Seguidores

terça-feira, 24 de julho de 2018

AS OITO IRMÃS DO CANGACEIRO ZABELÊ (Crônica)


Por Rangel Alves da Costa (Poeta e cronista)

Nem posso dizer que o texto que segue é fruto de construção literária, da minha verve prosista, pois tudo, como se verá, é tão verdadeiro quanto o sangue que corre pelas minhas veias, afluente que é do caudaloso rio familiar do cangaceiro Zabelê e suas sete irmãs.

Manoel Marques da Silva, mais tarde apelidado como Zabelê no bando de Lampião (Alguns afirmam a existência de outro ou até outros Zabelês), era filho único de Antônio Marques da Silva e Maria Madalena de Santana, a Mãe Véia. Suas irmãs, em número de oito, eram Emeliana, Conceição, Osana, Isabel, Rosinha, Mãezinha, Mariquinha e Cordélia.


Assim, meus bisavôs paternos Antônio Marques e Mãe Véia fizeram nascer numerosa prole, talvez pensando em formar descendência familiar forte num pequeno lugarejo lá pelas bandas mais esturricadas do sertão sergipano. Nessa época Poço Redondo fazia parte do município de Porto da Folha.

Pois bem. Nove filhos nasceram, porém sendo apenas um homem em meio a tantas mulheres. E quando mais tarde o único herdeiro dos Marques - por circunstâncias que somente a predisposição do momento, o modismo cangaceirista e o destino podem explicar – resolve fazer parte do bando do Capitão Virgulino e deixa a segurança do lar para viver as incertezas sangrentas das caatingas, os seus pais passam a amargar a dor da ausência e os temores em ter dentro de casa seis filhas para criar.

Ora, no sertão é dito como certo que casa que tem filho homem marmanjo algum quer dar uma de gavião para querer beliscar irmã dos outros. Se o menino Manoel Marques estivesse em casa os pais das sete mocinhas não ficariam tão preocupados. O perigo aumentava quando se sabia que as meninas da época eram apaixonadas pelos cabras de Lampião e inexplicavelmente atraídas para a vida em perigo.

Mas o menino resolveu se unir a Lampião e seus comandados e não teve jeito mesmo. Já no bando, então batizado como Zabelê, nome de pássaro errante pelos sertões nordestinos, foi se afastando cada vez mais da família, com quase nenhuma notícia nem sinal de que voltaria um dia para molhar os olhos de todo mundo. A esperança do retorno, desesperançada...

Nesse desvão de mundo, naquele mundão de meu Deus, onde a sorte morava ao lado morte, sustentar família era um sacrifício. Se Manoel tivesse aqui era tudo muito diferente, muito mais alegria, muito mais encorajamento pra gente viver essas durezas dos homens e da terra, além de que certamente esses cabras não estavam noite em dia em minha porta com enxerimento pras minhas meninas. Certamente era isso que Mãe Véia murmurava enquanto batia o café no pilão ou ralava o milho para o cuscuz.


Mãe Véia tinha razão, pois por ali mais tarde foram aparecendo um tal de Ermerindo, um citadino chamado Aloísio, um militar chamado Rios, sertanejos como Timbé e Bastião e outros, cada um levando na mão uma flor do campo e roubando os corações das filhas de Antônio Marques.

Mas o que fazer se Manoel não estava ali para olhar bem nos olhos desse magote enxerido, medir de cima a baixo, e dizer se prestava ou não? Mas o destino não anda na contramão. Zabelê estava vivendo sua vocação catingueira, enquanto suas irmãs Emeliana, Conceição, Isabel, Osana, Mãezinha, Rosinha, Cordélia e Mariquinha buscavam a formação de novos laços familiares.


Assim, como disse acima, sou filho desse contexto, pois minha avó paterna, Emeliana Marques, casou com um rapaz das bandas de Carira, de nome Ermerindo Alves Costa, fazendo nascer dessa união também sete filhos, dentre eles o ex-prefeito de Poço Redondo e escritor Alcino Alves Costa, meu pai.

Meu tio passarinho, Zabelê com asa e bico e plumagem, depois que saiu de casa voou para sempre. Nunca mais colocou os pés na morada para rever a família, nunca mais mandou um recado dizendo que um dia voltaria, nunca mais pousou na mangueira do quintal ao entardecer. Seu Antônio Marques e Mãe Véia morreram sem o prazer da volta do filho homem.

Contudo, mesmo sem visitar familiares nem adentrar novamente à velha casa para beber um copo d’água sequer, Zabelê de vez em quando estava por perto, voando baixo na região de Poço Redondo. Fazendo parte do bando do Capitão, assim que o homem se amoitava pelas redondezas ele fazia parte da comitiva.

No dia 28 de julho de 1938, quando na madrugada sertaneja a volante alagoana fez o cerco e matou Lampião, Maria Bonita e mais nove cangaceiros, na Gruta do Angico, terras de Poço Redondo, Zabelê só se salvou por milagre. Junto com Pitombeira arribou no meio do mundo. Contam que quando a saraivada de balas começou a riscar por todo lugar, Zabelê passarinho voou bem alto, sumiu numa nuvem e se escondeu.

E parece que se escondeu tão bem escondido nessa nuvem que de lá ninguém mais o viu, principalmente a família. Até hoje as irmãs que ainda estão vivas, como minha avó Emeliana e minhas tias Cordélia, Mariquinha e Mãezinha, choram quando lembram ou ouvem falar do irmão passarinho.

Elas mesmas avoaram muitas vezes por aí em busca do irmão. Há alguns anos, ainda quando estavam com vigor físico que permitia que fizessem longas viagens, bastava que ouvissem um rumor que o irmão poderia estar em algum lugar e lá iam elas em caminhonete, cortando os caminhos quase sem destino.

E assim voaram pelos céus de Minas Gerais, Pernambuco e Bahia, dentre outros lugares, mas nada de encontrar nem uma pena do passarinho. A única certeza é que ele voou pra bem longe. E certamente hoje o meu tio faz ninho no céu.

https://www.facebook.com/photo.php?fbid=893492654186043&set=gm.871886949686917&type=3&theater&ifg=1

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

JOÃO MOSSORÓ

https://www.youtube.com/watch?v=zyN0RDJCrNg

JOÃO MOSSORÓ - CD CANTO DE AMOR
Publicado em 6 de julho de 2015

Linda interpretação de JOÃO MOSSORÓ com a música "Tocando em Frente", de Almir Sater e Renato Teixeira. Todo primeiro sábado de cada mês ele faz show no Mercadão Cadeg no Rio de Janeiro. Em outubro será no dia 1º (sábado).

Vídeo gravado nos estúdios da Gravadora Hawaí por Qualitativa Comunicação e Markekting para o novo CD CANTO DE AMOR.

Categoria
Licença
Licença padrão do YouTube

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

VISITANDO A FEIRINHA

Clerisvaldo B. Chagas, 23 de julho de 2018
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 1.947

        Nessa ocasião em que o governo do estado incentiva as feiras da agricultura familiar em todo o território de Alagoas, fomos também “curiar” a nossa. Como escritores e parceiros dedicados ao município, eu e Marcello Fausto estivemos visitando o antigo Ginásio, onde fora o 20  Batalhão de Polícia e a Igrejinha de Nossa Senhora Assunção, juntamente com a equipe da TV Cultura e da Tribuna Independente. Estivemos também na Casa da Cultura – motivo do nosso próximo trabalho – e ainda na Feira da Agricultura Familiar, que acontece as sextas defronte a EMATER, Bairro Monumento. O trecho em que se situa a feira é bem movimentado, sendo a parte nobre das imediações.

Feira orgânica em Santana do Ipanema. (Foto: B. Chagas).

A Feira da Agricultura Familiar – já denominada pelo povo, de Feirinha – é empreendimento da prefeitura local através da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Rural, Meio Ambiente e de Recursos Hídricos. Encontramos por ali, um mar de amigos e conhecidos cujas palestras improvisadas produziram efeitos renovadores e várias ideias aproveitáveis. Deduzimos, então, que além de ponto de encontro entre campo e cidade, a Feirinha também é um excelente lugar para encontros amigos e conversas “miolos de pote”.
     No momento em que o país está cada vez mais produzindo agricultura de plantation para indústria e para exportação, temos que louvar aqueles que produzem o feijão nosso de cada dia que é o agricultor de roça. Portanto, o incentivo a agricultura familiar é digno de louvor. Ai se não fosse ela! Gostamos em muito do que vimos. Uma feira com barracas limpas e padronizadas, nada de lixo no chão e preços razoáveis. Frutas, raízes, hortaliças e outros produtos orgânicos (sem agrotóxicos) trazidos do campo, vão conquistando o novo consumidor exigente. Até mesmo exposições artesanais são encontradas nas bancas como inúmeras peças em ferro e também em tecidos. O espaço para clientes e transeuntes é o suficiente para esse encontro das sextas entre campo e cidade.  
Olhe, esperamos que a Feira da Agricultura Familiar, cresça mais ainda e se firme definitivamente. Exemplo a ser seguido.


http://blogdomendesemendes.blogspot.com

CINCO REAIS

*Rangel Alves da Costa

Pretendo refletir sobre o cotidiano a partir de cinco reais. Certamente dirão que é proposição descabida, vez que todo mundo sabe o valor de tal nota e o que a mesma dá para adquirir. E que nos dias atuais, aliás, não dá pra quase nada. Contudo, demonstrarei que o valor que se dá à nota possui diversas vertentes. Para uns, apenas cinco reais, quase nada. Para outros, de repente de valor imenso, pois através dela a possibilidade de fazer muito - e demasiadamente tanto - com aquilo que para os outros possui valor de quase nada. É quase a questão de se valorizar o que se tem ou valorizar ainda mais o que tanto deseja e não possui. Mas vamos aos fatos.
Vamos dizer que uma cerveja custe cinco reais. Com cinco reais a pessoa compra quantos pães? Sim, a cerveja custa cinco reais e é tomada em minutos. E os pães comprados com os cinco reais faz efeito por quanto tempo? Com cinco reais a pessoa compra uma farinha de milho e quase uma dúzia de ovos. Com cinco reais a pessoa compra uma farinha de milho e uma mortadela pequena. Com cinco reais a pessoa evita que crianças chorem com fome. Com cinco reais a família serve um café ou uma janta. E fica feliz e fica contente, ainda que seja pouco. Mas a cerveja chama cerveja. E vai mais cinco e mais cinco. De repente, apenas numa mesa de bar já estará sendo gasta a janta de cinco, seis famílias ou mais. Não estou dizendo que a pessoa ao invés de beber vá dar os cincos reais para a farinha de milho e a mortadela ou os ovos, até por que sei que muito pai gasta os cinco reais num bar e deixa seu filho com fome. Meu cálculo foi apenas para mostrar o valor de quatro copos de cerveja e o imenso valor de quatro pratos com um pedacinho de cuscuz e um pedaço de ovo ou de mortadela. Apenas isso.


Certamente vocês entenderam bem o mote da questão. Enquanto a cerveja vai sendo derramada no banheiro mais próximo, o alimento comprado com o valor da cerveja permanece por um tempo bem maior na barriga daquele alimentado. A cerveja é tomada aos goles e logo o copo é novamente cheio, e assim por diante. Bebe-se a cerveja como um tanto faz de bate-papo, como demonstração de poder ou apenas por distração cotidiana. O preço pago nem sempre faz muita falta, considerando que a mesma quantia daria para ser espalhada em duas ou três doses de aguardente. Ademais, muita gente bebe exatamente para abrir o apetite, para dali a pouco se fartar na comida. Quer dizer, além do dinheiro da conta já há outro valor que foi gasto na comida que vai se servir. Bebe uma, bebe duas, pede mais, deixa boa parte no banho e depois vai completar a barriga em prato cheio. Cinco reais ou mais quase não fez diferença para o que mais certamente tem. E o outro lado, aquela face desse mesmo valor ter outra aplicação?
Numa casa pobre, de fogão sem panela ou panela vazia, qualquer moeda é contada e recontada para ver se dá para comprar qualquer coisa. Contas e mais contas são feitas para tão pouco dinheiro. Não dá para um pedaço de carne, não dá para meio quilo de arroz ou de farinha, não dá para um macarrão, não dá para uma sardinha, não dá para meio quilo de salsicha. Vai de canto a outro, revira tostões, mas nada de encontrar outra moeda que some àquela tão preciosa. A família com fome, os meninos chorosos, a tristeza sem fim. E o que fazer, então, se todo o dinheiro juntado não dá para nada. Aquele valor não dá mesmo, não compra sequer um pedaço de toucinho, mas cinco reais sim. Ora, cinco reais é riqueza de momento, mas a maior das riquezas. Cinco reais é pouco, mas é tudo o que se deseja ter para alimentar aquela família. Como dito acima, com os cinco reais o cuscuz vai para o fogo e os ovos pra frigideira. Com os cinco reais o cuscuz saboroso vai ser partilhado com fatias de mortadela. Com cinco reais alimenta-se uma família. Pouco, quase nada de comida, mas o essencial para afastar da desonra humana a indignidade da fome.
E você, já tomou quantas cervejas hoje? Saiba, pois, que a essa hora tem muita gente que agradeceria de joelhos se tivesse o valor que você paga por apenas uma. E então, vai pedir outra ou vai permitir que algum prato tenha um pouco de cuscuz com ovo?

Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

ROMANCE LOBISOMENS E CANGACEIROS DESFILAM NO LIVRO “HOMO CACTUS”


O escritor chavalense, radicado em Parnaíba, Marcello Silva, lançará no segundo semestre deste ano, seu mais novo trabalho literário. A obra em questão se trata do livro de contos denominado “Homo Cactus” que será publicado pela editora paulista “Editorial Hope”.

O livro trás estórias e lenda da vida interiorana. São 15 contos que se comunica com o tempo e o espaço rural. “Cresci ouvindo boa parte dessas estórias. Costumava ficar observando as conversas dos meus avós e anciões da comunidade onde eu morava. Prometi que um dia eu colocaria no papel” afirmou o autor.

Há mistérios e suspenses em quase todos os contos como, por exemplo, em "Cangaceiro Sem Face" onde numa vila um sujeito estranho e misterioso aparece em uma noite a procura dos bisnetos do rei do cangaço; "O Lobisomem de Santa Cecília" narra a estória de fatos estranhos ocorridos na Fazenda Santa Cecília depois do aparecimento do silencioso Manoel Redondo. O amor ganha faces nos contos "O Pecado de Maria" quando a narradora vai fazer um trabalho de campo da faculdade conhece dona Celeste e seus segredos; "Buk e as galinhas" relata a vida rotineira de dois eternos amantes. Angústia e fé nos contos "Canto do Urutau I e II" quando uma mãe ganha voz e evidencia sua dor e drama ao esperar a volta de um filho que saíra de casa há quase três décadas; "Menino Vaqueiro" baseia-se em fatos, onde narra a angustia e a fé de uma família ao procurar pelo filho pequeno que se perdera no sertão. Enfim, os demais contos seguem essa temática e estilo.

Para o escritor e jornalista Pádua Marques “É bonito e gratificante ler uma obra igual a esta. E a gente acaba viajando entre os contos, seus títulos, frases e as letras, por entre as veredas que ninguém nunca imagina onde vão chegar...”

Para o escritor e professor Carvalho Filho: “nas narrativas de Marcello Silva um universo de homens duros e práticos, embora suscetíveis à fantasia, vivendo em um mundo a um só tempo lógico e assombrado.”. Mais adiante continua o professor Carvalho “Suspense e misticismo são alguns dos elementos encontrados nos contos deste volume. Quanto ao espaço, a zona rural se destaca como cenário privilegiado.”

Por fim, ponderou a escritora Luana Silva: “Esse abraço nostálgico que Homo Cactus nos traz é espinhoso, porém necessário. Essa resiliência que inspira, é o símbolo do sertão!”

O livro “Homo Cactus” estará disponível em breve no site do Grupo Editorial Hope (https://www.editorahope.com/ ) e será lançado no segundo semestre em Parnaíba/PI e Chaval/CE. Mais informações no blog do autor: www.marcellossilva.com.br

http://lampiaoaceso.blogspot.com/2018/07/romance.html

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

ADQUIRA-OS JÁ!


Indicação Bibliográfica. Alguns bons livros da História e Cultura Nordestina. Para adquirir estes e mais outros 550 títulos: 

franpelima@bol.com.br 
e WhatsApp: 83 9 9911 8286.

https://www.facebook.com/photo.php?fbid=2111277449141147&set=a.1929416523993908.1073741833.100007767371031&type=3&theater&ifg=1

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

OS “SABONETES” DO CANGAÇO...

Por Sálvio Siqueira

Ao estudarmos o Fenômeno Social notamos que, ao longo da historiografia cangaceira, diversos nomes, alcunhas ou apelidos de cangaceiros foram repetidos em distintas personagens. Para algumas dessas repetições o significado era bem claro: dar a impressão que o cangaceiro não havia tombado em determinado combate.

A notícia da morte era divulga pelas autoridades e, como o vento pelas planícies, morros e chapadas do sertão nordestino, se espalhavam feito fumaça. Porém, em um ou outro embate, ou mesmo um ataque a alguma Vila, Povoado ou arruado qualquer, os cangaceiros pronunciavam a mesma alcunha do cangaceiro morto para ser muito bem escutado. Escutando, a população, também, soltava aos quatro ventos que aquele cangaceiro estava vivo e que havia participado do ataque, roubo ou extorsão praticada.

Esse tipo de estratégia foi muito bem usado por Virgolino Ferreira, chefe cangaceiro codinominado Lampião, surgido no princípio do séc. XX, na microrregião do Pajeú das Flores, mais precisamente no município de Vila Bela, hoje Serra Talhada, sertão pernambucano. Lampião foi um jovem chefe cangaceiro que soube empregar diversas táticas de guerrilhas, guerra de movimentos, e outras estratégias tais como a informação e, principalmente, a desinformação tão perfeitamente que o elevaram ao topo como maior dos chefes cangaceiros desde os primórdios do fenômeno social surgido no princípio da segunda metade do séc. XVIII.


Os apelidos, as alcunhas, dos cangaceiros eram, normalmente, empregados, ou mesmo criados, devido a algum dom, movimento em combate ou algo dessa natureza... Em fim, para determinado roceiro que entrava para um bando de cangaceiros era codinominado aquela alcunha que o chefe, ou seus asseclas, achasse que melhor ficaria representando suas façanhas. Porém, como em tudo há regras e exceções, esse parâmetro da historiografia também teve as suas. Como exemplo citaremos a alcunha, apelido, de um dos renomados chefes cangaceiros antecessores a Lampião, Antônio Silvino. O nome de registro desse chefe cangaceiro natural da fazenda Colônia, município de Carnaíba, PE, era Manoel Batista de Morais. Ao entrar nas hostes cangaceiras adotou o codinome de Antônio Silvino. O primeiro em homenagem ao Santo Padroeiro da própria fazenda onde nascera, pois nela, ainda hoje tem a Capela de Santo Antônio. Já o segundo nome, Silvino, foi homenageando um parente, Silvino Aires, que era cangaceiro e que fora preso nas proximidades de Alagoa de Baixo, região do Moxotó pernambucano, hoje, cidade de Sertânia.


Ao longo da existência do fenômeno social deparamo-nos com mais de um cangaceiro chamado, apelidado, de uma mesma alcunha, apelido. Como por exemplo “Candeeiro”, “Jararaca”, “Azulão”, esse último com quatro participantes, e outros mais tais como os chamados de “Baliza”, sendo Venceslau Xavier, que foi o último deles, cangaceiro do bando de Lampião morto pelo tenente Ladislau Reis, alcunhado de ‘tenente Santinho’, ”Baliza”, José Dedé, que foi cangaceiro do bando de Sinhô Pereira antes de 1922, Sinhô Pereira, Sebastião Pereira da Silva, cangaceiro que foi chefe de Virgolino Ferreira, o Lampião, e, por fim, o primeiro “Baliza”, Manuel Batista Elifas, cangaceiro que esteve ao lado do chefe cangaceiro Antônio Silvino, antes de 1914, que quando baleado entrega-se a volante comandada pelo, então, Alferes Teófenes Ferraz Torres. Também encontramos aqueles que tiveram suas alcunhas denominadas de “Gato”: José Pereira foi o primeiro cangaceiro a possuir o apelido de “Gato”, ainda quando do cangaço de Jesuíno Alves de Melo Calado, alcunhado de Jesuíno Brilhante, “o cangaceiro Romântico”, surgido na região de Patu, RN, ainda na época do Império, 1844 a 1879, tendo em seguida a participação de Amâncio Guedes de Farias, que ‘trabalhou’ com o apelido de “Gato” sob as ordens do chefe cangaceiro Antônio Silvino. Já outro cangaceiro alcunhado de “Gato” prestou seus dons na espingarda ao chefe cangaceiro Sebastião Pereira da Silva, Sinhô Pereira, porém, nem a Fundaj, Fundação Joaquim Nabuco, tão pouco o pesquisador, historiador e sociólogo Frederico Pernambucano de Melo, em seu livro “Guerreiros do Sol”, em sua 5ª edição revista e atualizada, apesar de o terem registrado na historiografia, não nos fornecem seu nome de registro e, por fim, o índio Pankararé Santílio Barros, que tendo o apelido de “Gato”, é considerado o mais perverso e sanguinário daqueles cangaceiros que prestaram seus ‘serviços’ ao chefe cangaceiro Lampião.


Nossos estudos, nessa pesquisa, se concentram naqueles que foram chamados de “Sabonete”. Logicamente por um deles, o terceiro, ter servido diretamente a cangaceira Maria Gomes de Oliveira, a Maria de Déa, mais conhecida nos estudos do cangaço lampiônico por “Maria Bonita”, companheira do chefe cangaceiro, sendo seu ‘secretário’ particular. A História do cangaço é secular, porém, os estudos sobre esse Fenômeno Social recai quase que exclusivamente sobre o cangaço lampiônco, 1918/19 a 1938, tendo se alongado até maio de 1940 quando um dos subchefes, na época o único em ação, Cristino Gomes da Silva Cleto, o famoso Corisco, foi abatido, e mesmo assim, apesar da proximidade do tempo, sua historiografia tem muito a ser contada, analisada, revisada e ‘cortada’ as rebarbas das invencionices. Acreditamos que a falta de registros, e quando os mesmo existem serem montados, é o que mais leva a maioria dos autores, pesquisadores/escritores, falharem nos escritos em suas obras literárias. O quê a imprensa da época escreveu, na maioria dos vespertinos, têm um sentido parcial, escolhendo, sempre, o lado da Força Pública. Muito, daquelas personagens, que fizeram parte da história ainda estão por serem descobertos, outros, jamais saberemos quem foram de onde vieram e quem são seus descendentes, seus familiares. Até meados de 2016 todos nós que estudamos os fatos e atos desse tema, tínhamos o conhecimento de que existiram dois cangaceiros denominados de “Sabonete” no cangaço lampiônico. No entanto, após o lançamento de um dos melhores livros, “ As cruzes do Cangaço – Os fatos e personagens de floresta – PE”, dos autores Marcos Antônio de Sá e Cristiano Luiz Feitosa Ferraz, que já li sobre a história aonde esse famoso chefe cangaceiro, Lampião, viveu seus primeiros e principais passos, vieram a toma personagens, fatos e atos contados como realmente ocorreram e existiram. Os autores dessa obra são filhos da mesma região aonde ocorreram os tais fatos, e isso é mais importante como, sendo filho do mesmo torrão, as pessoas confiarem mais em relatarem sua passagem e/ou dos seus descendentes.

Da famosa região do Navio, cantada em versos e prosas pelos poetas e repentistas e até pelas letras das músicas do “Rei do Baião”, Luiz Gonzaga, surgiram homens de têmperas jamais vistas e/ou comparadas em termos de valentia e disposição para brigar. Um dos grandes exemplos é o famoso cangaceiro Cassimiro Honório da Silva, “Cassimiro do Navio”, ou mesmo o afamado Clementino José Furtado, mais conhecido por “Clementino Quelé”, onde, quando cangaceiro do bando de Lampião, tinha a alcunha de “Tamanduá Vermelho”, isso devido ter sua pele clara e ao entrar em discussão, brigar ou estar em combate, ficar bastante acalorado, ficando sua tez avermelhada. Dentre esses aparecem os ‘Celestino’. Um ramo da família “Celestino”, o qual tinha como patriarca o Sr. Ramiro Celestino que, devido a razões e questões familiares, migra da região do Navio para o próximo município de Floresta, PE, consequente do município da “Terra dos Tamarindus” para o, na época, Vila de Santa Maria, hoje Tapanaci, munícipio de Mirandiba, PE. Normalmente nessas questões familiares havia mortes, ou mesmo para evita-las, uma das saídas era mudar de localidade como tentou por várias vezes José Ferreira, pai dos cangaceiros Esperança, Vassoura, Lampião e Ponto Fino, Antônio, Livino e Virgolino Ferreira, respectivamente. Ramiro (Vieira) Celestino muda-se novamente, com os seus, para o povoado da Vila de Santa Maria, município de Mirandiba, PB.


Estando nessa região, um de seus filhos, Pedro Celestino, mais conhecido por todos como “Pedro de Ramiro”, tendo como grande amigo desde a infância Antônio Alexandre, mesmo sob os protestos do pai, resolve entrar para o bando de Lampião, e seu amigo, Alexandre, ao contrário, vai prestar seus serviços a Força Pública. O cangaceiro mor lhe dá a alcunha de “Sabonete”. Não sabemos citar a data exata da sua entrada nas hostes cangaceiras, assim como ninguém declara com certeza a data da entrada dos outros dois que o sucederam, porém, ainda há descendentes, familiares em Tapanací, outrora denominada de Vila de Santa Maria, no município de Mirandiba, PE, como um sobrinho do jovem cangaceiro, o Sr. Antônio Neto, filho de uma irmã de Pedro chamada Emília Vieira (Celestino), o qual detalha fatos, revelando seu tio ter sido um dos cangaceiros do bando de Virgolino Ferreira.

No entanto, a data da sua morte ficou registrada nos anais da história quando a mesma refere sobre uma das grandes batalhas ocorridas entre cangaceiros e volantes no município de Floresta, PE. Trata-se do ‘Fogo da Favela’, ocorrido em 11 de novembro de 1926, onde o grande perseguidor de cangaceiros, Manoel de Souza Neto, comandante Mané Neto, ou mesmo ‘Mané Fumaça’ como lhe apelidou Lampião, com sua volante, juntamente com a volante comandada pelo primeiro inimigo do “Rei Vesgo”, José Alves de Barros, alcunhado de Zé Saturnino, que há poucos dias havia recebido as divisas de 3º Sargento, caem numa ‘arapuca’, emboscada, muito bem arquitetada por Lampião nas terras daquela fazenda. Ocorreram baixas dos dois lados, sendo que as baixas da Força Pública foram maiores que as dos cangaceiros. Seis guerreiros tombaram naquele embate, fora os feridos, contra três cangaceiros que também partiram para rever seus antepassados e cinco feridos. No local do combate, no oitão de uma das casas, ficou um corpo de um dos cangaceiros, os outros dois corpos foram encontrados próximos, mas já dentro do mato, pois, ao serem atingidos arrastaram-se, procuraram refúgio dentro da Mata Branca e lá pereceram. Um dos corpos encontrados dentro do mato foi exatamente o corpo do jovem Pedro Celestino, o ‘Pedro de Ramiro’, o cangaceiro “Sabonete I”. Seu corpo foi reconhecido por um dos soldados sobreviventes, o então soldado da PMPE Antônio Alexandre, amigo de infância de “Pedro de Ramiro”, então cangaceiro.


Quanto ao cangaceiro alcunhado de “Sabonete II”, não há esse tipo de registros: desde seus pais e amigos, localidade natural, mudanças de moradias e remanescentes, vivos e saudáveis, para contarem sua triste passagem pelo sangrento bando de bandoleiros comandados pelo terceiro filho de José Ferreira, apenas que seu nome seria, segundo o pesquisador Bismark Martins de Oliveira em seu livro ‘Cangaceiros de Lampião de A a Z’, de 2012, “Manoel Rosa”.

Cita a historiografia que um dos cangaceiros que estavam em um dos sete pés de umbuzeiros nas terras da fazenda Maranduba, no estado sergipano, em princípios de 1932, foi baleado e morto, o qual tinha seu apelido de “Sabonete”. A morte desse cangaceiro alcunhado de “Sabonete” é contada pelo saudoso pesquisador/historiador Alcino Alves Costa em seu livro “Lampião Além da Versão – Mentiras e Mistérios de Angico”, 3ª edição, página 168. Diz o escritor, transcrição na íntegra:

“Um bandido (Sabonete) pula na frente dos inimigos. Está enlouquecido. Com um punhal na mão corre na direção de Mané Neto. Parece que quer sangrá-lo. O cangaceiro está tão próximo do nazareno que este não tem dificuldade nenhuma em derrubá-lo com um tiro certeiro na cabeça. O assecla cai morto aos seus pés.

A sede o atormenta. Na cintura do “cabra” uma cabaça d’água e uma caneca pendurada pelo gargalo. O matador aproveita, sacia a sede que começava dominá-lo. Ao beber a água sente um gosto horrível. É o precioso líquido que está tinto de sangue do cangaceiro morto; mesmo assim o comandante pernambucano saciou sua sede.”

O cangaceiro “Sabonete II” foi enterrado em cova coletiva nas terras da própria fazenda Maranduba.

Falemos agora do ‘secretário’ de Maria Bonita, o cangaceiro “Sabonete III”. Fora os registros fotográficos, ainda bem que os temos, há pouquíssimos registros documentais sobre essa personagem da historiografia cangaceira, pelo menos do nosso conhecimento. Esse cangaceiro, o “Sabonete III”, ‘secretário de Maria Bonita, tinha um irmão que também era cangaceiro alcunhado de “Borboleta”, ambos da localidade Guia e filhos de dona Antônia Rosa. (AA. 2011)

Alguns pesquisadores citam que quem o matou foi o pernambucano, tenente da Briosa baiana, José Osório de Farias, mais conhecido por tenente Zé Rufino, inclusive o próprio e, na verdade, foram os homens, soldados, de sua volante. Quando a volante entrou no mato para ir à busca dos cangaceiros, bando de Lampião, a volante estava sendo comandada pelo cabo Miguel, pessoa destemida e respeitada por todos da tropa que sabia usar, antes das armas, a inteligência e homem da inteira confiança do tenente.

O tenente, naquele momento estava na cidade baiana de Jeremoabo, e lá recebe a informação, de um coiteiro que ‘cortava’ dos dois lados, de onde se encontrava o bando de cangaceiros. Acreditamos que o tenente fizera aquela viagem para receber mais uma homenagem e/ou divisa, sendo promovido pelos serviços prestados exatamente por comandar uma volante que matava muito cangaceiro, aliás, a volante baiana do tenente Zé Rufino é considerada a que mais matou cangaceiros, ou mesmo foi em busca de informações sobre por onde andavam os cangaceiros. Para o soldado, ou civil, contratado ou voluntário, que matava um cangaceiro, além de receber uma quantia extra no soldo, tinham o direito de ficarem com os espólios, “bens matérias”, que o cangaceiro possuía, pois, naquele tempo, o cangaceiro carregava consigo todo o dinheiro, joias e ouro que conseguia em suas ações criminosas, e esses passavam a ser daquela pessoa que o matava, além da recompensa por sua morte. Para termos uma ideia, só à morte de Lampião rendeu para o comandante da tropa, o pernambucano tenente da Briosa das Alagoas João Bezerra da Silva, que o eliminou na manhã do dia 28 de julho de 1938, na grota do riacho Forquilha, nas terras da fazenda de mesmo nome, no município de, hoje, Poço Redondo, SE, 50:000$000!! (cinquenta contos de réis), uma fortuna para a época.


Pois bem, segundo pesquisadores o tiro que abateu o cangaceiro “Sabonete III”, foi ao acaso. O rastejador da volante de Zé Rufino, soldado Gervásio, coloca a volante em cima do bando. O chefe mor do cangaço tendo sido alertado por um coiteiro que a Força estava chegando, retira-se do coito, deixando toldas, panelas e redes como estavam, e espera o momento certo para atacar. Veja bem, a volante estava prestes a fazer um ataque ao bando de cangaceiros, porém, Lampião consegue inverte essa coisa rapidamente. Após os homens de a volante estarem no meio do acampamento sem cangaceiros, são atacados pelos homens do “Rei Vesgo”. Sabedor da proteção natural que havia naquele acampamento, ele a usava para si e os seus, o chefe dá o sinal para a retirada e, aos poucos, todos deixam o local. A volante ficou atirando em ninguém. Porém, os cangaceiros já indo bem distante, alguns dos soldados, talvez para jogarem para fora sua raiva, atiram em determinada direção, ou mesmo por desencargo de consciência.

Os cangaceiros vão se afastando do local silenciosamente e, depois de alguns metros, viram-se e dão costas aquele embate. Um dos últimos subgrupos a saírem ficou, dando cobertura para os outros se retirarem, foi o de Mané Moreno, subgrupo no qual, naquele momento, “Sabonete” fazia parte. Algum tempo depois da retirada, faixa de dois dias, fazendo uma espécie de inspeção da ‘tropa’, o chefe do subgrupo Mané Moreno nota a falta do cangaceiro ‘secretário’ de Maria Bonita.


O projétil da arma de um dos soldados, que atiravam sem saberem em que ou em quem, pois não viam os alvos, atingiu, em cheio, a cabeça do jovem cangaceiro, derrubando-o imediatamente sem vida tão silenciosamente que, na hora, ninguém escutou nada, nem um gemido se quer. Acabava-se ali, a carreira criminosa de um dos filhos de dona Antônia Rosa.

Vejam, na íntegra, a transcrição daquilo que deixou registrado o pesquisador/historiador Alcino Alves Costa sobre a morte do cangaceiro “Sabonete”, ‘secretário’ de Maria do Capitão:

“... Com vigor a “força” responde ao tiroteio. O combate é feroz. Lampião quer brigar. Os soldados idem. É um confronto de gigantescas feras.


Com mestria, Lampião vai cercando a volante. Miguel (cabo que comandava a volante na hora do embate) e seus homens percebem. Param de atirar e esperam os bandidos. A intenção dos de Zé Rufino é esperar o máximo possível à aproximação da cangaceirada para, então, ataca-los com redobrado furor e cm todas as vantagens de seu lado de vez que os barrancos da baixa os protegia. Os cangaceiros iriam lutar em campo aberto.

Nem tudo era como a volante queria. Do outro lado estava justamente o maior guerreiro dos sertões. E Lampião dar mais uma lição de sabedoria. Sente o perigo. Descobre que os inimigos estão protegidos com segurança. Se continuasse aquela luta poderia expor seu bando. Resolve se retirar. Calmamente dar o sinal convencionado de retirada e sem pressa deixa o coito e vai embora.

Dois dias se passam. Mané Moreno sente a falta do cangaceiro Sabonete. O que lhe aconteceu? Procura averiguar. Chega então a notícia de que o rapaz da Guia, filho de dona Antônia Rosa e irmão de Borboleta, fora atingido e morto naquele combati do Zitái.

Sabe-se que quando os cangaceiros iam se retirando, já distante do local do tiroteio, uma bala perdida atingiu a sua cabeça tirando-lhe a vida. Como estava sozinho ninguém o viu ser baleado...” (AA. Pg 326, 2011)

Lampião usava um apito e, automaticamente, ensina a seus homens os silvos e as funções que deveriam praticar a cada um deles.

Trouxemos, com a ajuda de algumas obras literárias de renomados pesquisadores e escritores, a existência de mais um dos cangaceiros denominados “Sabonete”. Como uma vez me falou um certo pesquisador baiano; “ a história do cangaço tem muito a nos mostrar, basta espremer”.

Referências:

“As Cruzes do Cangaço – Os fatos e personagens de Floresta – PE”, SÁ, Marcos Antônio de e FERRAZ, Cristiano Feitosa. 1ª edição, TODA Gráfica: pgs 194 a 195. Floresta, 2016
“Cangaceiros de Lampião de A a Z”, OLIVEIRA, Bismark Martins de. 1ª edição. Pocinhos, PB. 2012
“Lampião Além da Versão – Mentiras e Mistérios de Angico” , COSTA, Alcino Alves. 3ª edição. Cajazeiras – PB: Editora Gráfica e Real, 2011
“Blog Lampiaoaceso.com” , administrador: Kiko Monteiro
“Blog cangaçonabahia.com” , administrador: Rubens Antonio
“Blog do Mendesemendes.com” , administrador: José Mendes Pereira
“Jornal e Revista a Noite”


https://www.facebook.com/groups/545584095605711/?multi_permalinks=1072574189573363%2C1072527519578030&notif_id=1532437608999740&notif_t=group_activity

http//blogdomendesemendes.blogspot.com

#PARTE4 ABATIDO O "REI DO CANGAÇO" FONS: O CRUZEIRO, ANO 1938, ED 0040, P. 16 (06 AGO 38)


https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1755077534606465&set=gm.1995633700749131&type=3&theater&ifg=1

http://bogdomendesemendes.blogspot.com

DO SERTÃO ÀS TELAS DO CINEMA.

Por Verluce Ferraz

Lampião foi uma das pessoas mais biografadas da história do sertão nordestino. Teve seu talento para as artes por décadas encoberto pela fumaça da pólvora; seu brilho como artista foi ofuscado pelas faces das facas e dos punhais. 


Descoberto pelo mascate Benjamim Abrahão Calil Boto, responsável por popularizar o estilo do cangaceiro através da película do cinema, mostrou ao mundo suas roupas exóticas. O mais cruel matador e perigoso dos cangaceiros também foi costureiro unissex e um dos primeiros homens a usar os bustiês. Criou as bolsas à tiracolo (embornal) com bordados florais. 


Caprichava nas indumentárias, usando sianinhas, botões, entremeios, bolsos pespontados. Os lenços em volta do pescoço eram presos por argolas. Nos dedos muitos anéis: no pescoço trancelins de ouro. 


Lampião era portador de TOC; fazia uso dos penduricalhos e rezas para fechar o corpo. Muito supersticioso e de personalidade perversa. O ingresso das mulheres no cangaço, muito facilitou para harmonizar seu estilo e costume com todos. 


Na verdade os seus companheiros nem suspeitavam que o que mais agradava ao cangaceiro Lampião era a sua identificação com os seus próprios desejos de vestir-se com roupas semelhantes às femininas (transvéstico), - com as roupas bordadas estaria se caricaturizando no gênero oposto; gostos fornecidos pelos seus desejos mais reprimidos. 


A presença da mulher dirige as atenções para formas diversas além de possibilitar mais as criações fantasiosas do cangaceiro. E é com a permanência da mulher no cangaço que poderá viver suas fantasias sem quaisquer suspeitas. Estenderá seus costumes a todos de seus grupos.

https://www.facebook.com/josemendespereira.mendes.5

http://bogdomendesemendes.blogspot.com


DE ACORDO COM O LIVRO ASSIM MORREU LAMPIÃO

Biblioteca Wasterland Ferreira Leite

De acordo com o livro Assim Morreu Lampião, 1.edição de 1976 pela Traço Editora, e de autoria do Dr. Antônio Amaury Corrêa de Araújo (à meu ver a obra mais completa sobre o extermínio de Virgulino Ferreira e parte de seu bando, e Amaury, uma das maiores autoridades sobre o Cangaço, no Brasil), o bando de Lampião teria chegado à Angico em 21 de julho, ou seja, 7 dias antes da emboscada policial militar que o destroçou e parte de seu bando, havendo inclusive a morte de um soldado: Adrião Pedro de Souza, e cujos acontecimentos completarão no próximo sábado (28 de julho), 80 anos.


Este livro Como dei cabo de Lampeão (grafia da época), de autoria do comandante da volante e último algoz de Lampião, Cel. PM-AL João Bezerra da Silva (à época dos fatos em Angico, João Bezerra era 1.Tenente), é importantíssimo para que o leitor, cioso pelo assunto possa bem compreender como se deu aqueles acontecimentos e que levaria não apenas à morte o maior dos cangaceiros mas também ao início do fim de uma modalidade criminógena mais que secular (o Cangaço), e que verdadeiramente fez escola no sertão.

Aqui aparecem as 1.e 2.edições desta obra e que datam respectivamente do mesmo ano: 1940, instante em que o país vivia no auge do Estado Novo, que foi o endurecimento da já então instalada Ditadura Vargas (1930 - 1945).

https://www.facebook.com/photo.php?fbid=243858299563023&set=a.136776593604528.1073741830.100018165633386&type=3&theater

http://bogdomendesemendes.blogspot.com