UNEB e Prefeitura de Paulo Afonso realizam seminários do Centenário de Maria Bonita
A temática do cangaço e a vida de Lampião têm merecido estudos cada vez mais intensos. Nas universidades, é tema de mestrados e doutorados pelo mundo afora. A literatura, e desde a sua contemporaneidade, os folhetos de cordel, espalham os feitos do Rei do Cangaço e de muitos dos cangaceiros que cruzaram o Nordeste desafiando o Brasil Oficial ou a seu serviço.
O cinema, ao longo de décadas, tem mostrado a figura do cangaceiro, real ou caricata, para consumo de milhões de pessoas, como O Cangaceiro, de Lima Barreto, de 1953, com diálogos de Raquel de Queiroz, o primeiro filme sobre o tema cangaço e ganhador de vários prêmios internacionais, inclusive o Festival de Cannes daquele ano. Na internet, o tema ganha milhões de páginas, milhares de sítios (sites).
Tão intensa é a procura pelo assunto que, ao lado de escritores e estudiosos sérios têm aparecido oportunistas que criam fatos e enredos gerando conflitos entre a verdadeira história e as invencionices mais absurdas que povoam o imaginário popular.
Posando, no meio da caatinga
E a história ganha contornos contraditórios, o que leva o jornalista e professor de História da UFP, Mário Hélio a afirmar que "há, obviamente, um Lampião real, e um outro, muito mais vivo e forte que este, mítico." E acrescenta, na Apresentação do livro "De Virgulino a Lampião" de Vera Ferreira e Antônio Amaury, que "ainda está aberto a exame o que há de mítico e de real em Lampião e no cangaço, num trabalho de história comparada, interdisciplinar pela sua própria natureza".
Se o tema "cangaço" ou "Lampião" merece milhões de páginas em sites como o Google, bem menor tem sido o espaço dedicado ao estudo da presença da mulher como parte integrante desse universo.
O escritor Antônio Amaury, em seu livro "Lampião: as MULHERES e o Cangaço", DE 1984, mostra, segundo Franklin Maxado ao apresentar este livro, "o lado sexual ou o das mulheres no cangaço, lado pouco explorado desse mundo".
Em 1997, Ilda Ribeiro de Souza, a cangaceira Sila, assina o livro "Angico, eu sobrevivi - confissões de uma guerreira do cangaço". Mais adiante, em 2003, Antônio Amaury destaca a importância da cangaceira Dadá, valente, guerreira, companheira do "Diabo Louro" e sua privilegiada memória que lhe permitiu conseguir informações importantes sobre o cangaço nos muitos meses em que ela foi sua hóspede, em São Paulo e escreve "Gente de Lampião: Dadá e Corisco".
Mais recentemente, em 2005, João de Souza Lima focou suas pesquisas em Maria Bonita, e escreveu "A trajetória guerreira de Maria Bonita, a Rainha do Cangaço" e em 2007 escreveu "Moreno e Durvinha, sangue, amor e fuga no cangaço".
Maria Bonita, o sorriso da guerreira
E o que dizer de Maria de Déa, Maria Bonita, a Rainha do Cangaço, que ousou deixar um marido com quem se casara ainda adolescente, rompeu os paradigmas de sua época, abandonou os costumes, tradições e feriu a honradez da família ao optar em acompanhar Lampião e viver uma vida de confrontos com a polícia, fugas pela caatinga, sem a paz suficiente para manter vivos em seu ventre os filhos gerados e poder sequer ser a mãe presente na vida de sua menina, Expedita, criada por amigos?
Como compreender essa mulher que nasceu em 8 de março de 1911, data em que se comemora, em todo o mundo, o Dia Internacional da Mulher?
A ela, quando mandou de volta o irmão que queria entrar no cançaço é atribuída a frase: "desgraçada por desgraçada aqui, basta eu". O Cangaço, especialmente para as mulheres, era um caminho sem volta?
Foi para buscar mais compreensão sobre a trajetória de Maria Bonita que a Universidade do Estado da Bahia e a Prefeitura de Paulo Afonso uniram suas forças, buscaram parceiros, convidaram estudiosos do tema e promovem o I Seminário Internacional - O Centenário de Maria Bonita.
A grandiosidade do tema levou um grupo de estudiosos de Paulo Afonso, como o Professor/Doutor Juracy Marques, atual diretor da UNEB - Campus VIII, os escritores João de Souza Lima, Luiz Ruben, Antônio Galdino, também diretor do jornal Folha Sertaneja, Roberto Ricardo, presidente do IGH, Glória Lira, atual diretora de Cultura da Prefeitura, Professor Edson Barreto, a trabalhar a idéia de se fazer o Seminário Internacional - O centenário de Maria Bonita, nesses três anos, até 2011.
A idéia, que se arrasta desde 2007, tomou mais impulso pela receptividade que encontrou na atual gestão municipal, na Secretaria de Turismo e seus departamentos de Cultura, Turismo e Eventos.
Organiza-se então o I Seminário, em 2009, no período de 3 a 8 de março, reunindo pesquisadores e estudiosos da região. Haverá debates com escritores regionais, exibição de documentários, exposição de livros, revistas e jornais sobre o tema, além de apresentação de musicais e encenação teatral.
E há interesse de participação, nos próximos seminários, de pesquisadores franceses e alemães e cineastras e grandes empresas de comunicação, tendo em vista a grandiosidade do tema. O evento, organizado pela UNEB - Campus VIII e Prefeitura Municipal de Paulo Afonso, conta com o apoio da Chesf, Sesc Ler, 1ª Cia de Infantaria, IGH, SEBRAE, SBEC e jornal Folha Sertaneja
Nos anos seguintes o II Seminário, em 2010 e o III Seminário em 2011, terão uma dimensão muito maior, realmente internacional.
Lampião andou por sete estados nordestinos Paulo Afonso - território privilegiado, habitat natural de cangaceiros
A região de Paulo Afonso possui um cenário privilegiado onde se podem encontrar centenas de pessoas que ainda falam, por conhecimento próprio ou por conhecerem de familiares contemporâneos de Lampião e Maria Bonita, sobre os movimentos dos cangaceiros e das volantes por estas terras.
Nos vários povoados do município de Paulo Afonso e ainda em Glória e outras cidades vizinhas, o escritor João de Souza Lima, autor de "Lampião em Paulo Afonso", "A trajetória guerreira de Maria Bonita, a Rainha do Cangaço" e Moreno e Durvinha - Sangue, amor e fuga no cangaço", encontrou-se com dezenas de cangaceiros, coiteiros, seus parentes e descendentes e guarda com carinho muitas horas de entrevistas em áudio e vídeo com depoimentos que ajudam a conhecer um pouco mais da vida dos que faziam parte dos vários bandos de cangaceiros e dos que militavam nas tropas das volantes que andavam no seu encalço.
O escritor possui também farto material pertencente aos cangaceiros e volantes que estarão sendo no acervo do Museu Regional do Sertão que será construído pela Prefeitura Municipal de Paulo Afonso. Pessoas como a cangaceira Aristéia Soares de Lima que nasceu em 23 de junho de 1916 em Capiá da Igrejinha, no município de Canapi, Estado de Alagoas e que, embora nunca tenha conhecido Lampião, percorreu a caatinga alagoana no Bando de Moreno e Durvinha e conta histórias dos tiroteios e das fugas no sertão tem acompanhado João Lima em suas palestras pelo Brasil.
Hoje, beirando os 93 anos, lúcida, alegre, mora no Jardim Cordeiro, ao lado da Ponte D. Pedro II onde recebeu, em 18 de fevereiro de 2009, a reportagem da Folha Sertaneja, levada pelo escritor João de Sousa Lima, e nos concedeu longa entrevista.
Na preparação desta matéria especial, sempre acompanhado do escritor João de Sousa Lima, fomos a Carqueja, município de Floresta. Ali mora o Ten. João Gomes de Lira um dos mais ferrenhos perseguidores do bando de Lampião. Homenageado pelos seus feitos, com diplomas e comendas, o Ten. João Gomes ainda guarda com todo zelo e cuidado a arma e a farda que usou nas muitas léguas percorridas no sertão à busca do cangaceiro e seu bando.
O que viu está registrado em dois volumes do livro Memórias de um Soldado da Volante, publicados em 2007 pela Prefeitura Municipal de Floresta. Chegando aos 96 anos, o Ten. João Gomes Lira também nos recebeu em sua casa e sua memória privilegiada nos contou passagens dessa luta na dureza da caatinga.
Quem foi Maria Bonita?
Maria penteia os cabelos de Lampião
Em 8 de março de 2011 faz 100 anos que uma mulher, sertaneja, guerreira, nasceu na Malhada da Caiçara, hoje no Município de Paulo Afonso. Maria Gomes de Oliveira, filha de José Gomes de Oliveira, conhecido como José de Felipe e de dona Maria Joaquina Conceição Oliveira, conhecida como Dona Déa. A criança ficou conhecida como Maria de Déa e como é ainda hoje muito comum nas terras sertanejas, casou muito cedo, com apenas 15 anos, com um primo, José Miguel da Silva, conhecido como Zé de Neném.
O casamento atribulado, de muitas brigas e separações, pode ter favorecido a virada na vida da sertaneja da Malhada da Caiçara. Decidida e com o apoio da mãe, mesmo contra a vontade do pai, aceita o convite e acompanha Lampião em suas peripécias pelo sertão. Deixou de se chamar Maria Gomes ou Maria de Déa.
Passou a ser chamada de Maria de Lampião ou Maria do Capitão e se consagrou na literatura, nas canções da época, nos filmes e documentários, nas teses de mestrado e doutorado pelo mundo como Maria Bonita, a Rainha do Cangaço.
Destemida nas lutas diárias, companheira inseparável de Lampião, sabia impor respeito e a sua presença no bando trouxe mais leveza, mais feminilidade à aridez do sertão e dos homens do grupo. Há relatos que a sua intervenção, o seu instinto maternal ajudou a salvar vidas de homens que estavam na mira do mosquetão ou na ponta do punhal.
Coincidentemente Maria Bonita nasceu no Dia Internacional da Mulher e a amplitude do tema, o que representou a sua presença forte dentro do cangaço, numa época em que a mulher não possuía nenhum direito, a sua coragem de deixar um casamento desestruturado, uma família que regia seus atos debaixo de rigorosos conceitos de honra, continua merecendo estudos, livros, debates, seminários.
O blog está meio problemático, e
para você não ficar sem ler artigos que desapareceram da página principal, aí estão os links. É só clicar.
http://blogdomendesemendes.blogspot.com/2012/01/vida-de-ze-do-telhado.html
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