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sexta-feira, 22 de agosto de 2014

NAQUELES TEMPOS

Por Rangel Alves da Costa*

Dizem que lugarejo interiorano que se preza guarda na memória cotidiana dos tempos idos algumas figuras e personagens inesquecíveis, com o justo reconhecimento de que tudo seria mais difícil sem eles.

A velha parteira, cujas mãos trouxeram à luz do mundo centenas e até milhares de cabeçudozinhos, já barrigudinhos e chorões desde sempre. O entregador de leite – e logicamente também o seu burrico – que acordava antes do madrugar para recolher a leitaria pelos currais e depois fazer a entrega de porta em porta pelas ruas da cidade.

Todos os dias, logo cedinho, lá estavam as mulheres num misto oficioso, divididas que entre a fofocagem, o olhar a vida e a porta dos outros desde cedinho e a varredura de ruas. E conversavam tanto enquanto iam varrendo, que muitas vezes esqueciam completamente o lixo juntado e se punham a fazer rodadas para o aprofundamento descomunal e pretensioso da vida alheia.

E antes mesmo que virasse a esquina para entrar na rua já se ouvia a vendedora do piau seco, com um balde na cabeça e outro na mão, dizendo que aproveitassem porque o rio estava se negando a mostrar o peixinho e que não havia coisa melhor do que cuscuz de milho ralado com piau sequinho passando na banha de porco. Com efeito, nada mais saboroso que aquele peixinho se esfarelando na boca e apreciado tanto com cuscuz ou feijão de corda como acompanhando uma cachaça da terra.

Já outra chegava, mas sempre com maior raridade, anunciando o araçá da estação. Frutinha dos deuses sertanejos, plantada por anjos e encontrada apenas por alguns iluminados, de sabor inigualável e com aquele gostinho de quero mais. Muito difícil de ser encontrada, colhida bem longe, lá por dentro da mataria fechada. E num instante vendia litro a litro da frutinha pequenina, amarelinha ou avermelhada, inigualável no sabor e na vontade de querer mais ainda de boca cheia.

Em épocas que antecediam as festas, principalmente da padroeira, chegavam os profissionais cerimonialistas do sertão. Tinham por função embelezar as pessoas, retratá-las, dar nova feição aos instrumentos festeiros guardados em armários. Então chegavam os vendedores ambulantes nas suas caminhonetes repletas de tecidos, roupas prontas e as maiores novidades do mundo. Tudo de tergal, algodão, fustão, chita. Sucesso tremendo os vestidos de chita, as roupas com babados e as camisas de volta-ao-mundo.


O velho fotógrafo, matreiro que só, conhecedor das boas oportunidades para realização de negócios, sabia que naquelas épocas as pessoas estavam mais propícias a desejarem ser fotografadas. E mesmo o retrato sendo três por quatro, faziam isso para ter à mão uma lembrancinha para entregar a um parente que chegaria para a festança, para um amor ocasional que surgisse, para colocar dentro do envelope e mandar lá pro sul do país. O instantâneo era batido na máquina sobre o tripé, com cortinado ao fundo, e logo revelada com sorriso de passarinho.

Após a pose e o estalido tradicional, o retratista ajeitava sua máquina de tripé, descia os panos que ficavam à frente da lente, manuseava o rolo de filme por dentro da caixa de madeira, e pedia para que a pessoa aguardasse um instantinho. E a mocinha, toda linda e demasiadamente pintada na bochecha e no lábio, saía toda sorridente no retrato em preto e branco. Já com o homem era diferente. Todo sério, colocava por cima a enganação de gravata e aparecia quase irreconhecível. Certa feita um cabra se negou a pagar, assegurando raivoso que o retratado era seu falecido avô. Foi briga feia.

Contudo, um dos mais importantes ambulantes que chegava ao lugar era o engraxate. Naquele tempo não havia menino perambulando pela rua perguntando a um e a outro se queria dar um brilho no pisante. Não, eis que o engraxate era pessoa adulta, já conhecida de outras datas, um bom amigo da clientela interiorana. Mas não era apenas engraxate, pois se assemelhando mais a cirurgião plástico de sapato velho. Muitas vezes olhava desconsolado para o sapato e perguntava se a pessoa queria mesmo que operasse um milagre. Em tom de brincadeira, perguntava ao sapato como tinha passado nos últimos dez anos.

Chegavam-lhe às mãos sapatos de muitas festas e andanças, todos carcomidos e tronchos, com cara do que não teria mais serventia. E então o engraxate falava baixinho consigo mesmo: Deus ainda vai me ajudar a chegar um dia que eu não precise mais desenterrar defunto. Depois olhava para o dono e dizia: Coisa do destino, mesmo antes de nascer esse sapato já era seu, pois mais velho que você. E quando o brilho esperado era alcançado, então passava com uma escovinha ou pincel um líquido pelos lados do solado. E o pisante parecia que era novinha em folha. Dois contos de réis, eis o preço.

Hoje praticamente não existem mais profissionais assim pelas cidades interioranas. Os sapatos agora estão imprestáveis num canto e o retratinho três por quatro na moldura junto com outras fotografias ou na carteira do sertanejo apaixonado. Mas já está amarelado, perdeu a simplicidade do sorriso. Perdeu a alegria inocente de um dia. E que falta faz essas coisinhas bestas, esses pequenos gestos, vidinha que era felicidade sem saber.    

Poeta e cronista
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1926 – O FILME “JOASEIRO DO PADRE CÍCERO” EM RECIFE

Publicado em 20/08/2014 por Rostand Medeiros

Autor – Rostand Medeiros

Nos primeiros dias do mês de junho de 1926, as colunas informativas sobre cinema, exibidas nos inúmeros jornais da capital pernambucana, traziam a notícia que em breve seria exibido um “film” que era considerado pelos jornalistas especializados como “diferente” e “interessante”.  Era a apresentação de “Joaseiro do Padre Cícero”, um documentário que mostrava a mítica figura do padre Cícero Romão Batista.

Jornal recifense “A Província”, edição de 3 de junho de 1926.

Durante as décadas de 1910 e 1920, fotos tradicionais do padre Cícero, com a sua inconfundível batina negra e seu cajado, freqüentemente eram estampadas nas páginas dos jornais recifenses. Mas normalmente estas imagens vinham acompanhadas de uma pródiga quantidade de críticas e comentários ácidos sobre a figura e a trajetória política do conhecido “Padim Ciço”. Não faltavam nas páginas dos jornais adjetivos como “líder de fanáticos”, ou “comandante de um valhacouto de facinorosos”. Com este fluxo de notícias, associado ao interesse do público local pelos acontecimentos da cidade cearense de Juazeiro, a exibição desta película nos cinemas de Recife chamou atenção de muitas pessoas.

Fachada do Cinema Moderno, em Fortaleza. A partir do livro “Ah, Fortaleza!”, vários autores, 1ª edição, página 143.

Realizado em 1925, a película foi rodada em 35 milímetros, sendo dividida em cinco partes e a direção coube ao cearense Adhemar Bezerra de Albuquerque.  Sua primeira exibição ocorreu no Cinema Moderno, em Fortaleza, no mesmo ano de sua produção. Depois de seu lançamento, a película peregrinou por várias capitais brasileiras, através da ação de Godofredo Castro, então deputado estadual no Ceará, e do presidente da Associação de Jornalistas de Fortaleza, Lauro Vidal. A intenção destas apresentações era criar uma propaganda positiva em relação à ação política e social do padre Cícero, além de mostrar o crescimento da cidade de Juazeiro.


Em Recife “Joaseiro do Padre Cícero” foi apresentado ao público local na última semana de maio de 1926, onde ficou em cartaz durante dois dias no tradicional Cinema Royal, localizado na Rua Nova. No dia 2 de junho foi exibido no Cinema São José. Segundo a edição do jornal recifense “A Província”, de 3 de junho de 1926, em uma reportagem sobre o filme, os propagandistas Castro e Vidal afirmaram que este projeto teria custado a soma avultada de “40 contos de réis”. Para se ter uma idéia do que significava este valor naquela época, na mesma edição deste matutino, temos um anúncio da loja “Oscar Amorim e Cia.”, localizada na Rua da Imperatriz, número 118, onde era oferecido o modelo mais barato da linha de automóveis da marca Ford, por cinco contos e seiscentos mil réis.

Ademar Bezerra de Albuquerque

Já a crítica, de uma maneira geral, se apresentou positiva em relação à obra de Adhemar Albuquerque e esta aparentemente chamou a atenção da elite cultural recifense. O próprio diretor do jornal “A Província”, Diniz Perilo de Albuquerque Melo assistiu a película e teceu comentários. Para o conceituado jornalista “Joaseiro do Padre Cícero” foi apontado como sendo um filme “nítido”, que servia para mostrar positivamente o “expoente da admirável feição moderna de Juazeiro, da sua vida intensa e dos seus aspectos naturais”. Entretanto ele não considerou “admissível o fanatismo” que era apresentado.

Os jornais mostram que “Joaseiro do Padre Cícero” não foi classificado como um filme “cansativo”, com várias cenas que surpreenderam os jornalistas. Entre estas são comentadas as que mostravam o imponente açude do Cedro, as cidades de Juazeiro em dia de feira, Crato, Barbalha e paisagens da região do Cariri. Da capital Fortaleza foi focalizado o seu porto, o passeio Público, o Parque da Liberdade, entre outros locais. Mas a figura mais destacada era o padre Cícero Romão Baptista. Conforme vemos nas páginas do jornal “A Notícia”, de 3 de junho de 1926, ora o popular sacerdote era aclamado pelo povo, ora era apresentado na sua casa, mostrando seu trabalho como prefeito de Juazeiro e sempre junto aos seus fiéis seguidores.


Não conseguimos apurar a rota seguida por “Joaseiro do Padre Cícero” pelas capitais brasileiras. Mas têm-se notícias que foi exibido  na então Capital Federal, em setembro daquele mesmo ano. Ocorreu sessão dupla na Sala Parisiense e o filme teria recebido fortes críticas da revista carioca “Cinearte”. Outra exibição confirmada por pesquisadores da história cinematográfica brasileira, mostra que esta película foi exibida no Cinema Politeama, no dia 30 de novembro de 1926, em Manaus.

O periódico pernambucano “O Jornal do Comércio”, na sua edição de 2 de dezembro de 1926, informa que houve uma segunda exibição em Recife. Um interessante detalhe que não foi comentado por nenhuma das colunas cinematográficas dos jornais recifenses de junho daquele ano, da conta que aparentemente haviam sido inseridas para a segunda exibição, algumas fotos do grupo de cangaceiros do chefe Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião. Se esta informação é correta, estas fotografias certamente seriam as chapas obtidas em março de 1926, pelo fotógrafo Pedro Maia, quando da polêmica passagem do famoso bando de cangaceiros pela cidade de “Padim Ciço”.


Independente desta questão, observando as notas dos jornais recifenses sobre o filme, não se pode negar que aparentemente este projeto alcançou o resultado que era desejado pelos seus idealizadores e financiadores. Ou seja, a de desmitificar para as classes dirigentes e formadoras de opinião dos  principais centros urbanos do Brasil, da segunda metade da década de 1920, que o padre Cícero era sim um líder carismático, que tinha um grande número de seguidores, mas ao mesmo tempo era um homem inteligente, sério, cumpridor das leis, que buscava tão somente o desenvolvimento de sua querida Juazeiro. Não temos informações sobre o destino desta película.

Já Adhemar Bezerra de Albuquerque, o diretor de “Joaseiro do Padre Cícero”, possui o justo reconhecimento de ser cultuado como um dos principais pioneiros e expoentes do cinema cearense, que produziu muitos documentários em 35 milímetros, onde são principalmente apresentados aspectos e acontecimentos da capital Fortaleza e de outras cidades do Ceará. A este homem empreendedor se deve a criação da famosa empresa ligada ao ramo fotográfico “Aba Film”, até hoje em funcionamento e pertencendo a seus descendentes.

Benjamim Abrahão, Maria Bonita e Lampião

Sobre esta empresa, não podemos deixar de comentar o famoso episódio ocorrido em 1936, que envolveu o emigrante Benjamin Abrahão Botto e a filmagem do bando de Lampião em plena caatinga. Com o apoio de Adhemar Albuquerque, o libanês de Zahelh, esteve em duas ocasiões com o “Rei do cangaço”, realizando uma proeza inédita e que se mostrava promissora em termos financeiros.

Mesmo gerando toda uma expectativa entre o público, em pouco tempo a película é confiscada por ordem do governo de Getúlio Vargas. O Brasil se encontrava então em pleno período da ditadura do Estado Novo, que entre outras ações na região Nordeste, desejava exterminar definitivamente Lampião e o cangaço. Assim o filme de Abrahão seguia totalmente na contramão das ações governamentais, criando uma possível propaganda favorável aos cangaceiros e todo o projeto foi sumariamente encerrado. Logo depois, em maio de 1938, Benjamin Abrahão seria morto a facadas em uma pequena cidade do interior de Pernambuco. Após alguns meses, as margens de um pequeno grotão, próximo ao “Velho Chico”, em território sergipano, Lampião caia fulminado de balas, junto com sua Maria Bonita e outros companheiros.
Do filme sobre os cangaceiros pouco restou. Entretanto se não fosse à iniciativa do libanês Abrahão e o apoio correto de Adhemar Bezerra de Albuquerque, não existiria nenhuma imagem cinematográfica de Lampião e seu bando.


Extraído do blog Tok de História do historiógrafo e pesquisador do cangaço Rostand Medeiros

http://tokdehistoria.com.br/2014/08/20/1926-o-filme-%E2%80%9Cjoaseiro-do-padre-cicero%E2%80%9D-em-recife/

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LAMPIÃO FAMÍLIA




Fonte: facebook
Página: Daniel Magno

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SÉRGIA RIBEIRO DA SILVA A CANGACEIRA DADÁ

Por José Mendes Pereira

Pelo o que eu tenho lido sobre os adjetivos de Sérgia Ribeiro da Silva, conhecida no mundo do cangaço por Dadá, foi sem dúvida uma grande guerreira, uma verdadeira fera humana, que mesmo Corisco já com os braços debilitados, devido alguns balaços sofridos em combates na caatinga, em nenhum momento ela deixou o seu companheiro para trás. E além de ter sido guerreira era uma excelente companheira e amante do velho primo que a carregou para participar da mais perigosa vida que é viver de correrias entre as estranhas matas, livrando-se dos estilhaços de balas e sem ter certeza de sair do meio do fogo com vida.

Kydelmir Dantas e Alcino Alves Costa

Diz o escritor Alcindo Costa em "Lampião Além da Versão Mentiras e Mistérios de Angico", que Corisco tinha sido alvejado por João Torquato, filho de um senhor chamado Torquato, morador lá da Pia nova, que por vingança da morte do cangaceiro Zepelim, os grupos de Zé Sereno e Mané Moreno assassinaram seu Torquato e um senhor chamado Firmino seu genro.

 Mané Moreno, Zé Baiano e Zé Sereno, eram primos entre si. Zé Sereno era primo carnal de Zé Baiano.

Mas o único culpado foi um senhor de nome Chico Geraldo, que enrascado com o grupo de Mané Moreno, temendo ser executado, enredou ao cangaceiro que tudo que Torquato e Firmino sabiam sobre eles, repassavam para 

Tenente Zé Rufino

Zé Rufino, um dos comandantes de volantes. Mas era mentira do Chico Geraldo, apenas ele queria envolver os outros para sair da mira do fogo, coisa que os cangaceiros não perdoavam covardia.

Aderbal Nogueira e Alcino Alves Costa

Diz ainda Alcindo Alves que nesse combate Corisco saiu baleado. Dadá foi a grande defensora do marido, pois já ferido e sem condições de reagir contra a volante de policiais, que justamente participava o João Torquato, o vingador, e sem mais munição, Dadá deu início a uma guerra com pedras, jogando-as contra os seus inimigos. E assim foi conseguindo arrastar o marido para outro local, fazendo com que os policiais perdessem o roteiro dos perseguidos. Depois disso, Corisco ficou totalmente debilitado, sem condições de enfrentar qualquer combate, confiando apenas na companheira, a suçuarana Dadá.

Antonio Vilela, Alcino Alves Costa e Rubinho Lima

Mas diz ainda Alcindo Alves Costa que a glória de matar Corisco, coube ao policial José Rufino, que o perseguiu até a fazenda Cavaco, em Brotas de Macaúbas, na Bahia, onde o alcançou e com maior facilidade tirou-lhe a vida, no dia 25 de Maio de 1940.

Quem é a criança que Dadá segura em seus braços? - Corisco Dadá‎ Cangaçofilia

Com a morte de Corisco que deu continuidade à Empresa de Cangaceiros Lampiônica & Cia, do rei Lampião, praticamente ela foi enterrada com Cristino Gomes da Silva Cleto, o Corisco.

A cangaceira Dadá

No combate que vitimou Corisco, a suçuarana Dadá foi alvejada na perna, tendo sido presa e posteriormente liberada pela justiça para participar novamente da sociedade. 

Dadá faleceu em fevereiro de 1994 no Estado da Bahia.

Fonte de pesquisa: livro - Lampião Além da Versão - Mentiras e Mistérios de Angico. 
Autor: Alcindo Alves da Costa.

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Foto inédita do cangaceiro Volta Seca


Antonio dos Santo o afamado cangaceiro Volta Seca aparece ao lado direito desta foto. Esta foto foi feita na fazenda que ele trabalhou no ano de 1927.

Volta Seca antes de entrar para o cangaço morava no sítio de meu avô Francisquinho, pai de Zeca Araújo. Posteriormente Volta Seca sumiu e depois souberam que ele tinha entrado para o bando de Lampião.

De pé: Ezequiel, Calais, Fortaleza, Mourão e o menino Volta Seca. Sentados: Lampião, Moderno, Zé Baiano e Arvoredo.*Mariano foi omitido. - portaldocangaco.blogspot.com

Fonte principal: Dayse Silveira/ Itabaiana, no Estado de Sergipe.
Fonte: facebook
Página: Robério Santos

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O SUCESSOR DE LAMPIÃO

Por Clerisvaldo B. Chagas, 22 de agosto de 2014 - Nº 1.245

Dizem alguns escritores que Lampião havia reunido seus cabras na fazenda Angicos, em Sergipe, para anunciar o seu sucessor e deixar o Nordeste. O sucessor seria aquele que dormisse fora do coito de Angicos. Lampião, naquela semana de 1938, deveria contar em torno de 80 homens no total, um pouco mais, um pouco menos. Desde, aproximadamente, 1934, que o bando total fora fatiado em pequenos grupos. Cada grupo tinha um chefe que comandava entre seis e dez pessoas. Caso o amigo goste de histórias de cangaceiros e tenha lido o nosso livro “Lampião em Alagoas”, vamos rever um caso polêmico. No livro acima questionamos se Lampião iria mesmo deixar o Nordeste, no final do mês de julho de 1938. Não respondemos a pergunta que ninguém fez, se ele iria continuar no cangaço, implantando-o no estado em que deveria se refugiar.

Lampião em início da carreira.

Naquela noite/madrugada da hecatombe, na grota da fazenda Angicos, Corisco, cismado com o lugar, fora dormir em Alagoas com seu grupo. Labareda, também cismado, foi pernoitar longe com os seus. Português e seu grupo não estavam. Moreno e seu grupo também não estavam. Moita Brava retirou-se do coito (naturalmente com seus acompanhantes) alegando problema de saúde. Ninguém fala do grupo de Pancada, citado somente no dia18 de julho, quando tomou rumo deferente de Lampião, em Alagoas, isto é, estava com ele, mas não seguiu com o chefe para Angicos. Por quê? Não encontramos a resposta.

O cangaceiro Balão

No coito estava o grupo de Lampião, Balão e Zé Sereno.

Grupo de cangaceiros comandado por Zé Sereno

Quem iria substituir Lampião? Analisemos os chefetes de fora do coito. Poderia ser qualquer um no bater de asas do bandido, mas prorrogar o cangaço, quem teria tutano?

O segundo casal de cangaceiros mais famoso Corisco e Dadá

Corisco seria o mais indicado, certo, todos concordam. Mas Corisco não tinha experiência em comandar 80 homens. Sempre fora arredio e preferia atuar separadamente de Lampião com seu grupo em torno de dez comparsas. Além, disso não possuía os molejos com os grandes da sociedade civil, o traquejo, a diplomacia, a malícia, a astúcia que lucravam em armas, avisos, dinheiro, comida, paz, munição e trânsito. Somente a força bruta, valentia, perversidade e estratégia de ataque, não seriam bastante para a prorrogação do cangaço.

Ângelo Roque - o cangaceiro Labareda

Labareda era um cangaceiro mais humano e bastante corajoso, até mesmo pela sua história, contada por ele próprio, contudo, nos parece que não teria também condições de levar adiante o total de cangaceiros. Em nossa avaliação, tinha bastante confiança no chefe e, caso o perdesse, não se adaptaria a mais ninguém no comando e terminaria nas entregas. Foi o seu caminho.

O cangaceiro Português 

Português, perverso como Corisco e falastrão. Nós o temos apenas como um “cobrador de impostos”. Não reunia às condições de grande chefe. Ninguém fala onde ele se encontrava no caso Angicos.

O 3º casal de cangaceiros mais famosos - Moreno e Durvalina

Moreno, com seu reduzidíssimo grupo, não estava presente no dia. Sofrera vários reveses ultimamente e estava mais para fugir de que comandar alguma coisa.

Grupo de cangaceiros do Moita Brava

Moita Brava, pouco se sabe a seu respeito. Apenas atuação própria de cangaceiro. Como foi dito, deixara o coito antes do ataque das volantes e ninguém fala sobre o seu rumo.

O casal de cangaceiros Pancada e Maria Juvina (Jovina)

Pancada, também apenas um chefete a mais.

E se isso serve de consolo aos adoradores de VIRGOLINO, achamos que ninguém tinha quengo o suficiente para ser O SUCESSOR DE LAMPIÃO.

CLERISVALDO B. CHAGAS
Romancista – Historiador – Poeta – Cronista.
Autobiografia

Clerisvaldo Braga das Chagas nasceu no dia 2 de dezembro de 1946, à Rua Benedito Melo (Rua Nova) s/n, em Santana do Ipanema, Alagoas. Logo cedo se mudou para a Rua do Sebo (depois Cleto Campelo) e atual Antônio Tavares, nº 238, onde passou toda a sua vida de solteiro. Filho do comerciante Manoel Celestino das Chagas e da professora Helena Braga das Chagas, foi o segundo de uma plêiade de mais nove irmãos (eram cinco homens e cinco mulheres). Clerisvaldo fez o Fundamental menor (antigo Primário), no Grupo Escolar Padre Francisco Correia e, o Fundamental maior (antigo Ginasial), no Ginásio Santana, encerrando essa fase em 1966. Prosseguindo seus estudos, Chagas mudou-se para Maceió onde estudou o Curso Médio, então, Científico, no Colégio Guido de Fontgalland, terminando os dois últimos anos no Colégio Moreira e Silva, ambos no Farol. Concluído o Curso Médio, Clerisvaldo retornou a Santana do Ipanema e foi tentar a vida na capital paulista. Regressou novamente a sua terra onde foi pesquisador do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística ─ IBGE. Casou em 30 de março de 1974 com a professora Irene Ferreira da Costa, tendo nascido dessa união, duas filhas: Clerine e Clerise. Chagas iniciou o curso de Geografia na Faculdade de Formação de Professores de Arapiraca e concluiu sua Licenciatura Plena na Faculdade de Formação de Professores de Arcoverde ─ AESA, em Pernambuco (1991). Fez Especialização em Geo-História pelo Centro de Estudos Superiores de Maceió ─ CESMAC, (2003).
         
Nesse período de estudos, além do IBGE, lecionou Ciências e Geografia no Ginásio Santana, Colégio Santo Tomaz de Aquino e Colégio Instituto Sagrada Família. Aprovado em 1º lugar em concurso público, deixou o IBGE e passou a lecionar no, então, Colégio Estadual Deraldo Campos (atual Escola Estadual Prof. Mileno Ferreira da Silva). Clerisvaldo ainda voltou a ser aprovado também em mais dois concursos públicos em 1º e 2º lugares. Lecionou em várias escolas tendo a Geografia como base. Também ensinou História, Sociologia, Filosofia, Biologia, Arte e Ciências. Contribuiu com o seu saber em vários outros estabelecimentos de ensino, além dos mencionados acima como as escolas estaduais: Ormindo Barros, Lions, Aloísio Ernande Brandão, Helena Braga das Chagas e, nas escolas municipais: São Cristóvão e Ismael Fernandes de Oliveira. Na cidade de Ouro Branco lecionou na Escola Rui Palmeira — onde foi vice-diretor e membro fundador — e ainda na cidade de Olho d’Água das Flores, no Colégio Mestre e Rei.

Sua vida social tem sido intensa e fecunda. Foi membro fundador do 4º teatro de Santana (Teatro de Amadores Augusto Almeida); membro fundador de escolas em Santana, Carneiros, Dois Riachos e Ouro Branco. Foi cronista da Rádio Correio do Sertão (Crônica do Meio-Dia); Venerável por duas vezes da Loja Maçônica Amor à Verdade; 1º presidente regional do SINTEAL (antiga APAL), núcleo da região de Santana; membro fundador da ACALA - Academia Arapiraquense de Letras e Artes; criador do programa na Rádio Cidade: Santana, Terra da Gente; redator do diário Jornal do Sertão (encarte do Jornal de Alagoas); 1º diretor eleito da Escola Estadual Prof. Mileno Ferreira da Silva; membro fundador da Academia Interiorana de Letras de Alagoas – ACILAL. Membro fundador da Associação Guardiões do Rio Ipanema (atual vice-presidente).
         
Em sua trajetória literária, Clerisvaldo Braga das Chagas, escreveu seu primeiro livro, o romance Ribeira do Panema (1977). Daí em diante adotou o nome artístico Clerisvaldo B. Chagas, em homenagem ao escritor de Palmeira dos Índios, Alagoas, Luís B. Torres, o primeiro escritor a reconhecer o seu trabalho. Pela ordem, são obras do autor que se caracteriza como romancista: Ribeira do Panema (romance -1977); Geografia de Santana do Ipanema (didático – 1978); Carnaval do Lobisomem (conto – 1979); Defunto Perfumado (romance – 1982); O Coice do Bode (humor maçônico – 1983); Floro Novais, Herói ou Bandido? (documentário romanceado – 1985); A Igrejinha das Tocaias (episódio histórico em versos – 1992); Sertão Brabo CD (10 poemas engraçados); Santana do Ipanema, conhecimentos gerais do município (didático – 2011); Ipanema, um rio macho (paradidático – 2011); Sebo nas canelas, Lampião vem aí (peça teatral – 2011); Negros em Santana (paradidático – 2012); Lampião em Alagoas (história nordestina brasileira – 2012).
      
Em breve: O boi a bota e a batina, história completa de Santana do Ipanema (história); 227 (história iconográfica de Santana do Ipanema); Fazenda Lajeado (romance); Deuses de Mandacaru (romance); Colibris do Camoxinga (poesia selvagem); 100 milagres do padre Cícero (história e fé). 



Ilustrado por José Mendes Pereira
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Começa hoje o Cariri Cangaço Parayba 2014, todos a Sousa !!!


Começa hoje; logo mais às 19 horas no Centro Cultural Banco do Nordeste, de Sousa, a segunda edição do Cariri Cangaço Parayba 2014. A noite terá em sua abertura a apresentação de Grupo de Xaxado e na Conferência Principal, o Conselheiro Cariri Cangaço, professor mestre Wescley Rodrigues nos trará o tema: "A relação entre memória e História e a sua importância para a formação da identidade regional: 90 anos do ataque do grupo de Lampião a Sousa."

O evento tem a confirmação de pesquisadores, escritores, professores e estudantes de várias partes do nordeste, se configurando de maneira prévia como mais um sucesso com a marca Cariri Cangaço. Os municípios de Sousa, Nazarezinho e Lastro se unem para realizar mais um grande e qualificado Fórum de Debates sobre a temática Cangaço. 

Veja abaixo o restante da programação do Cariri Cangaço Parayba 2014


22 de agosto de 2014
Local: Centro Cultural Banco do Nordeste
18:30h – Apresentação do Xaxado
19:00h – Solenidade de Abertura
19:30h – Conferência de Abertura
"A relação entre memória e História e a sua importância para a formação da identidade regional: 90 anos do ataque do grupo de Lampião a Sousa."
Prof. Me. Wescley Rodrigues – Cajazeiras/PB FAFIC

23 de agosto de 2014
Local: Centro Social - Nazarezinho
08:00h – Visita técnica a Casa de Chico Pereira no sítio Jacu.
09:00h – Solenidade de Abertura
09:30h – Mesa redonda
"A articulação do ataque a Sousa e a figura de Chico Pereira"
Wanessa Campos – Recife/PE
Maria do Socorro Leon – Nazarezinho/PB
Maria do Carmo Pereira – Cajazeiras/PB
Coordenador: Chico Cardoso – Cajazeiras/PB
11:30h – Intervalo para o almoço
13:30h – Palestra
"O museu como lugar de memória e a sua importância para uma cidade"
Manoel Severo Barbosa – Fortaleza/CE
Coordenador: Paulo Gastão – Mossoró/RN
14:20h – Mesa de Trabalho
"A casa grande do sítio Jacu:
Patrimônio que clama por atenção. Tombamento já!"
Coordenador: César Nóbrega – Sousa/PB
Participantes
Secretaria de Cultura do Estado,  FUNESC, IPHAEP, IPHAN
16:00h – Lançamento de livros
19:00h – Local: Ação Colégio e Curso /Sousa - PB
Mesa redonda: "Coronelismo, cangaço e o ataque a Sousa"
Honório de Medeiros – Natal/RN
Otávio Maia – Catolé do Rocha/PB
Ângelo Osmiro – Fortaleza/CE
Coordenadora: Juliana Pereira – Quixadá/CE
24 de agosto de 2014
Lastro - PB
08:00h – Visita técnica a casa onde foi preparada a
resistência aos cangaceiros
09:00h – Solenidade de Abertura
09:20h – Mesa redonda:
" A importância do cangaço para a história nordestina e a articulação da defesa contra os cangaceiros que invadiram Sousa"
Guerhansberger Tayllow – Lastro/PB
José de Abrantes Gadelha – Sousa/PB
Narciso Dias – João Pessoa/PB
Francisco Pereira Lima – Cajazeiras/PB

Cariri Cangaço Parayba 2014 !


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SITE DO CANTOR JOÃO MOSSORÓ


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A Influência do Cangaceiro Lampião na Estética e Moda

Postado por Textile Industry

A simples menção ao nome de Lampião fazia tremer o cabra mais macho do Nordeste. Virgulino Ferreira da Silva, seu nome de batismo, aterrorizou o sertão, entre 1916 e 1938, com seu bando que contava 200 homens. Nos sete Estados da Federação onde a lei parecia ausente e a polícia, chamada de Volante, cometia excessos, Lampião e sua gangue justificavam seus assassinatos, degolas, estupros e assaltos com supostas bandeiras sociais e, assim, conseguiam angariar alguma simpatia da população pobre. Mas, quando não estava praticando crimes, o cangaceiro se atracava com agulhas e linhas para costurar e bordar, indamente, roupas, revestimentos para cantil, cinturões, bornais (espécie de bolsa) e os lenços que usava ao estilo Jacques Leclair, o protagonista costureiro da novela global “Ti-ti-ti”. Seu sanguinolento bando exibia uniformes bordados com flores, estrelas e símbolos místicos. Embora cause estranheza, este apuro estético tinha uma finalidade: servia para despertar admiração entre a população e, também, como patente hierárquica do bando. Lampião acreditava ainda que alguns símbolos blindavam seus homens contra maus espíritos.

Lampião em sua máquina de costura

O lado excêntrico e quase marqueteiro do famoso bandoleiro emerge pelas mãos de uma das maiores autoridades brasileiras em cangaceiros, o historiador Frederico Pernambucano de Mello, “o mestre dos mestres quando o assunto é cangaço”, como dizia o antropólogo Gilberto Freyre.

Mello acaba de lançar o livro “Estrelas de Couro – A Estética do Cangaço” (Escrituras, 258 págs.), no qual mostra que, ao impor um estilo próprio de vestuário, Lampião incutia os valores do cangaço aos homens do seu bando e estabelecia a diferença entre a sua tropa e os “outros.”

Lampião, aliás, odiava ser confundido com cangaceiros comuns. A força da roupagem luxuosa que ele criara – e incluía metais e até ouro, além de moedas e espelhinhos –, chegou a influenciar as vestimentas dos policiais. Antes de costurar, ele pegava um papel pardo e desenhava, depois levava o papel para a máquina Singer e cobria o tecido. “Ele não era apenas o executor do bordado. Era também o estilista”, afirma Mello.

“No início, a moda era ofício masculino”, garante a professora de história da indumentária e antropologia da moda Silvia Helena Soares, da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ). Ela vê nas criações de Lampião um estilo de moda que remonta à época do Renascimento (século XVI), quando os homens bordavam as joias na própria roupa. “Era tudo grandão, pesado. Não tinha nada de delicadinho”, afirma. Para o historiador Luiz Bernardo Pericás, autor de “Os Cangaceiros: Ensaio de Interpretação Histórica”, os uniformes dos cangaceiros ficaram tão enfeitados que pareciam fantasias.

“Era um dos aspectos da extrema vaidade daqueles bandoleiros”, diz Pericás. 

Lampião aprendeu a manejar a linha e a agulha muito antes de tomar gosto pelo rifle. Quando menino, quase adolescente, Virgulino fazia tecidos de couro muito bem ornamentados, resistentes e esteticamente valiosos para vender nas feiras. “Era famoso como alfaiate de couro”, afirma o historiador Mello. Ele foi parar no crime porque sua família se envolveu numa guerra com fazendeiros vizinhos. Dizem que era tão hábil com a espingarda que conseguia dar tiros consecutivos que clareavam a noite. Daí a alcunha de Lampião. (Existe outra versão).

O Rei do Cangaço morreu aos 40 anos, em 1938, junto com a fiel companheira, Maria Bonita – que, igualmente, andava coberta de roupas, chapéus, cintos e bolsas bordadíssimas. O casal e nove homens do bando foram decapitados e as cabeças expostas como troféus pela polícia nas escadarias da igreja de Piranhas, em Alagoas. Ali, foram fotografadas ao lado de objetos preciosos do grupo, como espingardas e cartucheiras, além de outras armas de Lampião: duas máquinas de costura Singer, o sonho de todas a donas de casa da época. Se tivesse escolhido a profissão de costureiro, Lampião (até hoje cons­tantemente revisitado pela indústria fashion) certamente teria tido uma carreira brilhante.

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