Por Alfredo Bonessi
Alfredo
Bonessi, Edilson e Comendador Mariano, em um dos encontros Cariri Cangaço-GECC
Apelidado de
Catitu por Maria Bonita, que apelidava todos os componentes do Grupo
de Cangaceiros, Luis Pedro ficou comprometido em morrer ao lado de Lampião após
o acidente de tiro que vitimou Antonio Ferreira, irmão desse. Era estimado e
respeitado por todos os cangaceiros e tido como um homem de coragem. Segundo
Sila, a sua mulher Nenê morrera logo após apanha-la e ao pular uma cerca foi
alvejada, sendo escudado o baque do seu corpo de encontro ao solo por aqueles
que iam a sua frente. Luis Pedro foge da luta, mas depois tenta resgatar o
corpo dela, sendo impedido a força pelos demais companheiros.
Segundo
registros, a policia pôs um cachorro para violentar o cadáver de Nene. Talvez
essa morte tenha sido o maior golpe da vida desse cangaceiro. Depois disso não
temos registros dos seus feitos na vida cangaceira, mas episódios apenas, como
daquela vez que após as brigas dos cachorros, de sua propriedade com o do
Lampião, o chefe puxa a pistola para atirar no cachorro vencedor de Luis Pedro
e esse arma o fuzil para atirar no chefe.
Um lance para
ser questionado: a vida do leal amigo por um cão ? – que amizade é essa ?
Nenê e Luis
Pedro
Outro que
disse que puxou arma para Lampião foi Volta Seca – o que Sila contesta: se
alguém fizesse isso Lampião matava na hora !. Outro que disse que também
engatilhou arma para Lampião foi Labareda e se cuidava dele quando estava
“danado da vida”. Já falamos que o grupo de Lampião não era comandado de
uma maneira militar, com rigidez e disciplina como eram as volantes do Exército
e da Policia. Havia respeito e consideração pelo chefe, que possuía uma
intuição privilegiada, sabia mais, mas não na base do temor em relação a ele.
Todos se respeitavam e seguiam Lampião como um líder carismático. Ele mesmo se
cuidava de sua segurança interna, pois tinha sempre um homem de confiança a sua
retaguarda, ora Juriti, ora Amoroso, ora Quinta-Feira, ora Luis Pedro. A noite,
ao dormir, armava a sua rede, depois pegava as suas cobertas e ia dormir em
outro lugar, no chão a maioria das vezes e durante a madrugada se acordava
várias vezes, espreitava ao redor e depois voltava a dormir novamente.
Não se pode
negar que Luis Pedro era íntimo de Lampião e de Maria Bonita...
... muito
próximo a eles, a ponto de dar uma palmada nas nádegas de Maria Bonita e os
três, após isso, darem sonoras gargalhadas. Pergunto: você possui um amigo tão
sincero assim e de confiança a ponto de poder dar uma palmada na traseira de
sua mulher e você achar graça ?
O fato que
quando nos lembramos de Luis Pedro construímos uma imagem de homem leal, de
amigo, de homem bom- predicados impróprios para foras da lei - e mesmo para
soldados volantes daqueles tempos, muitos deles mais criminosos que os próprios
cangaceiros. A grande diferença era que os militares estavam a serviço da Lei e
os cangaceiros eram perseguidos em nome da Lei.
Não temos
noticias que o viúvo Luis Pedro, em dois anos restantes da sua vida cangaceira,
tenha se aproximado de outra mulher dentro do bando ou fora do bando. Uma
mulher acusou-o de te-lo visto aos amassos com Maria Bonita dentro de uma canoa
– coisa que não acreditamos – Maria era uma mulher de vergonha e de caráter - não
iria macular a união fruto de um amor sincero com o homem que amou até na hora
da morte, além do mais essas coisas quando acontecem na vida das pessoas, se
espalham mais que fogo em macega seca – mais hoje, mais amanhã, ele saberia e o
mundo viraria de cabeça para abaixo.
"você
possui um amigo tão sincero assim e de confiança a ponto de poder dar uma
palmada na traseira de sua mulher e você achar graça? Foto Maria
Bonita
Para falarmos
mais de Luis Pedro, era dele a ideia de executar as cangaceiras que, viúvas e
sem maridos, optavam para retornar para a casa dos familiares, com a desculpa
de se fossem presas poderiam denunciar a rotina dos cangaceiros. Foi assim com
Cristina, que já na estrada rumo ao seio de seus familiares, foi perseguida por
Luis Pedro, Juriti e Candeeiro, e assassinada a punhal por eles, a mando de
Lampião e com o consentimento de Maria Bonita, aproximadamente em junho de 1938
- fato esse que originou a desavença de Corisco e Dada para com Lampião e
Maria. Corisco, ouvindo o gado mugindo triste, quase como um lamento,
vaticinou: que é isso, parece que tá tudo se acabano !!!!!! – De fato, um mês
depois foi a vez de Lampião e de Maria e dois anos depois, dele mesmo passar
por essa experiência derradeira de dizer adeus a vida e dormir para sempre nos
braços da morte.
Com relação ao
fim da vida de Luis Pedro, testemunhas declararam que, iniciado o tiroteio, ele
já estava fora do cerco quando retornou. Segundo Balão era na tentativa, entre
muitas já realizadas, para apanhar o ouro que estava no interior das latas de
óleo, na barraca de Lampião, bem de frente aos fuzis da volante que cuspiam
fogo sem cessar. Outros afirmaram que era para cumprir o juramento feito ao
chefe, de que morreria no dia que este morreria - não acreditamos nisso. Foi
apanhado em cheio pelo fuzil de Mané Véio, soldado volante do Pelotão do
tenente João Bezerra, que vinha em sentido contrario, descendo rumo a gruta de
Angico - foi um tiro só e tudo se acabou para aquele cangaceiro rico e tido
como boa gente.
Iniciado o
tiroteio na madrugada de 28 de julho de 1938, na grota de Angicos, Maria Bonita
leva um tiro na altura do ombro que saiu na frente, Lampião já está caído e se
contorce, com um tiro que levara no lado esquerdo do umbigo. Maria leva um
segundo tiro por detrás que lhe rasga o frente, ainda corre e vai cair junto a
Lampião. Cessado o tiroteio, quando a volante invade o reduto, Lampião ainda se
mexe e Maria, ainda viva, balbucia palavras intelegíveis – com certeza assistiu
a tudo o que aconteceu naquele buraco. Quando o Tenente João Bezerra chega lá
embaixo, Lampião está acabando de morrer e o Aspirante Ferreira de Melo já está
com duas cabeças cortadas de cangaceiros dependuradas em ambas as mãos. Mais
tarde afirma que Maria não foi degolada viva. As últimas palavras escritas nas
páginas da História pertencem sempre aos vencedores, aos vivos que restaram
para contar as suas versões sobre os fatos. Não há literato que consiga expressar
e substituir a visão e a experiência de quem realmente participou daquele
cerco, bem sucedido, naquela histórica e invernosa manhã ao lado do Rio São
Francisco, quando o estado-maior do cangaço deixou de existir para sempre.
Não se pode
negar que metade da população nordestina comemorou o feito policial de
Angico...
...outros
tantos guardaram silencio não acreditando e não retiraram o rifle detrás da
porta por longos anos, como foi o caso de Zé Saturnino; outros se lamentaram e
ficaram entristecidos porque a alegria do Sertão tinha se acabado com Lampião e
os seus leais companheiros.
Alfredo
Bonessi – Professor –Pesquisador – Estudante
Membro
Fundador do GECC - Membro da SBEC
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