Por: Juarez Conrado - Jornalista
Quando Lampião chegou
O povo se apavorou
Correndo sem direção
Mas logo queria ver
E de perto conhecer
O “governador” do sertão
Mas Menezes, bem ligeiro
Atacou o cangaceiro
Que por pouco não morreu
Duas balas em Pinhão
Quase atinge o coração
Do bandido, que correu
Do autor
Lampião esteve a 22 de abril de 1929 no lugarejo Pinhão, onde embora não cometendo qualquer atrocidade, em companhia de Ponto Fino, Moderno, Corisco, Luiz Pedro, Mariano, Arvoredo, Volta Seca, Labareda e Fortaleza, promoveu grande saque.
Nenhuma das poucas casas comerciais ali existentes deixou de ser vasculhada pelos cangaceiros, que levaram tudo julgado interessante, como perfumes, bebidas, brilhantina para cabelos, além de relativa quantidade de balas, sem a menor reação, nem mesmo quando, na loja de Antonio Fraga, apoderaram-se praticamente de todo estoque de brim exposto nas prateleiras.
É de destacar-se um fato curioso: a princípio, quando de sua entrada em Pinhão, como nas diversas localidades onde estivera pela primeira vez, estabeleceu-se verdadeiro pânico entre as pessoas, que, apavoradas, corriam disparadamente em busca de abrigo seguro. Na medida, entretanto, em que Lampião demonstrou seu propósito de não praticar violência, muitos jovens, que dele e de suas extraordinárias proezas já tinham ouvido falar, aproximaram-se do grupo, de modo cauteloso, procurando conhecer pessoalmente o “capitão Virgulino”, por muitos considerado verdadeiro ídolo.
Na realidade, pelo sertão afora, nas brincadeiras de crianças envolvendo “policiais” e “Cangaceiros”, poucos eram as que aceitavam participar do grupo “policiais”. Para a maioria, o grande herói, o grande vingador, era, incontestavelmente, Lampião. Entre os mais entusiasmados pelo bando destacava-se o garoto conhecido por Joãozinho, que, aliás, fez amizade com o terrível Zé Baiano, coisa impensável, em se tratando de um bandido cruel e sanguinário como ele.
Já a saída desse lugarejo, onde permaneceu algum tempo, pacificamente, Virgulino teve a sua atenção despertada por um grupo de mulheres, apavoradas, gritando para os bandidos, com o evidente propósito de alertá-los, que uma volante “acabara de chegar”.
Como sempre, sem precipitar-se, Virgulino distribuiu seus homens por pontos diversos, identificando-os “macacos” como pertencentes à Força Pública da Bahia e chefiada pelo tenente Menezes.
Teve início o tiroteio. Entrincheirado e uma esquina e sempre gritando impropérios contra os seus perseguidores, por pouco o cangaceiro não foi gravemente ferido: dois tiros quase o atingiram em cheio, tendo as balas, porém resvalado ligeiramente no seu corpo.
Foi longa a fuzilaria, tudo indicando que, ao término, seriam contabilizadas muitas baixas, principalmente entre os cangaceiros que, surpreendidos e encurralados, tentavam furar o bloqueio imposto pela polícia.
Pinhão transformou-se em verdadeira praça de guerra. Portas e janelas das casas eram apressadamente fechadas, moradores, colhidos de surpresa, corriam como loucos de um lado para o outro, receosos de serem vítimas das balas disparadas pelos litigantes.
Excelente atirador – certamente depois do tenente Menezes, o mais corajoso da tropa -, o sargento Pereira não dava trégua a Lampião, com ele travando grande tiroteio, quase como em uma luta particular. O delegado Pedro Nunes, atônico, porque sem condições de intervir, permaneceu escondido na loja de Antonio Fraga, onde não mais se encontrava qualquer cangaceiro.
Corisco teve grande influência na defesa do bando, dando cobertura ao chefe e, aos gritos, orientando os outros cangaceiros sobre como, com precisão, evadirem-se do vilarejo.
Apenas Zé Fortaleza, diante da fuzilaria, não teve como se juntar ao grupo, permanecendo sem condições de enfrentar os militares. Sozinho, escondeu-se por algum tempo em uma casa, logo conseguindo sair em fuga. Mas, pouco adiante, foi localizado por um garoto, que o confundiu com um soldado.
O tenente Menezes, mais uma vez, constatava a tremenda capacidade estratégica de Lampião, que, como sempre acontecia, evadiu-se. Disposto a tomar oi caminho de Carira, o bandido levou como refém, e para guiá-lo até lá, um morador conhecido por Deodato.
Saindo do Minuim
Em caminhada sem fim
Chegaram até Pinhão
Amoroso, Zé de Veras, Cruzeiro
Em um ataque ligeiro
Morreram sem reação
(Do autor)
Posteriormente Pinhão tornou-se palco de uma caçada da volante de Zé Luis contra o grupo de cangaceiros, que rumava para a Bahia, permanecendo algum tempo no povoado Minuim, em Santa Brígida. Perseguidos por alguns policiais, os bandidos transpuseram a fronteira entre os dois Estados e enveredaram pela caatinga. Pela manhã, logo cedo, surgiram nos arredores de Pinhão, formando um grupo constituído por Cruzeiro, Amoroso, Cobra Verde, Candeeiro. Novo Tempo e Zé de Veras.
Desorientado, sem qualquer comando e desprovido de munição, o bando não teve como fugir ao cerco da volante comandada por Zé Luis, que abriu fuzilaria e abateu Amoroso, Zé de Vera e Cruzeiro. Cobra Verde, Novo Tempo e Candeeiro, este ferido nas costas, conseguiram escapar ficando, entre os soldados, um morto identificado por João Paes da Costa. Eram mais três baixas entre os sobreviventes da horda de facínoras comandada pelo capitão Virgulino Ferreira da Silva.
Nota:
O autor deste artigo fala que Amoroso foi assassinado neste combate, mas talvez era mais de um, com o mesmo nome, pois um Amoroso estava na Grota de Angico, quando a volante do tenente João Bezerra assassinou Lampião, Maria Bonita e mais nove cangaceiros, além do soldado Adrião que, talvez tenha sido assassinado por fogo amigo.
Extraído do livro:
Lampião Assaltos e Morte em Sergipe
Autor: Juarz Conrado - Jornalista
Páginas: 92/93
Aracaju - Sergipe
Ano: 2010