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terça-feira, 22 de novembro de 2016

JULGAMENTO DO BANDOLEIRO ZÉ DO TELHADO


O julgamento de Zé do Telhado iniciou-se em 25 de Abril de 1859, com acusação pública em 9 de Dezembro do mesmo ano. Foi condenado na pena de trabalhos públicos por toda a vida, na costa ocidental de África e no pagamento das custas. Esta pena foi mantida pelo Tribunal da Relação do Porto, cujo acórdão de sentença substituiu a expressão "costa ocidental de África", por "Ultramar".

Por acórdão da mesma instância, foi comutada a pena aplicada na de 15 anos de degredo para a África Ocidental, que contou desde a data de publicação do Decreto de 28 de Setembro de 1863.

A condenação deu como provados os seguintes crimes: tentativa de roubo, na forma tentada, em casa de António Patrício Lopes Monteiro, em Santa Marinha do Zêzere, comarca de Baião, homicídio na pessoa de João de Carvalho, criado de Ana Victória de Abreu e Vasconcelos, de Penha Longa, Baião, roubo na casa de referida senhora (Casa de Carrapatelo) de objectos de ouro e prata no valor de oitocentos mil e um conto de reis e algumas sacas com dinheiro, cujo valor a queixosa calculou em doze contos de reis, ainda que revelasse desconhecer os montantes visto que o dinheiro se encontrava na casa mortuária onde jazera, poucos dias antes, seu pai, e, após isso, ela ainda nem sequer lá voltara a entrar, roubo em casa do Padre Padre Albino José Teixeira, de Unhão, comarca de Felgueira, no valor de um conto e quatrocentos mil reis em dinheiro e ainda objectos de prata e outro, outro homicídio na pessoa de um correligionário, ferido num confronto com as autoridades.

Para além de outros crimes de roubo e de resistência à autoridade, foi também condenado como autor e chefe de associação de malfeitores e de tentativa de evasão do reino sem passaporte, com violação dos regulamentos policiais.

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A BÍBLIA SANGRANDO E SOFRENDO

*Rangel Alves da Costa

A Bíblia se desconfigura, até mesmo sangra e sofre, pela leitura e não obediência a seus preceitos, lições e ensinamentos. Entremeada de regras que norteiam e delimitam a ação humana na vida terrena, pontua ainda as consequências para quem violar seus preceitos. Mas qual sua leitura perante o mundo moderno?

O progresso do homem, a partir da construção de um mundo muito mais humano do que cristão, fez com que muitos de seus princípios perdessem os valores éticos, morais e de conduta segundo os norteamentos sagrados, até mesmo pela impossibilidade de plena subordinação às suas leis. Com efeito, muito há na Bíblia que se distancia e confronta a realidade.

Há, contudo, leis gerais que ainda prevalecem e que servem de base para muitas codificações modernas: não matar e não furtar, sob pena de incriminação penal. Contudo, outras, tais como não cometer adultério, guardar o dia de sábado, não adorar outros deuses, honrar pai e mãe e não esculpir e adorar imagens sagradas, já não são fielmente seguidas pela sociedade moderna.

A própria igreja católica possui altares com imagens de santos e da própria santidade maior. Desde os tempos mais antigos que povos elegem outros deuses nos seus cultos, e muitos seguem unicamente tais divindades. O dia de sábado não é guardado pela sua utilização como útil ao trabalho, ainda que em meio expediente. Poucos são os filhos que continuam honrando pai e mãe, vez que se arvoram de donos de seus destinos e negam sua linhagem familiar. Com relação ao adultério, a própria Bíblia se contradiz na sua observância e o mundo moderno logo cuidou de ter como normalidade tal prática insidiosa. A tipificação penal sobre adultério, pela ineficácia de aplicabilidade, acabou sendo revogada no Brasil.

A Bíblia não menciona expressamente os chamados pecados capitais, que foram disseminados no seio da própria Igreja: orgulho, avareza, inveja, ira, luxúria, gula e preguiça. Mas em Provérbios consta que são consideradas como abomináveis: olhos altivos, língua mentirosa, mãos que derramam o sangue inocente, coração que maquina planos malvados, pés que correm para a maldade, testemunha falsa que profere mentiras e o que semeia discórdia entre os irmãos.


Os sete pecados disseminados pela Igreja são, na maioria, próprios do ser humano que, em maior ou menor prática, os dissemina nas suas atitudes cotidianas. A mentira e o falso testemunho são tão corriqueiros que dificilmente se obtém alguma prova verdadeira através da palavra, vez que esta sempre tendenciosa, como, aliás, sempre ocorre com a maioria dos seres humanos. E o que mais se observa são corações maldosos, invejosos e que vivem em busca de contentamento pelo mal do próximo.

Mas a Bíblia contém verdadeiros exageros aos olhos modernos. Com efeito, alguns preceitos soam como impraticáveis, inobserváveis, impossíveis de serem considerados como algo que realmente possa ser acolhido. Assim manda oferecer a outra face para ser igualmente atingida, desfazer-se dos bens para ajudar o próximo, silenciar perante as injúrias e abominações, perdoar todo mal e toda pessoa maldosa, dentre outros aspectos. Muito disso é justificado como simbólico pela Igreja, afirmando que a leitura mais aprofundada leva a outro conhecimento das exigências. Mas assim está escrito e é pela escrita que se conhece.

Ademais, determinados costumes citados na Bíblia, e muitos destes tidos como prova de fé e de comunhão, são tidos como absurdos no mundo moderno. Há uma passagem onde o pai, pela fé, só não matou o filho porque um anjo impediu. Há cordeiros e outros animais constantemente sendo imolados perante os altares, e para o agrado de Deus. Em muitas passagens, o sangue jorra em nome dos sacrifícios. Assim, perante a lei moderna, muito do contido na Bíblia se consubstanciaria como ação criminosa. 

A verdade é que, forçosamente, muito do livro sagrado foi revogado em nome dos novos costumes e das novas exigências de convívio. Será preciso, pois, depurar seus ensinamentos e acolhê-los segundo a crença e a fé arraigadas em cada pessoa. É esta que faz sua própria lei, moral e de conduta, ajustando-a ao que a Bíblia ensina e diz.

Por outro lado, é o afastamento dos princípios bíblicos que conduz ao desregramento humano. A violência, a barbárie, a verdadeira insanidade, não é fruto somente do afastamento do homem da palavra de Deus. E por isso mesmo a Bíblia sangra e chora toda vez que sua palavra é negligenciada em nome do livre-arbítrio humano. Nem com rédeas o homem conduz sua liberdade, muito menos com o seu senso de arrogância e poderio.

Escritor
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ANÁLIA FERREIRA DA SILVA IRMÃ DE LAMPIÃO, E AMÁLIA GOMES DE OLIVEIRA IRMÃ DE MARIA BONITA

Por José Mendes Pereira

Algumas pessoas estudiosas do cangaço (coloco-me no meio destas, que antes eu me confundia) confundem Anália Ferreira da Silva irmã de Virgolino Ferreira da Silva com Amália Gomes de Oliveira, que era irmã de Maria Gomes de Oliveira a Maria Bonita, do capitão Lampião. 

Anália Ferreira irmã de Lampião.

Na foto lá em acima, Anália Ferreira da Silva é a número 11, e está ladeada pelo número 10, que é Antônio Ferreira da Silva seu irmão, e o número 12, que é Joaninha sua cunhada, casada com João Ferreira da Silva, também aparece na literatura do cangaço sendo João Ferreira dos Santos. 

Amália Ferreira da Silva, irmã de Maria Bonita.

Amália Gomes de Oliveira é irmã de Maria Gomes de Oliveira a Maria Bonita, e segundo alguns escritores, afirmam que ela era casada com um irmão do sapateiro José Miguel da Silva o Zé de Neném, o primeiro esposo de Maria Bonita, e que o seu casamento durou até o falecimento do esposo. Lamento não ter esta fonte no momento, mas não estou criando esta informação.  

Clique no link abaixo para conhecer mais um pouco sobre Anália Ferreira- http://josemendespereirapotiguar.blogspot.com.br/2015/11/estes-foram-g-mails-enviados-para-mim.html

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100 ANOS DE CABO GÉRSON PIONÓRIO: UM COMBATENTE DO CANGAÇO - NOTÍCIAS DE JORNAIS

Do acervo do João de Sousa Lima

100 ANOS DE CABO GÉRSON PIONÓRIO: UM COMBATENTE DO CANGAÇO - NOTÍCIAS DE JORNAIS

http://joaodesousalima.blogspot.com.br/2016/11/100-anos-de-cabo-gerson-pionorio-um.html

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FOGO DA SERRA GRANDE – 90 ANOS DE UMA CHAMA QUE CONTINUA ACESA NOS SERTÕES.

Por Anildomá Willans de Souza

No dia 26 de novembro de 1926 o Grupo de Lampião impôs uma verdadeira derrota a Policia Militar de Pernambuco, quando mediram forças no confronto sangrento, em plena caatinga. 90 anos após o chamado FOGO DA SERRA GRANDE, ainda ecoa os estampidos das armas  na Literatura de Cordel, nos versos dos violeiros.


FOGO DA SERRA GRANDE – O bando de Lampião já percorrera palmo a palmo os sertões de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará, contudo não se afastava por muito tempo de sua terra natal, Villa Bella.

Estava Lampião arranchado na fazenda Carrapicho, quando foi informado de toda movimentação da polícia, que indicava tratar-se de uma grande ação contígua que iriam perpetrar, seguramente, contra ele. Era a oportunidade aguardada para acabar com seus inimigos de uma única tacada, inclusive fazer seu grande espetáculo em técnicas de guerrilha, humilhando todo poderio bélico das forças do governo.

Para ter certeza que atrairia a polícia, Lampião sequestrou dois representantes comerciais que desciam a serra de Triunfo num Ford 1924, em direção a Villa Bella: um da Companhia Souza Cruz e o outro da Stand Oil. Liberou o primeiro, José Benício de Souza, para ir a cidade buscar o resgate do segundo, Pedro Paulo Magalhães Dias, porém conhecido nos locais que trabalhava, por Mineiro Dias, por ser de origem do estado de Minas Gerais, e seu sotaque que chamava a atenção de todos.

Lampião agora tinha um trunfo atrativo que chamaria a polícia para o terreno que achasse melhor: um representante de uma empresa importante, nada mais precioso neste momento. Em marcha avançada, três filas indiana, distante quinze braças uma da outra, a do centro ia Lampião e Mineiro Dias, na vanguarda da tropa, da direção da fazenda Varzinha. Ao chegarem à localidade Poço Redondo prenderam Silvino Liberalino e na mesma pisada, já dentro de Varzinha, foi preso José Toinho, na condição de mostrar onde ficava a residência de José Esperidião, o inspetor da localidade. Este, por ter se envolvido em uma surra numa pessoa em Floresta, havia se mudado para Varzinha. Ele já vivia prevenido, por saber que um filho do dito da surra, jurava-o e havia entrado no grupo de Lampião, com o intuito de pegá-lo.



O inspetor e mais dois civis, um deles chamado Tiburtino Estevão, protegidos no parapeito da sua casa, abriram fogo contra os cangaceiros que se aproximavam do seu terreiro, estes reagindo rapidamente sem serem atingidos, dominaram a situação e mataram o inspetor e um dos acompanhantes. Tiburtino escapuliu pelos fundos da casa, embrenhando-se na caatinga, enquanto os cangaceiros incendiavam as casas e os paióis de algodão das vítimas. Deixando para trás o céu escuro de fumaça, seguiu para Sítio dos Nunes, depois voltaram pra Tamboril e Sítio Morada, onde proveram com água as cabaças e cantis, numa bodega compraram bolachas e rapadura, cortaram o caminho em diagonal, adentraram na Serra Grande e chegaram a fazenda Barreira, onde passaram a noite fazendo recapitulação de tudo que haviam combinado.

Assim que os cangaceiros se retiraram de Varzinha, os moradores foram procurar o corpo do inspetor José Esperidião e do seu filho, que tinha apenas sete anos de idade, chamado José Pereira de Lima, nos escombros que restou de sua residência. Para a surpresa de todos, o menino estava vivo e não encontraram orifícios de balas no corpo do seu pai, concluindo que ele morreu asfixiado pela intensa fumaça.

O coronel Cornélio Soares estava terminando de cear quando recebeu o mensageiro avisando do rapto do agente da Stand Oil e da exigência de Lampião em pagarem vinte contos de resgate para terem o refém vivo.
Villa Bella estava um motim. Poucas pessoas nas ruas, só a movimentação da polícia, que parecia estar pronta para entrar em guerra contra o restante do mundo.  Os bares e as bodegas não abriram e quase nenhuma família quis ficar sentada nas calçadas ouvindo ou contando os fuxicos de vizinhança.


A estas alturas outras volantes foram comunicadas e se juntaram para, agora ou nunca, dar cabo ao Comandante das Caatingas. Manoel Neto estava com sua volante no meio da caatinga procurando alguma vereda de cangaceiros, próximo a Vila São Francisco, quando foi alcançado por um vaqueiro levando um recado do Major Teófanes ordenando que voltasse urgente pra Villa Bella. Tava dando meio dia quando aponta dentro da cidade Manoel Neto e sua Força, onde encontrou a praça e a calçada da Igreja formigando de soldados, e dentro da sala de chefia, em frente a Intendência,  os comandantes mais afamados do sertão: Sólon Jardim, que tinha, inclusive, duas metralhadoras, Domingos Gomes de Souza, conhecido por Domingos Cururu, os tenentes Arlindo Rocha e Higino Belarmino (Nego Gino), José Olinda de Siqueira Ramos, o Anspeçada Euclídes de Souza Ferraz, totalizando aproximadamente quatrocentos soldados e civis cedidos por fazendeiros.

Os comandantes ficaram até altas horas da madrugada bolando os detalhes do plano que mataria Lampião e seus sequazes. Quando foram tirar algum cochilo os galos estavam miudando.

O coronel Cornélio Soares, o juiz de direito e o padre ainda conseguiram juntar cinco contos de réis e mandaram o vaqueiro Manoel Macário levar o dinheiro para Lampião. Mas Manoel Neto interceptou o mesmo e disse que no lugar do resgate em espécie, deveria ir a polícia, que pra isso estavam prontos. O Major Teófanes Torres – Comandante do Policiamento – concordou, dando as resoluções – “o governador acredita que cada um da gente cumpra a sua obrigação livrando a sociedade desses bandidos, não temos o que temer, nosso contingente é volumoso e imbatível, vamos honrar as fardas que vestimos”.

Para Lampião, morderam a isca!

Ainda estava escuro quando duas filas indianas formada por quatrocentos homens deixavam a cidade. Quando o dia vinha amanhecendo tinham marchado mais de duas léguas.

Força Pública – Boletím Oficial: “Villa Bella, 26 de novembro de 1926. (grafia original) Communico v. exc. Que sahiu hontem desta cidade sem meu conhecimento importancia cinco contos para ser entregue bandido Lampeão, certamente convencionado em troca liberdade caixeiro viajante da empreza Standart Oil C°. Ao chegar portador á tardinha Iogar Varzinha, distante seis léguas desta cidade, foi ahi aprisionado pelo Cabo Manoel Netto que ia com uma força na trilha do grupo já quase em contacto com o mesmo. O referido cabo prosseguiu encalço scelerados, conduzindo alludida importância afim de não interromper marcha. Consulto como devo proceder sobre alludidos cinco contos. Saudações. Major Theophanes Tôrres.”


A força do governo comemorava o massacre iminente. Quando a volante soube que Lampião já estava dentro da Serra Grande, resolveram se reunir todos os comandantes e comandados, num gigantesco lajedo a uns dois quilômetros de Varzinha. Era a hora do tudo ou nada.

Lampião, como grande estrategista, sabia do tamanho do perigo, que tinha poucos homens, apenas sessenta. Comparando com a batelada numérica dos inimigos, era um suicídio enfrentar. Só que ele conhecia cada pedra daqueles serrotes e montes, sabia de cada árvore existente naquele bocado de terra, tinha ciência de tudo sobre o sertão.  Além do mais, era o tão esperado momento de acertar contas com todos aqueles comandantes de volantes, juntos, de uma só vez.


Nego Gino queria antes de tudo fazer um reconhecimento da área para depois atacar desalojando o inimigo.

Os Nazarenos queriam investir cegamente para dentro da serra, dizendo que homem briga de peito a peito.

Conforme comentou o pesquisador Luís Lorena, a polícia era volumosa e estava bem municiada, mas não tinha comando. Se reuniam, planejavam, mas na prática, cada um queria ser independente. Ninguém se entendia. Arremessaram-se nessa expedição numa bagunça absoluta. E logo para cima de Lampião, que estava planejando meticulosamente pra desforrar todos eles.  O resultado era esperado.

Em meio a tanta confusão marcharam para cima. Alguém ainda chegou a sugerir almoçarem primeiro. Arlindo Rocha respondeu com a cara fechada:

“- Hoje vamos almoçar bala!”

O rastejador Anjo Cabôco vasculhava cada centímetro do chão, procurando algum rastro, um trisquinha de nada que pudesse indicar o caminho. Qualquer sinal invisível aos olhos das pessoas comuns, ele enxergava: por onde uma lagartixa ou um calango atravessava, um pássaro que voa, um inseto que se mexa.


A regra geral é que cangaceiro não deixa rastro. E nesse caso, Lampião, precisava ser seguido, mas um indício qualquer também passaria a impressão de querer atrair a polícia para uma emboscada. Todo rastejador de cangaceiro sabia distinguir um rastro verdadeiro de um falso. O Rei do Cangaço conhecia essa potencialidade de Anjo e isso era bom, fazia parte da trama.

Em dado momento, quando todos os soldados estavam tensos, vendo de um instante para o outro começar o tiroteio, o rastejador, ciscando, farejando a mínima pista que não encontra, agachado, depara um seixo fora do lugar.

Ficou pálido.

Lampião não deixaria uma marca de passagem dessas, a não ser como se anunciasse um “xeque-mate!”
E era isso mesmo!

Anjo Cabôco levantou-se com a pedrinha na mão, olhou pra o soldado Raimundo Barbosa Nogueira (este era cunhado de Zé Saturnino), que estava ao seu lado, sentenciou:

“-Tô morto!”

Nesse momento Lampião estava com o joelho direito escorado numa pedra, de modo ajoelhado, benzeu-se, beijou a medalha de Nossa Senhora das Dores, e disparou o primeiro tiro, que matou o famoso rastejador. Os próximos disparos foram fatias:

Arlindo Rocha levou um tiro no maxilar para justificar o “almoçar bala”. Escapou por pouco. Depois foi submetido a tratamentos, recebeu uma série de intervenções cirúrgicas para consertar os ossos com fios metálicos. Ficou conhecido como “Queixo de Prata”.

Manoel Neto levou três tiros nas pernas e ficou fora de combate. Luiz Careta, de Triunfo, recebeu uma bala na cabeça. O soldado Luiz José recebeu ferimento na coxa, mas rolou para detrás duma pedra e ali ficou durante todo o fogo.


Vicente Grande, ou seu nome verdadeiro, Vicente Ferreira, foi atingindo no umbigo, ficando sua barriga estraçalhada, despejando as vísceras para fora do corpo. Euclides Flor, que estava ao seu lado, recolocou com as mãos todas para dentro, amarrou com sua farda o abdome do companheiro e, acreditem, este sobreviveu, falecendo muito tempo depois, contando essa história e mostrando as cicatrizes.


Os cangaceiros cantavam, aboiavam, imitavam animais, xingavam. Inclusive diziam pilherias com a mãe e a esposa do Nego Gino, ao ponto que Lampião repreendeu, dizendo:

“- Pessoal, vamos brigar sem botar a mãe de Nego Gino no meio!”

Genésio Aboiador, cangaceiro e poeta, vez por outra soltava uns aboios melancólicos que deixavam os soldados com mais medo ainda, pois era como se eles fossem uma boiada indo para o curral para serem abatidos.

Um rapaz da redondeza durante todo o tiroteio carregava água de uma fonte e abastecia as cabaças dos cangaceiros que estavam em combate.

Os cangaceiros estavam divididos em quatro grupos: um, comandado pelo próprio Lampião, ocupando o lado esquerdo da garganta da serra; o segundo, sob o comando de Luiz Pedro, no lado direito; o terceiro, chefiado por Corisco, fechando a frente da linha de fogo; e o quarto, era móvel, chefiado por Antônio Ferreira, que circulava pela retaguarda de todos e deveria completar o cerco. Mas não conseguiu por causa das metralhadoras e os que ficaram na retaguarda atrasaram a marcha, ficando, portanto, como um corredor de fuga e retirada dos feridos da volante.

Nos contou seu Benedito, filho do cangaceiro Zabelê, que estava no fogo da Serra Grande, que por muitas vezes ouviu seu pai contar que via tanto soldado morrer, muitos correndo e pulando feito macacos, sem conseguir atirar, apenas procurando um meio de se proteger  dos tiros que vinham de todos os lados.

A pipoqueira era escutada de longe. Toda população da região estava com suas expectativas voltadas pra Serra Grande.

Era três horas da tarde quando começou a chegar em Villa Bella – distante sete léguas do local do tiroteio –  alguns soldados correndo  da briga. Foi aí que juiz de direito, o coronel Cornélio Soares e o major Teófanes foram  no fordeco do inspetor da Stand Oil para o local do confronto, seguido por outros três automóveis cedidos por comerciantes – representantes comerciais e caixeiros viajantes –   levando alguns soldados e um caminhão carregando mais armas e munição, mas ficaram assistindo tudo de longe, da fazenda Tamboril, distante nove quilômetros de Varzinha, por que a partir dali não havia estradas para se transitar em  carro, era veredas pra se andar a pé.

Ao final da tarde foi cessando o fogo, os tiros ficando esparsos e a maioria da soldadesca se retirando desordenadamente, sem a preocupação em recolher suas armas e equipamento que soltavam no decorrer da luta, os feridos se arrastando sozinho ou com ajuda de colegas, os rugidos das armas se distanciando até silenciar por completo. Restou um quadro aterrorizante com muitos soldados mortos.

A noite havia chegado quando voltaram para sepultar os mortos em duas valas, uma no lajedo grande onde estava o comando da operação e outra próxima a Varzinha, no Rancho de Pedro Rodrigues. Os feridos foram atendidos na casa do comando da polícia e na sede da prefeitura.
Os cangaceiros foram para uma fazenda no outro lado da serra onde já haviam matado dois bois para festa, preparado por Afonso do São João do Barro Vermelho.

Foi Xaxado a noite toda.

De manhã cedo, libertou o prisioneiro e orientou que fosse até Betânia e procurasse o coronel José Miguel que este o levaria a Rio Branco, para de lá seguir viagem pra Recife.

Aquele 26 de novembro foi um dia fatídico e desmoralizante para a polícia pernambucana.

Nos dois e três dias depois deste combate ainda apareceram soldados em trapos, correndo assustados com a bagaceira que viveram, chegando em Triunfo, em Vila Bella, Custódia, Afogados da Ingazeira, Lagoa de Baixo (Sertânia), Rio Branco (Arcoverde) e Floresta.

O combate que começara às oito horas e quarenta e cinco minutos cessou às dezesseis horas e quarenta e cinco minutos, resultando na morte de 26 soldados e 38 saíram feridos.  Vários civis contratados também foram mortos ou feridos.  Do lado dos cangaceiros não houve baixa, nem ferido.

Essa foi a maior e mais violenta peleja acontecida na longa e sangrenta história do cangaço, uma aula de técnica de guerrilha ministrada por Virgolino para deixar qualquer estrategista militar de quartel com queixo caído. Tomaram parte na batalha os seguintes cangaceiros: Luiz Pedro, Maquinista, Jurema, Bom Devera, Zabelê, Colchete, Vinte e Dois, Lua Branca, Relâmpago, Pinga Fogo, Sabiá, Bentevi, Chumbinho, Ás de Ouro, Candeeiro, e seu irmão Vareda, Barra Nova, Serra do Mar, Rio Preto, Moreno, Euclides, Pai Velho, Mergulhão, Coqueiro, Quixadá, Cajueiro, Cocada, Beija-Flor e seu irmão Cacheado, Jatobá, Pinhão, Mormaço, Ezequiel e seu irmão Sabino, Jararaca, Gato, Ventania, Romeiro, Tenente, Manuel Velho, Serra Nova, Marreca, Pássaro Preto, Cícero Nogueira, Três Coco, Gaza, Emiliano, Acuana, Frutuoso, Felão, Biu, Cordão de Ouro, Genésio, Ferreirinha, Antônio Ferreira, Lampião e outros.

O Capitão Virgolino Ferreira, Lampião, premiou-se por esta vitória, autodenominando-se de Governador do Sertão e mandou uma carta para Júlio de Melo, que havia assumido interinamente o governo de Pernambuco. O portador foi o próprio Mineiro Dias. Segue o teor da carta:


“Senhor Governador de Pernambuco

Suas Saudações com os seus:


Faço-lhe esta devido a uma proposta que desejo fazer ao senhor para evitar guerra no sertão e acabar de vez com as brigas… se o senhor estiver de acordo devemos dividir os nossos territórios. Eu que sou o Capitão Virgolino Ferreira (Lampião), Governador do Sertão, fico governando esta zona de cá, por inteiro, até as pontas dos trilhos em Rio Branco. E o senhor, do seu lado, governa do Rio Branco até a pancada da água do mar. Isso mesmo, fica cada um no que é seu. Pois então é o que convém. Assim ficamos os dois em paz, nem o senhor manda os seus macacos me emboscar, nem eu com os meninos atravessamos a extrema, cada um governando o que é seu sem haver questões. Faço esta por amor a paz que eu tenho e para que não diga que sou bandido, que não mereço.

Aguardo sua resposta e confio sempre.
Capitão Virgolino Ferreira (Lampião)
Governador do Sertão.”

Força Pública – Boletim Geral  n° 260, dia 29 de novembro – Serviço para 30. Telegrama (grafia original): “Villa Bella, 28. Levo vosso conhecimento Forças Sargento Arlindo Rocha, Cabos Domingos Gomes e Manoel Netto, sob o commando Tenente Hygino pelas 9 horas dia 26 tiveram encontro grupo bandido Lampião na Serra Grande distante duas léguas Tamboril. Grupo occupava garganta Serra perto sua chã e todos os cabeços e cimos. Ali feriu-se combate que findou 17 e ½ horas aquelle dia visto reducto representar fortaleza inespugnavel não tendo dita Serra outra subida que não fosse pelo outro lado com arrodeios 6 léguas pelas caatingas. Tivemos 10 mortos e 14 feridos inclusive Sargentos José Olinda, Arlindo Rocha e Cabo Manoel Netto afora soldados extraviados. Força luctou com verdadeiro heroísmo sem querer recuar diante inqualificável abysmo impossível ser transposto até que teve sua munição quase totalmente esgotada. Bandidos dispondo olho d’agua em cima da Serra todas as posições em quanto nossos soldados apanhavam água com quase duas léguas durante todo dia combate. Amanhã darei o resultado completo nome mortos, feridos, extraviados. Saudações. Major Theophanes Tôrres. Commandante Geral Forças Interior.”


Do livro LAMPIÃO E O SERTÃO DO PAJEÚ, de Anildomá Willans de Souza, com lançamento previsto para 2017.

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ACHADO EM ARQUIVO, PROCESSO CONTRA LAMPIÃO PODE VIRAR PEÇA DE MUSEU

Por Andrea Tavares Do G1 RN
Prontuário lista nomes dos 55 cangaceiros do bando (Foto: Andrea Tavares/G1)

Datado de 1940, prontuário lista nomes de 55 integrantes do bando. Peça inspirou à polícia técnica do RN a idealizar museu sobre o órgão.

Em meio a arquivos centenários do que hoje é o Instituto Técnico de Perícia do Rio Grande do Norte (ITEP), se esconde a história da polícia técnica do Estado. Em uma sala prestes a ser desativada, foi encontrado um prontuário datado de 29 de abril de 1940, cujo primeiro nome chama atenção: Virgolino Ferreira, vulgo ‘Lampião’. Agora, o chefe de gabinete do ITEP, Tiago Tadeu, quer que o documento se transforme em peça de museu. “Vai ajudar a contar não apenas a história forense em nosso Estado, mas do próprio instituto”, ressaltou.

Saiba mais

"Foram fotos antigas que começaram a despertar curiosidade aqui", conta Tadeu. Antigas fotos do prédio, câmeras que registraram locais de crimes, fichas de identificação, máquinas de datilografia também farão parte do acervo do museu, que ainda não tem data de inauguração nem local definido. O objetivo, no entanto, é claro: "preservar a história da instituição e possibilitar a divulgação do importante acervo documental que foi produzido ao longo deste período, como o documento que cita o mais famoso cangaceiro da história", explica o diretor geral do órgão, o perito Marcos Guimarães Brandão.

Foto antiga revela momento de Lampião e seu bando (Foto: Reprodução/TV Sergipe)

Lampião no RN

A passagem do 'rei do cangaço' pelo Rio Grande do Norte foi meteórica, tanto na rapidez quanto na devastação. "Ele passou 96 horas no estado, e por onde passou só deixou desgraça", conta o coronel da PM aposentado Ângelo Dantas, que também é pesquisador. A história já é conhecida: em 1927, Lampião e seu bando foram rechaçados pelos habitantes de Mossoró, cidade da região Oeste potiguar, que, liderados pelo então prefeito Rodolfo Fernandes, defenderam a cidade. Após a passagem dos cangaceiros, segundo o pesquisador Rostand Medeiros, foram abertos três processos contra Lampião e seu bando. "São de onde o bando deixou rastros. Em Martins, Pau dos Ferros e Mossoró", destaca.

Documento achado no arquivo do Itep, em Natal, é uma lauda escrita à fina caligrafia onde constam os nomes dos 55 criminosos mais temidos do sertão nordestino. Ao final, a informação de que os homens citados são enquadrados nos artigos 294 (Matar alguém) (Foto: Andrea Tavares/G1)

O documento achado no arquivo do ITEP, em Natal, é uma lauda escrita à fina caligrafia onde constam os nomes dos 55 criminosos mais temidos do sertão nordestino. Ao final, a informação de que os homens citados são enquadrados nos artigos 294 (Matar alguém) e 356 (Subtrahir, para si ou para outrem, cousa alheia móvel, fazendo violência á pessoa ou empregando força contra a cousa", como consta no Código Penal dos Estados Unidos do Brasil de 1890).

“Pouco se sabe sobre esse documento, mas tem ligação com o processo da comarca de Pau dos Ferros. O fato de estar em Natal pode ser apenas para deixar registrados os nomes e deixar alguma informação sobre o bando", explica o coronel Ângelo. Lampião foi morto em 1938, e o documento exibe a data de feitio em 1940, reforçando a ideia de que é uma ata dos processos contra o bando.

No Itep, o trabalho de apuração e restauração do material começou com o resgate de peças que estão em salas que serão desativadas em breve. Feito isso, seguem as etapas de higienização, reparo de documentos e classificação. Tiago Tadeu explica que as atividades também irão contemplar a digitalização de todo o acervo do instituto.

Tiago Tadeu, chefe de gabinete do Itep (Foto: Andrea Tavares/G1)

"Aqui se faz ciência. Aqui se faz história", ressalta Tadeu sobre o instituto. Em 2016, o Itep comemorou 41 anos, mas sua história é mais antiga. Aqui no Rio Grande do Norte existem registros de laudos confeccionados já nos séculos XVIII e XIX. Mas esses exames eram sempre realizados por peritos e não existia órgão específico para tal. Somente em agosto de 1909, através de Decreto, foi que o governador, à época, criou dois cargos de médico, sendo: um de médico do Batalhão de Segurança (denominação da Polícia Militar) e o outro de médico da polícia. Este último recebeu as atribuições de médico legista. Mas como a carência desse tipo de profissional era muito grande, o mesmo médico foi nomeado para os dois cargos. Trata-se do Dr. Antônio Emereciano China, verdadeiramente, o primeiro médico legista, devidamente nomeado e empossado no cargo, de que se tem notícia aqui no RN. Em 1910, foi criado um órgão denominado Enfermaria de Urgência, cuja finalidade era funcionar em caráter ininterrupto para atender às requisições das autoridades policiais como exames de corpo de delito e perícias. E em 30 de abril de 1975 o órgão passou a ser o Instituto de Medicina Legal e Criminalística.

Coronel Ângelo Dantas - (Foto: Fernanda Zauli/G1)

Segundo o chefe de gabinete do ITEP, o trabalho de se criar um museu está sendo idealizado para contribuir com o fortalecimento de uma responsabilidade social. “Nesse projeto de resgate da memória técnica do instituto, pretendemos apresentar um acervo que contemple a devida importância do órgão no estado", explica. Já para o coronel Ângelo Dantas, a ideia do museu é promessa de sucesso. "Eu só tenho a aplaudir. Ele está no caminho certo, cultura é produtiva", comemora.

Morte de Lampião

Faz 78 anos que Lampião e seu bando foram mortos. Eles acamparam na fazenda Angicos, no Sertão de Sergipe, no dia 27 de julho de 1938. A área era considerada por Virgulino como de extrema segurança, longe das vistas das forças policiais. Mas, na manhã do dia seguinte, os cangaceiros foram vítimas de uma emboscada, organizada por soldados do estado vizinho, Alagoas, sob a batuta do tenente João Bezerra. De acordo com pesquisadores, o combate durou somente 10 minutos.

Prontuário lista nomes dos 55 cangaceiros do bando (Foto: Andrea Tavares/G1)

http://g1.globo.com/rn/rio-grande-do-norte/noticia/2016/11/itep-do-rn-acha-processo-contra-lampiao-peca-de-museu-diz-diretor.html

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PADRE CÍCERO E FREI DAMIÃO: DUAS PESSOAS EM UMA SÓ

Por Junior Almeida

Pio Giannotti nasceu em Bolzano na Itália em 5 de novembro de 1898 se ordenado como religioso em 25 de agosto de 1923, adotando o nome de Frei Damião. No início da década de 1930 veio para o Nordeste do Brasil, onde passou a ser conhecido acrescentando no nome seu lugar de origem. Por essas terras seu nome era “Frei Damião de Bolzano”. Sua primeira celebração foi na localidade Riacho do Mel, município de Gravatá em Pernambuco. O frade da ordem dos capuchinhos viria a fazer história no Brasil, principalmente no Nordeste, onde sempre pregou para multidões, nas chamadas santas missões.

*Fotos do Google.

Atualmente (2016) o frei tem seu nome em processo de beatificação pelo Vaticano para ser declarado santo da Igreja Católica. Frei Damião que já tinha seu nome venerado quando ainda era vivo, e mesmo antes da declaração oficial da Igreja já é hoje considerado um santo pelos seus fiéis. O frade só não mais venerado do que outro religioso, esse legitimamente nordestino, o cearense Padre Cícero Romão Batista, nascido na cidade do Crato em 24 de março de 1844 e falecido em 20 de julho de 1934 na cidade de Juazeiro, lugar que ele fez nascer de alguns casebres de palha e que atualmente é a segunda mais importante do Ceará.

Mesmo com essa distância em seus nascimentos e mais de meio século de diferença de datas, tem gente que jura que os dois são a mesma pessoa ou que Frei Damião por ser mais novo, é a reencarnação de Padre Cícero, mesmo essa tese batendo de frente com a doutrina católica, que não reconhece preceitos da fé espírita. Não é difícil de encontrar em alguns lares nordestinos folhinhas de calendários com as imagens dos dois religiosos postas lado a lado ou calendários com a imagem do Coração de Jesus ou Coração de Maria ao centro, com os dois ao lado.

Um dos casos que se conta para que essa suposta tese ganhe força é que o “Patriarca do Juazeiro” deu a um de seus fies ajudantes um livro para que esse guardasse e só entregasse a ele próprio, a nenhum outro portador. Segundo o relato passado de geração para geração, e de conhecimento dos romeiros da “Meca Nordestina”, é que o dito homem guardou a encomenda e nem de longe pensou em desobedecer ao padrinho. O tempo passou e Padre Cícero faleceu em julho de 1934, sem que tivesse ido antes apanhar o livro na casa do homem que lhe confiou à posse. Muito zeloso o sujeito guardou aquela relíquia, que lhe fora confiada, segundo acreditava, por um santo vivo.

Algum tempo depois o homem que guardava o livro, ouviu um bater de palmas em sua porta. Foi atender e se surpreendeu ao ver que quem chamava era Frei Damião. Lisonjeado com a ilustre visita, imediatamente o dono da casa pediu benção ao frade e o convidou para entrar em sua humilde casa. Frei Damião entrou e sentou-se. Depois de pedir um copo d’água disse a que veio. Tinha vindo apanhar a encomenda que tinha deixado.

- Que encomenda, o que se referia o sacerdote, se essa seria a primeira vez que viera ao seu “rancho”? Pensava o confuso homem.
- O livro que deixei aos seus cuidados tempos atrás. Teria dito Frei Damião.

Mais confuso ainda o homem foi buscar o livro, que estava cuidadosamente guardado no fundo de um baú em seu quarto e entregou ao frade capuchinho, que afirmou ser aquele mesmo o livro que entregara aos cuidados do romeiro. Esse fato, segundo as histórias e lendas de Juazeiro, seria uma das “provas” que Padre Cícero e Frei Damião são a mesma pessoa, ou que o segundo é a reencarnação do primeiro.

https://www.facebook.com/groups/lampiaocangacoenordeste/?ref=ts&fref=ts

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TRIBUTO A JOSÉ DE SOUSA DANTAS (Baseado no livro “A História do Meu Lugar”) Ou: A Saga Altiva dos Dantas

por: (R) RUBENIO MARCELO
Era manhã, chão molhado, 
Era 21 o dia; 
Era domingo, e nascia 
Um vate predestinado; 
Menestrel equilibrado 
E de qualidades tantas!... 
Quisera ter mil gargantas 
Pra reforçar meu louvor 
A esse jogral-doutor, 
O JOSÉ DE SOUSA DANTAS!
No ano 54, 
No décimo primeiro mês, 
Nascia, com altivez, 
Este nobre literato; 
No São João, sítio pacato, 
Na casinha esverdeada, 
Numa encosta situada 
Bem de frente pro nascente. 
Ali, com a sua gente, 
Principiou a jornada...
Crescido lá no São João, 
Município de Pombal, 
Depois foi pra capital, 
Com fé e dedicação; 
Cumprir a sua missão, 
Estudar Engenharia. 
Fez tudo com primazia 
E jamais ele esqueceu 
Do dom que Jesus lhe deu: 
A Popular Poesia!
Num Livro espetacular 
De mil plectros diversos, 
Em belos contos e versos, 
Zé Dantas pôde contar 
História do Seu Lugar, 
Sua gente nordestina, 
Sua casa na colina, 
Seu torrão, sua querência, 
Sua ilustre descendência 
E sua essência-agrestina.
Falou do Sítio São João, 
Da sua mãe, do seu pai; 
Falou da chuva que cai 
Alegrando a região; 
Cantou Pombal – seu torrão, 
A sua lida e o engenho; 
Cantou também, com empenho, 
O casarão da família; 
(Traçou tão bem a mobília 
Que vislumbrei o desenho).
As festanças de São João 
No sertanejo reduto, 
O casamento matuto, 
Xote, xaxado e baião; 
O dia da eleição, 
Conforme Lucy contou: 
Chico Pereira falou 
Pra Severino Mascena, 
Mas este não era ARENA... 
Tudo, Dantas relatou...
Lembrou a casa rural 
Lá da Rua João Carneiro 
(Do seu avô conselheiro 
Da cidade de Pombal), 
Por traz da Matriz central 
Singela, qual um dossel... 
A morada de Joel 
Que exibe, qual um buquê,
As letras S.M.D., 
Marca indelével fiel.
No seu estro-relicário, 
José Dantas faz menções 
Aos negros dos Espontões 
Da Procissão do Rosário; 
Traça todo calendário 
Do sertão paraibano; 
Relembra o cotidiano, 
Ilustra tudo e atesta 
Que O Rosário é a festa 
De mais gente todo ano.
José Dantas concatena 
No Pombal todo seu ninho; 
Manoel Braz e Raimundinho 
E também Chico Mascena; 
Traz ainda para a cena 
Severino com Maria, 
A Rita, a Hilda e a Luzia, 
Zé Mascena e Valdecy; 
O Alcindo e a Lucy, 
Todos, Dantas agracia.
Zé Dantas, com maestria, 
Ensina para a galera; 
E em versos enumera 
Os tipos de Cantoria: 
O Coqueiro da Bahia, 
Quadra, sextilha e mourão; 
O Dez de Adivinhação 
E Martelo Alagoano; 
O Rojão Pernambucano, 
O galope e o quadrão.
Em tino peculiar 
E grã legitimação, 
Mostra a classificação 
Da poiesis popular; 
Ensina como louvar 
Ou tecer a narrativa, 
A mista e a descritiva, 
A picante e a satírica, 
A trava-língua e a lírica 
E inda a contemplativa.
O Dantas tem mente altiva, 
Por isto que nunca erra, 
Lembra os talentos da terra 
Em produção afetiva: 
Traz o Severino Silva, 
Leandro e o bardo Ugolino; 
Traz Moacir Laurentino 
E Severino de Sousa; 
Destaca cousa por cousa 
Desse Parnaso divino...
Inácio da Catingueira 
E Belarmino de França; 
De todos, com liderança, 
Dantas desfralda Bandeira. 
Traz o Cazuza Ferreira, 
Relembra seu repertório... 
Realça o Silvestre Honório, 
Chico Leandro e Geraldo; 
Exibe todo o legado 
Desse vasto território.
Pra deleitar seus leitores, 
Zé Dantas mostra diversos 
Compêndios e belos versos 
De outros bons cantadores; 
Poetas e trovadores 
Do celeiro nordestino: 
Donzílio, Zé Laurentino 
e Raimundo Santa Helena; 
Mostra a família Mascena 
Com seu cantar genuíno.
Com os dotes altruístas 
Que naturalmente herdou, 
Zé Dantas organizou 
Festivais de Repentistas; 
Reuniu grandes artistas 
Em noites transcendentais... 
Elaborou os Anais, 
Perenizou os clichês 
Em Livros e em CDs 
De valores divinais!
Num coração-poesia 
O sangue lateja e ferve; 
Na majestática verve 
O vate passeia, cria... 
Desvendando a estesia
Em harmonia leal, 
Minerva já deu aval 
Ao cantador altaneiro... 
Dantas, da arte é parceiro, 
E grande irmão fraternal!
Dantas tem arte no olhar, 
Escreve, pensa e levita; 
Gosta da escrita erudita 
E também da popular; 
Espalha o seu poetar 
Nesse uni-verso geral; 
Honra sua terra natal, 
Canta o torrão brasileiro; 
Dantas, da arte é parceiro 
E grande irmão fraternal!
Encerro aqui meu papel 
(Esta singela homenagem), 
Relembrando altiva imagem 
Do cantador-menestrel. 
Ah companheiro fiel 
De virtudes sacrossantas!... 
Quisera ter mil gargantas 
Pra reforçar meu louvor: 
Parabéns, jogral-doutor, 
Poetíssimo ZÉ DANTAS!

Copyright ® by Rubenio Marcelo

Campo Grande/MS 

A você, caro amigo e companheiro Dantas, neste dia do seu aniversário, novamente esta minha singela homenagem (obra que já circula editada).
Abração,
RM

Enviado pelo professor, escritor pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso.

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