Por Geraldo Junior
O incansável
pesquisador e escritor Luiz Ruben de A. Bonfim já preparou e está dando o
“acabamento” final no Livro LAMPIÃO EM 1926 que será lançado no próximo mês de
setembro de 2017.
O livro
apresenta os principais acontecimentos envolvendo Lampião e seus comandados
durante o ano de 1926.
Leiam abaixo a
introdução do livro para terem uma noção do que vem pela frente.
INTRODUÇÃO
Virgulino
Ferreira da Silva, de alcunha Lampião, foi o cangaceiro mais conhecido do
Brasil, sendo a partir de 1926, oficialmente, capitão do batalhão patriótico, e
ainda, segundo a imprensa “uma revivescência cabocla de Átila”, ou “Lampeão o
Átila sertanejo”, ou ainda, “O Imperador dos Sertões. Esse ano foi sem dúvida
muito especial para consolidação de sua fama. Era o seu sétimo ano de
banditismo sendo o quinto como chefe de bando.
Apresento
neste trabalho a transcrição de matérias dos jornais publicadas no ano de 1926,
em que Lampião, com seus companheiros de armas, foi protagonista das notícias
ligadas a sua atuação nos estados de Alagoas, Pernambuco, Paraíba e Ceará.
Não faço
afirmações nem análise, apenas coloco à disposição dos pesquisadores e
estudiosos, os fatos como eles foram divulgados na época em que aconteceram.
Faço somente a atualização dos nomes das cidades na época relacionada ao ano de
1926: Vila Bela, hoje Serra Talhada-PE, Paulo Afonso, atual Mata Grande-AL,
Meirim, atual Ibimirim-PE, Leopoldina, atual Parnamirim-PE, povoado Nazaré ou
Carqueja, atual Nazaré do Pico, Floresta-PE, Alagoa de Baixo, atual
Sertania-PE.
A iconografia
deste trabalho está restrita ao ano de 1926, com algumas exceções para
enriquecer as transcrições que seguem em ordem cronológica, mas, os jornais não
cumprem nenhuma prioridade geográfica, sendo o critério utilizado na pesquisa,
o tratamento jornalístico por cada órgão noticioso, mês a mês. Observem que a
imprensa apresenta o nome Lampeão sempre grafado com “e”, mas, em novembro de
1926 o Jornal Pequeno grafou com “i”, foi um fato isolado e mesmo depois vemos
sempre a palavra escrita com “e”, Lampeão.
As matérias
mostram a efervescência política do momento, com discussões e opiniões, cartas
de leitores, com denúncias que retratam a genuína preocupação dos habitantes
daquelas paragens, para que os jornais divulguem os tormentos passados, nas
diversas localidades de ação dos cangaceiros, instigando o poder público,
cobrando uma ação mais efetiva. Fica claro também a preocupação do estado na
luta contra o banditismo, apresentando os telegramas trocados pelas
autoridades, as justificativas pela demora em conter o bando de Lampeão ...
A imprensa
oposicionista denuncia o governador de Pernambuco que proíbe a divulgação dos
telegramas informando a atuação dos cangaceiros no interior do Estado.
As primeiras medidas tomadas pelo governador Estácio Coimbra ao assumir o
governo de Pernambuco, conjuntamente com o governador de Alagoas, senhor Costa
Rego, foi ordenar a prisão dos proprietários sertanejos que protegiam o bando
de Lampião, isto em dezembro de 1926.
Um ano em que
o próprio congresso nacional sediado na época, no Rio de Janeiro, que era a
capital do Brasil, através de seu representante se dedicou nas sessões
legislativas para tratar do legalismo em que Lampião foi levado, através das
articulações do padre Cícero, prefeito de Juazeiro do Norte, e Floro Bartolomeu
deputado federal pelo Ceará, na luta do governo de Artur Bernardes contra o
movimento tenentista e sua coluna denominada de Prestes e Miguel Costa.
A imprensa
fala sempre das correrias do bando de Lampião e que ele não enfrenta a polícia.
Veja o que o Dr. Atualpa Barbosa Lima, então um conhecido político cearense,
que esteve na região do Cariri responde ao redator do Correio do Ceará, sobre
essa questão. Segundo o Dr. o irmão de Lampeão teria lhe dito “primeiro porque
não tem interesse em matar soldados, pois o governo tem muitos para substituir
os que morrem, segundo porque gastam inutilmente a sua munição, terceiro porque
se desviam dos seus fins, que é para matar e roubar a quem tem dinheiro e
joias, quarto porque arrisca a pele sem proveito. Brigamos, em último caso,
quando não há meio de escapulir, aliás, o segredo de nossa vitória está em que
sabemos brigar e fugir na ocasião precisa. Achamos sempre melhor correr, do que
brigar, e quem sabe correr raramente morre”. Nessa entrevista o Dr Atualpa faz
declarações de fatos que ainda não foram confirmados.
Para aqueles
que duvidam da liderança de Lampião com seus cabras, leiam neste trabalho o
trecho do jornal quando o caixeiro da Standard Oil Company fez o pedido para
que o cabra de Lampião devolvesse a sua aliança de casamento.
Em outubro de
1926 aparece a notícia de “Lampeão, o Bonelli Brasileiro”, talvez a primeira
tentativa de publicação de um livro sobre Lampião. Ao que parece não foi
publicado.
Interessante
também a entrevista do professor Lourenço Filho, importante figura nacional,
sobre o lançamento de seu livro “Juazeiro do Padre Cícero”, onde ele aborda as
relações do padre com o cangaço.
Acrescentei
uma matéria de setembro de 1933, para enriquecer um fato relevante acontecido
em 1926. Trata-se da entrevista feita com Pedro de Albuquerque Uchoa, “ajudante
de inspetor agrícola no Juazeiro”, sobre sua participação no episódio da
lavratura da patente de capitão do batalhão patriótico do Juazeiro a Lampião e
de tenente ao seu irmão Antônio Ferreira.
Estive na
capital de São Paulo cerca de 10 vezes, tendo sido hóspede do mestre Antonio
Amaury. Nas nossas longas conversas sobre o cangaço, fiz-lhe inúmeras perguntas
e ele me respondeu todas. Certa vez perguntei ao mestre quem estava com o padre
Cícero e Lampião quando este recebeu a patente de capitão do batalhão
patriótico do Juazeiro do Norte. Eis a resposta: - eu entrevistei João
Ferreira, irmão de Lampião testemunha ocular do fato, que estava acompanhado de
sua esposa Joaninha, ele já um homem feito, com 22 anos de idade. Sobre os
presentes no local ele me falou que recordava que estavam presentes no recinto
no momento em que Pedro de Albuquerque Uchoa escrevia as patentes: ‘além de
Lampião e Padre Cícero, Benjamim Abrahão, meu irmão Antônio Ferreira, Sabino,
Luiz Pedro’, e lembrou-se que João Ferreira pouco depois cita Zabelê, além de
uma quantidade não contada de outros cangaceiros no recinto.
A data da morte de Antônio Ferreira, sempre me causou dúvidas, pois
pesquisadores escreviam que foi em janeiro de 1927, mas, nas minhas pesquisas a
imprensa informava que o fato ocorreu entre 10 e 15 de dezembro de 1926. Vejam
na matéria do Jornal do Recife de quinta-feira, 16 de dezembro de 1926: “Corre
com insistência, aliás, com algum fundamento, pelo sertão, que o célebre
bandoleiro Antônio Ferreira, irmão e ‘lugar tenente’ do bando chefiado por
Lampião foi morto em dia da semana passada, nas imediações do lugar Poço do
Ferro, do município de Tacaratú.” Esse jornal publicou com detalhes, inclusive
o acidente com Luiz Pedro. Já o Diário de Pernambuco do dia 18 de dezembro
publica que foi uma luta travada com a polícia no município de Floresta, dias
depois, essa mesmo jornal repete a versão do Jornal de Recife.
Nesses anos
todos de pesquisa em jornais e outros documentos, observei que nunca foi
consenso a quantidade de cangaceiros divulgada pela imprensa ao longo do ano
de1926, que variava entre 49 e 200 homens.
Surpreendeu-me
a diferença dada a fatos como a batalha de Serra Grande, e o sequestro
praticado por Lampião, do representante da Souza Cruz e Standard Oil Company,
ocorridos na mesma semana. A batalha foi pouco explorada e divulgada, no
entanto, o sequestro foi muito bem documentado, com entrevistas e matérias de
vários jornais.
Alguns fatos
que foram publicados no período proposto por esse trabalho não foram
destacados, embora tenham a mesma importância dos que foram aqui lembrados.
Boa leitura
Luiz Ruben F. de A. Bonfim
Economista e Turismólogo - Pesquisador de Cangaço e Ferrovia.
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