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sábado, 8 de outubro de 2011

As belezas do nosso Brasil - De Norte a Sul


Maravilha, Gargalheiras está sangrando!

Água do açude de Acari, praticamente, no limite de transbordar
Foto:Ismael Medeiros 
Gargalheiras no gargalho para sangrar

Fotos e Textos: Alexandro Gurgel

Dois Sertões – Açude Gargalheiras


Barragem do Assu

O espetáculo das águas




Açude Dourado

 Foto/Moraes Neto


Açude Gargalheiras,  a 3ª Maravilha do RN –  (Foto Moraes Neto)

Fonte:

O RN NO TEMPO DO CORONELISMO (VII)

Por Honório de Medeiros


Professor de Filosofia do Direito da UnP
honoriodemedeiros@gmail.com

CONTINUAÇÃO DE SEXTA-FEIRA PRÓXIMA, DIA 17 DE ABRIL, COM O COMEÇO DO CASO DE MOSSORÓ E DE SEU LÍDER, O CORONEL RODOLPHO FERNANDES. TEVE O ATAQUE DE LAMPIÃO A MOSSORÓ MOTIVAÇÃO POLÍTICA?

Nos anos vinte ocorreram várias mudanças significativas em termos de poder político no Rio Grande do Norte. José Augusto Bezerra de Medeiros, do Seridó, herdeiro político do Coronel José Bernardo de Medeiros, transferiu o centro das decisões para o Sertão, correspondendo, quanto ao econômico, à ascendência da cultura algodoeira no Estado. É o que lemos em “História do Rio Grande do Norte”, de Luiz Eduardo Brandão Suassuna e Marlene da Silva Mariz; Sebo Vermelho; 2ª. Edição revisada; 2005; Natal, Rn.

José Augusto e Juvenal Lamartine de Faria, seu sucessor e herdeiro político, com o apoio do Presidente Artur Bernardes, conseguiram impedir Joaquim Ferreira Chaves, da oligarquia Maranhão, de chegar ao poder pela terceira vez, e, assim, praticamente decretaram seu fim.

 “A linha política do governo José Augusto insere-se na conjuntura nacional, com a oligarquia local em plena harmonia com a oligarquia que detém a hegemonia nacional. Um exemplo desse entrosamento é a visita de Washington Luis, em 1926 (após ter sido eleito Presidente da República), ao Rio Grande do Norte”, diz-nos Suassuna e Mariz, acima citados.

“O poder de José Augusto virá a ser bruscamente interrompida pela Revolução de 1930, embora venha a estar no cerne da vitoriosa campanha do Partido Popular contra Mário Câmara, tão cuidadosamente retratada por Edgar Barbosa em “História de Uma Campanha”.

No que diz respeito a Mossoró a historiografia é avara em relação a essa época, excetuando-se as obras de Raul Fernandes e Raimundo Nonato, que tratam do episódio específico da invasão da cidade por Lampião. Não há, como se constata, mesmo quando consultamos “Notas e Documentos para a História de Mossoró”, de Luis da Câmara Cascudo, ou “História de Mossoró”, de Francisco Fausto de Souza, nada alusivo aos anos vinte.

Sabemos, entretanto, com Cascudo, que o começo da ascendência dos Rosados nasce como século XX, como nos mostra a constituição da Intendência Municipal de Mossoró entre 1917 – 1919, “Presidente[1] da Intendência, ou seja, da Câmara dos Vereadores: Jerônimo Rosado; Vice, doutor Antônio Soares Junior. Intendentes: Sebastião Fernandes Gurgel, Francisco Xavier Filho, Francisco Borges de Andrade, Raimundo Leão de Moura e Camilo Porto de Figueiredo”. “Em 1917 a população do município era de cerca de 16.000 pessoas, 13.000 com residência dentro do perímetro urbano[2]”, prossegue Cascudo.

Observe-se a importância de Jerônimo Rosado em Mossoró, na qual chegara em 1890 a convite do Dr. Almir de Almeida Castro, líder político já nos idos de 1917. Em 1920-1922 Jerônimo Rosado foi intendente (vereador). 1926-1928: Presidente, Rodolpho Fernandes de Oliveira Martins; Vice, Hemetério Fernandes de Queiroz. Intendentes: Luís Colombo Ferreira Pinto, Francisco Clemente Freire, Antonio Teodoro Soares Frota, Manuel Amâncio Leite e Francisco Borges de Andrade[3]”.

Assim descreve Raul Fernandes a Mossoró da segunda metade dos anos vinte:

“Nos idos de 1927, Mossoró competia com a capital do Estado do Rio Grande do Norte. A população, incluindo a do município, somava 20.300 almas. A de Natal alcançava 30.600. (…) Ligada ao litoral por estrada de ferro que se estendia ao Povoado de São Sebastião, atual Dix-Sept Rosado, na direção oeste, percorrendo quarenta e dois quilômetros. Estradas de rodagem convergiam de vários recantos, sulcadas por caminhões que, aos poucos, substituíam as bestas de carga.

“Possuía o maior parque salineiro do país. Três firmas descaroçavam e prensavam algodão. Centro comprador de peles, algodão e cera de carnaúba. Exportava pelo porto de Areia Branca. Longos comboios de mercadorias chegavam pelo interior da Paraíba e do Ceará. Voltavam levando sal e variados produtos. A energia elétrica alimentava várias indústrias nascentes. Havia repartições públicas federais e estaduais. A agência do Banco do Brasil era o único estabelecimento de crédito da região.

“Circulavam três jornais: “O Correio do Povo”, o “Nordeste”, e “O Mossoroense”, o mais antigo do município, fundado em 1872. Existiam dois estabelecimentos para ensino secundário – a Escola Normal e a de Comércio. Dois colégios com internato – o Diocesano Santa Luzia para rapazes, e o Sagrado Coração de Mari, dirigido por religiosas franciscanas, portuguesas, para moças.

“No “Cine-Teatro Almeida Castro”, rodavam filmes mudos, acompanhados ao piano e ao violino. Dois clubes de futebol – Humaitá e Ipiranga – nas suas disputas e festas, apaixonavam e dividiam a cidade. O folclore mantinha presente fatos distanciados que impressionavam a região. A canção Corujinha evocava o lendário e romântico cangaceiro Jesuíno Brilhante, dos idos de 1876. A música mais conhecida era a melodia Vassourinha, com letra adaptada à campanha política contra a oligarquia dos Maranhão[4].”
           
Entrevistei, acerca dos anos vinte em Mossoró, Dona Bernadete – Maria Bernadete Leite Duarte – que guarda, aos oitenta e cinco anos, a beleza dos traços que a fotografia – tirada no verdor de sua mocidade – pousada em cima de uma cristaleira antiga, muito bem conservada, revela. Ela nos recebeu a mim, Carlos Duarte e Cleilma Fernandes, estes do jornal mossoroense “Página Certa”, e Paulo Gastão, fundador da Sociedade Brasileira de Estudo do Cangaço – SBEC, em sua residência, no dia 18 de dezembro de 2006, em um final de tarde tipicamente sertanejo, tornado mais fresco pela presença do vento Nordeste e mais agradável pelo lanche com o qual nos brindou após a entrevista. Dona Bernadete é filha de Manoel Duarte, um dos heróis da resistência a Lampião.

“Nasci em Mossoró”, diz-nos ela, “em 1921, e aqui morei até 1950. Quando completei quinze anos fui estudar na Escola Doméstica em Natal. Minha mais antiga lembrança em Mossoró é dos meus pais. Minha infância foi igual à de todas as crianças daquela época: pulei corda, brinquei de roda, de boneca, gostava de bonecas de pano, fazia teatrinhos, aperreava o pavão de Dona Filomena de Seu João Carrilho.

“Dormíamos cedo, às 19:00 horas. Tomávamos café da manhã às 7:00 horas, almoçávamos às 11:00 e jantávamos às 17:00. Comíamos pão, biscoito, leite de vaca, ovos, cuscuz, coalhada no café da manhã; feijão de arranque temperado com carne, cebola, alho, coentro, cominho, arroz, farofa no almoço; mucunzá, cuscuz, coalhada no jantar. Comíamos frutas e bolachas pretas.

“Já mocinha escutávamos, enquanto arrodeávamos a praça do Pax, a banda no coreto. Os rapazes ficavam em pé, de frente para a parte interior da praça. Às 21:00 horas todo mundo ia embora. Freqüentávamos o Clube Ipiranga e íamos ao cinema diariamente com meu pai, Manoel Duarte. Eu adorava os musicais. Gostava também muito de ler historinhas, o Tesouro da Juventude.

“Quando eu estudei em Natal, na Escola Doméstica, saia nos finais-de-semana para a casa da esposa de Rodolpho Fernandes. Lembro-me da passagem do Zeppelin e do Hindenburgo por Natal. O Hindenburgo, que era mais grosso, ficava parado, suspenso no ar e soltava malas para o pessoal da terra.

“Quando da invasão de Mossoró papai levou a família para Tibau e voltou para participar da resistência. Rodolpho Fernandes era compadre de papai, padrinho de meu irmão Antônio Leite Duarte. Nunca ouvi falar na história de Massilon ser apaixonado por Julieta, filha de Rodolpho. Papai ficou na casa de Rodolpho, na parte de cá (que dava para a Igreja de São Vicente) e havia outros na Igreja. Estes não alcançavam os cangaceiros postados na parede lateral da casa de Alfredo Fernandes, esquina com a Avenida Alberto Maranhão, mas apontaram Colchete que já estava com uma garrafa de querosene na mão para jogar nos fardos de algodão. Papai atirou em Colchete e Jararaca. Muita gente correu da luta.”

Dona Iracema – Iracema de Assis Duarte – com seus oitenta e poucos anos, magra, espigada, alerta, faz coro ao depoimento de Dona Bernadete. Estamos na calçada em frente à casa na qual ela mora sozinha. Não quer sair de lá e render-se ao chamado dos filhos em hipótese alguma. É o dia 19 de dezembro de 2006 e estamos quase ao lado da histórica sede da Prefeitura Municipal de Mossoró, antiga residência de Rodolpho Fernandes, na Avenida Alberto Maranhão, cujo tráfego, mesmo àquela hora crepuscular, não esmorece. Passantes vão e vêm. Não se dão conta de que há setenta e nove anos atrás o movimento, naquela avenida, deu-se por motivos bem diferentes dos habituais.

“A casa em frente a de Alfredo Fernandes era de João Hollanda. Os fundos davam para a casa de João Marcelino – o médico que cuidou de Jararaca. Naquele tempo, no entorno da Igreja de São Vicente havia a casa da esquina da Rua Francisco Ramalho com a Alberto Maranhão do lado de cá (no alinhamento da Igreja); havia a minha casa (várias geminadas vizinhas ao palacete de Rodolpho), a de seu Artur Paula (palacete cuja frente dava para a lateral da casa em frente aos fundos da Igreja)[5], a casa onde hoje funciona a Escola 13 de Junho, outra de umas catequistas.

“Não havia pudim, bolo, doces na minha infância. Era rapadura, cocada, pão doce, bolacha preta. Galinha aos domingos. Coalhada de manhã para o pai. Não havia o hábito da verdura. A hora das refeições era essa mesma que Bernadete falou. E as brincadeiras também. Meninos não participavam. As brincadeiras: escravos de Jó, tique, esconde-esconde, teatro infantil (representavam contos de fadas). O cinema era o Almeida Castro, no Grande Hotel. Esse Grande Hotel concentrava a nata da sociedade nos grandes eventos. Os filmes eram mudos.

“Manoel Duarte, um homem muito sério, achava graça com os retratos dos heróis nas trincheiras. Dizia que a máquina fotográfica era muito boa, pegava fulano e sicrano em Areia Branca… Zé Otávio – o que fotografou as trincheiras – era o fotógrafo da época. Os Fernandes eram os ricos de Mossoró. Dizia-se que Tertuliano era o mais rico.”

É dezembro de 2006. Irmã Aparecida nos recebe, a mim e a Carlos Duarte, em seu gabinete no Colégio Sagrado Coração de Maria – o Colégio das Freiras, onde estudavam as filhas das elites de Mossoró, geração após geração. Tem o mesmo tipo físico de Dona Bernadete e Dona Iracema. Nela, entretanto, o hábito de comandar deixa-se perceber através das frases pontuadas de forma mais incisiva, como a evitar contestações. Irmã Aparecida, apesar da idade, ainda comanda o Colégio. Nada leva a crer, observando-se sua agilidade física e mental, que a aposentadoria esteja próxima.

“Merendávamos às 9:00 horas: coalhada, copo de leite, ovos batidos, fubá de milho com mel, ou  gema de ovo com mel de abelha. Almoçávamos às 11:00 horas. Não se conhecia feijão preto e não se comia bode por que fedia. Comia-se melhor no campo que na cidade. Nas refeições, silêncio: era preciso manter-se o respeito.

“À mãe competia a educação. O pai quase nunca se metia. Os castigos: ficar atrás do guarda-roupa e a palmatória. A educação era feita através da tradição oral: não mentir, por exemplo. Rezava-se o ofício, particularmente, todos os sábados. Mas não se misturava moral com religião.

“A diversão dos homens era jogar sueca. A dos meninos ir para o terreiro. Líamos, quando muito, os livros didáticos. Assistíamos filmes mudos pelo menos duas vezes por semana.

“As grandes famílias de Mossoró eram os Fernandes, os Leite, os Duarte. Ainda não havia Rosado. Não se sabia quem eles eram. Os ricos eram Costinha Fernandes, João Marcelino, Miguel Faustino, Tertuliano Fernandes…”

Entretanto nada tão instigante a respeito da Mossoró da década de 20 do século passado quanto a leitura das “Memórias” de Sebastião Gurgel[6]. Em seu diário do ano de 1927, no qual começa, no ano da invasão de Mossoró, escrevendo em Março, alude, desde logo, à inauguração, em 1º de novembro de 1926, ao serviço da estrada de ferro Mossoró/São Sebastião (atual Governador Dix-Sept Rosado).

Informa que o inverno está sendo bom e que a estrada de ferro progride até Caraúbas.

Em Julho noticia a invasão de Apodi por Massilon, a 10 de maio, e a de Mossoró, a 13 de junho, por Lampião e seu bando. É avaro nas informações e mais ainda na análise do fato. Convém, segundo ele, consignar um voto de louvor “aos srs. Cel. Rodolfo Fernandes, prefeito da cidade, Julio Maia, que melhor que outro qualquer dirigiu a defesa, Mirabeau Melo[7] que como encarregado do telégrafo, prestou enormíssimo serviço, Dr. Gilberto Studard Gurgel, tenente Abdon Nunes, Cornélio Mendes, João Fernandes, etc.”. E acrescenta, irônico: “Eu, já se sabe, nestas ocasiões, sou sempre o herói da retirada.”

 Ainda em Julho relata um acontecimento “sensacional – o casamento de Monsenhor Almeida Barreto com a senhorita Maria Nazareth de Oliveira”. Imaginemos o impacto que esse acontecimento deve ter ocasionado na provinciana Mossoró do início do século XX!

Somente em Outubro de 1927 Tião Fernandes volta a escrever em seu diário. Critica o governo do Ceará por não tomar providências contra o cangaço. Registra ter deixado suas duas filhas em Natal, para estudarem na Escola Doméstica. Em Dezembro, no dia 4, lembra que “Em virtude de uma lei séria que garante o voto a mulher, nesta semana (passada) requereu o título de eleitora do município, a professora dona Celina Viana, sendo ela a primeira eleitora do Brasil.” E, também, que “Em substituição do presidente da intendência Rodolfo Fernandes que morreu no dia 10 de setembro, foi eleito para o mesmo lugar Luiz Colombo Ferreira Pinto.”

CONTINUARÁ EM 1º DE MAIO PRÓXIMO

[O professor Honório de Medeiros publica aqui às sextas-feiras...]


CONVITE


UNIDADE, AÇÃO, LUTAS E ESPERANÇAS
 
O Partido Comunista do Brasil - PCdoB convida seus filiados, militantes, amigos, simpatizantes e a sociedade em geral, para participar da Conferência Municipal do PCdoB de Mossoró, que se realizará no dia 15 de outubro deste corrente ano, as 09:00h na Câmara Municipal de Mossoró/RN.
Saudações Socialistas.
Atenciosamente,
Manoel Assunção e amigos em ação.

Veredas Jalapão

  Por Aderbal Nogueira


Amigos, segue link do Veredas do Brasil_Programa 1_ Jalapão
Se achar interessante, pode divulgar.
 Clique no link abaixo para assistí-lo.
 

Att,
Aderbal Nogueira

É um bilhete premiado da loteria

Por: João Nóbrega Bezerra
Cel. João Nobrega Bezerra e Esposa, em manhã de Cariri Cangaço

Severo; amigo e "iluminado" como a cangaceirada do cariri cangaço 2011 te chamava. Estou agradecendo por ter participado e tão bem acolhido em terras do Ceará. As cidades de Crato e Juazeiro vão demorar a sair da minha mente. A convivência com gente de qualificação tão elevada, de preparo e conhecimento da História do cangaço, de modo profundo, as visitas a locais históricos do cangaceirismo, as palestras, os membros da minha comunidade Lampião o Grande Rei do Cangaço, os novos amigos, Ivanildo, Narciso, Jorge... E demais participantes do evento, tudo sob o comando de Vossa Senhoria, é um bilhete premiado da loteria.
Falar de tudo é tarefa difícil, não tivemos coisa ruim. Olha, Severo !! o evento já é bom do jeito que foi, e se fizer alguns ajustes, ficará excepcional. Só tenho a dizer OBRIGADO SEVERO- Grande comendador do Cariri cangaço. Deus dê vida longa ao evento, Severo, família e os 138 escritores e pesquisadores do cangaço de Lampião. Deus abençoe a todos nós.

JOBENO ou João Bezerra da Nóbrega
João Pessoa-Pb,
Pesquisador e Escritor
 
http://cariricangaco.blogspot.com/2011/10/e-um-bilhete-premiado-da-loteria.html


Fransquinho Vasconcelos - Livraria e Tipografia Nordeste

Por: José Mendes Pereira

Dona Terezinha, -esposa - Fransquinho Vasconcelos, Vasxoncelos  Neto e Silvia --1956

Era um homem de  admirável simplicidade. Educado, calmo, que atendia as pessoas com um simples gesto de boas vindas. Filho de uma grande personalidade de Apodi, mas radicado em Mossoró, o escritor, poeta e jornalista José Martins de Vasconcelos. 

Não posso afirmar que seu Fransquinho foi o primeiro proprietário de Livraria em Mossoró, mas com certeza, o segundo.

Lembro-me bem onde funcionava a sua primeira Livraria e Tipografia. Próximo ao antigo Cine Cid, na Rua Coronel Vicente Saboia  

Nunca foi homem de luxo, apenas organizava o seu comércio: um birol pequeninho feito de pereiro e envernizado, onde guardava todos os seus documentos, notas fiscais, talões... Posteriormente na mesma rua, construiu um prédio e lá se estabeleceu até os seus últimos dias de vida. 

Nos anos sessenta e setenta eu era tipógrafo, na Editora Comercial S/A., e através de contatos gráficos, fiz amizade a ele. Deixando a vida gráfica, as nossas amizades cresceram mais ainda, quando fui prestar os meus serviços públicos ao Estado-RN, numa escola, cujo patrono é o seu pai, José Martins de Vasconcelos.

Jornalista José Maritns de Vasconcelos

Ele querendo que o nome do seu velho pai fosse zelado e seguisse mais adiante, fazia panfletos para serem entregues na escola, todos levados e distribuídos aos alunos por mim. 

A história que segue não foi ele quem me contou, mas segundo os gráficos mais antigos, já falavam o que havia ocorrido na sua tipografia. 

Fransquinho Vasconcelos tinha um dos seus empregados que muito o paparicava. Por mais que existissem homens honestos, para ele, não serviam para lavar os pés do seu grande e honesto profissional. 

Nos finais de semana, principalmente aos sábados à tarde, era do costume o empregado fazer bicos (horas extras), em sua tipografia. Enquanto Fransquinho  Vasconcelos organizava os seus documentos de trabalho, o operário permanecia lá dentro da oficina, fazendo as suas impressões tipográficas, isto no sentido de adiantar os pedidos  para a semana entrante.

Mas geralmente aos sábados, desaparecia dinheiro da sua gaveta, e, como tendo total confiança no seu empregado,  jamais imaginou que poderia ser ele que o roubava. E os desaparecimentos de dinheiro continuavam sem ter a certeza quem seria o larápio.

Já cansado de ser assaltado, idealizou uma simples e bem pensada ideia, para descobrir quem seria o ladrão que o roubava. Comprou um chocalho, não tão grande, mas médio, e montou-o sob a gaveta onde ele guardava os seus valores. 

Nessa tarde, depois de pronta a armadilha, foi lá dentro da oficina e disse ao empregado que iria dar um dedinho de conversa com os amigos, lá na praça da Catedral. Geralmente, lá estavam: Jorge Pinto, proprietário do Cine Pax, Seu Medeiros, da Casa Medeiros, Seu Ferreira, da Casa Ferreira, Odílio Pinto, seu contador, e outros e outros comerciantes se divertiam por lá.

Mas Fransquinho Vasconcelos em vez de ir à  viagem escondeu-se por trás de um monte de caixas com livros que iria ser colocado nas prateleiras, e lá ficou observando quem iria lhe roubar.


Como o empregado não imaginava tal desconfiança do velho patrão, parou a máquina impressora, foi até a sala, em seguida dirigiu-se até a porta que saía para rua, para ter certeza que  Fransquinho Vasconcelos tinha ido a dita viagem, e vendo que o patrão havia ido mesmo, voltou, abriu a gaveta, assustando-se com o trim-trim do chocalho.

Desconfiado,  em vez de retornar à oficina, e sentindo vergonha da sua própria fraqueza, e não imaginava que o patrão se escondia por trás das caixas, foi tentar disfarçar o seu erro entre elas. Mas se enganara! Quando tentava se ocultar por ali, viu o patrão banhado de tristeza, por saber que quem o roubava era o seu homem de confiança.

Ao vê-lo, ali, escondido, disse-lhe:

- Que vergonha seu Fransquinho! Que vergonha!

- Muito mais vergonha sinto eu, - dizia Fransquinho Vasconcelos trêmulo e sentindo piedade do miserável, - pois jamais eu imaginei que você fosse capaz disso. Mas não vou te demitir. Você vai continuar trabalhando nesta gráfica. Se eu te demitir, aqueles teus filhos irão todos morrerem de fome, e eles não têm culpa da sua fraqueza. Leve sempre para sua casa coisas adquiridas através do teu suor, para ensinar a teus filhos o caminho da vida sem decepções. Se você continuar assim, estará ensinando aos  teus próprios filhos a serem desonestos, e daí a pouco estarás comendo do roubo que teus filhos furtaram. E o fim será cadeia  para pai, filhos e mais nada.

Até onde eu sei o homem não quis mais ficar trabalhando na empresa,  abalando-se de Mossoró com toda sua família. Nunca mais foi visto nesta cidade. 

Minhas simples histórias