Seguidores

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Filhos e viúva do ex-cangaceiro "Asa Branca"

Por: José Mendes Pereira e
Adryanna Karla Paiva Pereira Freitas

             
Adryanna Karla Paiva Pereira Freitas, minha filha,  e eu, fizemos uma entrevista com a viúva do ex-cangaceiro Asa Branca, a dona Francisca da Silva Tavares, que reside há muitos anos em Mossoró, à Rua Epitácio Pessoa, no bairro Bom Jardim, sobre a vida do  Asa Branca e a sua convivência com ele.

Dona Francisca da Silva Tavares nos recebeu com um sorriso franco e aberto, e com isso, sentimos-nos a vontade, além do mais uma  senhora simpática, prestativa  e educadíssima.

Viúva do cangaceiro Asa Branca
 Francisca da Silva Tavares

Antonio Luiz Tavares era o verdadeiro nome do ex-cangaceiro "Asa Branca". Filho de Antonio Luiz e de dona Maria da Conceição. Ele natural de Cajazeiras do Rio do Peixe, no Estado da Paraíba.

Asa Branca

Nasceu no dia 10 de Janeiro de 1902 e faleceu de problemas cardíacos em Mossoró, no dia 02 de Novembro de 1981, sendo que os seus restos mortais repousam no Cemitério São Sebastião em Mossoró, aos fundos do túmulo de José Leite de Santana, o ex-cangaceiro Jararaca.

Túmulo do cangaceiro Asa Branca

Antonio Luiz Tavares ficou órfão de pai aos dois meses de vida,  quando um sujeito assassinou o seu patriarca. Depois de crescido e de compreender a causa de sua orfandade, já que o assassino  era protegido de um chefe político de Cajazeiras do Rio do Peixe, e não fora punido, Asa Branca vingou o crime, quando ainda tinha 13 anos de idade. 

Túmulo do cangaceiro Jararaca

Com medo de ser preso ou talvez morto dentro da cadeia, já que ainda não tinha maioridade, e como se defender de abusos  por policiais, o jeito foi fugir daquela região, procurando lugar para se ocultar das autoridades militares e judiciais.  

http://1.bp.blogspot.com/_LLy5HkM_Ck8/THbnmD2UvbI/AAAAAAAACtQ/3lPU-q82b7U/s400/bando+de+Lampi%C3%A3o.jpg
Bando de Lampião

Em 1922, um ano depois do seu primeiro crime, Lampião fez uma visita à propriedade em que ele estava recolhido, e lá o encontrou. Ao ver que ele gostava de armas de fogo,   logo o convidou para participar da sua saga. Não tendo outra solução, foi obrigado a aceitar o convite e entrar no bando, e nele o menino foi apelidado de Asa Branca, cujo o levou para sua cova,  deixando o nome de batismo para traz. 

O ex-cangaceiro do bando de Lampião passou cinco  anos com o grupo, praticando de todos os  assaltos que o bando fazia. Participou do assalto a Apodi, e outros e outros, e esteve no ataque a Mossoró, atirando contra a trincheira da Estrada de Ferro.

Promotor Abel Freire Coelho

Logo após a frustrada invasão a Mossoró, Asa Branca foi preso pela polícia do Ceará, e recambiado para Mossoró, quando foi condenado pelo então promotor Abel Freire Coelho, a cumprir uma pena de 10 anos.

Jornalista Tomislav Femenick
             
Segundo o jornalista Tomislav Femenick, certa vez o ex-cangaceiro foi convidado para participar de uma reunião no Rotary Clube de Mossoró, e lá se encontrou com Abel Freire Coelho, é  que lá no ambiente, acusador e acusado trocaram apertos de mãos, como se nada tivesse acontecido.  O acusado "Asa Branca", mesmo tendo passado tanto tempo por traz das grades,  não guardou ódio do seu acusador. 
            
O jornalista Tomislav Femenick disse em um dos seus artigos que  Asa Branca, era conhecido como um cangaceiro de bons modos e de trato amável. Porém, enquanto permaneceu no bando, ele vivenciou todas as peripécias que faziam parte do cotidiano dos cangaceiros: ataques, saques, sequestros, mortes, agruras e, também, fugas. 

CASAMENTOS

O ex-cangaceiro Asa Branca fez matrimônio por duas vezes. Ainda na Cadeia Pública de Mossoró casou-se pela primeira vez com dona Sebastiana Venâncio. Ela natural de Mossoró, e com ele teve três filhos, os quais são: José Luiz Tavares, Jeová Luiz Tavares e Dijanete Luiz Tavares. Mas posteriormente o casamento foi de água abaixo, quando os dois resolveram não mais conviverem juntos, e cada um procurou o seu destino.

2º. CASAMENTO
            
O segundo casamento foi realizado com dona Francisca da Silva Tavares. Natural de Brejo do Cruz, no Estado da Paraíba. Ela nasceu no dia 21 de Novembro de 1937, e é  filha de Máximo Batista de Araújo e de Dona Severina Guilermina Silva, ambos paraibanos. Mas o casamento com dona Francisca da Silva, só aconteceu  dezessete anos depois que ambos já viviam juntos.

Aniversário dos 70 anos de dona Francisca Silva Tavares

Com o ex-cangaceiro de Lampião, Dona Francisca da Silva Tavares teve nove filhos, e destes, apenas quatro estão vivos, os quais são:


Antonio Esmeraldo Tavares - O Cride
            
Nascido no dia 10 de Novembro de 1957, na cidade  de São Bento, no Estado da Paraíba. Tem como profissão, Motorista.

Francisco Tavares da Silva

Nascido no dia 14 de Abril de 1959, na cidade Caridade, no Estado do Ceará. Este foi assassinado aos 24 anos de idade, por um primo, por coisas banais.

Maria Gorete Tavares Barbosa

Nascida no dia 1º. de Junho de 1960, em Caridade, no Estado do Ceará. Esta exerce a profissão de artesã de Biscuit.

Maria da Conceição Tavares da Silva
              
Nascida no dia 25 de Fevereiro de 1963, em Caridade, no Estado do Ceará. Exerce também a profissão de artesã de Biscuit.


Máximo Neto Batista

Nascido no dia 04 de maio de 1964, em Caridade, no Estado do Ceará. Reside atualmente em São Paulo e exerce a profissão de Motorista.
Os demais filhos do casal não foram citados aqui, porque faleceram ainda criancinhas.

Como  Francisca da Silva Tavares
 conheceu o "Asa Branca"

Nos ano de 1954, dona Francisca já era casada e mãe de um filho. Mas nesse período ela contraiu uma doença, ficando por alguns meses  sem andar. Procurando recursos para se livrar da maldita doença que ora a perseguia, soube que na região havia um curandeiro, já de idade. Não foi tão difícil, pois dias depois um velho fazia as curas ao pé de sua cama. O tempo foi se passando, finalmente dona Francisca se livrou da maldita e desconhecida doença. 

Com aquele contato de reza vai, reza vem, os dois findaram  consumidos de paixões, e dona Francisca passou a desejá-lo. E no ano de 1955, resolveu abandonar  o seu marido e um filho de sete meses, fugindo com o curandeiro, cujo destino de apoio, Mossoró.

Mas veja bem leitor, quem era o curador. Antonio Luiz Tavares, o ex-cangaceiro "Asa Branca", que deve ter aprendido as milagrosas rezas com o seu ex-comandante, Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião. 

Lampião e Maria Bonita

Pelo que se ver é que dona Francisca da Silva fez o mesmo papelão que fez a rainha do cangaço, Maria Bonita, quando abandonou o sapateiro José Miguel da Silva, o Zé de Neném, para acompanhar o afamado Lampião.

José Miguel da Silva, o Zé de Neném

A única diferença entre as duas, é que Maria Bonita tornou-se cangaceira; e  Dona Francisca jamais participou de cangaço.

Mas  assim que o seu pai, o Máximo Batista tomou conhecimento que ela havia fugido com o rezador, isto é, o "Asa Branca", mandou dois dos seus funcionários procurá-la por todos os recantos de Mossoró.

Já fazia três dias da permanência do casal em Mossoró, e assim que Asa Branca soube que estava sendo procurado, resolveu fugir às pressas com a companheira para Fortaleza, capital do Ceará. Lá, desempregado, foi assistido por um médico, o doutor Lobo, que logo solucionou o seu problema, e o empregou em uma mina de ametista.

De Fortaleza, foram morar em Itapipoca, posteriormente para Caridade, e lá o casal teve quatro filhos, mas sempre trabalhando na agricultura.

Anos depois a família mudou-se para Macaíba, já no Estado do Rio Grande do Norte. Com alguns anos passados, Asa Branca resolveu retornar a Mossoró, onde aqui criou a sua família e viveu os seus últimos dias de vida.
Nos anos 70, o Dr. José Araújo, ex-dentista, e diretor de algumas escolas de Mossoró, juntamente com João Batista Cascudo Rodrigues, conseguiram um emprego na FURRN, atualmente UERN, e Asa Branca trabalhou nela até morrer.

CASAMENTO FEITO ÀS PRESSAS PARA SE EMPREGAR

Como Asa Branca necessitava se empregar, e era necessária a sua documentação para ter direito aos benefícios do INSS, e não querendo retornar a sua terra natal, Cajazeiras do Rio do Peixe, na Paraíba, foi feito um casamento às pressas. Ele resolveu ir à cidade  de Porta Alegre, no Estado do Rio Grande do Norte, e lá fez novos documentos.

De documentos em mãos, foi feito o seu casamento com dona Francisca da Silva Tavares, no dia 14 de Janeiro de 1974, no 4º. Cartório Judiciário em Mossoró, Nº. 6.256, fls. 256, do livro B-16, do Registro Civil de Casamento, assinado pelo tabelião Joca Bruno da Mota.


Foto em seu túmulo
            
Quando as pessoas o perguntavam quantos ele havia matado, ele respondia: "-Quem sabe é São Miguel, porque é ele quem pesa as almas". 

Nem a sua esposa ele revelou quantos, mas de certeza foram dois: o assassino do seu pai, e um carcereiro em Mossoró. É claro que no bando ele matou muito mais, mas jamais confirmou o total de mortos pela maldita mira do seu mosquetão.               
                       
FAMÍLIA BEM ESTRUTURADA
            
A família de Asa Branca e dona Francisca é composta de: 04 filhos, 17 netos e 28 bisnetos.

Segundo as pessoas vizinhas dos familiares do ex-cangaceiro,  o Asa Branca, as quais conversamos com elas, todas foram unânimes  e disseram que eles cresceram naquele bairro Bom Jardim, amigos de todos, honestos e trabalhadores e dignos de respeito. Nada desabona a família de Antonio Luiz Tavares, o ex- cangaceiro Asa Branca.

Observação:



Se  a  população  de  Mossoró
descobrir  que o  cangaceiro
Asa Branca era curandeiro,
com  certeza,  em  vez  de
ser só um facínora santo
em  Mossoró,  serão
 dois. Se Jararaca
 não   rezava
  nada   e   é  
milagroso,
o    "Asa
Branca"
rezava
muito.
Então tem
que ser também
santificado pela população
desta cidade que é  Mossoró.


José Mendes Pereira
Adryanna Karla Paiva Pereira Freitas

http://blogdomendesemendes.blogspot.com/

Amigos:

Faz dias que eu não consigo acessar o blog do Cariri Cangaço, Blog do Neto, Lampião Aceso (este por algumas vezes),Tok de História e outros e outros  que eu participo. O que há eu não sei. Apenas vem a mensagem: Senha e endereço inválidos.

17 anos sem Dadá

Por: Ana Lucia

A cangaceira Dadá

            Neste ano de 2011, em que as mulheres ocupam uma posição de destaque na esfera política, econômica e social, como também mulheres ativamente envolvidas na arte, na música, na cultura, nas ciências e em vários outros setores, não podemos esquecer o centenário de nascimento da Rainha do Cangaço; Maria Gomes de Oliveira; a Maria Bonita. Mulher corajosa, a frente do seu tempo, determinou a enfrentar uma vida nômade, bandoleira, tornando-se a primeira mulher a entrar no mundo do cangaço.

Neném do Ouro, Luiz Pedro e Maria Bonita
            
             A entrada da mulher no cangaço foi uma necessidade de afeto, de carinho e principalmente apoio e companheirismo diante de tantos atos criminosos praticados por seus companheiros neste sertão nordestino em que a própria sociedade como também por motivos diversos, contribuíram para que esses indivíduos se transformassem em cangaceiros ávidos por mudanças.
             Diante desse exposto e recapitulando um pouco de sua história, destacamos a figura de uma outra mulher extraordinária, valente, guerreira... e amável: Sérgia Ribeiro da Silva, a Dadá, mulher de Cristino Gomes da Silva Cleto, o Corisco.

O cangaceiro Corisco

            Dadá, a Princesa do Cangaço, também chamada por Suçuarana justamente por sua valentia, tinha habilidades tanto no bordado e na costura como no manuseio de armas que, com muita precisão no atirar, foi à única mulher no cangaço a participar de forma ativa nas lutas e combates.
             Dadá era diferente. Foi uma mulher forte, destemida, que seguiu seu companheiro quebrando também paradigmas sociais de sua época. Nascida em Belém do São Francisco, Pernambuco, casou-se oficialmente com Corisco tendo com ele sete filhos, dos quais apenas três sobreviveram. Sobre sua convivência com as outras mulheres e os cangaceiros dentro do bando, ela afirmou em depoimento ao médico Estácio de Lima:

“[...] Era uma convivência maravilhosa, 
todo mundo tinha seu marido, uma amor danado, 
uma costurava, outra ajeitava um vestidinho, uma coisa. 
Uma vida bacana. Com Lampião, ali,
ninguém dava um nome, ninguém se enxeria com coisa
nenhuma. Agora, se ela saísse linha, o chumbo comia,
matavam, como aconteceu com Cristina de Português e Lidia.
Os cangaceiros eram muitos amorosos, tinham tanto carinho, 
eram capazes até de se esquecer das armas.”
           
          Em 1938 o cangaço se extinguiu com a morte de Lampião e de forma definitiva em 1940 com a morte de Corisco, que teimava em continuar para vingar a morte dos seus companheiros.
            Nesse relato, Dadá nos revela que, mesmo possuindo características marcantes como crueldade e hostilidade, por exemplo, os cangaceiros ao mesmo tempo mostravam-se capazes de demonstrar atos de doçura e amor por suas mulheres. Dadá lembra-se ainda que “quando não tinha tiro, tinha alegria, era tudo bom”.

Lampião

            Entretanto, cabe aqui ressaltar a bravura de Dadá, esta mulher que após uma vida cheia de sofrimentos, alegrias, amor e lutas, morreu pobre na periferia de Salvador em Fevereiro de 1994 aos 78 anos, portanto, são exatos dezessete anos que Dadá não está mais entre nós. Aposentou-se como costureira, casando-se pela segunda vez com um pintor de paredes e uma vida dedicada a família com simplicidade e humildade acima de tudo e por tudo que ela significou para a história, foi uma guerreira notável e admirada por todos que a conheciam. Dadá ainda foi homenageada por sua luta e representatividade feminina em Salvador por sua personalidade forte e grandiosa como mulher, mãe e pessoa dotada de espírito solidário.


             Homenagem justa, mas não podemos esquecer a importância desta figura feminina para a história social do Brasil que, no século XX, naquela época, eram tratadas para serem submissas aos maridos, sem valor, sem direitos e muito menos eram proibidas de subverterem contra qualquer injustiça tendo que se comportar de acordo com os padrões que regiam as convenções sociais, mas em pleno sertão rural nordestino, determinadas mulheres corajosas como Dadá, por exemplo, teve o denodo de enfrentar situações diversas e adversas por amor, cumplicidade e companheirismo participando ativamente do cangaço enquanto movimento popular, tornando-se um símbolo feminino contra a resistência política e social vigente. 
              São dezessete anos sem a nossa querida Dadá. Querida sim, pelos seus feitos, pela pessoa humana que foi, pela sua história de amor e dedicação que sobrepujou diante de todos por suas qualidades.

Ana Lucia Granja de Souza
Historiadora e pesquisadora

 Adendo Lampião Aceso


             Sérgia da Silva Chagas, a Dadá Morreu de câncer intestinal, dia sete de fevereiro de 1994, na capital baiana, precisamente no bairro de Mussurunga, sobrevivendo com uma pensão deixada pelo seu segundo marido. 
             Viveu 12 anos de aventuras e perigos no bando de Lampião. Raptada por Corisco, aos 13 anos, na cidade baiana de Glória, Dadá acabou se apaixonando pelo "diabo louro". Em pouco tempo ela se transformou juntamente com Maria Bonita, a mulher de Lampião, numa das líderes do bando e, entre suas tarefas, no dia-a-dia do cangaço, era a costureira do grupo. 

 Deixou 3 filhos e 32 netos.

O corpo é sepultado no cemitério Jardim da Saudade.
  
Fonte: Jornal A Tarde, BA


Foto de Maria do Carmo: Pag. 283 do livro "O mundo estranho dos cangaceiros" de Estácio de Lima.

Número da época