Por Geraldo Maia do Nascimento
Alcides
Dias Fernandes era um homem simples e bom, comunicativo e alegre, dotado de
irradiante simpatia. Foi um homem de muitos amigos. Por isso, o dia 27 de
setembro, dia do seu aniversário natalício, nunca passava sem festa. Já ao
amanhecer, os preparativos, que vinham sendo badalados de véspera, prosseguiam
num corre-corre sem fim, tudo dirigido pelos brados da esposa, dona Maria Maia,
para quem o tempo era sempre curto no atendimento de suas preocupações, a fim
de que nada pudesse faltar naquele “Dia Santo da Família”, nas palavras do
memorialista Raimundo Nonato. O aniversário de Alcides era sempre um grande
acontecimento na cidade de Mossoró.
Dona
Maria Maia, sua esposa, era uma mulher extraordinária, para quem o mundo se
reduzia aos limites de sua casa, na presença do marido e no afeto com que
cuidava dos filhos. Matriarca no velho estilo, mulher valente, franca, positiva
e sem “papas na língua”. A bem da verdade, sua casa abrigava, além da família,
um número razoável de parentes e aderentes, primos e sobrinhos, rapazes e moças
que ali habitavam, estudando ou trabalhando sob suas ordens, cordiais, alegres
e despreocupados. Tinha uma profunda afeição pelas criaturas mais humildes, às
vezes, pelos mais desgraçados e pelos abandonados de tudo e de todos. No meio
de tanta gente que enchia aquela casa acolhedora, vivia um tipo popular,
conhecido na cidade pelo apelido de Zé Alinhado. Oriundo das “enrruscas de São
Miguel de Pau dos Ferros”, conforme ele próprio afirmava, aqui aportou trazido
pela enxurrada revolucionária de 1930 e por aqui ficou.
Encontrou guarida na
casa de Alcides Fernandes e Maria Maia, que passou a ser o seu “anjo tutelar” e
sua segunda mãe, como nos informa Raimundo Soares de Brito. Quantas vezes a
insana turbulenta de Zé Alinhado não o levou às grades da cadeia. Mas a sua
permanência ali só durava o tempo em que dona Maria não tomasse conhecimento da
ocorrência. Questão de minutos. Morando ali pertinho, ao ser informada, corria
a tirá-lo da prisão. Quantas vezes? Muitas. Em troca de tudo, Zé alinhado
executava aqueles trabalhos caseiros: fazia compras, conduzia feiras, cuidava
do jardim, cortava lenha, alimentava os cachorros e trazia limpa toda a área
externa da casa, conforme nos diz Lauro da Escóssia nos seus escritos.
Alcides
Fernandes era comerciante, político por circunstâncias, sério, compreensivo,
vivia muito mais preocupado com a sua União Caixeiral e seus problemas, do que mesmo
com as atividades do seu estabelecimento comercial, que embora grande e ligado
a uma poderosa firma, onde predominava figuras destacada da família, nunca foi
um homem rico, naquele sentido de juntar dinheiro. Era desprendido e liberal de
tal modo que nem ao menos deixou uma casa para seus descendentes.
A
história do Curso de Ensino Superior fundado em Mossoró, em 1942, foi um
capítulo novo que se iniciou na vida de Alcides Fernandes. Tudo surgiu com a
chegada de um despacho telegráfico vindo do Rio de Janeiro, dando conta que o
Governo Federal acabava de autorizar o pagamento de uma subvenção consignada no
Orçamento da República em favor da Escola Técnica de Comércio União Caixeiral.
Imediatamente Alcides reuniu os colaboradores da Escola para comunicar a boa
nova, e ao mesmo tempo decidirem onde aplicariam aquela verba. Ai surgiu à
ideia de se criar um curso superior em Mossoró. Apanhado de surpresa, Alcides
Fernandes perguntou? – Quer dizer que nós vamos ter uma Escola para fazer
Doutores em Mossoró? Pois se for isso, vamos partir para campanha. Vamos criar
o curso.
E
assim foi criada a Faculdade de Ciências Econômicas de Mossoró (FACEM),
instituída através da Resolução n.º 01/43, de 18 de agosto de 1943, por
iniciativa da Sociedade União Caixeiral, mantenedora da Escola Técnica de
Comércio União Caixeiral.
Alcides
Dias Fernandes foi um homem que pelo seu trabalho, pelo seu idealismo e pelo
seu amor a terra, se tornou um homem especial. Foi o criador de uma Escola onde
nasceu uma Universidade. E porque era assim tão notável e de tão evidente
sentido cultural, conquistou o seu lugar ao sol, o direito de ser, entre os
mortais, um espírito iluminado pela consagração do valor, da inteligência e da
imortalidade.
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Autor:
Jornalista
Geraldo Maia do Nascimento
Fonte:
http://www.blogdogemaia.com
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