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terça-feira, 26 de agosto de 2014

A célebre e matrona Fideralina Augusto Lima.


No dia 24 de Agosto de 1832, nascia na Vila de São Vicente das Lavras a prestigiosa e célebre Fideralina Augusto Lima. Sendo proprietária de inúmeras terras, muito gado, muitos negros e muitos cabras foi uma das maiores expressões políticas do Estado do Ceará em todos os tempos, tornou-se símbolo de mulher destemida, audaz e guerreira e tem seu nome, hoje, citado no coronelismo, sendo reconhecida e respeitada como tal, como afirmou Joaryvar Macedo em muitos dos seus livros.

Hoje esta figura lavrense é pesquisada no mundo inteiro, em monografias, dissertações e teses de graduação, mestrado e doutorado.

A escritora Raquel de Queiroz em uma de suas crônicas sobre a respeitável matrona lavrense afirmou ser essa mulher motivo de orgulho não só para Lavras da Mangabeira, mas para todo o Estado do Ceará.

Parabéns a nossa matrona, a nossa cidade e ao Estado do Ceará.

Luz Lu sua parenta disse:


 "Tenho orgulho de correr em minhas veias um pouco do seu DNA!"

Marconi Alves de Sousa falou o seguinte: 


O que tenho a falar sobre Dona Fideralina? Era coronel de saia, muito respeitada na época e mãe de muitas gerações em Lavras das Mangabeira... Acho que o companheiro Dimas Macedo, em seus livros, fez referências ao pulso forte desta mulher que viveu a época do império no Brasil. Cristina Couto, minha colega de São Vicente, lembrou-se da data. Fideralina faz parte da história do Ceará...

Fonte: facebook
Página: Cristina Couto

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A caminhada com os amigos do Parque Euclides Dourado, em homenagem ao Colégio Diocesano

Por Antonio Vilela
Antonio Vilela é o 3º sentado da direita para esquerda

A caminhada com os amigos do Parque Euclides Dourado, em homenagem ao Colégio Diocesano, terminou com o plantio de uma árvore e um gostoso mungunzá ao lado dos amigos.



Com os caminhantes defronte ao Gigante da Praça da Bandeira. Ao lado dos Amigos; Arcebispo Militar do Brasil, Dom Fernando, Ex. Prefeito Ivo Amaral e sua esposa... — com Jezaias Leite Vilela Vilela.


Com os amigos no relógio de flores, um dos principais pontos turísticos de Garanhuns.


O velho "cangaceirólogo Antonio Vilela" com uma réplica do rifle do afamado e sanguinário rei Lampião.


Antonio Vilela reside na cidade de Garanhuns no Estado de Pernambuco, e é professor, pesquisador do cangaço e autor do livro:

"DOMINGUINHOS O NENÉM DE GARANHUNS".

Para você adquirir este livro entre em contato com o autor através deste e-mail: 
incrivelmundo@hotmail.com

O escritor  entregará o seu livro em qualquer parte do Brasil

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CARIRI CANGAÇO (SOUSA, NAZAREZINHO E LASTRO) EM IMAGENS

Por João de Sousa Lima
Berg foi homenageado em Lastro
Pesquisadores em Sousa
O Cariri Cangaço aconteceu em Sousa, Nazarezinho e Lastro.  Foi um sucesso. O maior público aconteceu na cidade de Lastro onde os escritores e pesquisadores foram muito bem recebidos pelo organizador Berg.

Casa de Chico Pereira
Pesquisadores reunidos pela História




Ramon: o guardião das histórias de Lastro
Ângelo Osmiro ganha mais um casal do cangaço pra sua coleção



lançamento do livro Lampião em Paulo Afonso


Enviado pelo escritor e pesquisador do cangaço João de Sousa Lima

http://www.joaodesousalima.com/2014/08/cariri-cangaco-sousa-nazarezinho-e.html

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O ESGOTO DE DADINHO

Por Clerisvaldo B. Chagas, 26 de agosto de 2014 - Crônica Nº 1.247

Antônio Ermírio de Morais desencarnou, deixando um respeitável legado de dignidade e admiração a sua pessoa, pelo povo brasileiro. Infelizmente temos que contar nos dedos homens que são exemplos de honradez nessa época minada e apodrecida. As decepções são enormes com mentirosos, corruptos aves de rapina que arrastam as garras no patrimônio do país.


Penso no riquíssimo e humilde Ermírio, penso no período infantil da hoje Rua Teresa de Jesus, em Santana do Ipanema. Já me referi aos personagens Zé Alma e seu irmão Dadinho. O pai ganhava a vida como sapateiro ao lado dos fundos do casarão de Júlio Pisunha, onde se fabricava colchões de juncos. José, tão alvo, tão magro, cabelos louros, quase brancos, batendo sola em cima do joelho fino. Não tive como não apelidá-lo de Zé Alma. Seu irmão mais novo era forte, bochechudo, baixo e ativo para ganhar seu dinheirinho nas imediações. Dadinho era vulgo antigo.

Havia uma bueira (talvez ainda esteja lá) e que se iniciava na Rua Nova, a três metros do bar que funcionou décadas em Santana com o nome “Bar do Erasmo”. 150 ou 200 metros adiante, sua saída situava-se vizinha à casa dos pais de Zé Alma.

Pois bem, Dadinho, rapazinho esperto, ganhava boas gorjetas para mergulhar no túnel nojento e só despontar na saída, além da rua de baixo. Hora muito boa aquela de apanhar a verba prometida.

Mas como era (ficávamos a indagar) que uma pessoa enfrentava um esgoto contínuo, sem suspiro algum, que poderia conter fezes, urina, ratazanas, cobras, sapos, jias, lagartas, objetos cortantes e tantas coisas mais. Era um duvidar medonho que o rapaz cumpriria o trato feito diante de tantas testemunhas. Mas Dadinho sempre surpreendia, rompendo do outro lado, limpinho, feliz e ansioso para estirar a mão às notas dos pagantes.

Volto ao início do raciocínio. A bondade democrática do país faz-nos ver de volta caras em que a vergonha já deveria ter comido há muito. Como são poucos os valorosos! Como são muitos os que se adaptaram ao ESGOTO DE DADINHO.

http://clerisvaldobchagas.blogspot.com.br/2014/08/o-esgoto-de-dadinho.html

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Lampião e Maria Bonita: Amor e morte no cangaço

Texto Rodrigo Cavalcante, De Maceió - 08/01/2014

Em meio à violência e fugas da polícia, o romance entre Lampião e Maria Bonita marcou o fim do banditismo no sertão

Na edição de 13 de fevereiro de 1926, o recifense Jornal Pequeno publicou a notícia da emboscada armada pelo tenente Optato Gueiros dando fim ao cangaceiro Lampião entre os municípios de Custódia e Alagoa de Baixo, em Pernambuco: Lampião estava morto. À época, Virgulino Ferreira da Silva não era mais um bandoleiro famoso no rastro de outros como Antônio Silvino e Sinhô Pereira. Era capitão. Convidado por Padre Cícero no início daquele ano para combater a Coluna Prestes, de passagem no Ceará, ele recebera a patente militar de um funcionário público de Juazeiro - que, mais tarde, diria que diante dele e de seus cabras assinaria até a demissão do então presidente Arthur Bernardes. Sua folha de crimes era tão popular que o nome Lampião passou a ser usado até em propaganda de pílulas para aliviar prisão de ventre.

O alívio em torno da notícia de sua morte, contudo, durou pouco. Para a decepção dos leitores que confiaram na estatura da notícia do Jornal Pequeno, tratava-se de mais um anúncio falso de sua morte. Lampião não apenas reaparecera como propôs meses depois ao governador de Pernambuco a divisão do estado em dois, para que ele pudesse ser nomeado governador do Sertão. Até a sua morte (definitiva) por tropas alagoanas, em 1938, na Grota de Angico, em Sergipe, ele viveria longos 12 anos. Tempo suficiente para se apaixonar, viver e morrer ao lado da baiana Maria Gomes de Freire, a primeira mulher na história do cangaço. Quando retratos da mais tarde chamada Maria Bonita circularam pelos jornais de todo o país, o Brasil surpreendeu-se com suas velhas ideias do sertão. Numa época em que as teorias raciais eram levadas a sério e a "civilização litorânea" vivia sob ameaça das constantes revoltas das "sub-raças sertanejas", tal como descritas pelo engenheiro Euclides da Cunha em Os Sertões, a presença feminina de uma sertaneja altiva e vaidosa vivendo em harmonia com o cangaceiro mais famoso do país chocou o Brasil. Em meio à violência, crueza e aridez do cangaço, haveria espaço para algum sinal de beleza ou de uma real história do amor?

No sertão, as fronteiras do Nordeste são outras, aproximando os estados que parecem mais distantes de quem só conhece o litoral. A cidade baiana de Paulo Afonso, por exemplo, onde Maria Bonita nasceu, está mais próxima de cidades vizinhas de Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Paraíba do que de Salvador, a mais de 460 km de distância. Daí que, quando o cerco em alguns dos sete estados por onde o bando de Lampião andava se fechava, ele se movia por essas fronteiras com suporte de uma rede bem montada (e remunerada) de informantes, fazendeiros e pequenos proprietários dispostos a lhe dar refúgio - os chamados coiteiros. Foi de passagem pela propriedade dos coiteiros Zé Filipe e Dona Deia, no povoado de Malhada da Caiçara, em Paulo Afonso, que Lampião se engraçou no final de 1929 por Maria "da Deia", filha do casal de 18 anos que estava de volta à casa dos pais após mais uma briga com o marido, o sapateiro Zé Nenê. A aproximação de Lampião foi forjada por meio de uma "encomenda": segundo os parentes de Maria Bonita, Lampião solicitou que ela e suas irmãs bordassem as iniciais "CV" (Capitão Virgulino) em quinze lenços de seda, com a promessa de que em menos de um mês voltaria para buscá-los. "Minha família conta que ele demorou bem mais do que o prometido, mas, quando voltou, teve início o namoro com minha avó", diz Vera Ferreira, historiadora e neta de Lampião e Maria Bonita que vive hoje na cidade de Aracaju, em Sergipe, coautora do livro Bonita Maria do Capitão, uma coletânea de relatos e imagens da avó. Ela conta que somente após seus bisavós decidirem mudar para Alagoas após serem perseguidos por dar guarida a Lampião, que Maria Bonita tomou a decisão de ingressar no cangaço.

A decisão não tinha precedentes. Na secular história do cangaço, a regra era clara: a presença de mulher destruiria o bando, seja por razões práticas seja por outras de fundo místico. Entre as de ordem prática, estavam o atraso que elas causariam nos momentos de fuga e a facilidade com que entregariam os companheiros caso fossem pegas pelos macacos (como eram pejorativamente chamados os volantes policiais).

Além disso, a presença de mulheres em meio a cabras armados era uma ameaça constante de conflitos em casos de ciúme e traição. Quanto ao motivo místico em torno da presença da mulher, estava a crença de que elas abriam "o corpo fechado" do cangaceiro. "Homem de batalha não pode andar com mulher. Se ele tem uma relação, perde a oração, e seu corpo fica como uma melancia, qualquer bala atravessa", já dizia o cangaceiro Balão em depoimento transcrito no livro Guerreiros do Sol, do historiador Frederico Pernambucano de Mello.

Sinhô Pereira, cangaceiro lendário que havia chefiado Lampião, se disse surpreso com a novidade: "Fiquei muito admirado quando soube que Lampião havia consentido que as mulheres ingressassem no cangaço. Eu nunca permiti. Nem permitiria". Ou seja: mais do que a decisão de Maria Bonita, foi a permissão de Lampião do ingresso da baiana no grupo que mudou o cotidiano do cangaço. "Com a entrada de Maria para o bando, os outros cabras puderam juntar suas mulheres ao grupo", diz a historiadora Isabel Lustosa, autora de De Olho em Lampião.

Violência menor

Algumas garotas juntaram-se aos cangaceiros por vontade própria. Outras, como Dadá, companheira de Corisco, foram raptadas e terminaram se adaptando. Desde então, estima-se que mais de 40 mulheres tenham ingressado naquela vida. Mas o que de fato mudou no cangaço e no comportamento do próprio Lampião com a presença das mulheres?

De acordo com o relato dos cangaceiros e historiadores, a presença de Maria Bonita e de outras mulheres deu início a uma fase menos violenta do bando de Lampião, cujas ações passaram a ser mais seletivas e centradas na coleta de dinheiro (os resgates como garantia de que não tomariam de assalto uma cidade ou propriedade). Além de ações mais estratégicas, semelhantes às de organizações mafiosas, há relatos de que Maria Bonita intercedeu mais de uma vez pela vida de pessoas capturadas pelo bando. "Lampião costumava atender seus pedidos de clemência e, de resto, tanto pela idade dos cangaceiros quanto pelo ambiente doméstico que as mulheres trouxeram para os acampamentos, houve uma redução da violência de suas ações", diz Isabel Lustosa. "A presença de Maria Bonita e outras mulheres inibiu os casos de estupros", diz João de Sousa Lima, pesquisador da vida de Maria Bonita. "Até porque os relatos daqueles que conviveram com o bando são unânimes quanto ao respeito que a presença dela inspirava no grupo."

Como mulher do rei do cangaço, o respeito incluía o direito a uma espécie de guarda e secretário particular, conhecido por Sabonete. "Polia-lhe as joias, ocupava-se dos seus recados, de suas finanças, farmácia, armas e tudo mais da esfera pessoal, desfrutando nessa curiosa função de mordomo das caatingas do agrado de sua rainha e do capitão, seu rei", diz Pernambucano de Mello.

Mimos excessivos

Talvez, por isso, a cangaceira Dadá, parceira de Corisco, tenha descrito Maria Bonita como alguém de mimos excessivos para quem vivia no sertão. O cangaceiro José Alves de Barros, vulgo Vinte e Cinco, que conviveu com o casal, daria outro testemunho sobre ela: "Parecia uma menina grande. Ela era brincalhona, uma moleca e conquistava todo o mundo".

A presença das mulheres exigiu a criação de novas regras para definir o papel delas no bando. Mesmo não participando diretamente nos combates, tinham que aprender a atirar para se defender. "Em geral, elas portavam revólveres de calibre 28 e 32 e pequenos punhais para proteção", diz Germana Gonçalves de Araújo, coautora do livro Bonita Maria do Capitão. Além disso, nenhuma mulher podia entrar no bando sem já estar atrelada a um cangaceiro. Casos de traição costumavam ser punidos com execução, e há relatos até de viúvas que, não conseguindo mais se unir a outro cangaceiro, foram executadas para não se tornarem um fardo para o grupo ou presas fáceis da polícia. As crianças que nascessem no cangaço tampouco poderiam permanecer no bando, tendo que ser entregues para outras famílias.

Foi o caso de Expedita Ferreira, a filha de Lampião e Maria Bonita, que nasceu em 13 de Setembro de 1932 debaixo de um pé de umbu numa fazenda em Porto da Folha, Sergipe, estado em que ainda reside prestes a completar 81 anos de idade. Entregue ao casal de vaqueiros Aurora e Severo Mamede, com quem foi criada até os 8 anos como uma das 11 filhas do casal, Expedita recebia sempre que possível a visita dos pais famosos. "Os encontros com minha mãe se davam na fazenda, e ao menos em uma ocasião no meio da caatinga", diz Vera Ferreira, neta dos cangaceiros. "Num desses encontros, minha mãe conta que foi a fisionomia do pai que mais lhe marcara." Ainda que não se metessem diretamente nas ações, as mulheres não estavam imunes aos combates. Três anos após o nascimento de Expedita, Maria Bonita foi baleada pelas costas após um ataque comandado por Lampião na Vila Serrinha do Catimbau, próxima da cidade de Garanhuns, em Pernambuco. Alvo fácil da artilharia por estar usando vestido branco, ela teve que ser levada às pressas para um local de difícil acesso na caatinga para ser tratada pelo grupo.

No mesmo ano, o estouro de revoltas militares no Rio de Janeiro e em Natal fez com que o governo de Getúlio Vargas endurecesse a repressão não apenas contra comunistas e integralistas, como a qualquer grupo que desafiasse a autoridade do regime. Quando o turco Benjamim Abraão conseguiu filmar Lampião, Maria Bonita e o cotidiano do bando, em 1936 (veja na página ao lado), o governo Vargas mandou imediatamente apreender o filme e encarou as imagens como uma afronta.

Além disso, após uma série de acordos entre os governadores do Nordeste, as polícias estaduais ganharam passe livre para cruzar fronteiras, e armamentos pesados começaram a ser enviados para o combate aos cangaceiros, incluindo modernas metralhadoras jamais vistas por aqueles lados. Talvez por consciência disso, dali em diante o ritmo de ações do bando diminuiria. O próprio ímpeto de Lampião, beirando os 40 anos de idade, parecia arrefecido. "Na fase final de suas tropelias, entre os anos de 1936 e 1938, Lampião mostrava-se bem mudado", afirma Frederico Pernambucano de Mello em seu livro Guerreiros do Sol. De acordo com o historiador, ele trocou as constantes movimentações pelo sertão por uma vida mais sedentária e confortável em refúgios em Sergipe, "onde sua agressividade diluía-se nos braços de Maria Bonita, a quem amou profundamente, dedicando-lhe sempre calorosas palavras de elogio".

"O cego morreu"

Relatos dos cangaceiros confirmam que o casal tinha o que se pode chamar de uma convivência harmoniosa. "Nunca ouvi reclamarem. Eles se acostumavam. Nem faziam futuro, nem pensavam em morrer, porque eles sabiam que a qualquer momento podia acontecer, daí o que viesse estava bom", disse em 2009, em depoimento, o cangaceiro Vinte e Cinco. De acordo com ele, esse clima quase romântico, de foras da lei enfrentando seu destino sem muita preocupação, se estendia ao resto do grupo. "Chegasse o momento em que podíamos dançar, nós dançávamos; na hora de correr, nós corríamos; na hora de brigar, brigávamos; e a gente queria terminar aquele negócio logo, era matar ou morrer."

A morte viria de barco pelo Rio São Francisco no raiar do dia 28 de julho de 1938, na Grota de Angico, em Sergipe, no trecho do rio que faz divisa com o Estado de Alagoas. Foi da vizinha cidade alagoana de Piranhas, na outra margem, que partiria na véspera o tenente João Bezerra da Silva, acompanhado de 45 homens e três metralhadoras, com a determinação de exterminar o bando mais famoso do país.

Após prenderem o coiteiro Pedro Cândido, que apontou o lugar do esconderijo de Lampião, as forças policiais atravessaram o rio em direção ao acampamento, cercado de vegetação espinhenta - o local hoje faz parte da trilha do cangaço, um dos passeios oferecidos aos turistas que partem do litoral de Alagoas ou Sergipe em direção aos belos cânions do Rio São Francisco. Por ser um refúgio com uma única saída, o esconderijo era visto com maus olhos por quase todos os outros cangaceiros. Corisco, por exemplo, já tinha alertado Lampião de que considerava o local uma "cova de defunto". O líder do bando, no entanto, ignorou todos os conselhos e resolveu pernoitar ali.

Antes do nascer do sol, os volantes se dividiram em quatro grupos para cercar o acampamento. Assim que o dia começou a clarear e os primeiros cangaceiros saíram de suas tendas, o fogo abriu. Apesar dos 20 minutos de tiros e rajadas de metralhadoras, somente onze cangaceiros morreram. Outros 40 conseguiram escapar. Quando um dos volantes confirmou que "o cego também morreu", em referência à Lampião (que usava óculos sem grau para disfarçar um ferimento em um olho), e que Maria Bonita havia caído com ele, o tenente Bezerra sabia que entraria para a história. Para encerrar o episódio, faltava apenas um último ritual: decepar as cabeças para provar que, dessa vez, não se tratava de uma notícia falsa como a de 12 anos antes. De acordo com exames de medicina legal realizados pelo Instituto Nina Rodrigues, em Salvador, Maria Bonita estava viva quando teve a cabeça decepada.

Após a exposição macabra percorrer várias cidades do Nordeste, as cabeças embalsamadas foram levadas ao Instituto Nina Rodrigues, onde ficariam até 1962 - quando parentes dos cangaceiros exigiram o sepultamento delas. Com o fim do bando, o cangaço estava com os dias contados. Seu capítulo final deu-se com a morte de Corisco, que tentou suceder Lampião. Ele foi morto em uma emboscada em 1940, quando estava prestes a se entregar após Vargas promulgar lei concedendo anistia aos cangaceiros que se rendessem.

Um ano após a morte de Lampião, o mundo entraria na Segunda Guerra. Dali em diante, as teorias de inferioridade racial cairiam em desgraça, o Brasil se industrializaria e as histórias de Lampião e Maria Bonita influenciariam a cultura na música, no cinema e na moda - Maria Bonita é hoje nome de grife em desfiles concorridos do país. O que parece não ter mudado mesmo é a situação dos sertanejos em tempo de seca: no início deste ano, a estiagem deixou cerca de mil cidades em estado de emergência.

O homem que capturou Lampião em imagens

Se o governo de Getúlio Vargas já estava desmoralizado por não conseguir prender Lampião e seu bando, ficou ainda mais quando o libanês Benjamim Abrahão conseguiu capturar imagens do cotidiano de Virgulino, Maria Bonita e seu grupo entre março e Outubro de 1936.

Benjamim trabalhou como mascate no Nordeste após chegar ao Brasil fugindo da Primeira Guerra, em 1915. Mais tarde, foi descoberto pelo Padre Cícero em Juazeiro e se tornou seu secretário particular. Ao lado do padre, conheceu Lampião em 1926, ocasião em que o cangaceiro foi convidado a comandar o combate à Coluna Prestes, que estava no Ceará.

Após a morte do beato, Benjamim deu início ao projeto de filmar Lampião, com apoio do cearense Ademar Bezerra de Albuquerque, dono da empresa de fotografia e material fotográfico Abafilm. Ele não tinha dúvidas de que a fama do cangaceiro encheria salas de cinema em todo o país. Mesmo conseguindo a autorização de Lampião para filmá-lo na caatinga, o libanês nunca teve a recompensa merecida. O material da filmagem foi apreendido pelo Departamento de Imprensa e Propaganda do governo Vargas e, em 1938, dois meses antes da morte de Lampião e Maria Bonita, Benjamim foi esfaqueado em Serra Talhada, terra natal do cangaceiro, em circunstâncias não esclarecidas. Trechos do filme foram recuperados e fazem parte do acervo da Cinemateca Brasileira.
Cangaço fashionista

Lampião e seu bando abusavam de acessórios e bordados coloridos

1. Chapéu

Feito de couro com a aba da frente levantada. Enfeitado com moedas e com medalhas de ouro que continham inscrições como saudade, amor ou recordação

2. Estrelas

O signo de Salomão (estrela de oito pontas) era comum nos chapéus, pois acreditava-se que protegiam contra o mau-olhado.

3. Bandoleira

Faixa de couro firme usada para prender a arma na vertical. Adornada com moedas e ilhoses. Para Lampião, usar a arma nas costas na diagonal seria como "botar nas costas o pau da cruz e chamar a morte".

4. Cantil

Coberto com uma capa de brim, rico em bordados coloridos. Eram feitos de estanho ou alumínio ou até de cabaça. Junto, uma caneca cheia de folhas, para evitar barulho.

5. Bornal ou embornal

Bolsas laterais de tecido resistente usadas para o armazenamento de provisões, desde munição até roupas e alimentos. Era um dos acessórios mais coloridos e o mais pesado.

6. Jabiraca

Para secar o suor, usavam um lenço de seda preso no pescoço por uma sequência de anéis, o cartucho. Servia também como coador.

7. Chapéu

Chapéu de couro era coisa de homem. As mulheres usavam de feltro, de aba média, com testeira e barbela. A única semelhança era o gosto pelos enfeites.

8. Cabelo

Maria Bonita apareceu em fotos com o cabelo à la garçonne, tendência que surgiu no fim da década de 20. Os broches eram parte do visual

9. Luvas

Várias camadas de brim costuradas. A função era proteger a mão de galhos e espinhos deixando os dedos livres. As de Maria Bonita eram feitas de algodão e traziam bordadas no pulso as iniciais M.O.S. (Maria Oliveira da Silva).

10. Cartucheira

Servia para carregar pentes de munição e pistolas de maneira anatômica. Somando todos os acessórios, o cangaceiro podia carregar 40 kg. As mulheres levavam menos carga que os homens.

11. Perneiras

Como as cangaceiras usavam saias até o joelho, era necessário o uso de meias elásticas e perneiras de couro ou de tecido grosso.

12. Bordados

Feitos de linhas com cores fortes, podiam ser flores, ziguezagues ou cruzes e enfeitavam todos os acessórios.

Saiba mais

Livros

Bonita Maria do Capitão, Vera Ferreira e Germana Gonçalves de Araújo, Editora da Universidade do Estado da Bahia, 2011

Guerreiros do Sol: Violência e Banditismo no Nordeste Brasileiro, Frederico Pernambucano de Mello, Massangana/Girafa, 2004

De Olho em Lampião: Violência e Esperteza, Isabel Lustosa, Claroenigma

Na internet

http://abr.io/lampiao

Imagens captadas por Benjamim Abraão do bando de Lampião


http://guiadoestudante.abril.com.br/aventuras-historia/lampiao-maria-bonita-amor-morte-cangaco-767735.shtml

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CONVITE



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“ERA UM ALVOROÇO DA MOLÉSTIA!”

Por Rangel Alves da Costa*

O meu avô gostava de conversa de pé de pau, debaixo da imensa tamarineira. Era autêntico sertanejo, e sertanejo possui guarida garantida no proseado do entardecer, ao redor de iguais, de gente com causos na ponta da língua de não acabar mais. E um proseado onde surgia de tudo, desde a seca que já despontava às relembranças dos tempos cangaceiros na região.


Ele mesmo amigo de Lampião, já tendo acolhido o Capitão na sua casa na povoação sergipana de Nossa Senhora da Conceição de Poço Redondo, ocasião em que o inusitado fez sentar à mesma mesa, para o mesmo regabofe, a cruz e a espada, o pecado e a salvação. Os dois ilustres visitantes na mesma casa, já tendo chegado Padre Arthur e estando recolhido para uma soneca, quando o Capitão apareceu não havia nada a fazer, a não ser acomodá-lo e anunciar a presença do vigário. Ao toque na porta do quero, o padre levantou assustado e perguntou quem tinha a petulância de incomodar a igreja durante seu repouso. Ao ouvir o nome de Lampião quis esconjurar todo mundo, esbravejou, prometeu dar o que o cangaceiro merecia. Mas acabou abrindo a porta sem arma em punho e em paz dividiu a mesa com o pecador. E comeram como dois esfomeados, indo do capão gordo à buchada de bode mais gorda ainda. Por isso que o meu avô não gostava muito de tecer considerações acerca do cangaço, como se sentindo entristecido e saudoso.

Por isso mesmo que tive de recorrer a um amigo seu de pé de pau para conhecer melhor a história das carreiras. Adiante-se que carreiras eram as fugidas apressadas da população matuta assim que tomava conhecimento que o bando cangaceiro se aproximava, já estando pelas matarias ao redor da povoação. Não todos, mas a maioria, temerosa demais, achava melhor não esperar tempo ruim e se danava a correr em busca de refúgio. Desembestava num desespero tão grande que sequer fechavam as portas. Comida esturricava na panela, gente deixava a caneca d’água pela metade, pés descalços iam encontrar os espinhos.

E Zé do Aió assim me contou, e acreditei, por isso mesmo que repasso segundo a pronúncia que ouvi. E sabendo que sou neto de China do Poço, o famoso Teotônio Alves China, amigo de todos os amigos sem distinguir a hóstia ou a bala, não se demorou a debulhar suas memórias.


“Meu fio, aquerdite que só mermo Deus pra sarvá nóis daquela aflição. Eu mermo num tinha medo não, inté dava vontade de correr, mai ficava, inté debaixo da cama já me escondi. E eles chegaro e sairo sem fazer nada que fosse do outro mundo. O pobrema todo, e por isso mermo o medo do povo, era aquele montão de gente tudo pareceno uns bicho saino da mata e tomano conta do lugar. Tudo armado inté os dente, de cara feia, de modo que num tinha quem não tivesse medo. E os que avistava era pruque oiava pelas fresta, pelos escondido, pelos buraco na parede. Ninguém era besta de abrir a porta e botar um pé fora de casa. Eles podia passar e num fazer nada, mai tomem ninguém sabe se...”.

“Ninguém sabe se a mardade tava naquele dia em cada um. Por isso mermo que a maioria dos daqui se arribava no meio do mundo que chega a perna batia na bunda. Meu fio, o trupé era tão feio que inté véio tinha de arranjar força nas perna e correr. Era muié em correria cum menino novo arranchado nos quarto, menino e mocinha correno feito bicho da mata, home perdeno a valentia na hora, muita gente toda mijada e cagada, sei disso. Tinha gente que dismaiava só em saber da chegada do Capitão e era deixada pra trais. Tinha gente que corria tanto, tão desembestado que tava, que adespois num sabia vortá, ficava perdido na mataria fechada. E o povo só vortava quano os que tinha ficado se embrenhava pra avisar que a cangaceirama já tinha arribado. Mai nem todo mundo fugia..”.

“Eu mermo, que num sou besta, corria era pra casa de China, seu avô. Além de ficar portegido, adespois ainda comia da sobra muita da comida. E era muita comida, e tinha de ser assim. Num era só Lampião, mai o bando intero a comer das panelada feita por Dona Marieta e suas amiga. Mai ao meno aqui os cangacero nunca reviraro tudo não, nem sairo atirano no que encrontasse. Da urtima veiz que avistei eles por aqui, e foi quano armoçou mai o vigário na casa de China, adespois foi todo mundo pra missa. Pade Arthur aceitou os home na igreja e só disse que as arma tinha de ficar do lado de fora. E assim acunteceu. Eu mermo vi Lampião ajoieiado, rezano, cheio de fé. Coisas difici de aquerditá, mai eu vi. E com esse oio que a terra há de comer”.

Poeta e cronista
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Casa do Jacu, Lendária casa de Chico Pereira, presente no Cariri Cangaço Parayba 2014

Por Manoel Severo

A terra de Chico Pereira recebeu o segundo dia do II Seminário Parahyba Cangaço – Cariri Cangaço Parayba 2014, que teve seu início com visita técnica à fazenda Jacu, lendária casa do patriarca João Pereira, pai de Chico Pereira, em Nazarezinho. A visita foi capitaneada pelo Prefeito de Nazarezinho, Salvan Mendes, pelo Curador do Cariri Cangaço, Manoel Severo, pelo presidente da FUNSESC, Lau Siqueira, pelos organizadores do evento, Wescley Rodrigues, Cesar Nóbrega, Iris Mendes e Guerhanberger Tayllor, além de inúmeros pesquisadores de todo o Brasil.

Recebidos pelos descendentes e proprietários do Jacu, tendo a frente o senhor Janduí Pereira; atualmente a Casa do Jacu é alvo de grande campanha de restauração, iniciada ainda, em Maio de 2013 com o primeiro Cariri Cangaço Parayba. A casa secular se encontra em situação de risco, sendo necessária e urgente intervenção para que não se possa correr o risco de desabamento.

Prefeito Salvan Mendes recebe Manoel Severo e o Cariri Cangaço
Manoel Severo e Lau Siqueira 
Wescley Rodrigues e Paulo Gastão

A posse do lendário e tradicional imóvel pertence a família que ainda não conseguiu chegar a um entendimento sobre o destino de tão importante patrimônio. Segundo César Nóbrega, um dos responsável pela Comissão de Restauração do Jacu "o problema ainda reside no fato de alguns familiares não aceitarem de forma nenhuma o entendimento e a meu ver as possibilidades de diálogo estão cessando, e o pior, o tempo não vai esperar. O Jacu corre um grande perigo de desabamento".

Iris Mendes e Manoel Severo na Fazenda Jacu

Dra. Francisquinha no Jacu

“A Casa do Jacu é uma relíquia deixada por Chico Pereira, não podemos deixar em pleno abandono uma relíquia nacional” afirma Paulo Gastão. Narciso Dias reforça, “Acreditamos na sensibilidade das autoridades, pois, com a restauração deixarão para posteridade um marco histórico para o município de Nazarezinho”. Já Honório de Medeiros assinala: “Se torna desnecessário apresentar uma longa digressão acerca da necessidade da restauração e tombamento da Casa do Sítio Jacu, assim como da necessidade da criação do Museu do Cangaço em Nazarezinho”. 

Manoel Severo que participou da visita ao lado do Prefeito de Nazarezinho, Salvan Mendes; acentua “todos temos que nos unir em torno dessa restauração, aqui a memória se consolida com a alma do povo de Nazarezinho, da Paraíba, de nosso nordeste e perpetua e história, sem dúvida o Cariri Cangaço está na linha de frente pela restauração do Jacu”.

 Ramon Batista e Manoel Severo
Archimedes e Elana Marques, João de Sousa Lima, Janduí Pereira e Lau Siqueira
 Janduí Pereira recebe o Cariri Cangaço na Fazenda Jacu

O presidente do GECC, Ângelo Osmiro também afirma solidariedade com o movimento: “O Grupo de Estudos do Cangaço do Ceará vem se solidarizar com os pesquisadores e entidades voltadas para a temática “Cultura Nordestina” no sentido de solicitar as autoridades competentes todos os esforços no intuito da restauração da casa da Fazenda Jacu (Casa de Chico Pereira). “Essa casa, que teima em enfrentar o tempo e permanece de pé é de uma importância incalculável para a História do Brasil, pois ela é um monumento inquestionável do passado, uma prova material e um espaço de memória que merece ser preservado para lembrar ao presente da força que a história do cangaço tem para o Nordeste” Diz Wescley Rodrigues.

Manoel Severo
Curador do Cariri Cangaço

Fotos: Iris Mendes Medeiros, Wescley Rodrigues e Dra Francisquinha


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