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terça-feira, 22 de março de 2011

Eu "mais" Adília... mais uma paixão dividida com vocês!




Por: Aderbal Nogueira


              Há pouco Rangel Alves da Costa, filho do querido amigo Alcino postou uma matéria sobre Adília.

Rangel Alves da Costa

             Eu também tive o prazer de estar com Adília várias vezes, entre elas estive ciceroneado pelo nosso grande Alcino, uma visita cheia de emoção. Rangel prova que, filho de peixe, peixinho é. Adília realmente era uma pessoa cativante.

Confiram um destes momentos.

            Lampião Aceso comenta, Mestre Alcino sua disposição ainda é a mesma, mas os cabelos... quanta diferença? Maldita evasão capilar! 
            Quando estive lá, em outra ocasião, ela nos falou dos açoites de bala que recebeu, inclusive um na testa. Mais uma vez, parabéns à família de Alcino que, pelo andar da carruagem, a tradição vai continuar. Já que falei de Alcino queria fazer aqui uma homenagem a quatro pessoas que formam os pilares de sustentação dessas histórias cangaceiras, que sustentam essa grande mesa, que são:

Antônio Amaury,
Alcino Costa,
Paulo Gastão
e Frederico Pernambucano;

cada qual dentro da sua alçada, um pelo tempo, outro pela proximidade, outro pela luta e pela garra e o outro pela extrema destreza em nos mostrar a saga do Cangaço.



Parabéns aos mestres. 
Sem vocês a história não seria a mesma.
Aderbal Nogueira é pesquisador, documentarista.
Fortaleza-CE.

A terrível morte do cangaceiro "Mariano - Por: Ivanildo Alves Silveira


O cangaceiro Mariano (vide foto abaixo) nasceu no município de Afogados da Ingazeira, PE, no ano de 1898. Seu nome completo era Mariano Laurindo Granja, sendo filho de fazendeiro, de algum conceito.

O cangaceiro Mariano

Entrou para o cangaço, no ano de 1924. Era negro, muito forte, andando sempre com uma palmatória de baraúna dependurada na cintura, com a qual surrava suas vítimas. Acompanhou Lampião por muito tempo, sendo uns dos poucos que cruzaram o Rio São Francisco, em agosto de 1928 com destino à Bahia.

 Lampião

Ele esteve com Lampião na visita a Juazeiro do Norte; participou do massacre na cidade de Queimadas, onde foram mortos 07 soldados. Participou do massacre a Mirandela, distrito de Pombal/BA. Participou do ataque a Aquidabã, SE, em outubro de 1930. Depois, passou a chefiar o seu próprio grupo.

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Tenente Zé Rufino

O tenente José Rufino arranca do Raso da Catarina, numa das batidas mais célebres de que se tem lembrança na campanha de repressão ao banditismo, e após cobrir centenas de quilômetros, ao longo do sertão baiano, chega às cidades de Porto da Folha e Gararu, no Estado de Sergipe. 
            
É aí que se encontra com o árabe Abraão Benjamim, cineasta amador, possuído da mania de filmar um combate real e autêntico, entre as volantes e o grupo de Lampião.

http://cultured.com/images/image_files/1031_benjamin_abrahao_botto.jpg
Benjamim Abrahão

Não movia ao árabe o desejo louvável de realizar um documentário histórico, mas a ambição comercial de ganhar dinheiro coma exibição do filme nos cinemas de todas as cidades. 
             
No seu linguajar estropiado e difícil, pede ao tenente José Rufino que lhe facilite a filmagem, admitindo-o, na sua tropa.
            
A resposta do comandante da volante foi ríspida e dura:
              
Dentro de pouco tempo vou brigar com os cangaceiros, mas não sei o lugar e nem a hora e, para ser melhor entendido, nem o senhor e nem ninguém me acompanhará. 
              
Voltou-lhe as costas, bruscamente e, à frente dos seus homens, atirou-se no aberto das caatingas à procura do rastro dos bandidos na terra de ninguém. 
              
Nos meandros da vereda a tropa move-se no passo silencioso dos felinos.
              
A noite aninha-se devagar no seio da caatinga e pousa sobre a areia, ainda quente, dos despovoados.
              
O tenente José Rufino encurva em anel a sua tropa e cerca a casa do afamado coiteiro, Mané Véio. 
              
Aqui abro uns parênteses na narrativa de Joaquim Góis (escritor) para um esclarecimento ao leitor.

Como se vê não eram somente cangaceiros, contratados ou soldados que tinham apelidos ou nomes de guerra. Havia na força de Alagoas, nesse tempo, um soldado natural da região de Santa Brígida, aparentado até com Maria Bonita, o nosso amigo Euclydes Marques da Silva, também chamado por Antônio Jacó, e no seio dos seus camaradas conhecido como "Mané Véio". 
              
Foi esse soldado um dos participantes da tropa que o tenente João Bezerra utilizou no combate em que Lampião morreu e foi minuciosamente descrito no livro "Assim Morreu Lampião". Pois esse Mané Véio de que trata Joaquim Góis nada tem a ver com o outro, a não ser a coincidência do apelido.

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Tenente João Bezerra - o matador de Lampião

Prossigamos com a narrativa:
            
"O oficial sabia de cor e salteado, a história inteira do perigoso delator, a crônica do coiteiro mais astuto e manhoso de Lampião. 
            
Ninguém melhor do que ele possuía a arte da simulação, no modo como guiava os volantes para os lugares e esconderijos de que seu terrível patrão estava sempre ausente. 
            
E o fazia com a simplicidade convincente de quem dizia a verdade, de quem conhecia o roteiro transitado pela horda de malfeitores, cuja pista ele disfarçava na informação errada, na indicação, propositadamente, contrária, rumando para os pontos opostos aqueles em que se ocultavam os bandoleiros.
             
Os homens do tenente José Rufino vigiam, pacientemente, a casa do esperto coiteiro Mané Véio.
             
Ninguém entra e ninguém sai. Gritam pelo coiteiro e os seus gritos envolvem tudo. Mané Véio estava ausente, despistando mais uma vítima da sua manobra traiçoeira. Sargento da polícia sergipana, Odon Matias, para a fazenda Barriguda, local apontado por ele e em que Lampião estaria no descanso das longas jornadas. 
             
José Rufino acampa num velho curral, sem perder dos olhos a casa do coiteiro, já agora, ocupada por dois dos seus soldados. Escuta os rumores que correm dentro da noite escura e misteriosa do sertão. 
             
Escuta e espera. Os galos cantavam quando Mané Véio volta à casa. Preso e apresentado a José Rufino, este o interroga a seu modo. Não ameaça, não amedronta e nem espanca. Conversa, argumenta, convence.
            
Mané Véio já o conhecia pelos pedaços de informações que os outros coiteiros lhe transmitiram. Mentir era inútil e tentar enganá-lo era perder tempo.

Volante de Zé Rufino, sendo ele, na fila da frente, o primeiro da esq. para a direita
Defrontaram-se, dentro daquele velho curral dois sertanejos formados na ciência dos subterfúgios, na arte das vinganças, no jogo psicológico dos truques entre a verdade e a mentira.
          
José Rufino bate em cheio no que quer saber e o que diz ao coiteiro é mais uma afirmativa do que uma pergunta:
               
— Por que você guiou o sargento Odon Matias para a Barriguda, sabendo que os cangaceiros não estavam lá? 
             
— Pra num sê morto pru eles, seu tenente.
             
— E onde estão os bandidos?
             

— Tão no Cangalêcho. O sinhô quê eu vô li bota in riba dêles.
           
Na resposta ao oferecimento do coiteiro é que se reflete e se revela a prudência do tenente Zé Rufino; o cuidado que ele tinha pela vida dos desgraçados, colocados entre as balas dos cangaceiros se os delatassem e o fuzil da polícia se lhe mentissem.
                
— Não, Mané Véio, você não vai. Preciso de você vivo. Se os bandidos souberem que você fez isso, eles o matarão. Basta que você me diga se existe casa aqui por perto.
           
— Inziste inhô sim, a coisa dum quarto de légua, vosmicê vai incontrá uma. E pode preguntá qui o dono sabe adonde é o Cangalêcho.
              
A manhã se retirava das caatingas quando José Rufino encobria-se com a sua tropa, na mataria falha de um chão eriçado de pedras miúdas, contorcido em curvas e aberto em ralos vazios e rentes. Seguir os rastros dos bandidos foi sempre uma tarefa árdua, um quebra-cabeça intrincado, pois, esses filhos do sertão conheciam todos os disfarces do terreno e todos os passes de mágica com que iludiam os menos avisados.
            
Marginavam caminhos andando sobre as pedras, sobre a face dura do chão, arrastando feixes de matos que lhes apagavam as pegadas. Veredas, entradas, saídas, desvios, cruzamentos, rodeios, curvas, atalhos, todo um emaranhado de acidentes que eles gravavam na memória, mapas vivos desenhados pela experiência de todos os dias.
             
O sol estava naquelas alturas quando José Rufino dá entrada na fazenda Cangalêcho. 
             
Em torno de uns dos tanques (buracos nas pedras que acumulam água), para espanto seu, a rastaria dos bandidos bate nos olhos de todos, às claras de mais, como feitas de propósito. Mas só na terra que circundava o tanque, pois além poucos metros, o chão estava limpo, sem o menor vestígio de pés humanos na sua superfície. Era tão absurdo o que os olhos de todos viam que deu lugar a que a ignorância do contratado "Capão", alvitrasse esta explicação ridícula:
            
— Seu tenente! Num será qui os homes tão dentro do tanque!
            
Os rastros existentes ali, ficavam ali mesmo, nem saíam nem entravam. O tenente José Rufino, homem afeito a todas as surpresas nas coisas e nos acontecimentos do sertão, não atinou com uma explicação para aquilo. 
           
Ele mesmo foi rastejar, procurando ler e adivinhar na página naquele pedaço de terra o significado do que via sem poder compreender. Mandou que dois dos seus homens ficassem de sentinela nas duas entradas dos caminhos, que se dirigiam para o tanque. Um sol de asfixia parava no meio do céu, quando o rastejados Gervásio indica à tropa os sinais da pista por ele descoberta. 
      
Ao mesmo tempo, dois contratados trazem para o tenente um menino de doze anos, conduzindo entre as mãos um embrulho enrolado num lenço vermelho, cheirando a perfume de feira. O conteúdo do embrulho: um quilo de café moído. Os bandidos estavam perto e ninguém duvidava mais que em pouco tempo haveria tiroteio. Interrogado o garoto, nada se pode saber diante da barreira do seu silêncio obstinado. 
            
Nem agrados, nem promessas, nem insinuações, nem presentes, nada conseguiu romper a teimosia daquela criança fechada numa resistência de espantar. José Rufino recorre à medida extrema, advertindo ameaçador ao menino: 
           
— Já que você não quer dizer onde estão os bandidos, vai ser sangrado.
            
E voltando-se para o contratado "Capão", ordena seca e fingidamente enfurecido: 
              
— Sangre este corninho na goela.
             
A lâmina do punhal de "Capão" escorrega da bainha, suja de nódoas de ferrugem, mortal como uma serpente, já mordendo a carne tenra da garganta da criança, pára, numa pausa cheia de expectativa."Capão" grita, rouco de raiva:
                  
— Diga aonde tão os bandido seu pestinha ou eu li arranco a muéla pulas costa.              

O garoto parece talhado no miolo da aroeira ou da baraúna, rijo, impenetrável, rebelde.
              
Era bem um símbolo do meio saturado de descrença, indiferente ao medo, fatalista e resignado. 
             
Mudo, inacessível diante das investidas selvagens do contratado "Capão", para tudo e para todos só oferecia uma resposta:
                  
— Num sei de nada, quê matá, mate.
             
Devia existir um motivo poderoso para a atitude corajosa daquela criança. E havia.
            
No coito em que se refugiavam os bandidos estava também o coiteiro João do Pão, pai do garoto. Comove a resistência desse pirralho e a gente sente vontade de tê-lo apertado ao peito para beijá-lo pela coragem do seu gesto. 
              
O tenente José Rufino, sertanejo para quem a alma de sua gente é clara e aberta como o sol que incendeia a terra bravia, sabe que aquele rebento novo de uma raça de mártires, resume no seu comportamento toda a história amarga da região oprimida, da parte agreste do Nordeste, onde a vida é uma adivinhação sem esperança de ser explicada. Desiludido de que do mutismo daquele menino não lograria nenhum indício revelador do coito dos criminosos, José Rufino segue o rastejador que a pouco descobrira a pista dos perseguidos. 
              
De súbito, José Rufino sente nas costas a pancada de uma pequena pedra, certeiramente jogada pelo contratado Genésio. Olha para trás, por sobre o ombro e recebe em gestos o sinal do seu comandado, apontando para o lado esquerdo. À sua vista, surgiam, armadas, grotescamente, as barracas dos bandidos, todos absorvidos no jogo, seu vício e passatempo nas horas de folga, passadas na segurança dos coitos". 
             
Vamos reviver a luta e seu desideratum, baseados no que nos contaram o soldado "Bem-te-vi" e o cangaceiro "Criança" que estavam presentes, como já dissemos: 
             
— Nóis tava jogando, no coito, que a gente quando tava discansano u que mais fazia era jogá. Era o Vinti-um, Trinta i-um, Suéca i si passava o tempo jogano. Tinha um na imboscada (de sentinela) i de repente foi tiro.  
                 
— Demorou muito o combate? — perguntei a Criança. 
             
— Olha, num sei, mais num passô di meia hora. E, não foi mais di meia hora. A volante chegô di surpresa, atirando i logo acertaro cumpadre Mariano, i Pavão ou Zepelim não sei bem, vi ferido Pae Véio. Nóis ainda tentamo tira eli, qui tava baliado, mais tornaro acerta eli i mataro, i nóis deixamo nu chão prá podê corre.
                 
Perguntei ao cangaceiro "Criança" (baseado no que Joaquim Góis escreveu e nas conversas que mantivemos por várias vezes na sua casa, em Aracaju):  
              
— Mas dizem que Pae Véio estava vivo quando a polícia entrou no coito e Mariano também. 
              
— Não sinhó, nóis num dexava nunca um baliado, prá num dá o gosto da polícia matá. Quando nóis vimo qui tava morto mesmo foi qui nóis deixamo. Agora, di cumpadri Mariano num sei, nóis tava brigando assim um pouco longe. Quando nóis vimo qui num dava mais prá briga, qui nóis só ia até tê prejuizu maiô, aí nóis corremo.
             
Novamente ocorreu-me perguntar a "Criança" sobre os que estavam presentes. Pois o livro "Lampião, o último cangaceiro" afirmava a presença de "Deus-Te-Guie" nesse grupo, e no mês de janeiro de 1970, em Paripe, fomos recebidos em sua casa. Levados pela mão amiga de Dadá, estabelecemos conversa e perguntamos se o mesmo estivera presente no fogo do Cangalêcho.
               
— Não, nunca estive ali. Prá falar a verdade nem mesmo cheguei a conhecer Mariano. Quando entrei pro cangaço foi no grupo de Ângelo Roque, o Labareda, e que já tinha acontecido a morte de Mariano tempos atrás.

 Ângelo Roque, o Labareda
Soldado "Bem-Te-Vi" e  Cel. Zé Rufino
"Criança" respondeu-nos:
             
— Dali nóis saímos, eu, Santa Cruz, num sei se Pavão ou Zepilim, um dos dois morreu i outro saiu com nóis, Rosinha a mulher de Mariano, i parece que tinha mais um, num sei.
             
Baseados nas informações de Joaquim, dissemos: 
             
— Não seria o cangaceiro "Diferente"? 
             
— Num sei. Mais acho qui não, "Diferente" era aparentado cum "Zé Sereno" i costumava a andá mais eli. Não mi lembro.

https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgCshvmPm-eoHn5IooyoTUDinOtCfm7jejsEOQDGpzln2gKP9_E2qzc1EzMqcrETc7S7Sd_7N2aSWf5iWLGTpRIRBGUKcg2o-JZjnlVqUdGKcONolMGLIurqLT9jvpLeE8b26Z26pwzLQ/s1600/ZE_SER~1.JPG
Zé Sereno à esquerda da foto

Deixemos os cangaceiros e vamos ouvir o policial, "Bem-te-vi":
             
"Quando o tenente tirou a pista dos cabras, eli feiz sinal cum a mão prá gente i avançanu cum cuidado, sem fazê baruio. Mais elis tinha um cangaceiro emboscado, qui deu u alarma. 
            
O tiroteio cerrou-se pur poco tempo, nóis peguemo elis de surpresa i cum coisa di u'a meia hora já tava acabado. Aí fomo terá arguma pista dus qui fugiro, prá vê si tinha argum baliado. Argum sangue qui deixasse, nu chão, nas fofa di mato. Num tinha. Vortemos pru coito onde tava as barraca qui elis; tinha armado. Tinha trêis pessoa caída. U coiteiro qui tava jogano cum elis i foi baliado i tava morto, dois cangacero ferido quase morreno i otro qui elis quizero arrastá cum elis quandu fugiro tinha caído mais longe um poco i nóis cortemo a cabeça i trotemo prá li. O tenente Zé Rufino discubriu qui um dos baliado era o chefe delis, Mariano". 
          
Aqui vamos abrir novamente um parênteses e voltar ao nosso escritor Joaquim Góis, que nos conta a cena do fim de Mariano.
           
"Aproximando-se novamente de Mariano, José Rufino chama 'Bem-Te-Vi' e, mostrando-o ao inferior, explica-lhe:
                
— Este é o assassino do seu pai. Você pode saciar a sua vingança. Ele ainda está vivo.
             
"Bem-Te-Vi", como um louco, saca do punhal escanchase no quase cadáver de Mariano e sua mão sobe e desce em golpes. brutais. Apunhala com tanta fúria o corpo do bandoleiro, que se ouve aquele ranger estridente e áspero da ponta da arma branca atravessando as carnes e os nervos da vítima, furando e mordendo a terra seca ". Jamais um homem matou com tanta alegria, com tanta volúpia, com tanto sadismo.
             
Era a vingança do filho estraçalhando o corpo daquele que abatera, friamente, o autor da sua vida. Era a lei, a terrível e inflexível lei das caatingas." 
             
Voltemos à conversa com o soldado, "Bem-te-vi", cujo nome real é Severiano: 
              
— Nóis peguemos as armas dos cangacero, us anéis, u dinheiro, us borná, punha, cartuchera, u qui tinha ali se pegô. Já tinham cortado a cabeça de Pae Véio i do otro cangacero i nóis vortemos prá dondi tinha ficado Mariano ... 
              
Recorremos novamente à pena vibrante do escritor Joaquim Góis. "O que vê estarrece e assombra".
             
O cangaceiro a quem o punhal vingativo de "Bem-te-vi" e balas de José Rufino haviam prostrado como morto, vivia ainda e num esforço que se poderia chamar de o milagre do desespero, ensaiava levantar-se.
            

Os dedos enorme e crispados tentavam afastar dos olhos enevoados a pasta dos cabelos empapados de sangue, a cabeleira escorrendo uma espécie de mingau feito de suor e sangue. Ele todo era uma sangria, um corpo todo aberto em talhos profundos de punhal, de pedaços de aço incandescentes que as descargas da polícia despejaram sobre ele.
              
Uma visão para não se esquecer.
              
"Bem-te-vi" ao ver Mariano vivo contra todas as probabilidades do possível, face ao número absurdo de punhaladas que ele sofreu das suas próprias mãos e dos balaços recebidos, desembainha a Colt e encostando-a no peito do assassino de seu pai, prepara-se para o tiro de misericórdia.
            
Corta o ar a advertência de José Rufino:
            
— Tenha cuidado com a cabeça que eu preciso dela.
            
Detonações ensurdecedoras, à queima-roupa, perfuram o corpo já todo esburacado de Mariano e a resistência física do bandido pára na imobilidade da morte". Bem, esse foi o fim desse chefe de grupo, do qual todos os companheiros, com quem tenho conversado, gostavam. Aliás, até mesmo alguns paisanos falam favoravelmente a Mariano.
            
Dizem que era um dos que tinha mais humanidade e benevolência. Afirmam até que era incapaz de uma crueldade. Teria sido mesmo ele o autor da morte do pai de "Bem-te-vi"? Segundo os companheiros, é impossível!


            No último Seminário Cariri Cangaço a maioria dos pesquisadores presentes, analisando fatos posteriores concordaram que esse último seria o cangaceiro PAVÃO e não Zepellim como identificado na legenda. Atualizada em 07 de Outubro de 2010

Bem, esse foi o fim desse chefe de grupo, do qual todos os companheiros, com quem tenho conversado, gostavam. Aliás, até mesmo alguns paisanos falam favoravelmente a Mariano.
             
Dizem que era um dos que tinha mais humanidade e benevolência. Afirmam até que era incapaz de uma crueldade. Teria sido mesmo ele o autor da morte do pai de "Bem-te-vi"?
             
Segundo os companheiros, é impossível!
            
Mas vejamos o fim de sua companheira Rosinha. Ela e sua irmã Adelaide (que também estava em adiantado estado de gravidez, como já o dissemos), escaparam com vida e acompanharam os sobreviventes.
             
Estabeleceram um coito num pé de serra e aguardaram a hora do nascimento das crianças.
            
Chegou por fim o dia e mais uma desgraça abateu-se sobre o grupelho. Adelaide morreu do parto e o bebê também. A criança de Rosinha foi enviada a um padre.
            
Pouco depois encontraram-se com outros grupos. Murmúrios. Confabulam os chefes de grupo, os maiorais do cangaço opinam. Uns acham que a "viúva" pode e deve continuar no grupo de qualquer maneira. Outros são de opinião que deve ser mandada para casa de parentes e calar a boca.

https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgXYOxRefPNkf0X0KhYI7aU8zlvGcIlis4WGVMtlZ-Pgg7I8BG94K-zIbqCMQcdY4szlxW_TGbjeaGBH_LpOoc5no-_40i6HtIXMiWvOCxEyM7ZrmuqR_yCRwe6wQlHF0Jz_aM_wI2vyQ/s320/10+Luiz+Pedro+-+C%C3%B3pia.jpg
O cangaceiro Luiz Pedro  e sua companheira Neném do Ouro

Luiz Pedro se faz porta-voz de um grupo que conseguira convencer com sua argumentação. Achava, esse grupo, que toda mulher cujo companheiro morresse, e a mesma não achasse um substituto nos bandos, deveria ser eliminada para que o segredo dos "pontos", dos coiteiros não fossem revelados, colocando em perigo a segurança dos fornecedores e protetores.

https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjUy9b0O97zgm2ngW8d5-lyI6hyphenhyphenH8QX_FiRI7pPCZoODNbVps8eCOBFvRLX9sQ0mUZ174er3Jod0oR0kYV2f1w0AifNg-MOXJWvhDpDnB_RsVZk_zEM3VC2hMq5rQ86EbkwBLiGZBRS1Zg/s1600/coi.jpg
O cangaceiro Corisco

Corisco foi contra essa tese. Dizia que encontraria outros "pontos", outros abastecedores de armas e munição. Foi voto vencido.
             
Rosinha teve o azar de não despertar o desejo do concubinato em nenhum dos companheiros. Luis Pedro fez valer seu parecer, sua sentença. As últimas frágeis resistências foram facilmente vencidas. 
     
Enviaram Santa Cruz, Criança e outros elementos que tinham pertencido ao grupo de Mariano buscar munição em um "ponto" distante Removido esse primeiro obstáculo, disseram à Rosinha que ela seria mandada para a casa dos pais. Apronta-se para viajar.
             
Seu companheiro de jornada seria Pó Corante, o segundo, pois o primeiro com esse apelido foi morto juntamente com Nevoeiro e Jurema lá para os lados de Macururé, já levando ordens precisas dos chefes de como deveria agir.
            
Pó Corante ao retornar prestou contas a quem lhe incumbira de executar tão traiçoeira missão.
            
Rosinha fora morta a punhal e enterrada em cova rasa no meio de uma caatinga brava. Outra versão diz que Pó Corante eliminou-a durante a travessia do Rio São Francisco, quando a canoa em que viajavam estava próxima da margem alagoana, e o cadáver atirado às águas.

FONTES BIBLIOGRÁFICAS :

1º) Lampião as mulheres e o Cangaço - Antonio Amaury Correia de Araújo;
2º) Lampião - O último Cangaceiro - Autor: Joaquim Góis
3º) Lampião e o Estado Maior do Cangaço - Hilário Lucetti
4º) O cangaceirismo no Nordeste. Bismarck Martins de Oliveira.
5º) Lampião na Bahia - Autor: Oleone Coelho Fontes.

Um abraço a todos.

IVANILDO ALVES SILVEIRA
Colecionador do cangaço.

http://lampiaoaceso.blogspot.com
http://blogdomendesemendes.blogspot.com