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quarta-feira, 30 de julho de 2014

O mais novo livro sobre o cangaceiro Jararaca


O mais novo livro sobre o cangaceiro JARARACA
Autor: Marcílio Lima Falcão
Adquira logo este através deste e-mail:
limafalcao34@gmail.com
Valor: R$ 35,00 (incluso a postagem)  
Banco do Brasil
Agência: 3966-7
CC - 5929-3
Marcílio Lima Falcão
Marcílio Lima Falcão é professor da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN), mestre em História Social pela Universidade Federal do Ceará (UFC) e atualmente faz doutorado em História Social na Universidade de São Paulo (USP). Suas principais áreas de pesquisa são a História Social da Memória, Religiosidade e Movimentos Sociais no Brasil Republicano.

Enviado pelo poeta, escritor, pesquisador do cangaço e gonzagueana Kydelmir Dantas.

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DEUS E O DIABO NA TERRA DO SOL: UM CLÁSSICO DO CINEMA NOVO LANÇADO HÁ CINQUENTA ANOS


Era 1964 quando o Brasil testemunhou o desabrochar de uma das maiores aventuras cinematográficas de todos os tempos. Em março daquele ano, era lançado, no Rio de Janeiro, o longa-metragem “Deus e o diabo na terra do sol”, do cineasta baiano, Glauber Rocha. O filme, considerado por um jornal da época como “a maior explosão de talento já ocorrida no cinema brasileiro”, foi rodado nas áridas regiões de Monte Santo e Canudos, tendo em seu elenco atores da estirpe de Othon Bastos, Yoná Magalhães, Geraldo D’El Rey e Maurício do Vale.

Naquele momento, o Brasil atravessava uma das fases mais singulares da sua história política. Terminava o governo de Juscelino Kubistchek e começava o governo de João Goulart. A sociedade brasileira, que por cinco anos amargara a política “desenvolvimentista” de JK, agora, com Jango, divisava o surgimento de um novo modelo socioeconômico, cimentado, sobretudo, nas chamadas “Reformas de Base”.

Nesse contexto, “Deus e o diabo na terra do sol” ecoou como uma espécie de “alegoria da esperança”, servindo de combustível a um país que clamava por mudanças urgentes. Um dos motes norteadores do discurso político da época, a reforma agrária, aparece num dos cordéis que compõem a trilha sonora da fita: “A terra é do homem, não é de Deus nem do Diabo”.

O cenário do filme é o nordeste do Brasil, caracterizado, em extremo, pela miséria do seu povo. Nesse ambiente de dor, convivem simultaneamente as figuras do beato e do cangaceiro, ambos no papel de porta-vozes dos pobres e injustiçados. De posse do rosário ou do bacamarte, têm eles as melhores armas contra as velhas estruturas de poder, que, de há muito, submetem a população nordestina ao jugo pesado da fome e da opressão. Não por acaso, tais manifestações de rebeldia acabam sempre reprimidas pelas forças mantenedoras da política do atraso, representadas, na trama, pela figura soturna de Antônio das Mortes, o frio matador de beatos e cangaceiros.

É ao místico ou ao cangaceiro que costumam recorrer os pobres nos momentos de maior dramaticidade, sempre encontrando neles o alento de que necessitam para continuarem subsistindo. O sonho de uma vida melhor, alimentado pelo vaqueiro Manuel, encontra eco no verbo cortante do beato Sebastião, que, rodeado de piedosos devotos, revive o caminho e a profecia de Antônio Conselheiro: “Do outro lado de lá deste Monte Santo existe uma terra onde tudo é verde. Os cavalo comendo as flor e os meninos bebendo leite nas águas do rio. Os homem come o pão feito de pedra, e poeira da terra vira farinha. Tem água e comida. O sertão vai virar mar e o mar virar sertão!”.

Tida como uma das dez obras mais importantes da história da cinematografia, “Deus e o diabo na terra do sol” é, talvez, a maior expressão do chamado Cinema Novo, que teve em Glauber Rocha seu representante mais significativo. Graças a seu rápido e estrondoso sucesso, a película logo transporia as fronteiras nacionais, tornando-se um fenômeno de alcance mundial. Sua participação nos festivais mais relevantes da época denunciou ante o mundo o drama alarmante da fome e chamou a atenção dos detentores do poder para o pouco caso com que, secularmente, foram tratados os segmentos mais pobres do povo, em especial nos países ditos periféricos, com destaque para o continente latino-americano, um dos alvos da política neocolonialista.

O motivo para tamanho sucesso estaria, como pontuou o próprio Glauber, na “trágica originalidade do Cinema Novo”, expressa em “seu alto nível de compromisso com a verdade”. Compromisso este que ele, Glauber, destacará, tempos depois (1965), quando da redação do célebre manifesto “Estética da Fome”, conhecido como a carta magna do Cinema Novo: “Onde houver um cineasta disposto a filmar a verdade e a enfrentar os padrões hipócritas e policialescos da censura, aí haverá um germe do Cinema Novo. Onde houver um cineasta disposto a enfrentar o comercialismo, a exploração, a pornografia, o tecnicismo, aí haverá um germe do Cinema Novo. Onde houver um cineasta, de qualquer idade ou de qualquer procedência, pronto a pôr seu cinema e sua profissão a serviço das causas importantes do seu tempo, aí haverá um germe do Cinema Novo”.

O monstro do colonialismo, combatido à exaustão pelo cineasta, continua tão vivo quanto antes, aterrorizando povos e nações em todas as partes do planeta. Quando, por exemplo, os Estados Unidos, valendo-se de seu poderosíssimo aparato de inteligência, resolvem invadir a privacidade de cidadãos e instituições de outros países ao redor do mundo, desrespeitando, inclusive, o princípio da soberania inerente às nações, como ocorreu recentemente no Brasil, é a velha e nefanda política colonialista mostrando suas garras maléficas. Fica patente, como observou o próprio Glauber, que “o que diferencia o colonialismo de ontem do atual é apenas a forma mais aprimorada do colonizador”.

Enquanto a fome e a dominação não forem completamente extintas do nosso meio, “Deus e o diabo na terra do sol” e o Cinema Novo haverão de continuar vivos, como um grito de denúncia a ecoar nos quatro cantos do mundo.

José Gonçalves do Nascimento
jotagoncalves_66@yahoo.com.br

Fonte: facebook

Postado por Adryanna Karlla Paiva Pereira Freitas
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Vídeos sobre Lampião e cangaço



Youtube

Postado por Adryanna Karlla Paiva Pereira Freitas
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JOAOZINHO DE DANONA


Quem teve o prazer de ter um "dedim" de prosa com Joãozinho de Danona, não deixou de ouvir relatos das passagens de Lampião e seu bando pelas terras pinhãoenses. Joãozinho foi matéria do CINFORM no dia 06 de Maio de 2001 na edição 942. Confira alguns trechos:

Segundo ele, o bando de Virgolino Ferreira, o Lampião, esteve duas vezes em Pinhão. A primeira, na manhã de 22 de abril de 1929. A segunda em 1938.

Em 1929, dez cangaceiros invadiram a cidade. Além de Lampião, estavam presentes Corisco, Virgínio (cunhado de Lampião), Alvoredo, Zé Fortaleza, Volta Seca, Ângelo Roque, Ezequiel Ferreira (irmão de Lampião) Luiz Pedro e Luiz Mariano.

"Nunca vou esquecer aquele dia", rememora o aposentado Joãozinho Batista da Costa. Segundo ele, Lampião esteve em Pinhão para conseguir munição e dinheiro.

"Ele não ameaçava, nem bulia com ninguém. As únicas coisas que fez foi andar pelas bodegas, procurar munição na cidade e nos mandar pegar alguns cavalos. Depois pediu que algumas pessoas fizesse uma cota entre os moradores para ajudá-lo".

"O bando de Lampião e a volante comandada pelo Tenente Menezes trocaram tiros e por sorte ninguém de Pinhão morreu"

"Na passagem do bando de Lampião em 14 de outubro de 1938, o cangaceiro Zé Sereno matou o soldado José Paes da Costa".


Joãozinho conta que: "Quando chegou a volante, que veio brigar aqui à noite, o Zé Sereno pediu ao soldado José Paes, que era amigo deles, para tirá-los da cidade, porque eles não conheciam muito bem a região. Zé Paes saiu com os cangaceiros e, mais adiante, depois de tê-los guiados, sem mais nem menos Zé Sereno atirou nele, pelas costas, na traição. Não tinha motivo, foi só maldade."

http://www.reinaldopassos.com/noticias_pinhao_2010.htm

Postado por Adryanna Karlla Paiva Pereira Freitas
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Scans - Cangaço para os Hungaros

Por: Ângelo Osmiro e Major István
Ângelo Osmiro em Foto de Manoel Severo

A revista Természet Világa é uma publicação mensal editada na Hungria há 145 anos (conforme capa). É uma revista científica de uma Universidade deste país, que durante esses 145 anos a revista não deixou de ser editada um só mês, nem mesmo durante as duas grandes guerras mundiais

O texto publicado em parceria com o confrade Major István é um resumo da trajetória de Lampião do nascimento até a morte, fazendo uma analogia (muito superficial) com a violência atual.

Major István arquivo pessoal

Major István  é professor Visitante da UECE (Universidade Estadual do Ceará). O conheci quando ele compareu a uma das reuniões mensais do Grupo de Estudos do Cangaço do Ceará - GECC, depois tivemos um contato maior quando de uma viagem a Lavras da Mangabeira (Cariri Cangaço) aí surgiu o convite para escrevermos em parceria essa matéria. Estivemos reunidos no apartamento  dele e nas reuniões do GECC seguintes e elaboramos o texto em parceria. Eis ai o resultado. Por enquanto vou ficar devendo a tradução.


CAPA




http://lampiaoaceso.blogspot.com.br/2014/07/scans.html

Postado por Adryanna Karlla Paiva Pereira Freitas
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O cantor João Mossoró fará Show no "Mercadão Cadeg - Rio de Janeiro"


O cantor João Mossoró estará se apresentando neste sábado (dia 2 de Agosto), no Mercadão Cadeg, no Restaurante
"CANTINHO DAS CONCERTINAS",
no Rio de Janeiro.
UMA FESTA PORTUGUESA
Prestigie o artista participando desta grande festa

 Acesse o site do cantor João Mossoró e ouça suas belas músicas.
http://www.joaomossoro.com/ 

Postado por Adryanna Karlla Paiva Pereira Freitas
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Piranhas-AL e alguns mapas antigos.







O pesquisador do cangaço Rubens Antonio falou sobre os mapas do Robério Santos apresentados na sua página no facebook: 


- Beleza... Minha dissertação trabalhou muito com mapas e fotos antigas de Salvador, para resgate de formas geoformas antigas.

E a pesquisadora do cangaço Juliana Pereira também falou sobre as fotos do  Robério Santos:


- O bacana das fotografias e dos mapas antigos é nos remeter a diferentes aspectos da história urbana e social. Nos permitindo uma percepção mais profunda da origem e formação da cidade em análise. Bem como, a relação entre a sociedade e o meio urbano, além de nos mostrar também, a econômica local quando do crescimento e ou estagnação. Piranhas teve mais sorte que Curralinho, um povoado do Município de Poço Redondo/SE Sergipe, ha pouco mais de 20 km de Piranhas, situado às margens do Rio São Francisco. 

A pequena vila parece que parou no tempo, se Piranhas parece um pequeno presépio colorido encravado entre montes... Curralinho que um dia também fora como Piranhas, hoje, não passa de uma vilinha sem vida e sem cor, donde ainda resiste no alto de um pequeno morro, uma pequena igreja dedicada a Nossa Senhora da Conceição, construída por Antônio Conselheiro. 

O povoado hoje debruça-se apático observando as águas do Velho Chico levar consigo sua história... de povoado que um dia fora próspero e cheio de vida. Piranhas, ha poucos quilômetros conseguiu resistir o tempo e mante-se viva... e linda, pra mim... uma das cidades mágicas que tive a sorte de conhecer e visita-la várias vezes. Magnífica exposição Robério Santos. Piranhas é sem sombra de dúvidas uma cidade especial.

Fonte: facebook
Página: Robério Santos

Postado e ilustrado por Adryanna Karlla Paiva Pereira Freitas
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OS CRIMES DE LAMPIÃO - Parte I

Por Ranulfo Prata

Teria sido Lampião, realmente, um homem violento, cruel, frio, capaz de cometer os mais horrendos homicídios? Sim. A descrição de alguns dos seus crimes feita por Ranulfo Prata, não deixa dúvida alguma de que, antes de ser o Robin Hood descrito por alguns de seus historiadores, o cangaceiro-chefe, foi acima de tudo desapiedado para com suas vítimas.

"Vila Queimadas: é uma humílima estação da estrada de ferro que liga a capital baiana a Juazeiro, aquela mesma que nos tempos da campanha de Canudos fez-se conhecida por ser ponto de desembarque das tropas expedicionárias.

Euclydes da Cunha assim a ela se refere:

"O casario pobre, desajeitadamente arrumado pelos lados da praça irregular, fundamente arada pelos enxurros, um claro no matagal bravio que o rodeia e, principalmente, a monotonia das chapadas que se desatam em volta, salteadamente pontilhadas de morros desnudos, dão-lhe um ar tristonho, completando-lhe o aspecto de vilarejo morto, em franco descambar para tapera em ruínas"

Ainda hoje é assim.

Como todos os povoados da região parece sempre em "franco descambar para tapera em ruínas", mas não morre nunca, perdura num estado miserável de cachexia, animado de eterno sopro de vida.

Lampião uma manhã fez-lhe uma surpresa de bater-lhe as portas. Tomou de assalto o quartel e nele prendeu todo o destacamento, composto de sete soldados e um sargento. Deixando-o sob a guarda dos cabras, que assim transformaram os pobres policiais, de carcereiros que eram, em encarcerados, foi a uma pensão e pediu que lhe servissem lauto almoço, fazendo questão de que todos os hóspedes, viajantes e pessoas outras, sentassem também à mesa para comer em sua companhia.

Houve quase um banquete. O dono da casa apressou-se em servir o hóspede, matando galinhas, e preparando pratos especiais, atulhando a mesa de iguarias e bebidas várias.

O senhor dos sertões abancou-se à cabeceira e a refeição correu sem novidade, o anfitrião a sorrir amável para todos, principalmente aos viajantes que riam um tanto forçados, deglutindo mal, com espasmos no esôfago.

Ao findar, pagou largamente e encaminhou-se para o quartel onde os seus prisioneiros, lívidos e com o coração a bater forte, aguardavam a sentença, que não demorou muito.

Paga um deles e leva-o para o oitão da cadeia. Ordena que se ajoelhe. O homem dobra as pernas que mal sustém o corpo e finca os joelhos no chão. Tem um olhar intraduzível de pavor. E friamente, serenamente, o matador bárbaro saca do punhal de 78 centímetros de lâmina e crava, num golpe certeiro e veloz, na região preferida – a fossa supra clavicular. A arma, agudíssima, vara facilmente o mole dos tecidos, como um palito à manteiga.

A experiência ensinou-lhe ser ali ótima região, sem obstáculos ósseos que lhe resvalem o punhal. Ao introduzi-lo oblíqua à direita ou esquerda, conforme o lado ferido, transfixando, assim, o mediano. O homem, sangrado como uma rês dá um salto, lança nos ares um urro medonho e cai de borco, já cadáver.

Ele volta à prisão, retira o segundo condenado e repete a cena com a mesma indiferença e frieza. O mesmo golpe certeiro, o mesmo salto, o mesmo urro medonho que põe nos nervos mais equilibrados um tremor de angústia mal definida.

Sargento Evaristo que Lampião poupou a sua vida

Arrasta para fora o terceiro, o quarto, o quinto, o sexto e o sétimo. Quando chega a vez do sargento Evaristo muitas pessoas do lugar intercedem, pedem, imploram em favor do desgraçado. Que, o poupe, ao menos, que o poupe, anima-se a dizer alguns. Já correu muito sangue, deixe a vida ao pobre sargento que tem família numerosa e é homem bom, e querido. Lampião fita-o, nota-lhe os beiços alvacentos a tremerem, a brancura das feições transtornadas, as pernas mal firmes, e diz numa zombaria macabra:

“- Não sei pruque nunca vi homem corado na minha frente!”

E consente-lhe a esmola da vida, num gesto desdenhoso de vencedor terrível. Manda enfileirar os cadáveres:

" - Quando eu saí que enterre, ordena".

E virando as costas vai bebericar numa venda próxima.

Além desta mortandade ultraja o juiz e exige da população miserável mais de uma dezena de contos.

http://www.luizalberto.com.br/l03.html

Postado por Adryanna Karlla Paiva Pereira Freitas
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O CORONEL NA CADEIRA

Por Rangel Alves da Costa*

Assento antigo a cadeira do coronel. De remota madeira de lei, envernizada pelo tempo, na varanda se balançando desde as andanças da chibata e do cuspe secando ao lado. Dali partiu ordens para tocaias, emboscadas e mortes, no aprazamento até o cuspe secar. Era esse o costume coronelista: ordenar e ter sua ordem cumprida antes de o cuspe secar. E cuspia mesmo, até na cara do jagunço, do matador.

A cadeira de balanço do coronel parecia fincada na pedra da varanda. Era de balanço, mas permanecia imóvel quando o seu dono sentava nela. O dono do mundo não gostava do vai e vem da madeira, eis que lhe parecia festeiro demais. Sentava o traseiro ali e movia apenas a cabeça e as mãos. Gostava mesmo de ficar longo tempo numa quietude de mármore, imóvel, lançando o olhar pelas vastidões de seu mando. Mas o seu mundo de mando avançava por toda a região.

Casarão antigo, construído por mãos negras marcadas pelos grilhões e com pedras cimentadas pelo suor e sangue de um povo escravizado e tratado como bicho. Construção secular, imensa, com paredes de quase um metro de espessura, muitos e espaçosos aposentos, culminando com varandas na frente e nas laterais. Nos fundos quartos fechados, cheios de armas, munições e apetrechos de selvagerias. E assim nas duas gerações coronelistas que ali fincou moradia, poder e mando.

Nas sombras de qualquer hora do dia, ainda que adiante se mostrasse um sol de fornalha, o velho coronel aparecia na vaga da imensa porta da sala principal. Era ali dentro onde recebia outros coronéis de mesma patente forjada na vindita de sangue, convidados ilustres, jagunços e capangas, e de onde fazia emanar seu poder. Mas poucos tinham encorajamento suficiente para surgir diante daquele que havia se tornado em verdadeira lenda naquelas vastidões nordestinas.

O medo era justificado, pois ninguém sabia como seria tratado, nem mesmo políticos e poderosos da região. Mas fosse quem fosse, adentrando naquela porta era recebido por um homem corpulento, de estatura mediana, vestindo sempre terno de linho branco amarrotado, de chapéu largo, arma à mostra na cintura, e de costas. Sim, de costas e com as mãos para trás e a cabeça voltada para um enigmático objeto na parede: um pedaço de tronco com marcas de tiros e uns respingos escurecidos. Era sangue.

De pouca conversa e muita ordem, falava muito mais pelo olhar. O seu cabra de confiança, o jagunço maior em quem confiava e a quem dera a chefia sobre os demais, sabia muito bem traduzir aquele olhar, desde a mudança no brilho ao jeito como mirava adiante. Conhecia o olhar odioso, mortal, feroz, quando o patrão sequer movia as pálpebras. Com olhos fixos na distância, como se não houvesse ninguém ou nada à sua frente, bastava dizer o nome. E o jagunço já sabia que era para tocaiar e matar.

Com passos lentos, no compasso da idade, caminhava em direção à velha cadeira. Mas não sentava antes de andar um pouco mais até a divisa entre a varanda e as terras que começavam no passo seguinte. Ao redor umas sete a oito casas onde permitia a moradia de velhos trabalhadores, todos parentes dos escravos que noutros tempos sustentaram os inícios da riqueza coronelista. Mas não permitia que nenhum jagunço morasse ali. A jagunçada vivia enfurnada em toscas moradias mataria adentro.


Mesmo não morando ao lado do casarão, dia e noite jagunços mantinham uma impecável vigilância. Quem chegasse perto do casarão sequer imaginava que estava sendo vigiado pelos cantos, por trás dos tufos, nos escondidos de todo lugar. Certa feita, o coronel recebeu a visita de um desafeto decidido a se ajoelhar diante dele para ser perdoado. Foi recebido, prometeu reconhecer a primazia do coronel em toda a região e deixou o local com um sorriso e um aperto de mão. Mas assim que montou no alazão e passou da porteira foi acertado no meio da testa. Bastou um tiro e o homem metido a poderoso tombou já morto. E assim aconteceu porque o jagunço tinha avistado o sinal pra matar: o coronel apareceu na varanda e desceu o chapéu até o peito. Era a senha da morte.

Alongava o olhar pelos arredores, mirava de canto a outro, depois ia se espalhar na cadeira. De vez em quando acenava ao sentar e logo um copo com cachaça pura lhe chegava às mãos. Bebia de uma talagada só. Depois acendia um imenso charuto e começava a soltar baforadas lentas. A essa altura o seu olhar já mirava fixamente algum lugar nos arredores. Mas certamente não procurava enxergar nada, pois somente a visão da mente ia percorrendo caminhos, rebuscando memórias, encontrando visões do passado.

Viagem mental, no pensamento, mas acaso um espelho pudesse surgir naqueles olhos sem brilho certamente mostraria cenas e situações verdadeiramente espantosas. Ainda jovem, apontando a arma e disparando contra um desvalido sertanejo rogando pela vida a seus pés. Matou o coitado inocente para mostrar valentia ao pai. Ainda jovem, rasgando a roupa de uma menina ali mesmo da fazenda numa brutalidade desmedida. E depois aquele corpo infantil todo ensanguentado por cima do capim seco. E quanta impassividade no olhar.

Avistava o seu pai morto ali mesmo naquela cadeira. Depois de tantas atrocidades, ele mesmo resolvera dar cabo à vida cometendo suicídio. Enxergava a face da esposa morta ainda jovem e depois de tanto sofrer pelas suas mãos violentas. Ouvia o choro daquelas tantas meninas estupradas e depois pisoteadas. E também o choro de meninos que talvez fossem seus filhos. E sentia cheiro putrefato de sangue velho, pisado, esquecido pelas veredas. E ouvia sons de tiros, gemidos, gritos lancinantes. E via a morte por todo lugar. E os olhos continuavam impassíveis.

Um dia, num entardecer, as mesmas imagens lhe chegando à mente. E agora mais aterrorizantes. Viu-se apertando o gatilho em direção ao pai. Sim, não houve suicídio algum. Ele era o assassino. Mas havia chegado o seu dia. E mais tarde o velho coronel foi encontrado morto na sua cadeira de balanço. Um ataque fulminante. Era a morte ajustando contas. E uma lágrima ainda parecia descer daquele velho espelho sem luz.

Poeta e cronista
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Benjamim Abrahão


Ainda sobre o Sírio aventureiro que filmou Lampião. Benjamin Abrahão chegou ao Juazeiro do Norte com 17 anos de idade. Padre Cícero tinha 73 anos à época. Benjamin trabalhou como ourives, jornalista e abriu um pequeno negócio. 


Ao longo de 17 anos de convivência com o Padre, cometeu muita "esperteza":

_ surrupiou doações dos fiéis;
_ inventou uma falsa missa, que seria o último sermão do Padre Cícero.
_ Conheceu Lampião no famoso encontro com o Padre em 1926.
_ Enrolou Lampião com os conhecimentos que tinha como ourives;
_ Em 1934 com o Padre morto (aos 90 anos), cortou mechas de cabelo do ilustre defunto para vender.


Benjamin teve dois filhos, tinha fama de mulherengo, falava mal português e era chamado por aqui de "Turco". Na empreitada de filmar Lampião passou 1 ano e 8 meses no encalço do Rei dos cangaceiros por Alagoas. Filme pronto dá um furo de reportagem ao Diário de Pernambuco e lá foi recebido com pompa de herói documentarista. Pelo Recife, brinca o carnaval de 1937 no clube internacional. Com o filme censurado por Vargas, Benjamim ainda ficou uma semana preso. Depois de solto, é convidado para filmar as vaquejadas e pegas de bois no interior de Pernambuco e em Alagoas. Em Alagoas na cidade de Pau Ferro, Benjamim foi barbaramente assassinado, aos 37 anos, em 7 de maio de 1938.(mais detalhes sobre tudo isso em outras postagens.

Fonte: Livro _Benjamin Abraão, entre anjos e cangaceiros_autor Frederico Pernambucano de Mello. Fotos de Benjamin Abraão.


Benjamin Abrahão, o Sírio aventureiro anotava em árabe, sua língua natal, tudo que achasse sigiloso e importante durante sua investida no meio da caatinga na empreitada de filmar Lampião. Anotações suas revelam o quanto os policiais das volantes foram cruéis com os sertanejos. Foto: em entrevista com Lampião.

Fonte: facebook
Página: Sérgio Ricardo

Postado por Adryanna Karlla Paiva Pereira Freitas
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“AOS VENTOS QUE VIRÃO”, UTILIZA O CANGAÇO PARA RETRATAR UM NORDESTE EM TRANSFORMAÇÃO

Publicado em 29/07/2014 por Rostand Medeiros

Após ser supervalorizado e, depois, deixado de lado, o cangaço volta às telas de cinema pelas mãos de Hermano Penna com Aos Ventos Que Virão. O cineasta cearense, conhecido por Sargento Getúlio, de 1983, parte de uma premissa bastante interessante para seu novo trabalho, qual o destino de um cangaceiro depois da morte de Lampião, apresentando assim um leve panorama da situação sócio-política do nordeste na primeira metade do século XX. Em uma pequena cidade, mais precisamente Poço Redondo, no interior de Sergipe, o cangaceiro Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, foi assassinado.

Com a sua morte, morrem também o Cangaço e uma parte da história do Brasil. Tem início uma perseguição aos cangaceiros remanescentes, que não possuem mais uma liderança e nem pra onde ir. Mas o jovem Zé Olimpio (Rui Ricardo Diaz) decide mudar sua história, ele busca se casar com sua noiva Lucia, vivida por Emanuelle Araújo, e viver tranquilamente na cidade de Poço Redondo, em Sergipe. Porém, ele logo percebe que isto é impossível, já que o Sargento Isidoro (Edlo Mendes), assim como grande parte dos policiais do nordeste, está disposto a matar todos que participaram do bando de Virgulino Ferreira.

Emanuelle Araújo em cena de “Aos Ventos que Virão”, de Hermano Penna 

Assim, o casal decide largar tudo e tentar a vida em São Paulo. O Cangaceiro acaba se somando aos milhares de nordestinos que migram para o sudeste e o centro-oeste brasileiro e acaba indo trabalhar na construção civil. No sudeste, Olimpio percebe que mesmo não sofrendo os mesmos riscos de antes, sua vida não tem tanta possibilidade de melhorar, principalmente por conta do preconceito dos empresários contra os jovens nordestinos. E é neste momento que a luta de Zé Olímpio começa. Seus inimigos, o preconceito, um subemprego e a intolerância.

Com a morte de seu pai, Zé Olimpio retorna a sua cidade e, diante dos desmandos dos políticos locais e já sem o grande risco de perder a vida, decide ficar e entrar para a política. Porém, ele logo percebe que a vida na política não é muito diferente daquela que tinha no bando de Lampião. É quando descobre a corrupção e a injustiça, ao ver um juiz impedir que seus eleitores possam votar. Revoltado, ele passa a ter atitudes agressivas como protesto. No site http://brcine.com.br/especial/critica/aos-ventos-que-virao/ comenta que o principal destaque de Aos Ventos Que Virão fica com o trabalho de Penna com os atores. As interpretações, com toques teatrais, dá uma leveza ao filme que não traz nenhum grande recurso.

 
O diretor e as crianças do sertão 

Os diálogos, principalmente no início da trama, ajudam a cativar o espectador para a história de amor entre Zé Olímpio e Lucia, e pelo ímpeto do herói em sempre ajudar os seus conterrâneos. No entanto, o filme acaba não segurando o ritmo e vai perdendo a força com o tempo. Se as atuações e a proposta do filme animam, a forma como é conduzido deixa a desejar, pela quantidade de temas que acabam sendo contemplados. Aos Ventos Que Virão peca por tentar transformar a história de Zé Olimpio em uma saga e não segurar com a mesma força do início, principalmente pela dificuldade de apresentar ao espectador as passagens de tempo.

Em momentos, o público é surpreendido em um ou outro dialogo que determinada cena se passa anos após a cena anterior, causando certa confusão na compreensão geral. Mesmo com a ousadia de tentar contar a saga de um homem durante décadas, não se pode dizer que Aos Ventos Que Virão seja um filme pretensioso, pelo contrário. E é justamente a simplicidade do projeto que acaba conquistando o espectador que acompanha as idas e vindas de Zé Olimpio.

Com “Aos Ventos Que Virão”, Hermano Penna mostra que o sertão ainda é relevante e que existem boas historias para serem contadas sobre nosso povo. Basta que tenhamos coragem, compromisso com a verdade e estômago forte para encararmos nossos próprios contrassensos.


Filme: Aos Ventos Que Virão Direção: Hermano Penna 2014, Brasil, 94′, Drama Roteiro: Hermano Penna, Jaqueline Tavares, Paulo Sacramento Elenco: Rui Ricardo Diaz, Emanuelle Araújo, Luis Miranda, Lucio Tranchesi, Edlo Mendes, Marat Descartes, Francisco Gaspar Hermano Penna responde tambem pelo roteiro de Aos ventos que virão, que estreou dia 24 de julho no Espaço Itaú de Cinema, em São Paulo. É conferir!

Fontes – http://brcine.com.br/especial/critica/aos-ventos-que-virao/


Extraído do blog "Tok de História" do historiógrafo e pesquisador do cangaço Rostand Medeiros

http://tokdehistoria.com.br/2014/07/29/aos-ventos-que-virao-de-hermano-penna-retrata-um-nordeste-em-transformacao/

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