Por Paulo Afonso
Linhares
Paulo Afonso
Linhares é jurista, secretário municipal e diretor da Rádio e Portal Difusora
Quebrou a
calmaria paroquial mossoroense a notícia que o vereador Jório Nogueira, em
veemente pronunciamento na tribuna da Câmara Municipal, teria afirmado que os
alunos da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte não ”faziam sequer um
‘o’ com uma quenga”. Claro, essa é uma expressão bem típica da falar sertanejo,
desta região potiguar, na qual o “o” é apenas aquela inocente quarta vogal do
alfabeto e “quenga”, bem, não é o que as pessoas gostariam que fosse, pois há
“quengas” e “quengas”, mas, a referida no polêmico discurso daquele edil
é apenas aquela banda do endocarpo lenhoso do fruto do coqueiro (Cocos
nucifera), de formato arredondado e muito utilizada como recipiente (em algumas
localidades substitui as xícaras e canecas) para servir bebidas diversas, de
água a cachaça, enfim, uma vasilha feita com a metade de um coco. Que também
serve para traçar um círculo, fazer um “o”. A outra acepção de quenga,
bem chula e com muitos “os” a considerar, é prostituta, garota de programa,
periguete e por ai vai…
Claro, alunos,
ex-alunos e professores da UERN assomaram às trincheiras das redes sociais para
protestar contra as invectivas do vereador Jório Nogueira. A retaliação foi
grande, de tuíte a fuxibuque. Interessante é que têm assentos na Câmara
Municipal de Mossoró vários edis egressos dos cursos universitários da UERN,
inclusive o seu presidente que, aliás, é docente dessa instituição. O atual
prefeito de Mossoró, Francisco José Lima da Silveira Júnior, e o vice-prefeito,
professor Luiz Carlos de Mendonça Martins, são egressos, também, da UERN. Brios
feridos à parte, tudo não passou de mais uma trovejante e ciberespacial Batalha
de Itararé, aquela que nunca houve.
A UERN não
precisa dar explicações acerca da capacidade ou não de seus alunos fazerem um
singelo “o” que seja. Em mais de quatro décadas de existência, essa notável
instituição que é fruto da ousadia da gente mossoroense, tem sido um dos
mais notáveis pilares do desenvolvimento regional não apenas com abrangência no
Rio Grande do Norte, mas, também no vale jaguaribano e no sertão da Paraíba. É
injusto e absurdo negar a enorme contribuição da UERN. Sem mais nem menos ela é
reflexo da estrutura social e econômica desta região do semiárido nordestino,
nem tão melhor ou pior que outras instituições similares da mesma região.
Aliás, desde o surgimento da vetusta Università di Bologna, na Itália, fundada
em 1088, que essas instituições são marcadas pelos motivos que justificam as
suas criações, sempre com profundas imbricações culturais, econômicas, políticas
e sociais.
Com 87 cursos
de graduação, entre bacharelados e licenciaturas, 15 cursos de especialização,
7 mestrados e 2 cursos de pós-graduação interinstitucional (um mestrado e um
doutorado), a UERN está anos-luz à frente do singelo dilema de fazer um “o” com
uma quenga. Outro aspecto relevante é tocante à qualidade técnica e
profissional de seus egressos. E os exemplos são diversos: o Curso de Direito
do campus de Mossoró está entre os cem melhores cursos jurídicos do país, a
tirar pelo selo que lhe conferiu o Conselho Federal da OAB. Aliás, é muito alto
o índice de aprovação de egressos da UERN no exame da OAB e em concursos
públicos na área jurídica. Esse perfil se repete noutras áreas do ensino e
pesquisa da Instituição. O episódio aqui comentado, por desagradável que possa
ter sido, tem um lado positivo: trouxe à baila uma discussão sobre o papel
atual da UERN, nos contextos social, econômico, cultural e político desta
região. Em especial, neste momento em que se realizarão eleições em diversos níveis,
inclusive para escolha do novo governador deste Estado, que assumirá em
primeiro de janeiro de 2015, também, na condição de chanceler da UERN.
Ressalte-se
que, diante da repercussão dessa querela, o vereador Jório Nogueira, em recente
entrevista à Rádio Difusora de Mossoró, negou ter feito aquela afirmação; teria
sido tudo um mal-entendido, pelo qual pediu desculpas à comunidade acadêmica da
UERN. Meno male! Episódio esclarecido, caso encerrado. E a brava UERN
segue em frente, por vezes até aos trancos e barrancos, mas, sempre, liber
vi spiritus!
Adendo - http://blogdomendesemendes.blogspot.com
Talvez o leitor irá pensar que eu estou tentando defender o vereador Jório Nogueira, mas não é, eu nem o conheço pessoalmente. Teria sido alguém para infernizar a vida pública do Jório Nogueira, para tentar derrubá-lo nas urnas de amanhã, que sempre foi eleito a vereador de Mossoró? Um político dizer isto contra uma universidade, onde nela existe uma porção de eleitores, é muito difícil. Acho eu.
FONTE:
Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso
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