Em 20 de fevereiro de 1954, num dia de Sábado, tomava posse como 3º Bispo da Diocese de Mossoró, Dom Eliseu Simões Mendes.
Nascido no Estado da Bahia, a 18 de maio de 1915, na cidade do Salvador, onde ordenou-se a 4 de dezembro de 1938. Exerceu, na capital baiana, cargos eclesiásticos de Grande Chanceler da Cúria Arquidiocesana e Secretário Geral do 1º Congresso Nacional de Vocações Sacerdotais, em 1949.
Em
21 de agosto de 1950 foi eleito Bispo auxiliar de Fortaleza, no Estado do
Ceará, recebendo a sagração episcopal a 3 de dezembro do mesmo ano. Era um ano
de seca no Nordeste, e Dom Eliseu conheceu de perto os efeitos da estiagem.
Resolveu colocar-se a frente de todas as campanhas de âmbito social que foram
surgindo na capital cearense. Promoveu obras sociais de emergência, fundou
centros sociais e pequenas maternidades, estando sempre ao lado do seu povo. E
assim forjou seu estilo.
Em
20 de fevereiro de 1954 foi nomeado pelo Santo Padre Pio XII, Bispo residencial
de Mossoró. E a cidade recebeu em festa o seu terceiro Bispo Diocesano. Dom
Eliseu viajou de automóvel de Natal para Mossoró, onde chegou às 16 horas. No
Alto de São Manuel, autoridades eclesiásticas, civis e militares do município o
aguardavam. Formou-se então uma grande carreata que o acompanhou até o centro
da cidade. Na Catedral de Santa Luzia foi recebido pelo Monsenhor Luiz Mota,
Vigário Capitular da Diocese. Cumpriu-se, em seguida, o que prescreve o
cerimonial católico para tal ocasião. Dom Eliseu entregou então aos Paraninfos,
as Bulas de sua nomeação que foram entregues depois, ao Vigário Capitular e
Consultores Diocesanos, para verificação de sua autenticidade. E só então foi
feita a leitura da Bula, em latim e português, lavrando-se posteriormente a ata
de posse.
O
lema de Dom Eliseu Simões Mendes era: “Salvação do Rebanho”. E em sua “Carta
Pastoral” de saudação aos diocesanos, distribuídas por ocasião de sua
investidura, delineava o seu programa de governo: Clero e vocações, Família,
Ação Católica, Questão Social e Ação Social Rural.
Naquela
época, havia um movimento ruralista que visava a retomada do desenvolvimento do
Vale do Açu. Dom Eliseu Simões Mendes abraçou a causa, já que o seu Bispado
tinha jurisdição sobre a Paróquia de Açu. Os problemas da região começaram a
serem discutidos e analisados em seminários e cursos. Foi dele a ideia de
irrigação do vale, que o tornaria mais produtivo. Mas para isso, precisavam de
financiamento, pois a população do vale era pobre. A solução era procurar o
Governo Federal. E Dom Eliseu foi pessoalmente procurar o Presidente da
República, Juscelino Kubistchek de Oliveira, e dele conseguiu arrancar
compromisso, apoio e presença governamental no desenvolvimento dos seus
projetos para o Vale do Assu. E através desse contato, os motores bombas
começaram a chegar para serem vendidos a longo prazo, beneficiando a todos,
principalmente aos pequenos agricultores. Começaram a chegar também os
agrônomos e os técnicos agrícolas para a orientação das plantações, os
veterinários para controlar a pecuária através da defesa animal, os cacimbões e
os canais de alvenaria foram construídos, deram início a mecanização do solo e
as sementes e mudas foram então produzidas. As cooperativas começaram a serem
criadas, criavam-se sindicatos rurais, postos telefônicos, postos de saúde,
etc. Era o sonho de muitos que se realizava através de Dom Eliseu.
Foi
Dom Eliseu quem fundou no Açu, a Maternidade Mário Pinotti, que depois veio a
ser Hospital da FSESP, hoje Dr. João Carlos Wanderley. Foi também pelas mãos de
D. Eliseu, que foi instalado em Pendências um posto de puericultura, em favor
das crianças daquele lugar. Podemos dizer, por fim, que Dom Eliseu foi, por
excelência, o Bispo da Assistência Social, notadamente ruralista, conseguindo
dos altos mandatários da Nação as providências mais diferentes em proveito da
nossa terra.
A
28 de outubro de 1959, foi transferido pela Santa Sé para a Diocese de Campo
Mourão, no Estado do Paraná.
Dom
Eliseu Simões Mendes morreu no dia 02 de março de 2001, aos 86 anos de idade,
em Feira de Santana/BA.
Em
Mossoró, o prefeito interino Antônio Capistrano decretou luto oficial pela
morte de Dom Eliseu Simões Mendes.
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A comparação desses dois homens que se engalfinharam
mortalmente nas caatingas nordestinas, feita por Alcino Alves Costa, em livro
bastante controvertido, - Mentiras e Mistérios de Angico - onde teceu algumas
argumentações a respeito da história do cangaço, com raciocínios excelentes,
desenvolvidos para colocar conflitos nas mentes dos estudiosos da saga. São
bastantes criteriosas quando efetua um confronto paralelo de duas
personalidades violentas em lados opostos. Um representava a lei e o outro a
desordem.
Qual dos dois era mais violento?
É a aproximação dos dois, em termos entre os quais existiu alguma relação de
semelhança, a violência, como metáfora. A comparação, porém, é feita por meio de
um conectivo (os homens violentos de além mar) e busca realçar determinadas
qualidades do meio termo (liderança, coragem e inteligência) desses dois
grandes homens, que viveram uma vida de sobressaltos.
Vamos então mostrar como foi que esse famoso autor da saga cangaceira levou a
termo, sua apreciação por esse dois comandantes guerrilheiros:
Lampião e Zé
Rufino os marechais do sertão
Na história deste velho mundo, sempre haverá um lugar reservado, um espaço para
os predestinados, excepcionais mortais que se destacam em suas atividades e
tornam-se históricas personagens que o passar dos anos não consegue levar para
o esquecimento; homens que receberam da divindade este DOM que os caprichos da
mãe natureza delega aos seus prediletos filhos.
Em todos os campos da atividade humana existem as sumidades: química, física,
medicina, enfim em todos os caminhos da vida, e, como não poderia deixar de
ser, também existem aqueles que foram sumidades do crime e da violência. Não
sei se podemos classificar Lampião e Zé Rufino como astros do crime e da
violência. Sou de opinião que ambos deveriam ser classificados como gênios
táticos de uma luta onde foram mestres, em uma arte onde eram insuperáveis,
heróis que possuíam uma rara e sem igual habilidade em conduzir seus homens nas
mais difíceis empreitadas, exercendo uma liderança sobre seus comandados que
era qualquer coisa de fazer inveja aos exércitos mais disciplinados.
Os cabras de Lampião e os contratados de Zé Rufino lhes obedeciam cegamente.
Eram realmente inacreditáveis as façanhas dos dois chefes, homens praticamente
incultos, sem a mínima experiência militar, que mantinham sob seus comandos
homens rudes que mais pareciam feras, filhos do sertão bravio, onde a maior lei
era o chicote do coronel. Quase todos perversos criminosos, nascidos e criados
naquela região hostil, onde não se conhecia o mais elementar costume de boas
maneiras e educação, levados por uma estranha e misteriosa força, acatavam até
as últimas consequências, até se possível à morte, as ordens e as vontades
emanados dos dois grandes comandantes.
Ao acompanharmos, com os detalhes e as minúcias que a complexa história do
cangaço requer, e em particular a odisseia Lampião e Zé Rufino, iremos
claramente perceber, através dos tempos, os violentos eventos que abalaram o
mundo e que mereceram destaque por seus extraordinários efeitos e causas.
Muitos desses, ou todos eles, originados pela doentia mente de seus
idealizadores, não os retiram da categoria de homens de brilhantes
inteligências, tais como Napoleão Bonaparte, Adolf Hitler e tantos outros que
levaram a humanidade aos clamores da guerra, guerreiros que implantaram a
tirania escudados pelos fluidos negativos de suas raríssimas
inteligências.
Exemplo disto é a guerra particular disputada pelos inigualáveis Erwin Vom
Rommel, o famoso e genial marechal de campo do África Korps do exército alemão
e o não menos brilhante marechal Bernard Law Montgomery, o célebre Montgomery
of Alemain, do exército britânico, que no deserto da África travaram o mais
espetacular duelo no jogo de xadrez da guerra nazista, vendo-se de um lado o
fenomenal Vom Rommel, com suas temidas e afamadas divisões Panzer, e de outro a
refinada técnica do insuperável Mont.
Em que pesem os tributos pagos com vidas humanas, não se pode esquecer a
excepcional habilidade dos dois marechais. A luta dos titãs dos países do
além-mar, era uma dimensão sem limite, do tamanho do próprio mundo, mas,
guardadas as devidas proporções, luta igual foi travada nos campos ressequidos
do sertão brasileiro, com bravura, coragem, sabedoria e maestria pelos
marechais caboclos Lampião e Zé Rufino.
É claro que não se pode fazer comparações entre as duas causas. Uma a do
sertão, era a luta dos fracos, dos injustiçados que, ao sofrerem as piores
humilhações, as mais injustas perseguições, rebelaram-se e enfrentaram os donos
do sertão de igual para igual, levando, na maioria das vezes, a melhor. A
outra, a guerra nazista, o destempero e a loucura de um ensandecido homem, que
não titubeou em empapar de sangue toda a humanidade. Verdade seja dita: o
sertão, — pode-se perfeitamente dizer, — tem ou teve o privilégio de ter dado
ao Brasil e, possivelmente, ao mundo dois de seus maiores estrategistas e
guerreiros. É fora de qualquer dúvida que Lampião e Zé Rufino foram, na acepção
da palavra, dois gênios na ciência dos combates e na tática de ataque e
defesa; dois mágicos conhecedores profundos dos segredos da dura guerrilha que
participavam.
Em suma, possuíam os dois fenomenais sertanejos toda a clarividência dos
grandes e lendários guerreiros dos remotos tempos. Não se pode, também,
desconhecer os anos de suas lutas particulares, quando os dois bravos mestiços
travaram o mais espetacular duelo da sangrenta guerra do cangaço nordestino;
cangaço que teve seu início nas primeiras vinditas dos clãs povoadores dos
sertões, desde os tempos do Brasil Colonial indo até os colonizadores do
Inhamuns, nas barrancas do Jaguaribe, em terras do Ceará, passando pelos
sertões do Piauí e Paraíba até chegar aos campos desertos e bravios de
Pernambuco.
Além desse fator primordial, as vinditas e pendengas, que geraram desafrontas
por anos sem fim, varando toda a sertania com esta feroz e sanguinolenta
disputa de força, poder e domínio, havia também aquelas disputas pessoais onde o
único motivo era o despeito e vaidade de determinado potentado contra o
outro.
E assim, todo o sertão foi palco de extraordinárias medições de forças e
demonstrações de inimagináveis bravuras que, apesar de muitas vezes trágicas,
eram ao mesmo tempo belas, heroicas e românticas. Ficaram nos livros da
história sertaneja a valentia desses sanhudos e embravecidos sertanejos que não
se cansaram de mostrar todo o valor de suas nunca desmerecidas coragens e o
valor e peso de suas temidas armas.
Lamentavelmente, os protagonistas dessa tenebrosa luta, como Lampião e Zé
Rufino, não percebiam que viviam a se matar em uma luta sem o menor sentido e
sem nenhuma razão de ser; eram heróis, gigantes, verdadeiros titãs que viviam a
porfiar, carregando nessa esteira um grande número de inocentes caatingueiros
que não atinavam e nem percebiam os perigos a que se expunham nessa tremenda
luta.
Infelizmente a matutada não sabia que estava sendo marionete que, a cada dia,
mais ficava a mercê dos coronéis, os senhores do sertão.
É difícil imaginar tudo isso no sertão do Padre-Mestre lbiapina, o lendário
Padre José Antônio de Maria Ibiapina, antes Juiz de Direito de Quixeramobim e
velho protetor dos Maciéis, na luta desses com os Araújos. Deixando a vida de
magistrado para tornar-se sacerdote e protetor dos pobres no dia 14 de novembro
de 1835, Ibiapina tinha-se demitido de sua condição de Juiz no dia 10 de
dezembro de 1834, um ano depois de ter sido nomeado, no dia 12 de dezembro de
1833.
Também é o sertão do grande peregrino Antônio Vicente Mendes Maciel, o Bom
Jesus Conselheiro, de Canudos; sem se falar naquele que foi o maior dos
sacerdotes dos sertões, o padre Cícero Romão Batista, o protetor do Juazeiro,
pelos quais toda a sertanejada nutria o nobre conceito de santos.
Espanta como os sertanejos ainda se deixavam envolver por pequenas intrigas que
só beneficiavam os grandes e poderosos coronéis e fazendeiros. Ora, nesse
sertão, apesar de inculto e primitivo, havia a palavra altamente acreditada dos
pregadores.
Portanto, a fé era criteriosamente programada e intensamente voltada para a
fanatização dos ingênuos mateiros, e o que é de se estranhar é que homens, como
esses missionários, com tamanho carisma, não tenham conseguido afastar Lampião,
Zé Rufino, Luís Mansidão, Cassimiro Honório, Antônio Matilde, Tenente, Sabino
Gomes e uma legião de facinorosos e valentões que espalharam o terror e o medo
nos campos nordestinos; mesmo sabendo-se que todos esses enegrecidos homens
guardavam no fundo de seus corações o mais puro, mesmo que primitivo e
embrutecido, sentimento religioso.
A verdade é que todos sentiam verdadeira admiração, respeito e veneração pelos
mensageiros de Deus, como assim eles julgavam os pregadores. Era realmente belo
e romântico ver os bravos e heroicos bacamarteiros assistirem contritos e
ajoelhados, embevecidos e humildes, aos fulgurosos e apaixonantes sermões de
então.
Alcino Alves
Costa foi um dos grandes pesquisadores do cangaço e em seu livro "Mentiras
e Mistérios de Angico" traz o seu reconhecimento desse bravo pernambucano
que combateu o banditismo e através de raciocínios lógicos, nos faz ver que
realmente esse grande soldado, combatente de cangaceiros, foi também um
excelente estrategista, e exemplo de coragem e inteligência.
Quando comecei
a estudar e pesquisar sobre o cangaço, inicialmente via Zé Rufino com reservas,
sua caçada ao cangaceiro Corisco, foi finalizada de uma forma que podemos
enxergar como prepotente, pois Corisco estava rendido e sem condições de
enfrentar a força da volante comandada por ele. Não me atenho aqui às acusações
que fizeram contra ele, em estar em busca de uma pequena fortuna que achava, se
encontrar com o cangaceiro.
Mas sim, a
forma em que abateu um homem sem forças, praticamente aleijado, e que não podia
sustentar o peso de uma arma. Morreu Corisco por talvez não querer ser preso.
Sua mulher, Dadá, mulher de coragem e guerreira, baleada veio a perder uma das
pernas, mas que Zé Rufino em respeito não permitiu que seus homens fizessem com
ela e com o marido morto, o que comumente faziam, cortar as cabeças.
Sei que alguns
ainda odeiam a esse homem corajoso e guerreiro, por sua perseguição a Lampião.
Mas devemos entender que os cangaceiros eram bandidos e tinham que ser caçados,
presos ou mortos nos combates, pois a sociedade sertaneja já não suportava as
investidas muitas vezes bárbaras de tais homens.
Aqui temos uma
entrevista concedida pelo famosos Comandante de Volante Policial, Coronel Zé
Rufino ao Jornalista Paulo Gil Soares em 1964.
Aqui temos uma entrevista concedida pelo famosos Comandante de Volante Policial, Coronel Zé Rufino ao Jornalista Paulo Gil Soares em 1964. - https://www.youtube.com/watch?v=clGcrAqzhYo
Abaixo, temos
então o comentário de Alcino Alves Costa, sobre o célebre José Osório de
Farias, o lendário Zé Rufino, que pode ser considerado o maior dos
comandantes de volante, e perseguidor de cangaceiros.
Zé Rufino o
maior dos comandantes
Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará, Alagoas, Sergipe e Bahia foram
os Estados brasileiros que guerrearam anos sem conta os grupos bandoleiros que
infestaram todo o chão nordestino. Tropas e mais tropas vagaram pelos ermos das
caatingas, na perseguição incessante, expostos e sujeitos a toda espécie de
perigos que o rigor da campanha fatigante os fazia enfrentar.
Luta sangrenta que via varar anos e mais anos, aumentando, cada vez mais, o
sofrimento e agonia do homem do campo, assim como os responsáveis pela
manutenção da ordem que padeciam sentindo o orgulho ferido, sem poderem nada
realizar para impedir a crescente força, cada vez maior, das grandes estrelas
do cangaço. Esses mantenedores da lei não possuíam condições e nem meios para
exterminar o grande flagelo oriundo do banditismo. Lendários e famosos,
respeitados e temidos, receberam de seus superiores a delicada incumbência de
comandar forças militares que adentravam as caatingas com o nome temível e
violento de "Volante do Governo".
Homens que, como os maiores do cangaço, se tornaram lendas na odisseia cruenta
da guerra cangaceira. Poderíamos citar nomes e mais nomes de bravos chefes de
volantes, heróis de envergadura de Clementino José Furtado, alcunhado de
"Quelé do Pajeú", que em outros tempos havia sido um famanado
cangaceiro lá das bandas de Triunfo, para depois servir ao governo de
Pernambuco, comandando uma volante famosa e extraordinária, apelidada de "Pente
Fino".
Ninguém esquece as façanhas dos dois nazarenos: Manoel de Sousa Neto, o falado
Mané Neto e Odilon Flor. Ainda: Luís Mariano da Cruz, Teófanes Ferraz Torres,
que se celebrizou por ter sido o autor da prisão do luminar Antônio Silvino, o
grande Rifle de Ouro do Nordeste; João Bezerra da Silva, célebre matador de
Lampião; o baiano Liberato de Carvalho, destemido comandante de forças daquele
Estado; José Lucena de Albuquerque Maranhão, afamado chefe das torças
alagoanas de repressão ao banditismo e cruel matador de José Ferreira da
Silva, pai de Virgulino.
Ainda David Jurubeba, Arsênio de Sousa, Optato Gueiros e tantos outros que
pelejaram com os facinorosos dos sertões; uns realmente caçando bandidos e
muitos outros se espalhando pela imensidão das caatingas, adentrando matas e
cerrados, sem pensar em caçar cangaceiro, mas com o intento único de
beneficiar-se da caótica situação reinante nos campos pisados pelos
bandoleiros, em nome de uma lei que, indignamente, se arvoravam de
representantes, espoliavam e maltratavam ao máximo o homem e a vida daquele
inculto e desconhecido mundo.
Pernambuco,
meca dos volantes, paraíso das grandes vinditas, é o Estado natal daquele que
pode ser considerado o maior dos comandantes de volante, o célebre José Osório
de Farias, o lendário Zé Rufino. Nascido a 20 de fevereiro de 1906, na cidade
de São José de Belmonte, seus pais se chamavam Osório Gomes de Farias e Maria
Rufino da Conceição, residentes na fazenda "Vai Querendo". Família
egressa da terra bravia do Ceará, vitimada por velhas e perigosas pendengas com
os Bezerras, gente forte que os obrigara a abandonar seu solo e procurar vida
nova nas regiões sertanejas do grande Estado nordestino.
Um misterioso "causo" dava conta que Zé Rufino e Lampião vinham do
tronco de uma mesma árvore genealógica cearense, ambos, porém, nascidos no
sertão pernambucano. Se verdade ou lenda, o que se sabe, com absoluta certeza,
é que os dois notáveis caboclos possuíam elos dos mais íntimos. Como se sabe,
suas famílias foram egressas do Ceará, sendo que Lampião tinha apenas o pai,
filho daquele Estado, uma vez que sua mãe, dona Maria Vieira Lopes, era filha
de Manoel Pedro Lopes e dona Maria Jacosa Vieira, todos filhos do Pajeú.
Possuíam, também, uma aparência física verdadeiramente impressionante: eram
iguais na cor, na estatura, no formato, nos modos, na valentia, além de uma
inteligência fora dos padrões normais daquela gente. Ainda tocavam fole, faziam
perneiras e gibão, sapatos e rolós; ambos extraordinariamente bons no coice do
mosquetão. Segundo declarações do próprio Zé Rufino, a Paulo Gil Soares, em seu
livro "Vida, Paixão e Morte de Corisco o Diabo Louro",
página
52, depois de convidado por Lampião para engajar-se no cangaço,
recusa.
Tempos depois recebe uma mensagem do coronel João Novais, que o induz a seguir
para o Estado da Bahia, justamente para perseguir e combater o famoso
conterrâneo que se bandeara para os sertões sergipano e baiano. E lá se vai o
rapaz de São João do Belmonte com mais três parentes para o Estado da Bahia, mais
precisamente para a cidade de Jeremoabo, sede, naquele Estado, da campanha de
repressão ao banditismo. Vem daí o começo da guerra particular e feroz travada
entre os dois pernambucanos, numa medição de forças que durou longos anos,
espetacular disputa onde caçado e caçador mostravam toda grandeza de suas
proezas e bravuras.
Em pouco tempo vemos Zé Rufino comandando uma volante, já então iniciado nos
caminhos da fama. Usando sua rara inteligência, escolhe vinte homens para com
ele trabalhar. Os escolhidos eram destemidos e valentes, portadores mesmo de
uma coragem muito acima dos limites da normalidade e da imaginação humana,
todos experientes mateiros que, sob o comando seguro e capaz do filho de seu
Osório, escreveram páginas repletas de heroísmo e glórias, escritas pelo fogo
ardente e mortal expelido pela boca negra de suas temidas armas.
Homens Que
Atuaram Nesta Famosa Volante
Levando-se em conta que nem todos começaram e terminam juntos toda a campanha,
de uma forma geral, a maioria sempre esteve junta, formando no mesmo grupo, com
apenas uma ou outra mudança que o passar dos anos exigia. Os grandes nomes da
volante foram os seguintes: Além do notável comandante, haviam: dois cabos;
Artur Figueiredo e Miguel Bezerra, também conhecido como Miguel de Constança;
Gervásio, que era o rastejador, aliás, um dos melhores; os soldados Leonídio,
Besouro, Capão, João Doutor, Joao Severiano, Zé Serra Negra, Paulino de Belo
(Paulo de Tavinha), Bentivi, Alípio, Zé Monteiro, Jovino Juazeiro, Ercílio
Novais, João Fuisso, João Venâncio, Zé Firmino de Matos, Valdemar e João
Redondo.
Nessa volante
trabalhou também Badu Feitosa que poderia ter sido um dos mais famosos,
mas foi expulso da volante (ver capítulo sobre o mesmo)
Zé Rufino e seus comandados eram aquartelados no então povoado Serra Negra, no
Estado da Bahia, nas divisas com o Estado de Sergipe, berço do clã dos
Carvalhos, descendência familiar completamente diversa dos lendários Carvalhos
de Pernambuco, que sustentaram a tenebrosa guerra com os Pereiras comandados
pelos famosos Padre Pereira, Luís Padre, Sinhô Pereira, Né Dadu e tantos outros
bravos.
Os Carvalhos de Serra Negra eram senhores de cutelo e baraço, e o tenente João
Maria era o grande chefe do clã, do povoado e das redondezas. Nesse povoado, Zé
Rufino fez o seu ponto de partida para as ferozes batalhas contra os grupos de
bandoleiros que infestavam os sertões da Bahia e de Sergipe.
Zé Rufino e seus homens foram um dos grandes pontos de referência que ajudavam
a alimentar as rezas, as crendices e o misticismo da gente sertaneja. Toda a
sertanejada achava e ainda acha que os componentes dessa volante viviam
protegidos pelas mandingas e rezas fortes da negra velha da serra, famosa pelas
suas orações e patuás, razão pela qual os dessa volante jamais saíam feridos
dos combates.
Contam-se verdadeiros milagres acontecidos durante perigosos tiroteios, quando
somente uma proteção superior ajudava os valentes de Zé Rufino a se livrarem
das mortíferas balas dos medonhos inimigos. O massacre dessa volante era o
grande sonho, não só de Lampião, mas de toda cangaceirada.
O que se sabe, dentro do critério da mais pura verdade, se pelas rezas e
crendices, ou ainda por qualquer outro mistério, é que os membros daquela
lendária volante, homens que destemidamente enfrentavam, na guerra medonha dos
sertões, os valentões do cangaço, vivendo quase sempre expostos aos enormes
perigos dos mortais recontros, milagrosamente, nenhum deles foi morto ou sequer
baleado.
Portanto, não se compreende qual a força ou o poder dessa volante que tanto
brigou, tanto guerreou, tantos bandidos matou ou feriu, sem sofrer qualquer
baixa. Que estranho poder envolvia e amparava Zé Rufino e os seus? Por que
as balas inimigas não atingiam o comandante e nem os seus comandados?
Este foi caso único em toda história da guerra cangaceira. Para o povo tudo não
passava das rezas daquela negra protetora da volante ou, talvez, a mão divina
auxiliando e guiando Os bravos componentes da volante. Mas é claro, se deve
reconhecer, dentro de toda essa sorte ou proteção maior, via-se a apurada
técnica e maestria do genial comandante, que sabia, como poucos, enfrentar os
mais duros combates, usando perfeitas táticas e magistrais manobras.
Zé Rufino quase sempre conduzia a sorte para o lado de sua volante. Ao
contrário de tantos outros comandantes, Zé Rufino procurava sempre se esmerar e
se fazer respeitar não só pelos bandoleiros, mas por todos que nos sertões
viviam e, mais ainda, pelos seus subordinados e superiores.
Zé Rufino é um daqueles que fazem parte da gloriosa dinastia dos bravos
guerreiros da história sangrenta, daqueles que de um lado ou de outro se
enfrentaram na guerra sertaneja. É um dos lendários titãs cujos bacamartes
faziam todo o sertão apequenar debaixo de suas duras ameaças.
As grandes estrelas da valentia nordestina foram: Alexandre da Silva Mourão, o
famanado dos Mourões; José de Barros Melo, apelidado de Cascavel, uma das feras
dos irmãos Meios; o inimigo capital dos Mourões, parente muito próximo do
famoso André Vidal de Negreiros, que foi um dos baluartes da luta contra os
holandeses, o famoso bailarino e tocador de viola, Vicente Lopes Vidal de
Negreiros, lendariamente conhecido como Vicente da Caminhadeira.
Bravos como ele foram: Simplício Pereira da Silva, um dos ferozes homens dos
Pereiras, apelidado de "Peinha de Mão"; Né Dadu, que formou com seu
irmão Sinhô Pereira, as maiores bandeiras dos Pereiras; Os destemidos e
heroicos defensores dos Carvalhos, inimigos mortais dos Pereiras, João Lucas
das Piranhas, Jacinto Alves de Carvalho, o Celebrado Cindário; José e Antônio,
das Umburanas; Cirilo do Lagamar, Luís Nunes de Souza, o famanado Luís do
Triângulo; João e Manoel Marcelino, que eram, respectivamente, os cangaceiros
Vinte e Dois e Bom de Vera; José Bernardo, que é o José Piutá ou ainda Casa
Velha; Jesuíno Brilhante, que na vida comum se chamava Jesuíno Alves de Melo
Calado, um dos maiores e mais afamados cangaceiros de Afogados da Ingazeira; o
grande Rifle de Ouro dos Sertões, António Silvino, sem se falar na maior e mais
luminosa estrela, o grande rei, Virgulino Ferreira da Silva.
Portanto, não seria exagero juntar-se a essa plêiade de titãs, homens como o
próprio Zé Rufino, Miguel e Artur, os dois cabos de sua perigosa volante; Mané
Véio ou Antônio Jacó — a fera de Santa Brígida, Os nazarenos Mané Neto e Odilon
Flor, os baianos Besouro e Leonídio e tantos outros que formaram nesta
constelação que iluminou o universo cruento das terríveis lutas, pendengas e
batalhas, que estão escritas no livro rubro da história sertaneja.