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quarta-feira, 11 de novembro de 2020

Cangaço - OS IRMÃOS MARCELINOS

 Por NAS PEGADAS DA HISTÓRIA

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ÁGUA BRANCA CIDADE DE ALAGOAS QUE SOFREU A FÚRIA DO CANGAÇO EM 1922.

 Por João de Sousa Lima

Água Branca em Alagoas foi uma das cidades que sofreu a fúria do cangaço. em 1922 Lampião realizou o famoso saque à Baronesa de Água Branca, à senhora Joana Vieira.

Os povoados Tingui e Alto dos Coelhos era reduto de cangaceiros e viu também as ações violentas do cangaço, onde várias pessoas foram mortas.

Um dos capítulos de morte nessas terras aconteceu na Fazenda Riacho Seco, de propriedade de Abel Torres, filho da Baronesa de Água Branca.

O crime aconteceu por consequência de uma fofoca. Um rapaz chegou em Água Branca procurando emprego como vaqueiro, e falaram que pra trabalhar como vaqueiro estava difícil, pois os cangaceiros estavam espalhados por toda região.

o rapaz respondeu que para Lampião tinha era um "Parabellun" pra atirar nele. Falou isso em um movimentado dia de feira, onde coiteiros andavam vasculhando informações. No mesmo dia Lampião ficou sabendo da afronta do jovem Joventino.

Joventino conseguiu trabalho nas terras de Abel Torres e foi morar na fazenda Riacho Seco, próximo a divisa de Água Branca com Olho Dágua do Casado. Nessa fazenda tinha duas casas, residindo em uma delas o senhor Antônio Zezé e em outra morava Joaquim Gomes.

Joventino ficou na casa que morava Joaquim Gomes.

Lampião ficou sabendo do paradeiro de Joventino e foi com "Pitombeira" (Zacarias Bode), Luiz Pedro e mais dois companheiros. Os cinco cangaceiros se aproximaram da casa onde estava Joventino.

Lampião já no terreiro gritou:

- Joventino, cadê o Parabellun que você tem pra atirar neu?

Joventino saiu da casa e quando chegou no alpendre os cangaceiros o pegaram, e o rapaz negou sobre o recado desaforado que tinha mandado pra Lampião.

- Isso é mentira!!!!

Lampião sem contar conversa atirou no rapaz que já caiu morto.

Com o corpo do rapaz ensanguentado no chão os cangaceiros entraram na casa, e o cangaceiro Pitombeira encontrou o senhor Antônio Laurentino (Lorentino).

Lorentino era vaqueiro que tinha os pés aleijados.

Pitombeira tinha uma antiga rixa com Antônio Lorentino e viu nesse momento a oportunidade de se vingar.

A intriga entre os dois começou por causa de uma cerca que Pitombeira estava fazendo e invadindo um pedaço do terreno do patrão de Lorentino, na fazenda doTalhado.

O proprietário Abel Torres empatou de Pitombeira fazer a cerca, e aí criou-se uma intriga entre o futuro cangaceiro e o vaqueiro.

Pitombeira e outros cangaceiros seguraram Antônio Lorentino para matar, e nesse momento outro vaqueiro, chamado Mané Egídio se atravessou na frente de Pitombeira e falou:

- Esse daqui você não mata não!!!

Lampião olhando a cena, sentenciou:

- Aqui não se mata ninguém, esse daqui fica pra ir a visar ao patrão pra ele vir enterrar o defunto!

Esse valente vaqueiro Mané Egídio que livrou o amigo da morte certa, mais tarde tronou-se o famoso cangaceiro Barra Nova, um dos bravos homens do grupo de Lampião.

Em abril de 2019, eu, Aldiro Gomes, Thomaz Deyvid e Raul Sandes, estivemos nessa fazenda e nas duas casas conhecendo esses dois monumentos que viveram a história do cangaço.

Uma saga vivida entre a razão e a violência, onde homens pagavam com as vidas por uma simples palavra empenhada, muitas vezes simples palavras jogadas ao vento, sem intenção de se transformar em verdade. Tempos difíceis e conturbados. Hoje escombros cobrem os sangues do passado e marcam os fatos vivenciados nessas terras...

João de Sousa Lima

Historiador e Escritor

Alto dos Coelhos, Água Branca. Alagoas.

em 20 de junho de 2019.

Membro da Academia de Letras de Paulo Afonso, cadeira 06

Membro Presidente do IGH - Instituto Geográfico e Histórico de Paulo Afonso

Membro da SBEC- Sociedade Brasileira de Estudos do cangaço

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AÇUDE DO BODE

 Clerisvaldo B. Chagas, 11 de novembro de 2020

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 1.416


       O nome pode não parecer romântico, mas romântico e doce é a beleza do açude do Bode. No início dos anos 50, muito, muito antes da água encanada em Santana do Ipanema, o governo federal fez construir, através do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas – DNOCS, um açude aproveitando a vertente do pequeno riacho Bode. O riacho do Bode nasce nas imediações da serra da Camonga e escorre pela periferia da cidade, tendo sua foz no final do subúrbio Bebedouro. É um afluente do rio Ipanema. O açude seria para abastecer a cidade, mas sempre foi mal explorado ou nunca explorado para tal fim. É um ponto turístico por excelência, porém jamais utilizado nesse segmento.

O paredão do açude foi muito bem feito e gramado no barro vermelho e jamais apresentou qualquer problema de barragem. Atualmente crescem arbustos e até arvoretas em ambas as faces, mas um passeio por cima do paredão é coisa que encanta poetas, pesquisadores e apreciadores da natureza. Imagine uma lua cheia refletindo nas águas do açude ao som de violão e voz afinada flutuando em torno.

Arapiraca tinha um lago do riacho Perucaba, praticamente inútil. A visão de um administrador revitalizou o lago, urbanizou o seu entorno e o transformou em um dos belos lugares da Alagoas. Lugar de multieventos e caminhadas. Pois assim, o Açude do Bode, nome robusto de sertão nordestino também poderia fazer o mesmo nesse lugar tão esquecido como antes era o lago do Perucaba.

O problema é a falta de visão de sucessivos administradores do município que não ousam sair do feijão-com-arroz. Construir o Parque do Bode seria um passo importante para inúmeros setores de lazer, muito mais que o simples pedalinho nas águas do açude. Uma atração turística a altura do nome da nossa cidade.  Enquanto isso as águas serenas represadas, vão sentindo a expansão do casario do Bairro Lagoa do Junco chegando perto, ameaçando uma poluição supimpa e enxurradas de esgotos ali para dentro. Uma ameaça séria que pode ser evitada agora antes de tornar-se realidade. Novamente a visão geográfica enxerga à frente dos gestores e manda recados.

O que será no futuro o AÇUDE DO BODE?

Só Deus sabe.

Na crônica: Visitando o Bairro Novo, fiquei devendo uma foto da paisagem que dali se vê: AÇUDE DO BODE (FOTO: ÂNGELO RODRIGUES).


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TREM DA MEMÓRIA

 *Rangel Alves da Costa

Já não sei se trem de partida ou de chegada. A estação já estava vazia, triste, silenciosa.

Os bancos estão desocupados, folhagens dançam no chão de terra. A ventania chega trazendo poeira, um cachorro late uma saudade distante.

Um cheiro diferente no ar. Não sei se de fumaça do trem ou da aparência antiga e maltratada do lugar. Mais de cem anos de adeuses, abraços, despedidas.

De um lado, ao longe, apenas a curva da montanha entreaberta para sua passagem; do outro, onde o olhar vai se perdendo na finura dos trilhos, apenas uma cor sombria de desalento.

Os trilhos não deixam marcas, não indicam da proximidade ou da já distante partida. Nos encaixes, madeira velha divisando o percurso, nenhum sinal de calor do instante.

Queria ouvir uma voz, encontrar alguém que soprasse notícia, dissesse sobre a hora do trem, falasse sobre quem chegou ou partiu, quando o próximo apito será ouvido.

Uma velha mala num canto, um chapéu alanhado esquecido num banco, um envelope retorcido já sendo levado pela ventania. Um lenço branco espalhado no meio dos trilhos, e até parecendo ainda molhado.

A portinhola dos bilhetes de viagem dança ao sabor da aragem. Passo o olhar pelo interior e vejo apenas papéis rasgados numa caixa de chão. Um velho birô, uma cadeira mais velha ainda. Um calendário amarelado de tempo na parede.

Avisto ainda uma antiga fotografia daquela estação. Tudo igual, a mesma solidão, a mesma feição, apenas um trem que desponta imponente soltando fumaça. No local de desembarque e espera apenas um cachorro magro com a língua de fora.

Imagino que as pessoas deixaram de existir na fotografia. Estavam ali com seus lenços à mão, seus buquês perfumados, seus braços prontos aos abraços. Ou talvez apenas para dizer adeus, para a despedida, envoltas em lágrimas e aflições.

Sei que não existe estação de trem tão sozinha, tão desalentada, parecendo esquecida de tudo. Ela é sempre viva, cheia de vida, tomada de passos e de olhares, ainda que fantasmas de um tempo que se foi no último vagão.

Olho a montanha adiante, lá onde o trem faz a curva, e me pergunto quantas saudades, quantas alegrias, quantas feições entristecidas já avistou pela janela.

Dentro do trem, as pessoas nem percebem que estão sendo observadas pela natureza, pelas montanhas e pedreiras, por tudo ao redor. Mas vão passando e deixando suas impressões no que fica.

Por isso mesmo aquela montanha ser tão conhecida como os olhos entristecidos da natureza. Se as pessoas avistadas estivessem sempre felizes, sorridentes, cheias de contentamento, seu nome certamente seria outro.

O mesmo acontece com as distâncias que vão sumindo do outro lado. Um descampado largo que dá passagem aos trilhos, para mais adiante ir estreitando até sumir no olhar. Se o trem vai naquela direção, certamente que os lenços acompanhavam o apito e a fumaça até tudo sumir de vez.

Mas nem avistava mais. Os olhos molhados se encarregam de nublar o horizonte, de turvar a saudade que já não olha pra trás. Melhor assim, menos dolorido assim, pois não há nada mais triste que viver tendo à mente o trem seguindo, partindo, sumindo, desaparecendo.

Não sei quantas horas são; não sei se restará outro trem para este dia. Preciso viajar pra qualquer lugar, mas também desejo ardentemente que alguém chegue à estação, ao longe me aviste e molhe o lábio para o reencontro.

Mas não sei, verdadeiramente não sei se partirei ou continuarei por aqui, esperando o trem, o apito, a fumaça do trem. O relógio parou, o horizonte está nublado, não sei da hora do dia.

Agora ouço um apito, mais um, mais outro. E como meu coração bate assim, feito apito de trem, quando está com saudade. 

Escritor
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A 25 DE MAIO DE 1940, CHEGAVA AO FIM A TRAJETÓRIA DE CRISTINO GOMES DA SILVA CLETO, O FAMOSO CORISCO!

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PADRE FICA IMPRECIONADO COM A MOBILIDADE DOS CANGACEIROS

Um padre, conversando com os cangaceiros em 1929, chegou a ficar impressionado com a mobilidade deles: após uma espécie de acrobacia, não derrubaram nenhum dos objetos que carregavam. "Os bornais tinham dentro carne seca, farinha, rapadura e, para não caírem facilmente, ficavam presos. Uma alça de couro passava a três dedos abaixo do mamilo e prendia as alças laterais dos bornais. Era uma estrutura funcional que permitia aos cangaceiros combater e se embolar pelo chão durante um tiroteio ou briga sem que nenhuma das peças se desprendesse"

Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/.../a-moda-de-lampiao.../

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A VENERAÇÃO POPULAR PADRE FOI REJEITADA POR MAIS DE UM SÉCULO PELA IGREJA - MAS NÃO MAIS

 Por Lira Neto


Um padre que viveu sob o signo da controvérsia e morreu proscrito, condenado pelo Santo Ofício. Esse foi sacerdote brasileiro Cícero Romão Batista, acusado no fim do século 19 de proclamar falsos milagres, de incentivar o fanatismo popular e de se beneficiar financeiramente da devoção extremada de seus milhões de seguidores. 

Em decorrência das acusações de que era um rebelde, um desobediente à hierarquia católica e um semeador de fanatismos, ele foi alvo de um inquérito eclesiástico que terminou por proibi-lo de rezar missas, de confessar fiéis e de ministrar sacramentos como o batismo e o matrimônio.

Tornou-se, então, um pária da fé. Apesar de idolatrado pelos cerca de 2,5 milhões de peregrinos que acorrem todos os anos à cidade cearense de Juazeiro do Norte para reverenciar sua memória, Cícero foi um padre maldito, renegado pela Igreja Católica.

Fazedor de milagres

Toda a história pessoal de Cícero Romão Batista está permeada de mistérios, ambiguidades e contradições. Amado e odiado em igual medida por seus contemporâneos, depois de morto - e talvez ainda mais a partir daí - ele continua a provocar sentimentos idênticos de adoração e repulsa.

Nascido na cidade cearense do Crato em 1844, ordenado padre em 1870, Cícero viveu e cresceu na confluência de dois mundos. De um lado, o universo mágico do misticismo sertanejo, no qual a crença em lobisomens, almas penadas e mulas-sem-cabeça convivia com a festiva devoção aos santos padroeiros e com as advertências apocalípticas dos profetas populares, que pregavam o fim dos tempos.

Padre Cícero Romão Batista / Crédito: Reprodução

 

Do outro lado, o mundo da fé ritualizada, da disciplina clerical e da submissão cristã com a qual foi educado e doutrinado no seminário. Com um pé no maravilhoso, outro na ascese, Cícero protagonizou uma biografia acidentada, recheada de episódios mirabolantes que mais parecem beirar a ficção.

Entretanto, até os 45 anos de idade, sua vida nada teve de extraordinária. Em 1889, Cícero era um simples padre de aldeia, rezando missa numa minúscula capelinha do então povoado do Juazeiro, a 600 quilômetros de Fortaleza, quando um fenômeno misterioso chamou a atenção dos sertanejos, da Igreja e da imprensa.

Ao ministrar a comunhão a uma beata - a humilde costureira e doceira Maria de Araújo -, a hóstia consagrada teria se transformado em sangue. "Não posso duvidar, porque vi muitas vezes", escreveu Cícero a dom Joaquim José Vieira, bispo do Ceará.

Os jornais abriram manchetes para noticiar o fenômeno e os sertanejos caíram de joelhos diante do proclamado milagre. A Igreja, porém, acusou Cícero e a beata de fraude. "Se Maria de Araújo recebe realmente provas do céu, que as vá gozando só, sem perturbar a boa ordem da diocese", desdenhou o bispo Vieira.

Fato ou embuste, o caso é que o padre e seus adeptos evocaram em sua defesa uma série de fenômenos mais ou menos semelhantes, devidamente chancelados pelo Vaticano sob a classificação genérica de "milagres eucarísticos". Mas uma frase atribuída ao então reitor do Seminário da Prainha, o padre Pierre-Auguste Chevalier, revelaria a dificuldade do clero tradicional em aceitar as manifestações da fé popular: "Jesus Cristo não iria sair da Europa para fazer milagres no sertão do Brasil", teria tripudiado o francês.

Chefe político

O episódio da hóstia que diziam se transformar em sangue rendeu a Cícero a admiração dos milhares de peregrinos, que desde então não nunca pararam de chegar a Juazeiro para testemunhar a suposta maravilha. Mas também significou para o padre uma longa via-crúcis de indisposições perante as autoridades eclesiásticas da época.

Banido pelo clero, Cícero passou a ocupar a posição de mártir no imaginário coletivo, ao mesmo tempo que começou a desfrutar de uma enorme notoriedade e de um imenso poder junto ao povo mais simples do sertão, vítimas históricas da seca e do descaso governamental. Aquela gente, sem perspectivas, sem dinheiro e sem chão, cada vez mais se identificava com o sacerdote que nunca foi propriamente um grande orador, mas em compensação sabia falar a mesma língua deles, chamando-os de amiguinhos, ouvindo-lhes as queixas, distribuindo prédicas e conselhos.

Moralista severo, Cícero pregava contra os amancebados, os festejos pagãos e o desregramento das famílias. Numa terra em que imperava a lei do punhal e do bacamarte, seu lema mais famoso conclamaria os pecadores ao arrependimento: "Quem bebeu não beba mais, quem roubou não roube mais, quem matou não mate mais", costumava dizer.

Estátua no Juazeiro do Norte em homenagem ao Padre / Crédito: Wikimedia Commons

 

Quando não pôde mais celebrar batismos, ele próprio aceitou apadrinhar inúmeras crianças, vindo daí o título de Padrinho Padre Cícero, que na corruptela da linguagem popular resultou Padim Pade Ciço.

"Em cada casa um oratório, em cada quintal uma oficina", pregava ele, atraindo trabalhadores, agricultores e artesãos de todo o Nordeste, que passaram a se fixar e aos poucos transformaram o arrabalde em um importante centro manufatureiro. O povoado virou cidade autônoma e, em 1911, Cícero foi nomeado o primeiro prefeito de Juazeiro.

Líder religioso, tornou-se também chefe político, igualmente polêmico e contraditório. Ao mesmo tempo que pregava aos náufragos da vida, como se referia aos menos favorecidos, estabeleceu alianças com as elites poderosas.

A Santa Sé delibera

Entre 2001 e 2006, uma comissão multidisciplinar de estudos se debruçou sobre a vasta documentação relativa ao padre, em arquivos do Brasil e do Vaticano. Coordenada pelo bispo do Crato, dom Fernando Panico, tal comissão foi composta por especialistas de várias áreas do conhecimento: antropologia, filosofia, história, psicologia, sociologia e teologia.

A finalidade era trazer à luz novos documentos que servissem para tentar responder a uma questão que sempre acompanhou o nome de Cícero: quem afinal foi esse homem, acusado de espertalhão por muitos, aclamado como visionário por outros tantos?

O relatório final da comissão foi entregue em maio de 2006 na Santa Sé. Junto, uma coleção de 11 volumes reunia as transcrições das centenas de cartas trocadas entre os principais personagens da história do padre. Um volume à parte levava cerca de 150 mil assinaturas de populares em prol da reabilitação, às quais se somava um abaixo-assinado no qual se lia o nome de 253 bispos brasileiros favoráveis à causa.

Em complemento à papelada, a carta de dom Fernando ao papa: "Venho com toda esperança e humildade suplicar a Vossa Santidade que se digne reabilitar canonicamente o padre Cícero Romão Batista, libertando-o de qualquer sombra e resquício das acusações por ele sofridas".

Em setembro de 2008, a igreja de Nossa Senhora das Dores - o templo que Cícero construiu em Juazeiro e no qual depois se viu impedido de rezar missa - foi elevado pelo Vaticano à categoria de basílica. Com isso, o brasão de Bento XVI foi sintomaticamente colocado à porta de entrada, bem à vista dos romeiros que chegam para louvar o Padim.

No templo em que o padre está enterrado, a capela de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, também em Juazeiro, foi autorizada a instalação de um vitral multicolorido em que se destaca a imagem de Cícero, ao lado de outros santos oficiais.

Papa Francisco e o Governador do Ceará, Camilo Santana, na cerimônia de beatificação de Cícero / Crédito: Reprodução

 

Em 2015, finalmente, o perdão se tornou 100% oficial. O bispo Dom Fernando Pânico, declarou sua reabilitação em 13 de dezembro. Esse é o primeiro passo para uma posterior beatificação, ou seja, o reconhecimento canônico de que o homem Cícero Romão Batista teria vivido na plenitude das virtudes cristãs, sendo um bem-aventurado, resultou na consequente autorização para o culto público a seu nome.

Devido às milhares de graças que os romeiros dizem ter alcançado por intercessão do padre Cícero – cegos que teriam voltado a ver, aleijados que andaram novamente, loucos que teriam recuperado o juízo –, o caso, ainda pode evoluir da simples beatificação para a efetiva canonização, quando então ele seria elevado à honra dos altares de toda a Igreja. Esse processo burocrático, como ocorreu com Frei Galvão (1739-1822), o primeiro santo nascido no Brasil e durou vários anos. 

Saiba mais

Padre Cícero: Poder, Fé e Guerra no sertão, Lira Neto, Companhia das Letras, 2009

Milagre em Joaseiro, Ralph Della Cava, 1976

https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/historia-padre-cicero-cariri.phtml

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HÁ 120 ANOS, COMEÇAVA A GUERRA DE CANUDOS

Por Domitila Andrade, no Vermelho

 Conflito mataria 25 mil sertanejos. Reportagem resgata, em Quixeramobim (CE), primeiros passos da vida de Antonio Conselheiro.

Foi promessa e necessidade. A igreja maior, nunca concluída, abrigaria a multidão de fiéis que passava de 20 mil, em Belo Monte. A madeira paga e encomendada em Juazeiro da Bahia não chegou ao destino, e o ajuntamento para ir buscá-la fez correr como pólvora o falatório: os conselheiristas iriam invadir Juazeiro. Ou nem iam, mas, até que se explicasse, já havia sido pedida a presença da tropa militar. O embate em Uauá, num dia 7 de um décimo primeiro mês, há 120 anos, inaugurou a guerra, a de Canudos, e principiou a resistência sertaneja sobreposta pelo massacre. Foi o estopim, mas não foi motivo único. O desenrolar das birras de Igreja, coronelismo e Estado com Antônio Conselheiro, o beato dito louco, já contava mais de um par de décadas. E as raízes se fincam 700 km distantes do arraial.

Rebento de Quixeramobim, no Sertão Central cearense, o peregrino nasceu Antônio Vicente Mendes Maciel, em 13 de março de 1830 na casa que ainda hoje segue de pé no Centro da Cidade. Muito se fala que, da terra natal, Antônio só carregou fracasso e tragédia. Mas, vivendo em Quixeramobim até os 27 anos e no Estado até os 43, Antônio se construiu como beato ainda pelas veredas do Ceará.

A religiosidade perene na trajetória tem princípio quando o pai, Vicente Mendes Maciel, quis o filho ordenado padre. “Por um determinado tempo ele se vocaciona para isso, estuda latim, tem contato com língua estrangeira”, reconta Bruno Paulino, escritor e professor que leciona em Quixeramobim disciplina específica sobre a vida do filho da terra.

Outro ponto dessa aproximação com a fé se dá com Padre Ibiapina, como detalha Ailton Brasil, historiador e presidente do Instituto do Patrimônio Histórico, Cultural e Natural de Quixeramobim (Iphanaq). “Os Macieis (família de Antônio) têm historicamente um conflito com os Araújos, e Antônio cresce vendo como a justiça funcionava, sempre a favor dos Araújos, o lado abastado da peleja. Quem faz alguma justiça pela família dele é o padre Ibiapina, que foi o primeiro juiz de paz daqui”, aponta. Um novo encontro com a missão do padre e seu catolicismo de ação se dá mais a frente, no Cariri, quando Antônio já havia se encontrado com sua sina.

Endividado depois de tentar seguir com os negócios do pai falecido, o recém-casado Antônio deixa Quixeramobim. O fracasso nos negócios já mostrava, para Bruno, sinal do humanista que Antônio era. “Quixeramobim o formou intelectualmente e foi também a cidade que o expulsou. A história oficial tenta colocar como um fracasso. Eu acredito que isso mostrava que ele estava destinado a voos mais altos. Conselheiro foi professor, rábula (advogado prático), arquiteto, líder, um pacifista, um homem de múltiplas facetas que ensinava o conviver com o outro e com a terra”.

A pecha que recai sobre o homem, na tentativa de diminuir sua história, era a de corno. A narrativa imprecisa da traição de Brasilina, a esposa, coloca Antônio em desespero. Era dali que partia o segundo infortúnio, a loucura, a ele imputada como que para enfraquecer a obstinação.“Essas pechas servem para esvaziar o ideal que ele representava”, afirma o psicanalista Osvaldo Costa Martins, um dos fundadores, na Quixeramobim de 1990, do Movimento Antônio Conselheiro. Apontando a loucura como “categoria social, que serve a todo tipo de estigmatização”, Osvaldo, analisou os manuscritos deixados pelo Conselheiro, e pondera que não tem elementos para diagnosticá-lo. “Ele era tido pela psiquiatria da época como monomaníaco religioso. Mas no texto do Conselheiro não tem elementos que apontam para um delírio, uma paranoia. É um texto muito bem construído, bem argumentado”, acredita.

Apartado da esposa, outra mulher teve, talvez, mãos mais fortes na moldura do beato de vestes azuis, profusão de pelos e pés descalços. Longe de Brasilina e dos dois filhos cujos destinos se perderam, Antônio se enlaça, em Santa Quitéria, com uma mística e tem com ela Joaquim Aprígio, o rebento que a luz da história alumiou. Joana Imaginária talhava santos. Santo também foi alcunha que seguiu Antônio.

Legado

Pedir no Centro da Cidade informações de onde fica a casa onde nasceu Antônio Conselheiro é receber informações imprecisas. Além da casa, o bairro abriga o Instituto Antônio Conselheiro, que guarda informações do peregrino e carece de cuidados. Ao lado dele, o único ponto comercial que carrega o nome do andarilho. Para quem leva tenta sustentar viva a memória do beato, esses são sinais de que os rótulos nele fixados ainda estão presentes e os ideais defendidos por Antônio seguem perigosos até hoje.

A família Maciel traz um orgulho quase tímido do parente distante. O pastor Roberto Maciel, da quarta geração posterior a Antônio, se ressente da falta histórica de apoio à família. Ele mesmo tem se inteirado da trajetória de Antônio pelas heranças do tio Marcílio Maciel. Falecido em 2015, Marcílio sabia de cor os caminhos do Conselheiro e queria que Antônio não fosse esquecido.

“Ele nos ensinou que a gente tinha o dever de repassar os ideais de Antônio. Quando morreu me deixou a missão de ir conhecer Canudos. Eu me apaixonei, foi uma das maiores emoções da minha vida”.

Conselheiro só passou a ser tema de pesquisa na década de 90, com o Movimento Antônio Conselheiro. Hoje, Quixeramobim tem o evento Conselheiro Vivo, que envolve escolas e movimentos sociais e rememora a vida do beato, no dia 13 de março, feriado na Cidade. Uma procissão também vai a Canudos anualmente em outubro. Para Neto Camorim, historiador que todo ano viaja a Canudos e perfaz os caminhos do Conselheiro na Bahia, Antônio deixa como legado “a resistência, a determinação, a teimosia”. “Ele era à frente do seu tempo e dá uma lição para as políticas públicas de que uma sociedade comunitária, num sertão seco, é viável”, diz. Bruno Paulino complementa: “Conselheiro ensina que o sertão é possível”.

Signo de tragédia

A peleja de Araújos e Macieis (esses acusados de roubo de cabeças de rês por aqueles), com baixas de ambos os lados; e a morte da mãe, Maria Joaquina, quando Antônio só contava quatro anos, principiam a vida marcada pelo signo da tragédia. Antônio cresce sendo maltratado pela madrasta; endivida-se ao assumir os negócios do pai; é traído por Brasilina; e já na Bahia é preso e trazido para o Ceará, acusado injustamente dos assassinatos de mãe e esposa. No percurso, Antônio sofre, passivamente, uma série de torturas.

Uma casa amarela toda azul

A casa de cinco portas, preparada para um comércio, construída na rua principal de Campo Maior, como era chamada a vila de Quixeramobim, segue de pé até hoje. Erguida pelo pai de Antônio Conselheiro, Vicente Mendes Maciel, no século XIX, a casa hoje amarela e vermelha já abrigou a família do músico e arquiteto Fausto Nilo. É sobre ela a música “Casa Toda Azul”, dizeres escritos na fachada, quando a casa de paredes largas e pé direito alto foi, além de residência, loja de tecido do pai do arquiteto, também de nome Fausto Nilo. O arquiteto conta que, depois da família Maciel, a casa passou para posse do coronel João Paulino, que a vendeu para Luiz Pereira, e depois para seu avô Benjamin Frutuoso. Hoje, vendida ao Governo do Estado, a casa espera restauro e a conclusão do tombamento.

Cronologia da Guerra de Canudos

1893

Neste ano, conselheiristas, no município de Tucano, enfrentaram e venceram um destacamento da Polícia Baiana. Este foi o primeiro conflito armado do grupo. O motivo foi a decretação de impostos. Nos primeiros dias de junho, Conselheiro e seus acompanhantes alcançaram o povoado de Canudos que tomou a denominação de Belo Monte. Começava uma nova era na vida sertaneja e nacional.

1896

Antônio Conselheiro encomendou madeira para a capela em construção com comerciantes juazeirenses. Sem a entrega, espalhou-se em Juazeiro, que os jagunços iriam buscar o material. Temendo uma invasão, preparou-se uma tropa de linha de 120 homens, comandada pelo tenente Pires Ferreira, que resolveu marchar contra Canudos e foi surpreendido, no povoado de Uauá, pela jagunçada. Estava iniciada, em 7 de novembro, a Guerra de Canudos.

1897

A expedição de Febrônio de Brito, a segunda, sofreu violento ataque dos jagunços e precisou recuar, no lugar conhecido por Taboleirinhos de Canudos.

O coronel Antônio Moreira César foi nomeado comandante da terceira expedição, formada por mais de 1,2 mil homens. A espetacular expedição foi desbaratada em março, vitimando seu famoso chefe, o Corta-Cabeças. A terceira expedição saiu de Canudos derrotada e deixou as armas necessárias à resistência.

A quarta expedição, com mais de 10 mil homens, foi dividida em duas colunas, partindo uma de Monte Santo e a outra de Aracaju na direção do Belo Monte, que resistiu durante alguns meses causando grandes perdas aos militares. Os ataques iniciados em junho somente em outubro dariam a vitória às armas republicanas.

O Conselheiro morreu em 22 de setembro, de disenteria, estilhaços de granada ou encantamento. O povoado foi dominado em 5 de outubro, com a queima do arraial e a dizimação de grande parte dos mais de 20 mil moradores.

O cadáver de Antônio Conselheiro, sepultado na casa em que morava, foi encontrado em 6 de outubro. Sua cabeça foi levada para Salvador para ser estudada por uma mestre da Medicina Legal, Nina Rodrigues, que concluiu se tratar de cérebro normal.

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NORDESTE - A TERRA DO ESPINHO

 Por José Bezerra Lima Irmão

Manoel Severo e José Bezerra Lima Irmão, em dia de Cariri Cangaço

Agora com essa pandemia, aproveitei esse marasmo para concluir um livro que eu vinha escrevendo há um bom tempo. Terminei dividido-o em dois. Nos onze anos que passei pesquisando para escrever “Lampião – a Raposa das Caatingas” (que já está na 4ª edição), colhi muitas informações sobre a rica história do Nordeste. Concebi então a ideia de produzir uma trilogia que denominei NORDESTE – A TERRA DO ESPINHO.
Completando a trilogia, depois da “Raposa das Caatingas”, acabo de publicar duas obras: “Fatos Assombrosos da Recente História do Nordeste” e “Capítulos da História do Nordeste”.


Na segunda obra – Fatos Assombrosos da Recente História do Nordeste –, sistematizei, na ordem temporal dos fatos, as arrepiantes lutas de famílias, envolvendo Montes, Feitosas e Carcarás, da zona dos Inhamuns; Melos e Mourões, das faldas da Serra da Ibiapaba; Brilhantes e Limões, de Patu e Camucá; Dantas, Cavalcanti, Nóbregas e Batistas, da Serra do Teixeira; Pereiras e Carvalhos, do médio Pajeú; Arrudas e Paulinos, do Vale do Cariri; Souza Ferraz e Novaes, de Floresta do Navio; Pereiras, Barbosas, Lúcios e Marques, os sanhudos de Arapiraca; Peixotos e Maltas, de Mata Grande; Omenas e Calheiros, de Maceió. 
Reservei um capítulo para narrar a saga de Delmiro Gouveia, o coronel empreendedor, e seu enigmático assassinato. Narro as proezas cruentas dos Mendes, de Palmeira dos Índios, e de Elísio Maia, o último coronel de Alagoas.


A obra contempla ainda outros episódios tenebrosos ocorridos em Alagoas, incluindo a morte do Beato Franciscano, a Chacina de Tapera, o misterioso assassinato de Paulo César Farias e a Chacina da Gruta, tendo como principal vítima a deputada Ceci Cunha. Narra as dolorosas pendengas entre pessedistas e udenistas em Itabaiana, no agreste sergipano; as façanhas dos pistoleiros Floro Novaes, Valderedo, Chapéu de Couro e Pititó; a rocambolesca crônica de Floro Calheiros, o “Ricardo Alagoano”, misto de comerciante, agiota, pecuarista e agenciador de pistoleiros.

Completo a trilogia com Capítulos da História do Nordeste, em que busco resgatar fatos que a história oficial não conta ou conta pela metade. O livro conta a história do Nordeste desde o “descobrimento” do Brasil; a conquista da terra pelo colonizador português; o Quilombo dos Palmares.Faz um relato minucioso e profundo dos episódios ocorridos durante as duas Invasões Holandesas, praticamente dia a dia, mês a mês.


Trata dos movimentos nativistas: a Revolta dos Beckman; a Guerra dos Mascates; os Motins do Maneta; a Revolta dos Alfaiates; a Conspiração dos Suassunas. Descreve em alentados capítulos a Revolução Pernambucana de 1817; as Guerras da Independência, que culminaram com o episódio do 2 de Julho, quando o Brasil de fato se tornou independente; a Confederação do Equador; a Revolução Praieira; o Ronco da Abelha; a Revolta dos Quebra-Quilos; a Sabinada; a Balaiada; a Revolta de Princesa (do coronel Zé Pereira), tem capítulo sobre o Padre Cícero, Antônio Conselheiro e a Guerra de Canudos, o episódio da Pedra Bonita (Pedra do Reino), Caldeirão do Beato José Lourenço, o Massacre de Pau de Colher, A Intentona Comunista. A Sedição de Porto Calvo, As Revoltas Tenentistas.

Quem tiver interesse nesses trabalhos, por favor peça ao Professor Pereira – ZAP (83)9911-8286, ou fale comigo, ZAP (71)9 9985-1664.
José Bezerra Lima Irmão

franpelima@bol.com.br

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GUERREIROS DO SOL: VIOLÊNCIA E BANDITISMO NO NORDESTE DO BRASIL

 Autor Frederico Pernambucano de Mello

Adquira esta obra com o professor Pereira lá de Cajazeiras no Estado da Paraíba através deste e-mail: 

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