Por José Mendes Pereira
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segunda-feira, 12 de abril de 2021
PEÇA LOGO ESTES TRÊS LIVROS PARA VOCÊ NÃO FICAR SEM ELES. LIVROS SOBRE CANGAÇO SÃO ARREBATADOS PELOS COLECIONADORES.
FEIRA DE CABEÇAS..(..Grandes artigos do Grupo LCN..)
--Por: Aurélio Buarque de Holanda(ESCRITOR E GRAMATICISTA)
De latas de querosene mãos negras de um soldado retiram cabeças humanas. O espetáculo é de arrepiar. Mas a multidão, inquieta, sôfrega, num delírio paredes-meias com a inconsciência, procura apenas alimento à curiosidade. O indivíduo se anula. Um desejo único, um único pensamento, impulsa o bando autômato. Não há lugar para a reflexão. Naquele meio deve de haver almas sensíveis, espíritos profundamente religiosos, que a ânsia de contemplar a cena macabra leva, entretanto, a esquecer que essas cabeças de gente repousam, deformadas e fétidas, nos degraus da calçada de uma igreja.
Cinco e meia da tarde. Baixa um crepúsculo temporão sobre Santana do Ipanema, e a lua crescente, acompanhada da primeira estrela, surge, como espectador das torrinhas, para testemunhar o episódio: a ruidosa agitação de massas que se comprimem, se espremem, quase se trituram, ofegando, suando, praguejando, para obter localidade cômica, próximo do palco.
Desenrola-se o drama. O trágico de confunde com o grotesco. Quase nos espanta que não haja palmas. Em todo caso, a satisfação da assistência traduz-se por alguns risos mal abafados e comentários algo picantes, em face do grotesco. O trágico, porém não arranca lágrimas. Os lenços são levados ao nariz: nenhum aos olhos. A multidão agita-se, freme, sofre, goza, delira. E as cabeças vão saindo, fétidas, deformadas, das latas de querosene - as urnas funerárias -, onde o álcool e o sal as conservam, e conservam mal. Saem suspensas pelos cabelos, que, de enormes, nem sempre permitem, ao primeiro relance, distinguir bem os sexos. Lampião, Maria Bonita, Enedina, Luiz Pedro, Quinta-Feira, Cajarana, Diferente, Caixa-de-Fósforo, Elétrico Mergulhão...
- As cabeças!
- Quero ver as cabeças!
Há uma desnorteante espontaneidade nessas manifestações.
- As cabeças. Não falam de outra coisa. Nada mais interessa. As cabeças.
- Quem é Lampião?
Virgulino ocupa um degrau, ao lado de Maria Bonita. Sempre juntos, os dois.
- Aquela é que é Maria Bonita? Não vejo beleza...
O soldado exibe as cabeças, todas, apresenta-as ao público insaciável, por vezes uma em cada mão. Incrível expressão de indiferença nessa fisionomia parada. Os heróis de tantas sinistras façanhas agora desempenham, sem protesto, o papel de S. João Batista...
Sujeitos mais afastados reclamam:
- Suspende mais! Não estou vendo, não!
- Tire esse chapéu, meu senhor! - grita irritada uma mulher.
O homem atende.
- Agora, sim.
A pálpebra direita de Lampião é levantada, e o olho cego aparece, como elemento de prova.
Velhos conhecidos do cangaceiro fitam-lhe na cabeça olhos arregalados, num esforço de comprovação de quem quer ver para crer.
- É ele mesmo. Só acredito porque estou vendo.
Houve-se de vez em quando:
- Mataram Lampião... Parece mentira!
Virgulino Ferreira, o rei do cangaço, o "interventor do sertão", o chefe supremo dos fora-da-lei, o cabra invencível, de corpo fechado, conhecedor de orações fortes, vitorioso em tantos recontros, - Virgulino Ferreira, o Capitão Lampião, não pode morrer.
E irrompe de várias bocas:
- Parece Mentira!
No entanto é Lampião que se acha ali, ao lado de Maria Bonita, junto de companheiros seus, unidos todos, numa solidariedade que ultrapassou as fronteiras da vida. É Lampião, microcéfalo, barba rala, e semblante quase doce, que parece haver se transformado para uma reconciliação póstuma com as populações que vivo flagelara.
Fragmentos de ramos, caídos pelas estradas, durante a viagem, a caminhão, entre Piranhas e Santana do Ipanema, enfeitam melancolicamente os cabelos de alguns desses atores mudos. Modestas coroas mortuárias oferecidas pela natureza àqueles cuja existência decorreu quase toda em contato com os vegetais - escondendo-se nas moitas, varando caatingas, repousando à sombra dos juazeiros, matando a sede nos frutos rubros dos mandacarus.
Fotógrafos - profissionais e amadores - batem chapas, apressados, do povo, e dos pedaços humanos expostos na feira horrenda. Feira que , por sinal, começou ao terminar a outra, onde havia a carne-de-sol, o requeijão de três mil-reis o quilo, com o leite revendo, a boa manteiga de quatro mil reis, as pinhas doces, abrindo-se de maduras, a dois mil-reis o cento, e as alpercatas sertanejas, de vários tipos e vários preços.
Ao olho frio das codaques interessa menos a multidão viva do que os restos mortais em exposição. E, entre estes, os do casal Lampião e Maria Bonita são os mais insistentemente forçados. Sobretudo o primeiro.
O espetáculo é inédito: cumpre eternizá-lo, em flagrantes expressivos. Um dos repórteres posa espetacularmente para o retratista, segurando pelas l=melenas desgrenhadas os restos de Lampião. Original. Um furo para "A Noite Ilustrada".
Lembro-me então do comentário que ouço desde as primeiras horas deste sábado festivo: -"Agora todo o mundo quer ver Lampião, quer tirar retrato dele, quer pegar na cabeça...Agora..."
Há, com efeito, indivíduos que desejam tocar, que quase cheiram a cabeça, como ansiosos de confirmação, por outros sentidos, da realidade oferecida pela vista.
Desce a noite, imperceptível. A afluência é cada vez maior. Pessoas do interior do município e de vários municípios próximos, de Alagoas e Pernambuco, esperavam desde sexta-feira esses momentos de vibração. Os dois hoteis da cidade, literalmente entupidos Cheias as residências particulares - do juiz de direito, do prefeito, do promotor, de amigos dessas autoridades. Para muitos, o meio da rua.
Entre a massa rumorosa e densa não consigo descobrir uma só fisionomia que se contraia de horror, boca donde saía uma expressão, ainda que vaga, de espanto. Nada. Mocinhas franzinas, romanescas, acostumadas talvez a ensopar lenços com as desgraças dos romances cor-de-rosas, assistem à cena com uma calma de cirurgião calejado no ofício. Crianças erguidas nos braços maternos espicham o pescoço buscando romper a onda de cabeças vivas e deliciar os olhos castos na contemplação das cabeças mortas.
E as mães apontam:
- É ali, meu filho. Está vendo?
Alguns trocam impressões;
- Eu pensava que ficasse nervoso. Mas é tolice. Não tem que ver uma porção de máscaras.
- É isso mesmo.
Os últimos foguetes estrugem nos ares. Há discursos. Falam militares, inclusive o chefe da tropa vitoriosa em Angico. Evoca-se a dura vida das caatingas, em rápidas e rudes pinceladas. O deserto. As noites ermas, escuras, que os soldados às vezes iluminam e povoam com as histórias de amor por eles sonhadas - apenas sonhadas... Os passos cautelosos, mal seguros sobre os garranchos, para evitar denunciadores estalidos, quando há perigo iminente. Marchas batidas sob o sol de estio, em meio da caatinga enfezada e resseca, e da outra vegetação, mais escassa, que não raro brota da pedra e forma ilhotas verdes no pardo reinante: o mandacaru, a coroa-de-frade, a macambira, a palma, o rabo-de-bugio, facheiro, com o seu estranho feitio de candelabro. A contínua expectativa de ataque tirando o sono, aguçando os sentidos.
O sino toca a ave-maria. Dilui-se-lhe a voz no sussurro espesso da multidão curiosa, nos acentos fortes do orador, que, terminando, refere a vitória contra Lampião, irrecusavelmente comprovada pelas cabeças ali expostas.
Os braços da cruz da igrejinha recortam-se, negros, na claridade tíbia do luar; e na aragem que difunde as últimas vibrações morrediças do sino vem um cheiro mais ativo da decomposição dos restos humanos.
Todos vivem agora, como desde o começo do dia, para o prazer do espetáculo. As cabeças!
A noite fecha-se. Em horas assim, seriam menos ferozes os pensamentos de Lampião. O seu olhar se voltaria enternecido para Maria Bonita.
Que será feito dos corpos dissociados dessas cabeças? O rosto de Maria Bonita, esbranquiçado a trechos por lhe haver caído a epiderme, está sinistro.
Onde andará o corpo da amada de Lampião? A cara arrepiadora, que mal entrevejo à luz pobre do crescente, não me responde nada.
E Lampião? Sereno, grave, trágico. O olho cego, velado pela pálpebra, fita-me. (1938).
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(*) Autor do mais importante dicionário da língua portuguesa publicado no Brasil neste século. Texto do livro esgotado "O chapéu de meu pai, editora Brasília, 1974.
Fonte:Diário Oficial -Estado de Pernambuco-Ano IX - Julho de 1995
Material cedido pelo escritor, poeta e pesquisador do cangaço:
Kydelmir Dantas
(** ) Fotos pescadas no Google
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SER OU NÃO SER
Clerisvaldo B. Chagas, 12 de abril de 2021
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.510
Os cangaceiros usavam espinhos de mandacaru para palitar os dentes. As indústrias não fabricam palitos inspiradas nas cactáceas sertanejas. Entretanto, algum tipo de cola branca tem a ver com o aveloz ou labirinto como se chamavam no semiárido. Aproximadamente na década de 60, o sertão nordestino surgiu com essa planta para ser colocada junto as cercas de arame. A praga infestou o sertão, tanto que o transeunte da estrada sertanejas não avistavam mais as roças, as paisagens dentro das fazendas, todas rodeadas de labirinto. A planta crescia até mais de três metros de altura deixando as estradas como grandes túneis porque eram ladeadas pela planta. O labirinto produz um leite pegajoso que bateu no olho, cega. O labirinto (Euphorbia tirucalli) é um arbusto com mais de 40 denominações.
Para fazer as podas necessárias, os raros homens que se prestavam a fazer esse tipo de serviço, usavam máscaras de metal que cobriam completamente o rosto, deixando vidros no lugar dos olhos. Vez em quando se ouvia dizer que Fulano ou Beltrano teriam ficado cegos com leite de aveloz. Eu achava essa praga um absurdo. Algumas pessoas usavam o leite pingando nas verrugas como remédios de cura. Porém, nunca testemunhei a eficácia. Pensei que aquilo poderia ser aproveitada como cola. Décadas e décadas depois, vim a saber que indústrias estavam usando justamente o leite de aveloz como ingrediente nos produtos de colagens. Fui profeta realizado. Depois da década do aveloz, os matutos começaram a se livrar daquela planta e as estradas foram ficando limpa de um lado e do outro e aí já podíamos contemplar as fazendas cercadas somente pelas cercas de arame farpado. A praga acabou, mas revelando a surpresa do desmatamento que se escondia por trás do labirinto.
No caso daquilo que era considerado erva daninha pelos criadores de gado, o mata-pasto, que se gastava fortunas para erradicá-los das pastagens. Imaginei na época se aquela erva não serviria para outra coisa. Descobri lá na frente que pesquisadores atestavam o valor nutritivo do mata-pasto e assim ele foi incorporado à silagem para ração animal nos tempos de estiagem. Vejam como a coisa muda! É quando o vilão passa a ser herói. E assim poderíamos citar vário produtos da nossa caatinga, antes desprezados, servindo de matéria-prima para as indústrias diversas, inclusive a farmacêutica, mas cultivada e sem desmatamento
Voltemos ao passado dos grandes filósofos: “ser ou não ser, eis a questão”
MATA-PASTO (FOTO: WIKIPÉDIA)
BÁRBARA DE ALENCAR - A HEROÍNA DA REVOLUÇÃO PERNAMBUCANA
#BárbaradeAlencar #RevoluçãoPernambucana O vídeo trata-se da revolucionária Bárbara Pereira de Alencar foi uma comerciante e revolucionária brasileira. Primeira presa política do Brasil, é considerada uma heroína da Revolução Pernambucana e da Confederação do Equador. Era avó do escritor José de Alencar.
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O BEATO PARAIBANO ZÉ LOURENÇO NA “SEDIÇÃO DO JUAZEIRO”
Por João Costa
O AUTO DA COMPADECIDA
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GRANDES ENCONTROS CARIRI CANGAÇO
Por Manoel Severo
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FOTOS DA DÉCADA DE 70
Por Geraldo Júnior
Fotos que foram registradas durante programa da extinta TV Tupi, exibido na década de 1970, que era comandado pelo jornalista Humberto Mesquita, onde foram reunidos e entrevistados alguns ex-cangaceiros remanescentes do bando de Lampião e que também contou com a presença do ilustre e saudoso pesquisador Antônio Amaury Corrêa de Araújo.
Participaram do programa os ex-cangaceiros: Zé Sereno e sua companheira Sila, Balão II e Criança III.
Infelizmente a filmagem do programa se perdeu e o que restou como lembrança foi essa sequência de fotos que venho apresentando aqui em minhas páginas ao longo dos dias.
Para finalizar a exposição das fotografias que foram a mim gentilmente cedidas pelo jornalista Humberto Mesquita, deixo anexadas a essa publicação o restante das imagens que foram registradas durante o programa.
Um acervo de imagens de valor inestimável para os amantes da história e da literatura cangaceira.
Contemplem.
https://www.facebook.com/groups/lampiaocangacoenordeste
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MARIA ADELAIDE DE JESUS
Por Rubens Antonio
Maria Adelaide de Jesus, dita Maria Jovina, a Maria de Pancada... Cangaceira. 17 anos de idade.
https://www.facebook.com/rubensantoniodasilvafilho/posts/5594398003933781?notif_id=1618236899330933¬if_t=close_friend_activity&ref=notif
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FAMÍLIA XAVIER DE IPUEIRA-PE.
Por Maria do Socorro Cardoso Xavier
No dia 3 de fevereiro de 1927 a família Xavier de IPueira-Pe mostrou sua força e superioridade ao bando de Lampião.
Lampião já tinha ameaçado antes, e no dia 3 de fevereiro foi cumprir. O fogo da Ipueira foi tão grande que comoveu até mesmo Luiz Gonzaga (o rei do Baião) que fez uma homenagem à família Xavier que fez resistência contra o chefe do Cangaço e obteveram Vitória.
Homenagem de Luiz Gonzaga a família Xavier.
Paraíba, ceará e Alagoas.
Pernambuco, não esqueço o meu Torrão.
Quando eu falo da Ipueira
Me dá uma dor no coração.
Só porque me lembro dos xavies
Os cabras macho que brigou com Lampião ".
Fonte: A Saga de um clã Xavier- Maria do Socorro Cardoso Xavier.
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