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Gostaria apenas que o amigo informasse aos nossos leitores se este informe é recente ou não. Eu acredito que é um recorte de jornal, e pelo longos anos que já se passaram depois da morte de Lampião, acho que o coiteiro Mané Félix já partiu para eternidade, e faz um bom tempo.
Devaneios que
inspiraram lixos literários - Seu dotô, pode
botar aí, que foi verdade!
Por: Ivanildo Silveira
http://lampiaoaceso.blogspot.com.br/2009/11/perolas-delirios-literarios-ou-seu-doto.html
O jornalista baiano, Juarez Conrado (vide foto), na década de 80, escreveu para
o Jornal "A Tarde", uma série de 03 reportagens, depois transformada
em livro, sobre os últimos dias de Lampião, antes da chacina, que o vitimou, na
Grota do Angicos/SE, em 28/julho/1938.
Com base em depoimentos de coiteiros e ex-cangaceiros, em entrevistas com
testemunhas oculares, e apoiado em cuidadosa pesquisa, que incluiu visitas ao
cenário dos acontecimentos, o jornalista refez os sete dias, os últimos da vida
do Rei dos cangaceiros.
Uma das reportagens feitas pelo citado jornalista, foi com o grande coiteiro
" Manoel Félix" (vide foto, logo abaixo). Esse coiteiro esteve
com Lampião, na Grota do Angico, em vários dias, seguidos, inclusive, no
penúltimo dia que antecedeu a morte do Rei do Cangaço.
O grande coiteiro "Manoel Félix"
Nascido e criado em Poço Redondo, de onde jamais se afastou, trabalhando sempre
no campo, Manoel Félix um sertanejo calmo e tranquilo, e, certamente, a
principal testemunha de tudo o que ocorreu com "Lampião" e seu bando
durante os sete dias de permanência na Grota do Angico, onde, surpreendido pela
tropa do tenente Bezerra, encerrou, tragicamente, os 22 anos de aventuras
pelos sertões de sete estados nordestinos.
Cortesia do
pesquisador/escritor- Dr. Sérgio Augusto de Souza Dantas
Durante muito tempo conviveu com "Lampião", sendo por ele encarregado
da aquisição de mantimentos na feira de Piranhas, no Estado de Alagoas, do
outro lado do Rio São Francisco, bem à frente de Canindé.
Manoel Félix como a grande maioria dos moradores de Poço Redondo/SE de uma
certa idade, viu de perto "Lampião", a quem jamais traiu ou temeu,
porque dele ignora qualquer crueldade praticada na região contra os que ali
viviam, o que não acontecia, porém, com as "volantes", temidas e odiadas
pela barbaridade de seus integrantes que, no afã de compensarem sua
incapacidade em descobrirem o bandoleiro, martirizavam com seus impiedosos
tratamentos a quantos julgavam "coiteiros".
Manoel Félix , amigo particular de Virgulino Ferreira da Silva, a quem
reconhece "um homem fino e educado", embora lamentando o seu trágico
fim, "porque um homem como Lampião não devia morrer assim", confessa
ter sentido "uma frescura de alivio no espinhaço" ao certificar-se de
sua morte, pois, mais dia, menos dia, sabia que também ele acabaria torturado
pelas desumanas "volantes".
Seu depoimento gravado, que nos prestou em Poço Redondo/SE, percorrendo em
nossa companhia os principais pontos por onde "Lampião" passou, é o
maior documento que pode existir sobre os últimos dias do "Governador do
Sertão".
Viajou com Lampião
Manoel Félix que já conquistara a confiança de Lampião, teve oportunidade de
fazer algumas viagens em companhia do famoso bandoleiro, a última das quais à
localidade conhecida como Capoeira, às margens do Rio São Francisco, fato
ocorrido após sua chegada à Gruta do Angico.
Em meio à viagem, pegaram uma cabra, do que se encarregou o próprio Manoel
Félix, com ela preparando o almoço, já por volta das quatro horas da tarde.
Propositadamente, tendo em vista que o encontro se daria à beira do rio, por
onde navegavam muitas canoas, "Lampião" permaneceu escondido no mato
até o cair da noite, quando foi se avistar com o fazendeiro Joaquim Rizério,
com quem fizera as pazes após longos anos de feroz inimizade. O que conversaram
ninguém veio a saber, pois a reunião entre ambos foi sigilosa, em local
reservado.
Poupava as cobras
Já de retorno à gruta, um fato chamou a atenção de Manoel Félix: a preocupação
de Lampião e seu bando em não matarem cobras por mais venenosas que fossem. Disso,
aliás, o próprio coiteiro teve provas quando, distraidamente, ia pisando uma
cascavel que surgira em meio ao caminho. Pegando de um pau para matá-la, foi
impedido por Zé Sereno, que não permitiu, procurando, com muito jeito, fazer
com que a cobra retornasse aos matos de onde havia saído.
Em outra,oportunidade, quatro ou cinco dias antes da chacina, Manoel Félix, em
companhia do seu irmão Adauto, foi até a gruta levar para Lampião certa
quantidade de doce de côco, por ele muito apreciado, tendo o cangaceiro,
bastante satisfeito, agradecido o presente, logo distribuído em pequenas
quantidades com algumas mulheres do grupo, como Maria Bonita, Enedina, Cila,
Maria, Dulce e Maria, mulher de Juriti.
Nesse dia, havia chegado um sobrinho de Lampião, chamado de “José” – de 18
anos, a fim de integrar-se ao bando, tendo "Lampião" encarregado o
coiteiro de comprar na feira de Piranhas/AL, do outro lado do rio, a mescla
para preparar o bornal do jovem, o que, entretanto, não chegou a acontecer,
como veremos mais adiante.
Lampião esperava “Corisco e Labarêda”
Conquanto nada lhe dissesse diretamente, porque com ele não conversava sobre
assuntos internos do grupo, Manoel Félix ouviu de Lampião, na véspera de sua
morte, estar na expectativa da chegada de Ângelo Roque, o "Labarêda",
que fora a Jeremoabo, e de Corisco, que se encontrava do outro lado, em
Alagoas.
Embora a conversa sobre esses dois bandoleiros fosse com Zé Sereno, Manoel
Félix sentiu por parte de Lampião certa preocupação ante a demora dos mesmos,
preocupação que o levou a conjecturar sobre um possível encontro com as
volantes, hipótese logo descartada porque, segundo disse, "se fosse macaco
a gente já tinha sabido".
Até às 18 horas do dia 27/julho/1938, véspera da morte de Lampião, quando
deixou a Grota, Manoel Félix não registrou a chegada de nenhum dos dois
celerados, confirmando-se depois que se encontravam ausentes no momento do
cerco pela tropa do Tenente João Bezerra.
Contatos
Outro detalhe muito importante relatado por Manoel Félix é o que se relaciona
às ligações de Lampião com influentes fazendeiros, principalmente nos estados
de Bahia, Alagoas e Sergipe, embora sempre com o cuidado de não revelar, nem
mesmo aos seus mais chegados seguidores, a identidade desses indivíduos.
Na última semana de vida, Lampião manteve, lá do Angico, contatos com
vários desses fazendeiros através de emissários que despachava secretamente, e
dos quais, por motivos óbvios, exigia absoluto segredo de suas missões,
geralmente com o objetivo de apanharem dinheiro, mantimentos, armas e munições.
De quem chegava, ou de onde chegava o que ele precisava, Lampião fazia questão
de não relatar, mantendo tudo sob o mais completo sigilo.
A confiança de Luiz Pedro
Por volta das
15 horas do dia 27/Julho/1938, treze horas portanto, antes do cerco que lhe
causou a morte, Maria Bonita, que na opinião de Manoel Félix, não competia em
beleza com Cila, deixou a gruta, onde se encontrava com os companheiros, e foi
banhar-se no riacho que passa próximo a entrada da mesma.
O coiteiro descreveu-nos a fiel e corajosa companheira de Virgulino Ferreira a
Silva, assim à vontade, como uma: "mulher baixinha, toda redondinha, uma
carinha bonita e com dois olhos pretos e grandes, morena clara, cabelos negros
e lisos, quadris relativamente largos, cintura fina, tendo os braços e pernas
roliços e muito bem feitos".
Muito "prosista e conversadeira", brincava bastante com alguns dos
bandoleiros, pelos quais era respeitada, apesar de muitos deles levarem essa
brincadeira mais além, como Luiz Pedro, por ela chamado de “Caititu”, e que
gozava da maior confiança e intimidade da mesma e do próprio Lampião, seu
compadre.
Nada de
anormal até o momento? Realmente o Juarez tava indo até "marro
meno"... vejam como a "invenção" de um gesto poe em cheque a autoridade
do Rei do cangaço perante seu comandados. (Kiko Monteiro)
Nessa tarde,
por sinal, depois de "caçoar" com Luiz Pedro, deixando de fazê-lo
somente no momento em que se dirigia para o riacho, o bandoleiro, que
estava sentado sobre uma pedra, deu-lhe uma palmada mais ou menos forte nas
nádegas, fazendo-a correr na direção do pequeno córrego, enquanto Lampião,
que a tudo assistia, sorriu como se nada tivesse acontecido.
Na véspera da morte
Manoel Félix recorda-se que, na véspera da chacina, quando esteve com Lampião,
informou não lhe ter sido possível comprar na feira de Piranhas, em Alagoas,
tudo o que ele mandara (carne, peixe, queijo, agulhas, chapéu de couro, uma
máquina de costura e brim mescla), porque, como já dissemos na reportagem
anterior, a Polícia passou a vigiá-lo.
Ainda assim, entregou as agulhas de Maria Bonita, devolvendo a Lampião os
200.000 réis que dele recebera para adquirir mantimentos. Conversaram durante
longo tempo, comendo queijo, que chegara da Fazenda Mulungu, de onde o bando
havia recebido certa quantidade de farinha e açúcar.
Lampião mostrava-se bem disposto, pedindo-lhe, inclusive, que lhe cedesse o
cinturão em virtude do seu já se encontrar bastante estragado.
Também Maria Bonita, muito "prosista e conversadeira", conversou com
Manoel Félix, procurando informar-se da situação financeira do mesmo e dos seus
familiares.
Aliás, desde o primeiro encontro que teve com o grupo, na Fazenda Bom Jardim,
em Sobradinho, no local conhecido como “ Olho D'Água de Antônio Jorge",
quando foi levar banha de peixe que o seu tio Lisboa Félix, também amigo e
coiteiro de Lampião, mandara para o cangaceiro "Boa-Noite" passar
no joelho doente, que "Maria Bonita" demonstrou haver gostado dele.
Nessa tarde, dia 27 de julho, Manoel Félix recorda-se de que vários cangaceiros
jogavam cartas, entre eles Juriti, Passarinho, e Sereno, Luiz Pedro, José de
Julião, Moeda, Mergulhão, Colchete, Alecrim, Fortaleza, Cajazeira, Criança,
Quinta-Feira, Elétrico, Macela, Canário e Caixa de Fósforo, enquanto outros
passeavam nas proximidades.
Luis Pedro, teve oportunidade de mostrar-lhe, e ao seu tio Caduda, que estava
em sua companhia, grande quantidade de ouro guardada numa pequena caixa, como
anéis, correntões e argolas.
Este bandido, de estatura mediana, claro, cabelo miúdo, e muito alegre,
juntamente com Manoel Moreno e Zé Sereno, preparou a comida para o grupo na
véspera da morte.
Embora não lhe revelassem plano de ataques a qualquer cidade, Manoel Félix pôde
ver que o grupo contava com grande quantidade de armas e munições, como fuzis e
revólveres, além de punhais.
Na última tarde que teve de vida, Lampião, segundo Manoel Félix estava
absolutamente tranqüilo, chegando mesmo a fazer pilhérias quando soube do medo
que causava ao coiteiro a possibilidade de ser descoberto pelas volantes.
Aliás, nos últimos meses, Lampião parecia mais acomodado, um tanto diferente
porque sempre pensativo, o que não impedia, porém, de manter a autoridade sobre
o grupo, inclusive com os mais temíveis dos seus integrantes, como aconteceu
com Luiz Pedro quando este, querendo botar o seu cachorro para brigar com
"Guarany” o de "Lampião", acabou se desentendendo com o chefe,
de quem levou, sem responder uma única palavra, séria repreensão.
Com relação ao cachorro “Guarany” ocorreu um fato interessante na segunda-feira
que precedeu à chacina do Angico: descansando, com a cabeça recostada a uma
pedra, Lampião cochilava, tendo ao lado seu fiel cão de guarda, quando dele se
aproximou Zé Sereno, trazendo um bode que capturara pouco antes.
Vendo o animal, “Guarany”, latindo muito, avançou sobre ele, assustando-o,
fazendo com que bode, espantado, pulasse sobre Lampião, que, extremamente
supersticioso, vendo na reação do bicho um possível mau sinal, ordenou, aos
gritos, que Zé Sereno soltasse imediatamente "esta peste", no que foi
prontamente atendido.
Até às 18 horas do dia 27/julho/1938, aproximadamente, Manoel Félix permaneceu
no Angico, de onde saiu com a recomendação feita por Lampião para retornar no
dia imediato, madrugada ainda, pois eles teriam que viajar, tudo indicando que,
como das vezes anteriores, a última das quais na Fazenda Santa Filomena,
distante duas léguas da sede de Poço Redondo/SE, iria receber 50 ou 100 mil reis
de gratificação, pelos serviços que prestou.
Este, o encontro que jamais iria se realizar, pois, de acordo com as instruções
recebidas, ao se dirigir, na madrugada do dia imediato (28/julho/1938), para a
Grota do Angico , à certa distância ouviu o tiroteio terrível, o que lhe deu a
convicção de que, afinal, a volante houvera descoberto o esconderijo de
Virgulino Ferreira da Silva, cercara-o e se encontrava dando-lhe combate,
sobrevindo, a morte do Rei do Cangaço, naquele fatídico dia.
Fonte: Segunda reportagem publicada em 28/05/1980) no Jornal "A
TARDE" / Salvador
Autor: Jornalista Juarez Conrado
Considerações
Realmente, eu achei, também, muito estranho, a narrativa do autor da matéria,
ao tecer comentários na reportagem sobre "Maria Bonita", tendo informado: É
a narrativa de um fato inusitado, envolvendo "Luiz Pedro e Maria
Bonita", e que deixa os estudiosos/pesquisadores do cangaço de
"orelha em pé ". Como se vê, ou o jornalista exagerou na sua
narrativa, ou o coiteiro Manoel Félix, lhe narrou o fato, de maneira diversa do
ocorrido, na realidade.
Na minha
opinião, acho difícil e improvável, que tal fato, tenha ocorrido.
Convém, também salientar, que na literatura cangaceira, pelo menos nos livros
que li até hoje, não constatei, nenhuma linha, em relação ao comportamento de
Maria Bonita, em que o rei do cangaço tenha externado "cenas de
ciúmes", da parte dele, em desfavor de algum cangaceiro " .
Como se constata, há muitas informações relativas ao "casal Rei do
Cangaço", que precisam de uma melhor análise, separando-se o fato real, da
lenda, bem como as insinuações de alguns escritores .
Um abraço a todos,
Ivanildo
Silveira
Natal/RN
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