*Rangel Alves da Costa
O poder apaixona, entranha-se no indivíduo como visgo que nunca parece ter fim. Como se subindo numa escada, jamais a pessoa deseja recuar ou descer, indo sempre dando mais um passo como se não houvesse limites na sua escalada. Bem assim acontece no poder político. O visgo da política é tamanho que se entranha no sujeito de tal forma que de repente ele não sabe mais se é gente ou se é partido, se é humano ou apenas a incessante busca de poder.
E algo que enraíza. Raiz que vem de baixo e vai pra cima. Quando a raiz do alto vai quebrando, já vem mais raiz lá de baixo. E assim de gerações a gerações. Político há que nunca foi filho de família, mas apenas filho de político. Político há que cresceu sendo ensinado a ser apenas político. Toda formação que consegue é apenas para adornar seu currículo politiqueiro ou para ser melhor justificado perante o seu eleitor. Então logo se diz que nasceu com sangue para a política.
Não nasce com sangue para a política, recebendo apenas transfusão ao longo do tempo. Como o avô ensinou o filho a ser político, assim faz o pai com relação ao seu escolhido para herdar a linhagem do poder. Muitas vezes, o herdeiro não precisa fazer esforço algo para ter seu nome reconhecido em pleitos futuros. Nem precisa. É a herança que vai afastando o nome próprio para impor somente o nome familiar. Assim são os clãs do poder, do mando, da continuidade, do enraizamento.
O próprio nome clã já indica já traduz a linhagem familiar, o parentesco, uma ancestralidade que vai guiando as gerações. Mesmo que não dependa da consanguinidade para sua existência, a sua valoração está exatamente na força que o clã possui perante a vida social. Na política, o clã implica na existência de famílias que desde muito possuem poder político perante sua comunidade. Mas também a formação de novas gerações de políticos com base na força eleitoral de seus familiares.
Os clãs políticos sempre existiram e por muito tempo continuarão cavando, forçando e até impondo, seus espaços de poder e no poder. Mesmo com os adeuses dos patriarcas e matriarcas, ou mesmo com seus herdeiros passando a servir somente como escudos de força, suas proles sempre sentem a necessidade de dar continuidade aos poderes oriundos das raízes familiares, dos nomes e sobrenomes.
Como dito, os clãs políticos continuam existindo. Nesta eleição, por exemplo, muitas são as descendências pleiteando a manutenção do poder e da força familiar. Muitas vezes, apenas jovens inexperientes, sem qualquer passagem pela vida partidária, mas que são lançados não por prestígio ou reconhecimentos próprios, e sim pela raiz familiar ou pela força do nome dos pais.
Daí surgirem situações interessantes. Muitos destes candidatos parecem não ter nem nome próprio, pois sempre lançados e trabalhados como candidatos “filhos de fulano ou beltrano”. Na certeza de que o nome sozinho do candidato não possui força suficiente para ser reconhecido e votado, então o que se tem é uma enxurrada de Pascácio filho de Pascánio, Geromeu filho de Baromeu, Crisosto neto de Crisostino. Uma estratégia mais que eficiente para dizer quem está por trás daquela candidatura.
A verdade é que o poder político oriundos dos clãs familiares possui longas raízes históricas e ainda se alastra por todo lugar. São verdadeiras dinastias que basicamente procuram formar os seus muito mais para a vida política do que para a pública. Geralmente são proles endinheiradas, com formação superior ou em vias de graduação e que, mesmo distanciadas do povo, por este é reconhecido via raízes familiares ou pelo poder exercido pelos seus escudos. Como se diz, são jovens fabricados para a política, moldados para serem herdeiros de verdadeiros currais eleitorais.
A história política sergipana está repleta de casos assim, com exemplos bons e outros nem tanto. Sem citar nomes, antigos senhores foram alavancando o nome de suas proles e em suas cadeiras deixaram políticos habilidosos, inteligentes, honrados, alcançando os mais patamares na vida política. Já outros, mesmo com os pesos da linhagem familiar, não conseguiram vingar. Daí a certeza que não basta a força do clã ou o prestígio familiar, mas principalmente que o seu herdeiro aprenda a se situar no meio político e mostrar que sua capacidade vai além de sua raiz.
Temeroso é. Há sempre a incerteza se um jovem inexperiente na política vá algum dia se afastar de seu escudo e caminhar com os próprios passos. Contudo, o mais temeroso é que o jovem político sequer tenha voz e vez de ação. Uma vez eleito pelo clã, daí em diante servirá apenas como enfeite. Dificilmente terá força suficiente para tomar decisões por conta própria. E então estará exemplificado o novo revestido do velho. Ou seja, o mandato é do jovem eleito, mas o mando político continuará sendo de seu escudo, daquele escudo paterno que o elegeu.
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