Por Beto Rueda
Naquela fria
manhã, no dia 28 de julho de 1938, na grota de Angico, Sergipe, terminou o
reinado de Lampião, o maior dos cangaceiros.
Atacados pela
volante comandada pelo tenente João Bezerra, ele, sua companheira Maria e mais
nove cabras perderam a vida.
As cabeças
foram cortadas, os corpos deixados ali, aos urubus.
Segundo o
Regimento Policial Militar, assinado pelo comandante, coronel T.Camargo
Nascimento foram encontrados com os seguintes pertences:
Lampião:
- CALÇA E
TÚNICA - calça caqui e túnica de brim alvorada com galões de sutache branco.
Botões em ouro e prata.
- BORNAIS - um
jogo bordado a máquina, com linha de várias cores e perfeito acabamento. Um
fecho com dois botões de ouro e prata e outro com apenas um de prata. No
suspensório nove botões de prata e ainda uma caixa de folha de flandres,
coberta no mesmo pano dos bornais. Mais um bornal de brim azul mescla, bastante
usado, próprio para carregar mantimentos, do ano de 1937 e as seguintes
iniciais: "C.V.F.S.L.
- CHAPÉU - de
couro, tipo sertanejo, em alto relevo em suas abas, com seis signos de Salomão;
barbicacho de couro, com 46 centímetros de comprimento e ornado em ambos os
lados com cinquenta e cinco peças de ouro, de confecção variada.
Testeira - com
4cm. de largura e 22cm. de comprimento, onde estão afixadas as seguintes moedas
e medalhas: duas com a gravação "Deus te Guie", duas "Liras
Esterlinas", uma "Moeda Brasileira" de ouro com a efígie de
"Petrus II", de 1855, e ainda duas brasileiras de ouro,
respectivamente de 1776 e 1802.
barbicacho
traseiro de couro, com as mesmas dimensões da testeira e ornado com as
seguintes peças de ouro: duas inscrições com a palavra "Amor" e uma
com a mesma inscrição e um pequeno brilhante e quatro outros desenhos
diferentes.
- ÓCULOS - um
com vidros escuros e aros de ouro.
- LENÇO - de
seda vermelha com bordados simples em três ângulos. No quarto, apenas um risco.
- LUVAS - um
par, de pano bordado.
- BOTÕES -
para colarinho e punhos.
- PLATINA -
uma fazenda azul com três galões.
- CARTÕES DE
VISITA - com variadas inscrições, como - "Saudade",
"Recordação", "Lembrança" e "Amizade". Em alguns
um "P" com inicial e em outros "C.L".
- ANÉIS - um
de pedra verde, outro de ouro, com as iniciais na parte exterior:
"C.V.L." e um terceiro de identidade, gravado o nome
"Santinha".
- ALIANÇA -
uma de ouro, com as inscrição "Capitão Lampeão", na parte interna.
- ALPERCATAS -
número 40, tipo sertaneja, de bom acabamento e bordada com ilhós coloridos.
- PALMILHA
PARA ALPERCATAS - com metade pé de anjo.
- APITO -
dourado inglês, da marca "The Acme".
- COBERTORES -
de Chita, forrados.
- MOSQUETÃO -
modelo Mauzer 1908, de uso do Exército Brasileiro, em perfeito estado de
conservação, número 314, série B, bandoleira enfeitada com 7 escudos de prata e
gravado uma estrela; uma moeda de prata do Império, no valor de mil réis e
vinte e cinco ilhoses brancos, reforçado.
- CARTUCHEIRA
- De couro, com enfeites de costumes da caatinga e capacidade para armazenar cento
e vinte cartuchos de fuzil e mosquetão, com um apito de metal amarelo preso a
uma corrente de prata com um orifício a altura do peito esquerdo, originado por
bala de fuzil.
- PISTOLA
PARABELLUM - 9 mm., número 97, ano de fabricação 1918, com bainha de verniz
preto, demonstrando bastante uso.
- PUNHAL - De
folha de aço, com 67 centímetros de dimensão, com cabo e terço de níquel,
adornado o cabo com três anéis de ouro, notando-se na lâmina uma mossa
produzida naturalmente por bala; bainha toda de níquel, com forro interno de
couro na parte superior, estrago produzido por bala.
- ORAÇÕES - um
pacote contendo várias.
Pertences
encontrados com Maria Bonita:
- Luvas de
fazenda, vestidos, chales finos, moedas dos anos de 1776, 1802 e 1855, de
procedência nacional, alianças, medalhas de ouro com imagens de santo no verso
e no reverso, medalhões "Deus te Guie", última moda na época e outras
peças de ouro.
Sobre os
despojos, nos conta o pesquisador Joel Reis:
"O
jornalista Melchiades da Rocha teve influência direta no manejo dessas peças,
inclusive, cabendo a ele a responsabilidade de “trazer os referidos objetos
.Inicialmente, após terem chegado a Maceió, trazidas do esconderijo Angico, as
peças ficaram expostas no Rio de Janeiro em um esforço de “proporcionar à população
carioca a excelente oportunidade de tão interessante exposição”. Até o ministro
da Educação e Saúde, Gustavo Capanema (1900-1985), reforçou junto ao governo
alagoano o pedido de envio dos “trophéos” para o Rio, justificando a aquisição
dos “objetos encontrados entre os despojos do grupo do cangaceiro Lampião e que
apresentam interesse do ponto de vista da Etnografia e da arte popular”.
Os objetos
encontrados servem até hoje de grande importância para o estudo do tema
cangaço, fica a pergunta: qual o destino do dinheiro e a grande quantidade de
ouro que os cangaceiros carregavam?
REFERÊNCIAS:
OLIVEIRA,
Aglae Lima de. Lampião Cangaço e Nordeste. Rio de Janeiro: Editora O Cruzeiro,
1970.
MELLO,
Frederico Pernambucano de. Guerreiros do sol: violência e banditismo no
Nordeste do Brasil. São Paulo: A Girafa Editora, 2004.
ARAÚJO,
Antônio Amaury Corrêa. Assim Morreu Lampião. São Paulo: Editora Traço, 2013.
IRMÃO, José
Bezerra Lima. Lampião: a raposa das caatingas. Salvador: Editora JM e Gráfica,
2014.
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