Por Florina Escóssia
Hoje, 17 de
outubro, edito essa postagem para parabenizar todos que fizeram, fazem e ainda
farão o jornal por muitos anos.
O JORNAL E
SEUS COLABORADORES
Estando eu já
perto do fim, devo fazer uma referência especial aos colaboradores do jornal do
meu tempo, que foram muitos, como uma espécie de homenagem deste pobre marques
aos que sempre me ajudaram a fazer o jornal.
Mário Negócio
Logo que
começamos, em 1945, tivemos as colaborações de amigos que, em verdade,
impulsionaram O Mossoroense. Os advogados Mário Negócio e José Augusto
Rodrigues foram os homens da primeira linha, juntamente com Vingt-un e Jorge
Freire.
Mário,
interessado na política, escrevia artigos, sempre com os títulos ou entremeados
de expressões latinas, como modus in rebus Sr. Prefeito, Modus vivendi, A
Vingança de Zeus e tantos outros que nem consigo me lembrar. Quase diariamente
ele chegava à redação com o artigo na mão, cantando baixinho ou assobiando, no
que também era exímio. Conversava um pouco sobre política, dava umas boas
risadas e deixava a redação cantarolando. Bom advogado.
Eleito
deputado estadual brilhou na Assembleia. Dix-sept Governador, ele foi ser
Secretário Geral. Faleceu aos 40 anos de idade em desastre automobilístico em
Tacima - PB, quando retornava da festa de inauguração de uma estação de rádio
em Recife, representando o Governo do Estado. Em vida, nunca deixou de escrever
para o jornal.
O advogado
José Augusto Rodrigues foi outro grande amigo e colaborador d’O Mossoroense a
partir de 1945. Um pouco mais moderado, escrevia artigos sobre assuntos gerais
com elegância de estilo e conhecimento de causa. Não escrevia sobre o que não
sabia discutir. Simples e modesto, vinha pessoalmente e me entregava o original
de sua matéria, como se quisesse que soubessem que era o seu artigo, quando, na
verdade era publicado com seu nome.
José Augusto
tentou mais de uma vez ser candidato a deputado estadual, entretanto, as
chances não lhe foram favoráveis, mesmo porque o partido a que pertencia não
tinha condições de eleger um deputado. Preferiu fazer sua vida como advogado e
professor. Certamente que foi o advogado com maior número de causas e o
professor que teve mais alunos em Mossoró, pois ensinava em todos os colégios,
e foi diretor de alguns.
Um fato que
envolve os integralistas de Mossoró vou relatar pela primeira vez, depois de
tantos anos.
Vingt-un e Lauro da Escóssia
O mais novo
dos vinte e um filhos de Jerônimo Rosado, também foi um dos maiores
colaboradores do jornal, escrevendo mais sobre a gipsita e o arenito, embora
abordasse com profundidade, conhecimento e ótima redação os problemas do semiárido.
Acostumou-se tanto a defender através da imprensa os problemas de Mossoró e da
região que, ainda hoje, mantém um editorial com milhares de títulos – A Coleção
Mossoroense.
Seguiram-se a
esses Jorge Freire, Raimundo Nonato, Walter Wanderley, Padre Humberto Bruening,
Padre Raimundo Gurgel, Jaime Hipólito Dantas, Dorian Jorge Freire, Otacílio
Negreiros, Alberto Mendes de Freitas, Francisco de Assis Silva, Xavier Vieira,
Samuel Gueiros, Rafael Negreiros e tantos outros.
Jorge Freire
foi o colaborador de sempre. No início A NOTA, depois outras notas e artigos,
sempre com o seu estilo de frases curtas, mas que diziam tudo. Jorge era muito
bom escrevendo, mas sempre o achei melhor na prosa, falando, uma vez que
entendia tudo melhor do que todos e respondia sempre com uma piada séria.
Falava pouco.
Chegava à redação sempre de paletó e gravatinha de laço, dizendo ou ouvindo
alguma notícia ou piada. Por um tempo escreveu também o editorial do jornal,
passando para duas matérias de início por semana, depois duas vezes por semana
e depois diariamente. Aí, já não era um colaborador, mas um redator assíduo.
E Raimundo
Nonato? Talvez o escritor mossoroense com mais livros publicados. Passou a
escrever para O Mossoroense somente depois que foi morar no Rio. Quando aqui
residia não tinha tempo de escrever porque era professor de português de todos
os estabelecimentos de ensino. Nonato sempre escreveu muito bem, bonito e
correto.
Aconteceu o
mesmo com Walter Wanderley. Quando aqui residia Walter não escrevia n’O
Mossoroense por causa da política. Walter era político. Foi deputado estadual.
Era ligado ao PSD, enquanto nós pertencíamos à UDN, depois PR e depois MDB e
PMDB. Morando em Belo Horizonte e com mais tempo, passou Walter a escrever
livros e para O Mossoroense. É outro que escreve com muita facilidade o que o
povo gosta de ler. Walter também tem um monte de livros publicados.
Dr. Jaime Hipólito Dantas
JAIME Hipólito
escrevia muito bem. Irônico ao extremo, levava todos na ironia e se dava muito
bem. Escrevia seu artigo assinado e também escreveu por algum tempo o editorial
do jornal. Quando começavam as campanhas políticas ele, que gostava de fazer
apologia dos seus candidatos, se afastava do jornal, embora contra a nossa
vontade.
Dorian Jorge
Freire foi outro grande colaborador. Começou no jornal, andou por Natal e São
Paulo, mas nunca deixou de escrever para O Mossoroense. Toda sua matéria era da
melhor qualidade.
O Padre
Raimundo Gurgel celebrizou-se pela publicação das profecias de São Malaquias.
Um trabalho muito interessante que chamava a atenção dos leitores.
Os bons
cronistas eram Xavier Vieira, Padre Huberto e Samuel Gueiros, mais o mais interessante
era Rafael Negreiros – O Contador de Histórias. Rafael pegava um fato e contava
a história com muita capacidade e rapidez. Era um comentarista de mão cheia.
Para escrever só havia necessidade do fato. Quando este aparecia Rafael dava o
tom até o final. Era um pouco estourado, mas em cinco minutos voltava a rir.
Escrevia porque gostava. Nunca recebeu um tostão pelo seu maravilhoso trabalho.
Era apenas um colaborador.
Sujeito bom
esse Rafael. Vai longe.
Esses homens
cometeram uma indignidade.
Quase nenhum
contato, mesmo como homem de imprensa, tenho tido com o atual legislativo
municipal, a ponto de chegar a ocupar uma posição em meio da massa anônima, que
tem assistido às suas reuniões. São tantos afazeres que fico sem tempo.
De minha tenda
de trabalho, tenho, no entanto, sabido o quanto tem chegado ao descrédito um
poder público, constituído por representantes do povo que um dia foram eleitos
para representar o povo mossoroense.
Acreditava
porém que, ao calor da incompreensão em que se arrastavam os nossos licurgos,
sobrasse um outro sentido mais elevado, capaz de salvá-los da estagmatização a
que se conduziram por seus atos.
Ontem, essa
minha impressão se dissipou, em face do relato de sua reunião da tarde, quando
esteve em plenário para aprovação um requerimento de um de seus pares, o
vereador João Newton da Escóssia, no sentido de estender a este jornal as
homenagens que a alguns, por motivo de uma data aniversária, cogita realizar a
Câmara em sua última sessão deste período.
Houve a
rejeição da maioria maciça, uma vez que somente o requerente e mais os
vereadores João Niceras de Morais e João de Freitas Oliveira votaram a favor.
Onze restantes acompanharam o voto do Sr. Joaquim da Silveira Borges, no
sentido de não ser prestada a homenagem a O Mossoroense.
Surpreendi-me
por tudo, inclusive pela emenda apresentada. Sou forçado a confessar que o fato
veio a contribuir para que se confirmasse tudo quanto acreditava estar
corrompendo a estrutura desse setor da administração pública de nossa terra.
Os vereadores
vitoriosos quiseram, assim, na sua pequenez, dar a Mossoró a posição de um
burgo onde a vindita campeia numa sequência interminável e de consequências
imprevisíveis.
Extravasaram-se
na sua incongruência no sentido de procurar destruir uma tradição como vem
sendo a do sacrifício de minha família, através de quatro gerações, em dar a
Mossoró a assídua permanência de um órgão de imprensa, cujo valor em seu
passado e no presente, como arauto da opinião pública, vale muito mais que a
acumulada dos 11 vereadores contrários à proposição.
Evidentemente,
srs. Vereadores, O Mossoroense não lhes merece a homenagem.
Podem subir
por esses degraus tortuosos dessa transcendental escada da expiação! Contemplem
das alturas o aro impensado e premeditado com que o agitaram o subconsciente,
mas, cuidado, os áulicos também tropeçam e mais vertiginosa é a queda quando a
escalada não é bem firme. Tentem destruir-nos. De baixo lhes aguardamos a
queda. Será breve, oh ilustres campeões da indignidade.
Fonte: facebook
Página: Florina EscossiaMemórias
de um jornalista de província
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