O Padre Manoel Firmino Pinheiro, procedente da freguesia de Nossa Senhora de Mata Grande-AL, onde possuía a propriedade Urubu, com engenho de cana e alambique, era, também, prestigioso chefe político democrata. Anteriormente, tinha sido vigário de Viçosa e deputado à Câmara Legislativa Estadual. Nasceu no dia 12 de dezembro de 1870, na cidade de Penedo – AL. Foi ordenado Padre em 1º de novembro de 1896, no Recife – PE, tendo falecido em 23 de junho de 1954, na cidade de Itaporanga, no Estado da Paraíba, onde havia assumido o vicariato daquela paróquia desde o dia 1º de dezembro de 1935.
Assumiu a Paróquia de São José de Belmonte em 26 de abril de 1914, onde ficou
até 26 de dezembro de 1916. Foi um sacerdote inteligente, enérgico, culto,
zeloso e trabalhador, músico e compositor. Escrevia e falava corretamente as
línguas: português, francês e alemão; além de conhecer o latim, o grego e o
hebraico. Pelo que contavam os mais antigos, o Padre era contra a família Malta
em Mata Grande, e, devido às constantes desavenças políticas, teve de sair às
pressas da cidade. O coronel Zé Malta, seu desafeto não lhe deu tréguas. O
Padre, ao sair, jogou uma praga na família, dizendo que os descendentes, até a
quinta geração, haveriam de viver brigando entre si. Segundo me contou uma vez
o Sr. Hermes Primo de Carvalho, ex-prefeito de Belmonte, Padre Manoel Firmino
tinha o sangue da política correndo em suas veias. Tanto é que, quando saiu às
pressas de Mata Grande veio parar em Belmonte, pertencente, na época, à Diocese
de Floresta. Nesse período comprou, pela quantia de dois contos de réis, uma
propriedade ao Sr. Genézio Lopes de Siqueira e denominou-a de “Barraca”. Eram
352 braças de frente e légua e meia de fundos, com uma casa e benfeitorias,
limitando-se ao nascente, poente e sul, com terras de Manoel Alves de Carvalho;
ao norte com terras de Norberto Gomes dos Santos Sidé. Nessa propriedade, o
padre instalou várias famílias de pretos que o acompanhavam. Na cidade, alugou
a casa da Oiticica ao Major Quinca Leonel, na antiga Rua do Comércio, e passou
a residir com outros pretos dentre os quais a velha Felisbela, que era uma
exímia cozinheira, e Amélia, que era uma excelente costureira, a qual, na
ocasião, confeccionou a bandeira da “Euterpina Belmontense”, banda de música local.
Sua residência era uma espécie de jardim zoológico. Além de grande número de animais domésticos, criava também macacos, gatos do mato, raposas e até gambás. Orgulhava-se de ser possuir o melhor e mais belo casal de cães da região.
Contam-se histórias interessantes sobre o Padre. Uma delas era do casal de cachorros que criava, chamados de VOSMICÊ para o macho e SUA PRIMA para a cadela. Certo dia de sábado, chegou um matuto na casa do Padre, que sempre estava lotada de pessoas, e perguntou como era o nome daquele cão tão bonito. O Padre então respondeu: VOSMICÊ. Então todos caíram em gargalhadas e o matuto ficou desconfiado e acanhado. Após alguns minutos, eis que passa pela sala a cadela e o matuto perguntou: Padre está é a mãe de VOSMICÊ?
A memória do cangaço atesta que, em 1912, aos quatorze anos de idade, Virgulino Ferreira da Silva, o futuro “Lampião”, foi crismado, tendo como padrinho o Padre Manoel Firmino Pinheiro. A celebração aconteceu em Floresta e foi presidida pelo primeiro bispo da diocese D. Augusto Álvaro da Silva.
O Padre Manoel Firmino marcou época quando de sua passagem pela Paróquia de Belmonte. Portando sempre uma pistola parabelo na cintura, definia-se ele próprio através de uns versos que gostava de recitar:
Me chamo Mané Firmino
Fui vigário em Viçosa
Visto batina custosa
Do ornamento mais fino
Para tudo tenho um destino
Dou provas nesta cidade
Na igreja ao pé da grade
Fazendo a lei de Cristo
Conforme a roupa que visto
Na batina sou um Padre
Sou chefe municipal
Sou homem particular
Gosto da sociedade
Sou amante da vaidade
E quero que cresça o meu nome
Para que ninguém o tome
Sou protetor de assassino
Sou Padre Mané Firmino
E na batina sou bom Padre.
Nos panos sou forte homem
Na pena faço figura
Na farda sou bom soldado
Na justiça magistrado
Nas armas faço bravura
Gosto também da fartura
Ando garboso e faceiro
Sou galo do meu terreiro
Isto herdei do meu avô
Morro, mato, apanho e dou
Nas armas sou cangaceiro.
Valdir
José Nogueira de Moura - pesquisador/ escritor
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