Por: José Romero Araújo Cardoso
O impulso à
globalização teve ênfase quando das grandes navegações marítimo-comerciais, mas
a forma como esta se apresenta na atual conjuntura teve sua proeminência quando das decisões
contidas na reunião de cúpula ocorrida no ano de 1944 em Bretton Woods,
subúrbio de Washington D. C., na qual ficaram definidas as prerrogativas que
alicerçaram uma nova ordem econômica global.
A mudança do
padrão-ouro para o padrão-dólar norte-americano e instigar a expansão do
capitalismo industrial antes concentrado quase integralmente no primeiro mundo,
para espaços selecionados da periferia foram importantes mudanças econômicas
que se refletiram na divisão internacional do trabalho.
A globalização
em curso exponencializou a revolução técnico-científico-informacional, cujo
fundamentalismo encontra-se no consumo cada vez mais intenso,
responsabilizando-se pela disponibilidade de bens que cotidianamente se tornam mais
sofisticados, em razão da forma como a concorrência entre as grandes empresas
se processa de forma mais intensa.
Para garantir
o consumo dos bens e serviços oferecidos pelas grandes empresas que impulsionam
o processo de globalização da economia mundial, necessita-se que certos
impecilhos sejam removidos ou minimizados. A cultura local é um exemplo da
preocupação sempre presente nas pretensões de maximização de lucros e
minimização de custos.
Não interessa
à globalização que a continuidade das tradições inclusas na cultura de cada
povo tenha sua permanência assegurada, pois isso representa prejuízos
incalculáveis para os grandes empresários. A mídia tornou-se instrumento eficaz
no processo vertiginoso de aculturação, adotando filosofia baseada em atender
os interesses do grande capital.
A postura
assumida por Mahatma Gandhi quando contestou pacificamente o império inglês,
resultando na independência da Índia, instigando a população daquele país a
confeccionar suas próprias vestimentas, como faziam os antepassados, representa
ameaça extraordinária aos propósitos da globalização.
O modus
vivendi dos países ricos que mantém bases militares em países do oriente médio
também é encarada como um grande risco à permanência de tradições milenares
embasadas nos princípios do islã, respondendo em parte pelos embates que vem
marcando o choque entre as duas culturas.
A globalização
necessita desestimular as tradições nordestinas e gaúchas para poder se afirmar
em suas metas econômico-financeiras, pois a cultura local preservada significa estorvo
aos interesses matematicamente calculados.
Enquanto o
gaúcho estiver louvando os cantadores dos pampas e o nordestino cultuando a
arte de Luiz Gonzaga, consumindo chimarrão com churrasco e a tradicional
buchada que surgiu com o inicio da colonização da hinterlândia nordestina o
sono dos grandes empresários estará ameaçado, pois a ideia de acumulação
permeia as ações do processo produtivo sofisticado que se contrapõe às formas
quase artesanais das culturas locais.
A condição
sine qua non para que a globalização se imponha, formando uma aldeia global,
está no desestimulo das formas originais de cada região que em um processo
histórico legaram todo um cabedal de práticas culturais que caracterizam o
gênero de vida das pessoas espalhadas pelo planeta Terra.
(*) José
Romero Araújo Cardoso, geógrafo, professor-adjunto da UERN
Enviado pelo autor: Romero Cardoso
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