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segunda-feira, 25 de abril de 2016

O BRAVO TENENTE LUIZ MARIANO E O SEU SEPULTAMENTO!


De origem pernambucana, foi um aguerrido policial na caça a LAMPIÃO e seu bando. Inicialmente, perseguiu-o no seu torrão natal, após, junto como o nazareno e lendário Tenente MANÉ NETO, se embrenhou nas caatingas baianas e Raso da Catarina, onde teve dezenas de combates, tendo saído ferido em alguns, inclusive, tendo que se submeter a tratamento na cidade de Salvador, em face da periculosidade dos ferimentos sofridos.


Morreu, talvez de causas naturais (não sei bem ao certo), e, foi enterrado na cidade de São José de Belmonte, no Estado de Pernambuco.

Acima, veja-se foto dele em plena campanha contra o cangaceirismo, bem como, o LOCAL em que jazem os seus restos mortais.

Fonte: facebook
Página: Voltaseca Volta
 Grupo: Voltaseca Volta 
Link: https://www.facebook.com/groups/lampiaocangacoenordeste/?fref=ts

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CRUELDADES VARREM O SERTÃO


Não dá para enumerar as atrocidades cometidas por Lampião. Sob o escudo da vingança, ele tornou-se um “expert” em “sangrar” pessoas, enfiando-lhes longos punhais corpo adentro entre a clavícula e o pescoço. E consentiu que marcassem rostos de mulheres com ferro quente. Arrancou olhos, cortou orelhas e línguas. Castrou um homem dizendo que ele precisava engordar.


Não há nada que justifique práticas assim. Mas muitos pesquisadores tentam explicá-las. “Lampião é um produto do seu meio”, arrisca Paulo Medeiros Gastão, presidente da Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço, com sede em Mossoró (RN). “Ele foi levado por fatores ligados à vida no sertão, como ignorância, secas, ausência de governo e de Justiça”, diz Gastão. Mas argumentos assim, alegados por muitos estudiosos, não são suficientes para entender Lampião. É o que garante o historiador americano Billy Jaynes Chandler, especialista do assunto: “Sua história, com todas as suas excentricidades, é toda dele”.

O ambiente em que o bandido cresceu, porém, tem seu peso. De acordo com Vera Lúcia F. C. Rocha, da Universidade Estadual do Ceará, “o código de honra do sertão não culpabiliza os homens que matam por vingança, mas enaltece sua coragem”. Vera, que acaba de lançar o livro Cangaço: Um Certo Modo de Ver, lembra que aquela sociedade repete para os meninos: “Seja homem”. Será que era a essa expectativa que Virgulino Ferreira tentava atender?

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OS TRÊS PILARES DA MÚSICA NORDESTINA

Por Maciel Gonzaga*

O Filme “Luiz Gonzaga: De Pai para Filho” fez renascer na elite da mídia nacional o gosto pelo nosso forró, música criada por Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro. Particularmente, eu gosto de afirmar nas conversas com amigos sobre o tema, que o nosso forró tem uma espécie de “Santíssima Trindade”: Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro e João do Vale, os três pilares da Música Popular Nordestina.

Jackson do Pandeiro e Luiz Gnzaga

Durante parte da minha vida morando em Campina Grande, tive oportunidade de me aprofundar no gosto pela Música Popular Nordestina. Trabalhando em rádio e “empresariando” cantores musicais eu me aproximei ainda mais com a música e com suas estrelas. Pude conviver muito próximo com Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro. Fiz do forró a minha música predileta e passei a integrar um grupo de pessoas da cidade “Rainha da Borborema” que se auto intitulava “Os Forrozeiros” e radicalmente defendia esse gênero musical. Não tenho modéstia em dizer que participei ativamente, trabalhando na administração do prefeito Ronaldo Cunha Lima, da criação do “Maior São João do Mundo” nos meados da década de 80.

Uma foto com Luiz Gonzaga e um grupo de jornalistas em Campina Grande, no início da década de 80... Na foto estão pela ordem: Hermano José, Olga Barros - LUIZ GONZAGA - Graziela Emerenciano, Josildo Albuquerque, o publicitário Fernando Vasconcelos, e Maciel Gonzaga de Luna (eu como empresário de Luiz Gonzaga na região de Campina Grande). Foi um almoço com a imprensa no restaurante Manuel da Carne de Sol.

Sou um fã incondicional de Luiz Gonzaga. Mas, acho que a melhor definição sobre o “Velho Lua”, quem deu foi o mestre Câmara Cascudo: “Ele próprio, Gonzaga, é a fonte, cabeceira e nascente de suas criações. O sertão é ele, a paisagem pernambucana, águas, matas, caminhos, silêncio, gente viva e morta. Tempos idos nas povoações sentimentais, voltam a viver, cantar e sofrer, quando ele põe os dedos nos teclados de sua sanfona. Luiz Gonzaga é a colaboração sem preço de uma informação viva, pessoal e humana”. Para mim, falar de Luiz Gonzaga é também lembrar dos grandes mitos nordestinos: Padre Cícero, Antônio Conselheiro, Lampião, Leandro Gomes de Barros, Frei Damião, Luiz da Câmara Cascudo, etc.

Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro - capa-bode.blogspot.com

A minha simpatia por Jackson do Pandeiro vem dos tempos – início da década de 60 – das apresentações do boneco “Terezão”, na Festa do Rosário, em Pombal. Ainda hoje não me sai da lembrança as músicas “Baile da Gabriela” (o verdadeiro nome é “Na Base da Chinela”) e “Como Tem Zé na Paraíba”. O meu pai José Firmino de Luna – o “Alegria”, da Brasil Oiticica - era um fã incondicional de Jackson do Pandeiro e de Zito Borborema. Tudo por conta da sua estreita ligação com Campina Grande onde havia residido antes de ir morar em Pombal. Contava ele que viu muitas vezes Jackson do Pandeiro cantando nos forrós do bairro de José Pinheiro. Faço minhas as palavras do mestre Rolando Boldrin: “Se Luiz Gonzaga era uma espécie de Pelé na música, então Jackson do Pandeiro só pode ser comparado a Mané Garrincha”. Jackson deu uma grande colaboração para popularizar o forró.

Jackson do Pandeiro e Luiz Gonzaga - www.forroemvinil.com

Destarte, que a primeira música gravada com o nome forró foi “Forró do Mané Vito” (Luiz Gonzaga e Zé Dantas), em 1949: “Seu delegado / Sem encrenca eu não brigo / Se ninguém bulir comigo / Num sou homem pra brigar / Mas nessa festa / Seu dotô, perdi a carma / Tive que pegá nas arma / Pois num gosto de apanhar”. Posteriormente, vieram: “Forró em Limoeiro”, Forró em Caruaru”, “Forró em Campina” ... Todas narram uma confusão no baile. A valentia, assim como a sensualidade, sempre esteve no ambiente da festa.

João Batista do Vale - João do Vale nordestino da cidade de Pedreiras-MA

O servente de pedreiro João Batista do Vale, simplesmente João do Vale, um nordestino da cidade de Pedreiras-MA, se projetou musicalmente no Rio de Janeiro e se tornou conhecido pelas suas poesias, composições que foram musicadas e cantadas por muitos artistas e que lançou a divina Maria Betânia para os palcos da vida, no Show Opinião, em 1964, com a música “Carcará”. Neto de escravos, aos 8 anos João do Vale já fazia versos e era o “amo” do Bumba-meu-Boi. Muitas composições suas ficaram conhecidas como sendo do intérprete, o que no Brasil é muito comum, como foi o caso de “Peba na Pimenta” e “Pisa na Fulo”, com Ivon Cury e, posteriormente, Marinês; “O Canto da Ema”, com Jackson do Pandeiro; “Coroné Antônio Bento”, com Tim Maia; “Uricurí”, com Nara Leão; e “Carcará” com Maria Betânia.

Luiz Gonzaga e seus músicos - blogs.artinfo.com

Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro representam o que há de mais importante na Música Nordestina. Gonzaga tinha um traço mais rural, enquanto Jackson representava o Nordeste urbano. Já João do Vale conseguia fazer a alquimia que misturava o samba ao baião. Assim os três são os grandes pilares da Música Popular Nordestina!

*Jornalista, Advogado e Professor – Natal RN.


Enviado pelo professor, escritor, pesquisado do cangaço e gonzagueano José Romero de Araújo Cardoso.

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BENJAMIN ABRAÃO RESPONSÁVEL PELAS FOTOS DE lAMPIÃO


A maior parte das fotos de cangaceiros incluindo Lampião e Maria Bonita foi feita por Benjamin Abrahão Botto sírio/libanês migrou para o Brasil em 1915, fugindo da guerra.  

Aqui no Brasil tornou-se mascate de tecidos e miudezas, e posteriormente passou a ser secretário do Padre Cícero Romão Batista.

Em uma das viagens feitas por Virgulino Ferreira da Silva ao Ceará/Juazeiro do Norte, na finalidade de falar com o Padre Cícero Romão Batista, Benjamim Abraão conheceu o assecla em 1926. 

Depois da morte de Padre Cícero, Abrahão teve permissão para acompanhar o bando na caatinga e realizar as imagens que o imortalizaram. Para esta realização de fotos teve a parceria do cearense Ademar Bezerra de Albuquerque, que era proprietário da ABAFILM, que, além de emprestar os equipamentos, ensinou o fotógrafo seu uso.

Benjamin Abrahão teve o desprazer de ver os seus trabalhos apreendidos pela ditadura de Getúlio Vargas, que nele viu um opositor ao regime. 

Benjamin Abrão morreu em 1938 esfaqueado com um total de quarenta e duas facadas), crime nunca esclarecido. Acredita-se que tenha sido um crime político, possivelmente a mando de poderosos políticos.

Abaixo, o texto do próprio Lampião, valorizando a autenticidade das fotos feitas pelo Abrahão Botto (A grafia é original).

Illmo Sr. Benjamim Abrahão

Saudações

Venho lhi afirmar que foi a primeira peçoa que conceguiu filmar eu com todos os meus peçoal cangaceiros, filmando assim todos us muvimento da noça vida nas catingas dus sertões nordestinos.

Outra peçoa não conciguiu nem conciguirá nem mesmo eu consintirei mais.

Sem mais do amigo

Capm Virgulino Ferreira da Silva

Vulgo Capm Lampião

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CANUDOS: DUAS VEZES MORTO, DUAS RESSUSCITADO

Material do acervo do pesquisador Raul Meneleu

   A obra de Travessa no Alto Alegre: conjuntos de igreja, museu, salão, cruz e estátua do Conselheiro

Cigarro não ofende? Não, não ofende, e então Manuel Alves mais conhecido por "Manuel Travessa" de 57 anos mas aparentando mais, pele morena e estorricada de sertanejo, chapéu de couro, dentes ruins, acende o cigarrinho que é seu companheiro inseparável. Estamos no carro que conduz o autor desta reportagem e o fotógrafo de VEJA do lugar chamado Bendegó, dentro do município de Canudos, à beira da estrada, antes de chegar à cidade propriamente dita, ao lugar chamado Alto Alegre, uma elevação à margem do lago no fundo do qual se encontram as ruínas da antiga Canudos. 

Quem foi Antônio Conselheiro para Manuel Travessa? — No meu pensamento, ele era igualmente que um crente, hoje. Há 100 anos, não existia crente. Eu sempre penso que pode ter existido um ciúme da Igreja Católica pelo Antônio Conselheiro. Euclides da Cunha escreveu em Os Sertões que a cidade de Queimadas, para onde as tropas iam de trem, desde Salvador, antes de enfrentar os caminhos poeirentos do sertão, assinalava uma fronteira: "Salta-se do trem: transpõem-se poucas centenas de metros entre casas deprimidas: e topa-se para logo, à fímbria da praça — o sertão" Está-se no ponto de encontro de duas sociedades alheias uma à outra segundo Euclides, "O vaqueiro encourado emerge da caatinga, rompe entre a casaria desgraciosa e estaca o campeão junto aos trilhos, em que passam vertiginosamente os patrícios do litoral, que o não conhecem." Entre um e outro há uma "discordância absoluta", segundo o autor, o que acaba por desequilibrar "o ritmo de nosso desenvolvimento evolutivo" e "perturba deploravelmente a unidade nacional". Os soldados vindos de outras partes do país, chega a escrever Euclides, tinham a sensação de seguir para uma guerra externa. "Sentiam-se fora do Brasil." Há exagero nisso, certamente. Já havia exagero há 100  anos,  e haverá ainda mais hoje, em considerar o sertão um mundo à parte do resto do Brasil. Mas, por mais que hoje em dia se esteja familiarizado com a região, por mais romance regionalista que se tenha lido, filme do cinema novo que se tenha visto, por mais música e novela de TV que se tenha digerido, o forasteiro será tomado pela sensação de um mundo meio encantado, a começar pela língua que ali se pratica. Dá vontade de reproduzir, tal e qual, a fala de Manuel Travessa. — Ele não foi um destruidor (o Conselheiro). Não foi que nem Lampião. Ninguém diz que ele matou alguém. 

Vista do arraial primitivo

Era igual que Assembleia de Deus, Deus é Amor. Essas cresceram e agora está difícil acabar com essa... essa como se diz... essa religião. Manuel Travessa não é um qualquer. Pode ser qualificado como um empresário do sertão. Um empresário quase miserável, que vive numa casa que Antonio Ermírio de Moraes não imagina possa preencher as necessidades de um ser humano, come um tipo de comida que Abílio Diniz não comeu nem quando foi sequestrado e veste uma roupa que Moreira Ferreira estranharia muito num companheiro da Fiesp, mas um empresário — um farejador de oportunidades, campeão da iniciativa. Ele já tinha um bar naquele lugar chamado Bendegó e agora que o asfalto está chegando à região, antevendo uma ampliação do mercado, abriu outro.

Mais significativas são suas realizações no Alto Alegre um lugar batizado por ele próprio ao chegar à região em 1971, depois das muitas perambulações pelo sertão, a partir de sua Monte Santo natal. Só havia três casas no local, e a elas ele acrescentou a sua. Começou a notar então que frequentemente aparecia gente interessada em Canudos, querendo informações e em busca de vestígios da guerra. Para tentar satisfazer essa demanda, Manuel Travessa iniciou, em 1975 uma coleção de relíquias — espingardas, balas, capacetes de soldado. Objetos que achava pelas redondezas ou comprava dos vizinhos. Hoje essa coleção está reunida numa casinha que construiu para abrigá-la, composta de um só cômodo, de não mais que 2 por 2 metros, a que, de maneira sem dúvida pretensiosa, chama de "museu". Ao lado de uma tralha que realmente tem a ver com a guerra, o museu de Travessa exibe máquinas de costura velhas e até um buda de porcelana.

Ao lado do museu, Manuel Travessa levantou uma capela e ao lado da capela, um salão de dança. Assim, pode-se rezar pelo Conselheiro no local ou alternativamente, convocar um forró. O conjunto de museu-igreja-salão completa-se com uma escultura do Conselheiro em madeira e um canhão também em madeira, além de duas cruzes, para compor o que poderia ser chamado de praça monumental do Alto Alegre, se monumental fosse, ou mesmo se praça fosse — na verdade é um conjunto de toscas construções erigidas na terra dura de um descampado. De qualquer forma é o que se tem. Quem vai ao povoado que hoje ostenta o nome de Canudos não encontrará recordação do Conselheiro. O Alto Alegre, a 10 quilômetros de distância, por iniciativa do empresário sertanejo Manuel Travessa, preenche essa lacuna. 

Contam-se três Canudos, ao longo da História. A primeira, do Conselheiro, depois de arrasada, ficou no seguinte estado de acordo com o depoimento de um ex-conselheirista, Manuel Ciríaco, ao jornalista Odorico Tavares, em 1947, quando a guerra completava cinquenta anos: "Era de fazer medo. A podridão fedia a léguas de distância, os bichos a gente via correndo pelos cadáveres e urubus fazia nuvem. Tudo abandonado, ninguém ficou enterrado. Foi quando Ângelo dos Reis, por sua própria caridade, trouxe uns homens e enterrou ali mesmo a jagunçada morta Todas essas colinas que o senhor vê estão cheias de ossos de jagunços. Acabou-se Canudos, e durante uns dez anos, só se vinha aqui de passagem". O Ângelo dos Reis citado era um fazendeiro da região. Dez anos decorridos, durante os quais o simples nome de Canudos fazia medo na região — era sinônimo de atrocidade, perseguição, constrangimento —. o local começou a se repovoar.

Alguns eram antigos habitantes que voltavam. Nascia uma segunda Canudos, sobre os escombros da primeira. Na década de 50 foi projetado um açude que represando as águas do Rio Vaza-Barris, acabaria por inundar o povoado. Será que a represa precisaria ser justamente ali, fazendo submergir um lugar histórico como aquele? A pergunta foi feita pelo escritor Paulo Dantas, em 1958, ao engenheiro que chefiava as obras. José Femandes Peixoto. "Isso é conversa de poetas" respondeu o engenheiro. "O que esta região precisa é de água. A tradição é muito bonita, mas não mata a sede nem a fome de ninguém".

Em 1969, depois de sucessivos atrasos, a represa finalmente inundou Canudos. A população a essa altura já tinha sido transferida para o povoado chamado Cocorobó — mesmo nome do açude —, mais tarde rebatizado de Canudos. Esta é a Canudos atual, a terceira. Em junho último, foi inaugurado o Parque Estadual de Canudos. Estendendo-se ao sul do açude, compreende uma área de 18 km quadrados, em que se encontram sítios familiares a quem conhece a história da guerra: o Alto do Mário, o ponto mais elevado, de onde hoje se descortinam o açude e as montanhas ao redor, a Fazenda Velha — ruínas de uma antiga sede de fazenda na qual os conselheristas fixaram um posto avançado que resistiu até os dias finais; o Morro da Favela. Próximo ao Alto do Mário, situa-se uma grande vala comum, possivelmente vizinha do hospital de campanha dos militares, onde eram enterrados os soldados. É o chamado "Vale da Morte".

O Parque foi uma ideia do professor Renato Ferraz um dos mais ativos lutadores pela memória de Canudos — pesquisador, organizador de seminários e eventos sobre o assunto. Ferraz sabe tudo o que é possível saber de Canudos. Só falta escrever um livro a respeito, algo que promete vagamente para o futuro. 

A parte visível do Parque Estadual de Canudos que é administrado pelo Centro de Estudos Euclides da Cunha, da Universidade Estadual da Bahia, consiste, por enquanto, num portal de entrada e em placas de localização dos sítios históricos. No decreto de sua criação pelo governo do Estado, estatue-se que deverão funcionar no local "museu, laboratório de arqueologia, estação experimental de meteorologia, escolas experimentais e outras instituições".

Um trabalho de exploração arqueológica está em curso, a cargo do arqueólogo paulista Paulo Zanatini. Trata-se de uma arqueologia histórica basicamente — procuram-se trincheiras, barricadas, armas ou restos de armas, balas, objetos de uso cotidiano dos soldados ou sertanejos, ossadas, sepulcros. Uma das últimas descobertas de Zanatini foi que as ruínas até agora consideradas da Fazenda Velha são de uma casa mais recente, do início do século. A Fazenda Velha verdadeira, da época da guerra está soterrada embaixo dessas ruínas.

No Alto Alegre uma trinca de garotos de 11 ou 12 anos cerca-nos e se dispõe a levar-nos a um passeio de bote pelo lago. Um dos meninos, Gilmar, conta que o "painho" uma vez achou uma canela no chão. Ou seja, um osso da perna, ou o que ele supôs fosse um osso da perna. Não se pode ficar com esses achados, explica Gilmar. O pai então deu para um alemão. Um alemão? Não, ele não sabe direito se era alemão. Mas sabe que era uma pessoa que "não fala igual que a gente não". 

No bote, passeando pelo lago percebem-se quase à superfície, encobertos somente por um palmo de água, as guarnições laterais de uma antiga ponte. Essa ponte fazia parte da estrada que cortava a segunda Canudos. Há também uma ruína que aponta para fora do lago. Trata-se da parte superior do portal de um cemitério, também da segunda Canudos. Da Canudos do Conselheiro, a única construção que sobrou de pé, ao fim da guara, foi um cruzeiro que se erguia à frente da igreja velha. Às vésperas da inundação da área, o cruzeiro, de madeira, foi transportado para o povoado de Cocorobó, para onde estava sendo transferida a população. Ficou o pedestal de cimento em que ele se incrustava. No ano passado. o nível do açude baixou sensivelmente, e o pedestal, ou o que resta dele. emergiu das águas. Um pouco do Conselheiro voltava à tona. Ferraz, aquele que sabe tudo de Canudos e teve a ideia de instituir o parque, serviu de guia ao peruano Mario Vargas Llosa em 1979, quando este realizava as pesquisas para seu romance sobre a Guerra de Canudos, A Guerra do Fim do Mundo.

Um dia, Vargas Llosa e Renato Ferraz fizeram uma escala na cidade sergipana de Simão Dias. No hotel onde se hospedaram, rústico como todos na região, foram recebidos por um funcionário homossexual — sim, há disso também no sertão. Logo depois, invade o quarto uma senhora que sem dúvida guiada pelas informações do funcionário, queria conhecer o atraente estrangeiro. Ela se ouriça: "Argentino! argentino!", exclamava, como uma fã de galã de televisão. Era a dona do hotel, dona Raimunda. Quando se preparavam para partir da cidade dona Raimunda pediu uma carona até Lagarto. Atenderam-lhe ao pedido, e ela viajou no banco de trás. Quando chegaram a Lagarto dona Raimunda foi saindo devagar do carro, esgueirando-se, no difícil movimento de deixar o banco de trás de um Fusca... e então deu o bote. Numa manobra fulminante, prendeu-se ao pescoço de Vargas Llosa e sapegou-lhe um beijo na boca. 

Manoel Travessa entre as peças de seu museu; um homem de iniciativa

Manuel Travessa diz que ouviu uma vez do avô que Canudos seria destruída três vezes. — A primeira vez pelo fogo, a segunda pela água e a terceira pelo pó. Pelo fogo foi a guerra. Pela água, a represa. Só falta pelo pó. Esse avô de Travessa era o materno, de nome Mundu, um criador de cabras. Ele explica que a mãe teve treze filhos antes dele. Depois, "me conseguiu". E o pai? Do pai, Manuel Travessa não sabe: "Sou filho de mulher particular". Manuel Travessa subiu na vida e hoje, além de empresário, é político — elegeu-se vereador, em Canudos.

Como seria essa terceira destruição da cidade de que falava seu avó?

— O que espero é que a barragem estoure e essa lama se torre no pó. Aí ninguém vai escapar desse pó. Isso é o que eu penso.  

Fonte: Revista Veja de 3 de setembro de 1997
Reportagem Roberto Pompeu de Toledo

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As cangaceiras - A ILUSÃO DO CANGAÇO

Por Raul Meneleu

No rastro de Maria Bonita, dezenas de mulheres mudaram de vida ao integrar os famosos bandos do sertão - Ana Paula Saraiva de Freitas, historiadora e autora da dissertação “A presença feminina no cangaço: práticas e representações (1930-1940)”, (Unesp, 2005), nos traz essas considerações sobre o assunto na Revista de História de 1/6/2015. Embora os motivos fossem variados, a maioria daquelas que aderiram ao cangaço carregava a ilusão de que viveria em festa e teria liberdade, sensação alimentada pela vida nômade e errante daqueles homens.  Maria Bonita (Maria Gomes de Oliveira), famosa companheira de Lampião, foi a primeira figura feminina a ingressar no cangaço, em meados de 1930. A partir daí, mais de 30 mulheres participaram da vida nos bandos. A Bahia foi o estado que forneceu maior número de moças ao banditismo do sertão nordestino, seguida por Sergipe, Alagoas e Pernambuco. 

 Vale a pena ler.

ILUSTRAÇÃO JOÃO TEÓFILO

Ilustração João Teófilo

Criminosas. Quando se fala da participação das mulheres no cangaço, geralmente elas são reduzidas a esta palavra. Uma imagem que perde de vista os medos, os desejos e as frustrações que rondaram as cangaceiras nas décadas de 1930 e 1940, e que ignora as razões que as levaram para essa vida. Enquanto algumas ingressaram nos bandos voluntariamente, outras foram coagidas e privadas do convívio com seus familiares.

Embora os motivos fossem variados, a maioria daquelas que aderiram ao cangaço carregava a ilusão de que viveria em festa e teria liberdade, sensação alimentada pela vida nômade e errante daqueles homens. A realidade revelou um cotidiano bem mais complicado: além dos embates violentos contra forças policiais, muitas vezes os cangaceiros ficavam mal alimentados, sem água nem lugar para repousar, caminhando quilômetros sob sol e chuva. 

A faixa etária das cangaceiras variava de 14 a 26 anos, e suas origens socioeconômicas eram diversas, incluindo mulheres de famílias abastadas. Elas viam no cangaço uma oportunidade para romper com os padrões sociais: naquele grupo poderiam conquistar outros espaços além da esfera privada do lar e tinham a oportunidade de escolher seus parceiros sem a interferência dos acordos familiares. 

Uma vez integradas aos bandos, as jovens tinham que se adaptar à nova vida, sem chance para arrependimento: tentar fugir implicava retaliações tanto por parte de cangaceiros quanto por parte das volantes, como eram chamados os grupos de policiais que perseguiam os “bandidos do sertão”. Nesse espaço permeado pela violência, eram submetidas aos desejos sexuais de seu raptor, sem contato com a família, sentenciadas à morte em caso de adultério e envolvidas nos confrontos com forças policiais. Capturadas pelas volantes, apanhavam, eram estupradas e sofriam diversas humilhações. 

No cangaço os papéis sociais eram bem definidos: ao homem cabia zelar pela segurança e o sustento dos bandos. À mulher, ser esposa e companheira. Durante a gestação, muitas ficavam escondidas. Depois do nascimento do bebê, eram obrigadas a retornar ao cangaço e entregar a criança a amigos. 

A convivência entre elas não era totalmente pacífica. Testemunhos dão conta de que uma queria ser melhor do que a outra. O status da cangaceira era medido pelos bens que possuía: joias, vestidos, animais. As qualidades bélicas também estabeleciam diferenças entre elas. Sérgia Ribeiro da Silva, conhecida como Dadá, tornou-se emblemática por sua coragem e desempenho com armas nos embates com as volantes. Chegou a assumir o comando do grupo no momento em que o líder Corisco se encontrava ferido. Mas o prestígio feminino acabava sempre associado ao lugar ocupado pelo companheiro na hierarquia dos grupos.

Maria Bonita (Maria Gomes de Oliveira), famosa companheira de Lampião, foi a primeira figura feminina a ingressar no cangaço, em meados de 1930. A partir daí, mais de 30 mulheres participaram da vida nos bandos. A Bahia foi o estado que forneceu maior número de moças ao banditismo do sertão nordestino, seguida por Sergipe, Alagoas e Pernambuco. 

As andanças dos cangaceiros repercutiam na imprensa, e a presença feminina era mencionada de forma genérica e depreciativa. Nos jornais O Estado de São Paulo e Correio de Manhã, aquelas mulheres eram chamadas de bandoleiras, megeras e amantes. Eram estereotipadas como masculinizadas, belicosas e criminosas, além de serem tratadas como objetos de satisfação sexual. 

A imagem apresentada pelos jornais, porém, difere daquelas que o fotógrafo sírio-libanês Benjamin Abrahão Boto produziu na década de 1930. Suas fotografias mostram como as cangaceiras pretendiam ser lembradas: realçam sua feminilidade, evidenciam cuidados com o corpo, a aparência e a postura, destacam a beleza dos trajes e o apreço por joias. Algumas se faziam retratar com jornais e revistas da época, sinalizando o desejo de serem identificadas como mulheres letradas. Essas preocupações ficam explícitas nas fotos em que algumas – como Maria Bonita – reproduziram a postura e o gestual das mulheres da elite rural e urbana, como se estivessem posando em estúdios consagrados. 

A maioria dos folhetos de cordel reforça esse aspecto da participação feminina no cangaço. Os versos destacam a preocupação das cangaceiras com a beleza, o amor e a cumplicidade dedicados às relações afetivas, além da coragem nos embates. Nesse tipo de literatura o perfil feminino é recriado a partir de uma perspectiva mítica, envolvendo um misto de heroína e de bandida.

As práticas e as representações das mulheres naquele universo da caatinga foram variadas, e elas não tinham um perfil único. Quando o cangaço chegou ao fim, cada uma teve de reconstruir sua vida conforme os parâmetros sociais vigentes. Do cotidiano duro e arriscado das andanças pelo sertão, as ex-cangaceiras largaram as armas e a fama de criminosas para encarar outros papéis: mães, donas de casa e, em alguns casos, trabalhadoras fora do âmbito doméstico. 

Ana Paula Saraiva de Freitas 1/6/2015  - Ana Paula Saraiva de Freitas é historiadora e autora da dissertação “A presença feminina no cangaço: práticas e representações (1930-1940)”, (Unesp, 2005).

Saiba Mais
ARAÚJO, Antonio A. C. de. Lampião, as Mulheres e o Cangaço. São Paulo: Traço, 1985. 
BARROS, Luitgarde O. C. A derradeira gesta: Lampião e Nazarenos guerreando no Sertão. Rio de Janeiro: Faperj/Mauad, 2000.
QUEIROZ, Maria Isaura P. de. História do Cangaço. 2. ed. São Paulo: Global, 1986.
MELLO, Frederico P. de. Guerreiros do Sol. Violência e banditismo no Nordeste do Brasil. São Paulo: A Girafa Editora, 2004.

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CÁPSULA CAPITÃES DO FIM DO MUNDO

Por André Carneiro




Enviado pelo escritor André Carneiro Albuquerque

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BENJAMIM ABRAÃO EM 1935 e/ou 1936

Foto: Cortesia cel. Audálio Tenório/ Dr. Frederico Pernambucano.

Corria o ano de 1935 e/ou 1936. Benjamin Abrahão munido de uma câmara fotográfica, sai à procura de LAMPIÃO e seu bando para filmá-lo. Nessa época, ele já estava na cidade de Águas Belas-PE, tendo pego carona em um caminhão. Em 1936, finalmente, conseguiu filmá-lo, além de bater várias chapas fotográficas do chefe cangaceiro e de seu grupo.



Fonte: facebook
Página: Voltaseca Volta
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O SALVO CONDUTO DADO POR LAMPIÃO...!

Fonte: Foto Joaquim Rezende (Melchíades da Rocha)

Aos amigos, coiteiros e coronéis, LAMPIÃO se valia de bilhetes, tipo "SALVO CONDUTO ", a fim de possibilitar a garantia/ inviolabilidade dos mesmos perante qualquer grupo de cangaceiro que infestavam as caatingas em muitos Estados do Nordeste...

Assim, aconteceu com o Coronel. JOAQUIM REZENDE, da cidade de Pão de Açúcar-Alagoas.

Abaixo, documento T R A N S C R I T O:

"Ao exmo. JOAQUIM REZENDIS COMO PROVA DE AMIZADI E GARANTIA PERANTE OS CANGACERO."

C ( capitão). LAMPIÃO

Fonte: facebook
Página: Voltaseca Volta

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