocente vida, que com certeza, iriam levar péssimos resultados.
Certo dia, pela manhã, Brió foi até à beira do riacho para pegar o seu animal que lá estava peado, em seguida dar início aos seus trabalhos rotineiros. Mas ele, em vez de ir buscar o animal, foi direto para o coito, já que era um esperado pela cangaceirada.
O tempo foi se gastando, o sol ficou a pino, e com o passar dos minutos, o pai da natureza foi-se embora, dando lugar a noite que alegremente ocupou o seu horário. E nada de Brió chegar. Brió não retornou para casa. Todos do lugar estranharam a sua ausência. Por onde anda Brió? Quem dá notícias de Brió? O que aconteceu com Brió?
Os dias se passaram e em certa noite, o cangaceiro Mané Moreno e um dos seus bandoleiros, juntos, foram até a casa da mãe de Brió, a Bubu. Com ansiedade, a velha recebeu notícias do filho. Mané Moreno disse que não se preocupasse, o moço viajara a serviço deles, e dentro de uma semana, retornaria. Felizmente o pesadelo que antes incomodava muito dona Bubu, acabou a partir dali. Cheia de alegria, a velha preparou um gostoso e bem quentinho café e, satisfeita, ofereceu aos bandidos. Saciados aquela vontade de esquentarem o sofrido estômago, rumaram para a fazenda Propiá, onde iriam passar a noite dançando. Os Camburanga não imaginavam que o bandido estava mentindo, e que a verdade ainda não havia ocupado o lugar da mentira.
Vamos até o coito? Não se preocupe, vamos com cuidado!
No coito, só tinham sanguinários: Mané Moreno, Juriti e Zé Sereno. Brió, sem saber que estava caminhando para a morte, assim que chegou, foi imediatamente preso e condenado. Ao receber a voz de condenado, ficou sem saber o motivo da prisão. Ainda não tinha participado de combates, não havia traído nenhum deles, e ele tinha direito de saber o tamanho do castigo que estava recebendo. Mas o pobre Brió, não se lembrava das palavras pesadas que havia dito com o amigo de Zé de Julião, o Mané Lameu. Agoniado, perguntou:
- O que foi que eu fiz, gente? Eu vim para trabalhar com vocês e sou recebido dessa maneira?!
- Que trabalhar que nada, seu traidor! Você está querendo perseguir a gente? Quer ir para força para ser macaco, é seu vagabundo?
Brió percebeu que ali iria morrer. Aquela perseguição de corpo presente não era de brincadeira. Os homens estavam realmente com muita raiva dele. Ele sabia bem, que tinha conversado muito sobre a briga que ele teve com Mané Lameu. E quem teria dito lá no coito, que ele estava pensando em entrar na volante do governo? Os traidores só podiam ter sido Zé de Julião e a Gracinha, que eram muito amigos dos bandidos. Com certeza delataram as suas palavras desnecessárias.
Brió tentou meios de se salvar, mas não teve jeito. E ao saber que não seria perdoado, faz um pedido, dizendo:
- Já que vocês vão me matar peço-lhes que não me matem enforcado e nem afogado. Matem-me com um único tiro.
Brió já amarrado levaram-no para o outro lado do riacho do Brás. Juriti, perverso, resolveu enforcá-lo num galho de angico, só pelo prazer de vê-lo morrer de uma maneira que o infeliz pedira tanto que não o matassem dessa maneira. Brió, no momento em que os asseclas suspenderam-no para o colocarem em um dos ganchos que existia no angico, Brió ainda lutou para salvar a sua vida. Mas os asseclas o dominaram. Mesmo pedindo que não o executassem, enforcaram-no.
Era o mês de fevereiro, do ano de 1935, que mais uma vida deixou de existir neste mundo de meu Deus. Brió estava morto.
Das virgens, esposa de Mané Lameu foi ela quem encontrou o corpo de Brió dependurado numa árvore em fevereiro do ano de 1935.
Diz Alcino que dias depois, a mulher de Mané Lameu, Dona das Virgens, quando caçava umas cabras de leite que não tinha ido para o chiqueiro do Poço Dantas, viu uns urubus voando sobre um angico, chegou mais perto e então viu aquela figura humana dependurada. Correu e foi avisar ao pessoal do povoado. Muitos chegaram ao local, e, pesarosos, afirmaram que o corpo dependurado era de Brió. O infeliz estava com as calças arreadas até o tornozelo, com um paletó, o chapéu, a língua todo de fora e já muito deformado. Enterraram-no lá mesmo.
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