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domingo, 20 de janeiro de 2013

Globalização e cultura local

Por: José Romero Araújo Cardoso

O impulso à globalização teve ênfase quando das grandes navegações marítimo-comerciais, mas a forma como esta se apresenta na atual conjuntura  teve sua proeminência quando das decisões contidas na reunião de cúpula ocorrida no ano de 1944 em Bretton Woods, subúrbio de Washington D. C., na qual ficaram definidas as prerrogativas que alicerçaram uma nova ordem econômica global.

A mudança do padrão-ouro para o padrão-dólar norte-americano e instigar a expansão do capitalismo industrial antes concentrado quase integralmente no primeiro mundo, para espaços selecionados da periferia foram importantes mudanças econômicas que se refletiram na divisão internacional do trabalho.

A globalização em curso exponencializou a revolução técnico-científico-informacional, cujo fundamentalismo encontra-se no consumo cada vez mais intenso, responsabilizando-se pela disponibilidade de bens que cotidianamente se tornam mais sofisticados, em razão da forma como a concorrência entre as grandes empresas se processa de forma mais intensa.

Para garantir o consumo dos bens e serviços oferecidos pelas grandes empresas que impulsionam o processo de globalização da economia mundial, necessita-se que certos impecilhos sejam removidos ou minimizados. A cultura local é um exemplo da preocupação sempre presente nas pretensões de maximização de lucros e minimização de custos.

Não interessa à globalização que a continuidade das tradições inclusas na cultura de cada povo tenha sua permanência assegurada, pois isso representa prejuízos incalculáveis para os grandes empresários. A mídia tornou-se instrumento eficaz no processo vertiginoso de aculturação, adotando filosofia baseada em atender os interesses do grande capital.

A postura assumida por Mahatma Gandhi quando contestou pacificamente o império inglês, resultando na independência da Índia, instigando a população daquele país a confeccionar suas próprias vestimentas, como faziam os antepassados, representa ameaça extraordinária aos propósitos da globalização.

O modus vivendi dos países ricos que mantém bases militares em países do oriente médio também é encarada como um grande risco à permanência de tradições milenares embasadas nos princípios do islã, respondendo em parte pelos embates que vem marcando o choque entre as duas culturas.

A globalização necessita desestimular as tradições nordestinas e gaúchas para poder se afirmar em suas metas econômico-financeiras, pois a cultura local preservada significa estorvo aos interesses matematicamente calculados.

Enquanto o gaúcho estiver louvando os cantadores dos pampas e o nordestino cultuando a arte de Luiz Gonzaga, consumindo chimarrão com churrasco e a tradicional buchada que surgiu com o inicio da colonização da hinterlândia nordestina o sono dos grandes empresários estará ameaçado, pois a ideia de acumulação permeia as ações do processo produtivo sofisticado que se contrapõe às formas quase artesanais das culturas locais.

A condição sine qua non para que a globalização se imponha, formando uma aldeia global, está no desestimulo das formas originais de cada região que em um processo histórico legaram todo um cabedal de práticas culturais que caracterizam o gênero de vida das pessoas espalhadas pelo planeta Terra.

(*) José Romero Araújo Cardoso, geógrafo, professor-adjunto da UERN

Enviado pelo autor: Romero Cardoso

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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