Por Raul Meneleu
oda vez que tentamos enquadrar e definir Lampião, ele foge. Talvez até por conta de dificuldades que temos nos dias de hoje em estudar sua história, por conta de não termos mais referências vivas dos que andaram com ele ou o combateu, que possam tirar dúvidas surgidas por novas avaliações.
Herói ou bandido? Violento ou amoroso? Justiceiro ou generoso? É isso. Toda vez que procuramos definir Virgulino Ferreira da Silva, encontramos em sua história diversos caminhos que nos levam achá-lo bandido, herói violento, amoroso justiceiro e generoso.
Querem saber:
ninguém está pondo em dúvida a existência de Lampião, assim como não podemos
ver com cem por cento de garantia as histórias que se fala sobre ele e que
cobrem a sua figura. E o que é pior, é que, com o passar dos tempos, vai ser
cada vez maior o volume de versões a seu respeito, cada vez fica mais
longe da verdade em tal história. Não que duvidemos 100% da história dita
oficial.
Se formos
verificar, existem pelo menos dois "Lampiões". Um é aquele que
cresceu em um ambiente violento onde a palavra do coronel, decidia sobre a vida
e a morte daquelas pessoas que moravam ao seu redor e marcados por lutas
sangrentas entre famílias de grandes proprietários de terra. O outro Lampião, é
aquele jovem que trabalhava como tropeiro para seu pai, varando as veredas do
sertão, levando mercadorias para as vendas das cidades, chamadas bodegas e
também levar mercadorias para os comerciantes de ferramentas, tecidos,
utilidades domésticas e até mesmo para pequenos industriais com seus
alambiques e engenhos de fabricar rapaduras e mel. Chegou até mesmo transportar
mercadorias para o grande industrial Delmiro Gouveia em sua fábrica de linhas,
no distrito de Pedras, atual Delmiro Gouveia, município brasileiro no estado de
Alagoas.
Lampião, aliás
virgulino, era também um bom artesão. Ele fabricava celas, arreios, capas para
facões, chicotes de couro e também era um bom domador de cavalos e burros Era
bastante conhecido na região. Além disso ele era um ótimo versejador e tocava
sanfona de 8 baixos que acompanhava os seus versos. Ora, era um rapaz que por
ter seu trabalho, seu ganho e seu sustento, quando estava em casa principalmente
nos fins de semana, onde ia para aquelas festinhas, aqueles arrasta-pés tão
famosos no sertão, com dinheiro no bolso para consumir bebidas e gastar com os
seus amigos, só podia ser famoso mesmo! Isso causava inveja a alguns rapazes e
entre eles o Zé Saturnino, que era filho de um fazendeiro que possuia mais
posses que o pai de Lampião, Zé Ferreira.
Virgulino foi
poeta, foi amigo, foi valente, foi namorador. Tornou-se o homem que viveu à
margem da lei depois que passou a ser perseguido pelos seus inimigos que tinham
inveja de sua juventude e da sua capacidade em conquistar amigos.
A partir de
1922, quando assumiu o grupo de cangaceiros que participava, conseguiu criar a
seu redor, um imaginário fabuloso. Quando se tornou uma pessoa bastante
perseguida pelas volantes policiais, que constantemente estavam no seu encalço,
foi criado então esse imaginário. Criado Por muitos repentistas que faziam os
seus cordéis para serem vendidos nas feiras das cidades do nordeste, onde
alguns deles
chegavam a tocar sanfonas e violas, mostrando nos seus versos versões
imaginárias desse homem tão perseguido. Eram histórias mirabolantes nessa
cultura que se escrevia e que explodia nos cantos da pobreza e da própria fome
dos sertanejos.
Lampião nunca
apresentou pra ninguém uma plataforma política ou um programa de
reinvindicações sociais, mas traduziu como ninguém a insatisfação popular
contra um regime autoritário que já perdurava há muito tempo e que infelizmente
até os dias de hoje persiste. Regime autoritário de nossa história, que ficou
conhecido como República Velha, se bem que na República Nova, que já se iniciou
corrupta, pois tinha os mesmos personagens corruptos da Velha, na sua linha de
frente. Não é a toa que Jornais da época que recebiam benesses do governo, procurassem
mostrar Lampião com imagem de criminoso de alto grau de delinquência,
procurando com isso denegrir totalmente o lado humano e social vivido por
lampião e seus cangaceiros.
Contrário a
isso, de Lampião traduzir como ninguém a insatisfação popular, os poetas
de cordel que estavam constantemente nas feiras das cidades do nordeste,
mostraram um Lampião valente, com alto grau de capacidade libertadora dos
pobres, suas lutas contra os poderosos e que até hoje é lembrado e cantado
pelos poetas e repentistas. É Por isso que, tão impressionante figura lendária
de Lampião seja um pretexto para acabar com as injustiças sofridas pelos mais
pobres.
Aqueles que
persistem em falar mal de Lampião, não vêem ou fazem que não ver, que em um
ambiente seco do sertão, na catinga nordestina, outras crianças, com suas
famílias, sofrem o descaso das autoridades até os dias de hoje.
Lampião tem de
ser examinado pelos olhos da sociologia e não pelo olhar policial, pois já
fazem mais de 80 anos de sua morte. Foram muitas histórias de ódio, mas também
teve muitas histórias de amor e de generosidade, pois Lampião também foi
capaz de amar.
Realmente meus
amigos, falarmos desse personagem histórico, desse mito, nunca é, colocar um
ponto final nessa história. Porque Muitas ainda estão escondidas e à medida que
o tempo passa, se refaz cada versão dessa história.
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