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segunda-feira, 22 de agosto de 2022

LIVRO

   Por José Mendes Pereira


Recentemente o escritor e pesquisador do cangaço Guilherme Machado lançou o seu trabalho sobre o mundo dos cangaceiros com o título "LAMPIÃO E SEUS PRINCIPAIS ALIADOS". 

O livro está recheado com mais de 50 biografias de cangaceiros que atuaram juntamente com o capitão Lampião. 

Eu já recebi o meu e não só recebi, como já o li. Além das biografias, tem fotos de cangaceiros que eu nem imaginava que existiam. São 150 páginas. Excelente narração. Conheça a boa narração que fez o autor. 

Pesquisador Geraldo Júnior

Prefaciado pelo pesquisador do cangaço Geraldo Antônio de Souza Júnior. Tem também a participação do pesquisador Robério Santos escritor e jornalista. Duas feras no que diz respeito aos estudos cangaceiros.

Jornalista Robério Santos

Não deixa de adquiri-lo. Faça o seu pedido com urgência, porque, você sabe muito bem, livros escritos sobre cangaços, são arrebatados pelos leitores e pelos colecionadores. Então cuida logo de adquirir o seu! 

Pesquisador Guilherme Machado

Adquira-o através deste e-mail: 

guilhermemachado60@hotmail.com
Ou dê um pulinho lá em Cajazeiras:

franpelima@bol.com.br

http://blogdomendesemendes.blogspot.com 

LIVRO

  Por José Mendes Pereira

Você leitor, e eu, vamos participar do casamento de José Ferreira da Silva (Santos) com a dona Maria Sulena da Purificação (Maria Lopes) pais dos irmãos Virgolino Ferreira da Silva, Antonio Ferreira da Silva, Levino Ferreira da Silva e Ezequiel Ferreira Silva.

Vamos chegar devagarinho! Pés às alturas, como se nós estivéssemos flutuando em um picadeiro de circo, silêncio total, sem pigarrearmos em momento algum, para vermos o que irá acontecer durante esta união familiar. Não se preocupe, os irmãos Ferreiras não estão aqui entre nós, eles ainda irão nascer, primeiro Antonio Ferreira, depois Levino Ferreira, depois Virgolino Ferreira e por último (dos homens) Ezequiel Ferreira da Silva.

O casamento destes famosos e futuros pais de 4 cangaceiros você irá adquirir toda história no livro: "Lampião a Raposa das Caatingas", do escritor e pesquisador do cangaço José Bezerra Lima Irmão - a partir da página 70.

Esta maravilhosa obra você irá encontrá-la através deste e-mail: franpelima@bol.com.br, com Francisco Pereira Lima, o professor Pereira, lá de Cajazeiras no Estado da Paraíba.

A maior obra já escrita até hoje sobre cangaço, e sobre a família Ferreira, do afamado Lampião.

http://blogdomendesemendes.blogspot.com.br/.../lampiao...

Fotos:

1 - Livro: "Lampião a Raposa das Caatingas";

2 - José Ferreira da Silva e Maria Sulena da Purificação os pais de Lampião;

3 - O autor do livro José Bezerra Lima Irmão.

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

PADRE AGOSTINHO, A CERIMÔNIA FÚNEBRE PARA ANTÔNIO AMAURY E SEU PAPEL NO CARIRI CANGAÇO

 Por João Costa

Padre Agostinho, capelão do Cariri Cangaço, por Ricardo Beliel

A coluna de hoje é para falar de um clérigo católico: padre Agostinho Justino dos Santos, ex-capelão da Marinha do Brasil e atual do Cariri Cangaço, um sacerdote que recorrentemente se faz presente em eventos culturais e religiosos focados na pujante cultura nordestina e na persistência da fé que os peregrinos devotam aos seus santos.

O conheci padre Agostinho recentemente em Piranhas(AL), à beira do rio São Francisco, quando ele conduzia uma cerimônia fúnebre em que se jogava as cinzas do escritor Antônio Amaury (falecido em fevereiro de 2021)no leito do rio, um desejo manifestado à família pelo escritor, um paulista que dedicou parte de sua vida à pesquisa sobre o cangaço e as coisas do Nordeste; amigo e protetor de ex-cangaceiros, cujo legado vai além da literatura por ele produzida.
Na noite anterior, quando da abertura do Cariri Cangaço, um senhor baixinho, de roupa preta, uma aura mística, identificado rapidamente pela clérgima e um imponente chapéu de cangaceiro, se aproximou e me ofertou uma daquelas fitinhas usadas por romeiros.

Padre Agostinho e a Cerimonia em homenagem a Antônio Amaury no
Cariri Cangaço Piranhas 2022
As bênçãos sacerdotais de Padre Agostinho às Cinzas de Antônio Amaury, conduzidas por seu filho, Carlos Elydio, no Cariri Cangaço Piranhas 2022
Carlos Elydio deposita as Cinzas de seu pai, Antônio Amaury, no leito do São Francisco, 30 de julho , no Cariri Cangaço Piranhas 2022

Estava diante de um padre, fisicamente frágil, de bengala, mas a simples maneira como abordava todos ali, sem palavras, mas apenas distribuindo fitas, revelava a sua grandeza como homem de fé.
No dia seguinte, logo cedo, quando eu circulava pelo espaço imenso do porto de Piranhas velha com dona Marilene, um carro para ao lado e o motorista me indaga.
- De onde sai à caminhada pelo sítio histórico, rota do cangaço?
Ao me abaixar para falar com o motorista, vi no banco ao lado, de novo, o padre.
Eu não soube informar, pois também estava procurando o ponto de partida da caminhada, mas me veio à mente a célebre frase do pensador e dramaturgo Nelson Rodrigues. “Deus está nas coincidências”.

Numa rápida pesquisa no Google, fico sabendo que o padre Agostinho mora no Rio de Janeiro, mas recorrentemente é visto em celebrações em igrejas do Crato e do Juazeiro e a partir dessas prelazias, costuma acompanhar visitas aos locais icônicos para a Historiografia do cangaço e da cultura nordestino, realizadas por escritores, pesquisadores, descendentes de volantes, cangaceiros e coiteiros, além de uma legião cada vez maior de estudiosos do cangaço.

Célia Maria, Padre Agostinho e Conselheiros Quirino Silva e Bismarck Oliveira,
em noite de Cariri Cangaço Piranhas 2022
Mas o que leva um padre, em pleno século XXI, percorrer e se interessar por lugares onde pessoas foram assassinadas, chacinadas; visitar cidadelas de resistência armada, territórios de combates de extrema violência e selvageria entre cangaceiros e volantes? Cumprir a missão do Cristo.
Se a missão do Cristo Jesus foi à expiação, então o padre Agostinho dos Santos faz a sua parte. No Talmude, a expiação começava pelo sacerdote e sua casa e é citada poucas vezes no Tanakh; embora os católicos brasileiros tenham abandonado a expiação como rito de fé, conforta encontrar um sacerdote que transmita tal mensagem, mesmo de maneira subliminar ao tempo quão poderosa possa ser a mensagem do catolicismo nordestino.

João Costa, jornalista, pesquisador
Campina Grande Paraíba
O Cariri Cangaço Piranhas aconteceu entre os dias 28 e 30 de julho de 2022 na cidade ribeirinha de Piranhas, baixo São Francisco, no estado de Alagoas, nordeste do Brasil.

https://cariricangaco.blogspot.com/2022/08/padre-agostinho-cerimonia-funebre-para.html

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07 DE JUNHO DE 1936, DATA DO ASSASSINATO AO CANGACEIRO JOSÉ ALEIXO RIBEIRO DA SILVA, O (ZÉ BAIANO).

 Por Lampião e o Cangaço


https://www.facebook.com/04lampiaoeocangaco

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A HISTÓRIA DO CANGACEIRO GATO

Por Na Rota do Cangaço 

https://www.youtube.com/watch?v=wwTQ8vDYRyY&ab_channel=NaRotaDoCanga%C3%A7o

Santílio Barros era o verdadeiro nome do cangaceiro Gato e não se tem na história do cangaço, outro homem que tenha sido tão sanguinário, perverso e frio como foi este cangaceiro. Era filho de Ana ( Aninha Bola) e Fabiano, um dos sobreviventes da guerra de Canudos, seguidor do reverenciado beato Antonio Conselhereiro. Era índio da tribo Pankararé. Alem de Gato, duas irmãs sua foram pro bando: Julinha, amante de Mané Revoltoso e Rosalina Maria da Conceição, companheira de Francisco do Nascimento, o cangaceiro Mourão.

FONTE: Blog Cariri Cangaço http://cariricangaco.blogspot.com/201...

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O ESTADO DE SÃO PAULO, EDIÇÕES DE 18 E 19 DE OUTUBRO DE 1969. Encontro histórico de ex-cangaceiros

 Transcrição de Antonio Correia Sobrinho



Eis o que restou do cangaço

“Sila saiu correndo, agachada. Uma bala acertou a cabeça de outra mulher, espirrou miolo no vestido de Sila; maldade, ela só tinha 15 anos. Depois, foi muito tiroteio, finado seu Rastejador também morreu. Vi Lampião pondo sangue pela boca. Um dia, resolvemos entregar, cangaço acabou, mas só acabou mercê da traição de cangaceiros que ajudaram as Volante, contavam os pontos da gente”.

Balão ajeita a gravata, no aeroporto de Congonhas. Ele, cangaceiro do bando de Lampião, hoje batedor de estacas para fundações de prédios, está com os companheiros esperando dona Expedita, filha de Lampião, Vera, neta do cangaceiro, e mais Labareda e Saracura. Todos vão reunir-se em São Paulo para o lançamento de “As táticas de guerra dos cangaceiros”, de Christina Matta Machado.

O livro vai ser lançado dia 24, a partir das 16 horas, na Aliança Francesa, rua General Jardim, 172.

Saudade 

Quando o cangaço acabou e o governo deu anistia, a Polícia separou os cangaceiros: cada um teve que ir para um lado. Faz muito tempo que vários moram em São Paulo, mas não sabiam. Só quando Christina começou a procurá-los é que eles ficaram sabendo dos velhos companheiros, puderam se reunir para relembrar os causos de então. Ontem, em Congonhas, estavam vários deles, esperando os outros. Estava Marinheiro, um ano de cangaço, hoje funcionário da Caixa Econômica Estadual; estava Pitombeira, 3 anos de bando, entrou para não ser morto pela Polícia, hoje funcionário da Prefeitura. Estava também Criança, 7 anos de lutas, a glória de enfrentar sozinho, por duas horas, a Volante, para deixar o bando escapar. Criança, hoje, vende tomate como ambulante.

Em Congonhas estava também Sila, mulher de Zé Sereno que não pode ir (está com a perna engessada) e estava Dadá, apoiada na muleta. Sua perna direita ficou no sertão, crivada de balas de metralhadora, da mesma arma que matou seu marido, Corisco, que ela atentava defender. Estava em Congonhas o Balão, acompanhado de cinco de seus 8 filhos e contando para todo mundo que até hoje é solteiro. Balão, alegria do bando, tocador de sanfona, o mais valente de todos, mostrou ontem que não mudou. Ele foi piadas o tempo todo, mesmo quando tirou os sapatos e a meia por causa de um ferimento no pé que “tá ameaçando arruinar”.

Visitas

Até o dia 24, os cangaceiros vão visitar São Paulo, conhecer coisas novas, principalmente os que vieram de longe que a Varig trouxe de Sergipe e Alagoas. Ele irão ao Ibirapuera, a cinemas, restaurantes, serão entrevistados e aguentarão as luzes fortes da televisão, e queiram ou não vão acabar entendendo que hoje eles são gente importante, que apesar dos crimes que cometeram e talvez mesmo apenas por isso, eles passaram a ser história, são uma página da vida do Brasil.

Para contar a história do cangaço, Christina viajou quase todo o Nordeste, pesquisou em 34 municípios e se tornou amiga daqueles homens. Com os dados que colheu, escreveu o livro e vai defender tese em História, sob o tema “Cangaço, aspectos socioeconômicos”.

Morrer apanhando ou ser Cangaceiro

Embora arrependidos de terem sido cangaceiros, os cabras de Lampião dizem que não havia saída. Balão conta que a Polícia batia em todo mundo, para que contasse o paradeiro do bandido, muitas vezes, matava. Um companheiro dele teve que servir de cavalo para um soldado com esporas. Por isso, “quem não queria morrer apanhando tinha que ir para o cangaço”. Balão, entretanto, foi para o sertão por outro motivo. Engraçou-se – diz ele – com uma menina amiga de Lampião e alguns homens do bando quiseram matá-lo; ele fugiu com outro grupo e, depois, quando esse se uniu com o de Lampião, “a intriga foi esquecida”.

Pitombeira fugiu porque um irmão e um “primo carnal” foram mortos pela Polícia, que tentava fazer com que contassem onde estava Lampião. Ele ia ser morto também e fugiu.

O final 

Para todos, o fim do cangaço foi a morte de Lampião, o líder que teve até 260 homens sob suas ordens. Quando ele morreu, o bando que chefiava tinha '36' e 11 ficaram “naquela jornada”. Havia muitos antigos colegas que ajudavam a Polícia e, por isso, fugiram todos para Sergipe, estado amigo, para combinar a “entregação ao governo”.

Balão conta como foi a fuga, “a volante matou Lampião, tive tempo só de pegar embornal de subsistência e de bala e quando a metralhadora engasgou passei no meio dos macacos, fugi. O Presidente tinha espalhado aviso em toda fazenda, para entregar, que ele garantia a vida. Fomos para Sergipe e resolvemos – Juriti, Criança, Marinheiro, Pitombeira, eu – arriscar olho e mandamos avisar o cabo Miguel da volante, que viesse conversar, com três soldados, fuzil de boca para baixo. Ele veio, ficamos amigos, mas 300 praças de outra polícia cercaram o bando, tivemos que fugir para a fazenda Cuiabá, onde dançamos com a volante e bebemos oito dias sem parar. O capitão Aníbal, que trazia a ordem do governo, mandou fechar os portos das Alagoas, para que a polícia que queria matar a gente não entrasse em Sergipe”.

O caminho

“Começou então o caminho da entrega. Mas era duro, tinha tropa do capitão Aníbal, amiga, garantia a vida, tinha a tropa inimiga, queria matar a gente. Fomos ao Araticum, a Porto da Folha, a Monte Belo, mas, quando cheguei no Caveira, mataram quatro cabras meus.

Foi traição dos sergipanos e tivemos que brigar ainda no Pinhão. Só conseguimos achar o capitão Aníbal em Serra Negra, para entregar as armas. Não, ninguém foi preso, a gente ficava no quartel só na hora da troca de expediente e todos entregamos por livre e espontânea vontade. Cada dia chegava mais cangaceiros. Poucos foram mortos, como Juriti, na faca, quando era guarda-freio e estava regenerado. Depois, cada um foi para um lado, ninguém viu mais ninguém. Eu, fé em Deus, sou muito feliz.”

Ideologia

É Pitombeira quem fala, muito sério: “Hoje falam de subversivo, dizem que a gente era guerrilheiro, socialista; não era não. Nós só queríamos o bem, andar longe da Polícia, só atirava quando atacado e matava muito, muito menos do que o cinema tenta contar em filme de cangaceiro. Nós não fazíamos maldade com sertanejo, tinha que viver sem ódio no coração, tinha que ser amigo de todo mundo, se não estava perdido.

É, é verdade que quando não davam o que a gente pedia, tinha que tirar à força, mas não era comum.

História de usar banha de gente para lubrificar parabelo, mentira é que é. Nunca faltou o óleo nem a lixa para tirar ferrugem. Arma também tinha muita, os fazendeiros davam, se não nós perseguíamos.

Tinha fuzil, mosquetão, rifle, parabelo, mauser, tudo calibre grande, 7 milímetros, 30, 38. A gente atirava no ombro, apertando bem para não dar tranco ou, quando a coisa apertava, apoiava no braço, mas muito raro atirar de cima do cavalo. As balas, também, não ficavam, furou meu braço aqui, a perna do Balão, o ombro do Marinheiro, mas era bala boa, de fuzil, entreva e saia do outro lado, tudo bala bonita, de aço, niquelada”.
- “Mas esse tempo passou, hoje é diferente, vivo com a família em São Paulo, faço economia, gasto muito pouco, tenho três casinhas aqui.”

Paulo Afonso, a morte do Sertão

Faz alguns anos, Pitombeira voltou ao sertão. Hoje, ele não reconhece mais aquilo, nada é como onde nasceu.

“Paulo Afonso, a usina, ela matou o sertão. Hoje, não teria mais cangaço nem guerrilha, nem nada. A Usina de Paulo Afonso devorou o sertão, está comendo a caatinga, pondo civilização; muita gente sabe ler, as fazendas são diferentes, caminhão anda por tudo, tem televisão, tem pontes, tem luz chegando a todo lugar. O meu sertão, o sertão de Lampião, do cangaço, ele não existe mais.

Não há mais precisão do cavalo para a caatinga, nem o culote, meia sobre a calça, alpercata, não existe nem mais o chapéu bom para fazer chapéu de cangaceiro. Bem que em São Paulo eu vi uns que serviam, mas não é como no cinema; a gente usava chapéu de couro, bem macio, de camurça enfeitado. Comia a carne seca, às vezes um cabrito ou o boi dos outros, matando na bala”.

Maria Bonita

Do outro lado do saguão do aeroporto, Balão está fazendo graça, dizendo que cava tão fundo para cravar estacas que algum dia acha um japonês do outro lado do mundo. Dadá, mulher de Corisco, olha para ele, comenta com uma amiga: “Piada sim, mas valente, isso é uma fera”.

Balão fala ainda. “Eu brincava com Maria Bonita, lutava com ela, derrubava, rolava no chão. Lampião ria, dizia para a gente não zangar, para não dar briga. Nem parece que faz tempo que ela morreu com Lampião, pondo sangue pela boca. E hoje, eu tenho 60 anos, não tenho mais bala no corpo, o chumbo tiraram em São Salvador.

Doença? Não, cangaceiro nunca adoece, não carecia de médico. Só agora, em São Paulo, cavando um poço de estaca na Consolação é que bebi água sem saber que tinha suco do cemitério. Passei doze dias vomitando sangue, mas, no sertão, nunca adoeci. Duro era ver companheiro ferido, sabendo que a polícia degolava, implorando me leva, e não poder”.

Mulheres 

Criança também tem lembranças, fala das mulheres. “Tinha pouca mulher no bando, só dos chefões, ninguém mais queria, mas era valente, brigava junto com a gente. E tudo respeitava, respeitava mesmo, muito mais que aqui, em São Paulo”.

O avião está atrasado, os descendentes de Lampião demoram a chegar. Vera, com 14 anos, quer estudar medicina, espera que São Paulo lhe arranje um dia uma bolsa. Sua mãe mal conheceu os pais; criança ainda, foi entregue a um fazendeiro para criar. Lampião não gostava de criança no bando, ficava bravo quando um cabra apresentava sua mulher, de 13 ou 14 anos, perguntava se ia criar.

Pitombeira está falando de novo, achando difícil entender o que quer dizer o objetivo final.

Cangaceiros, sem remorsos

Os cangaceiros não dizem, mas, pela sua conversa, por suas histórias, eles não estão muito arrependidos de seus crimes. Acham que fizeram as coisas certas. Na hora de denunciar quem lhes vendeu as armas, dizem “que não se cospe no prato em que se come”. São desconfiados: na hora de dizer o nome verdadeiro, relutam muito.

Lampião era um grande líder. Representava a luta contra a opressão dos fortes, os fazendeiros da época. Essa é a opinião de Balão, Zé Sereno, Labareda, Criança, Dadá e Marinheiro. As histórias de cangaceiros são sempre iguais, só o começo é um pouco diferente. Todos se dizem injustiçados, fugidos da arbitrariedade da polícia. Acabaram na vida de crimes por consequência da situação que enfrentavam. Ninguém teve culpa. É o caso de Lampião, contado por Balão, ou Guilherme Alves. Esse cangaceiro afirma ter sido amigo e confidente do cabra Lampião:

- Lampião era comboieiro – pessoa que toca a tropa de burros de uma cidade para outra, vendendo mercadorias. Um dia, ele vortô pra casa e encontrô a famia morta. Foi uma outra famia, os Fulô. Lampião ficô revortado e entrô no grupo do padre Luiz Pereira Fagundes. Depois ele passó a liderá o grupo. Muitas vêis eu ouvi ele falá que ia se entregá pra poliça. Mais tudo mundo tirava isso da cabeça dele: se ele se entregasse, era homi morto.

Depois, Balão conta que o que estragava a moral do cangaceiro era a fama que eles tinham, quase sem culpa. Os jornais falavam mal do cangaceiro – que só queria viver, sem se sujeitar à opressão dos “coronéis de fazenda”. Para isso, é que os homens se internavam na caatinga. Geralmente, fugiam para o interior acuados pela polícia, a “volante”, por terem se insurgido contra alguma injustiça. Às vezes, eram apanhado pela “volante”, que os torturava para descobrir os cangaceiros. Eles eram obrigados a fugir e, para não morrer, matavam como cangaceiros.

E o cinema, Balão, você assistiu aos filmes de cangaceiro?

- Sisti, tudo mintira, elis qué imitá, mais num consegue.

Balão viu a morte de Lampião, viu quando o amigo tombou de costas, varado por diversas balas.

Existem algumas hipóteses segundo as quais o cangaceiro teria sido morto com veneno.

O sangue de Lampião saía, pelo nariz e pela boca. Balão fugiu do lugar. Posteriormente, ficou sabendo que os “volantes” cortaram-lhe na mesma hora a cabeça e a de Maria Bonita. Consta inclusive que ela teria sido decapitada ainda viva, pois seu ferimento não era dos piores.

- Ninguém morre de um tiro só.

Quando Balão fugiu, com o seu grupo, mandou um rapaz saber se Lampião tinha sido salvo. O rapaz voltou com fotografias das cabeças do cangaceiro e sua companheira. Os volantes decapitaram-nos e colocaram as cabeças em latas com vinagre e sal. Levaram depois essas latas pelas cidades, para intimidar o povo.

Zé Sereno, ou José Ribeiro Filho, perna quebrada, bengala. Ele conta que comprava suas armas de muita gente, até de “coronéis”. Pagava 600 cruzeiros por um mosquetão e 2 cruzeiros (antigos) por uma bala.

Mas o cangaceiro não podia fazer suas compras com a mesma tranquilidade de quem entra no armazém. Ele não podia se arriscar. Por isso, utilizava os serviços de um coiteiro. Era a pessoa encarregada de fazer as compras dos cangaceiros.

Zé Sereno, você pode dizer quem lhe vendia as armas? Não moço, num mi peça isso, tem muita gente viva lá ainda, num quero cumplicá ninguém.

Dadá, a mulher de Corisco, ouve a resposta de Zé Sereno e comenta:

- Num si cospe no prato que si come.

Isso mostra que, passados muitos anos das lutas, dos crimes e de toda aquela epopeia sangrenta, eles ainda continuam acreditando no que fizeram, não achando errado. Num si cospe no prato qui come diz Dadá, que é Sérgia da Silva Chagas, a mulher de Corisco.

Criança, ou Vitor Rodrigues Lima. Outrora uma fera; ontem, de terno e gravata, passou carregando uma criança no colo. Foi gozado, disseram-lhe: ao que chegou um cangaceiro, a pajem de criança.
Labareda, ou Ângelo Roque, 65 anos, parece muito mais velho. Quase não fala. Seus companheiros falam mais do que ele. Suas palavras são difíceis de ouvir, está muito velho. Mesmo assim, ele é muito objetivo, não gosta de muitos detalhes. Até repreende seus companheiros, quando estes contam suas histórias e se perdem nas minúcias. Marinheiro não fala nada, até o nome certo não quer dizer. Finalmente diz, é Antônio Paulo dos Santos.

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O CANGAÇO EM POÇO REDONDO - A CAPELA DA FAZENDA PELADA

 Rangel Alves da Costa


O dia era 13 de junho de 1932. Bem ao lado desta capelinha que tem São Clemente como padroeiro, na região da Pelada nos sertões sergipanos de Poço Redondo, o percurso cruel e desumano da Chacina do Couro (perseguição sangrenta comandada pela perversidade do cangaceiro Gato, tendo ao lado os igualmente terríveis bandoleiros Suspeita, Medalha, Azulão e Cajueiro, vitimando inocentes homens da terra), teve por consequência o assassinato de mais três homens da terra, um morador da região, um pai e um filho. 

Depois de terem chacinado Antônio Monteiro e o menino Galdino mais atrás, na região da Lagoa do Tingui, Gato e seus comandados seguiram buscando mais sangue. Chegaram à casa da fazenda na Pelada, de propriedade de um senhor chamado Clemente, já trazendo outro sertanejo amarrado: Alfredo. 

Gato e Inacinha

Na casa encontraram Clemente e o seu filho chamado João. Instantes após, pelo fato de Alfredo afirmar que já não suportava tanto sofrimento e preferia a morte, então a cangaceirama nem pensou duas vezes, pois fizeram o sertanejo impiedosamente tombar pela terra. 

  Em seguida, sem qualquer motivação para tamanha brutalidade e covardia, mataram também o pai e o filho. A antiga casa foi sendo abandonada e ao lado, após fatos misteriosos surgidos, uma casinha de oração foi construída. Tempos após, contudo, uma capelinha foi erguida para zelar pelas cruzes de Clemente, João e Alfredo, que continuam em seu interior.

Os moradores da região afirmam que num dos cantos da capelinha marcas de sangue insistentemente surgem, ainda que atualmente cimentada. São fatos, memórias e histórias ainda presentes na Pelada e região, e que vivamente testemunham a terrível passagem do cangaceiro Gato e sua malta pelos sertões poço-redondenses. 

Em julho, as pegadas dos turistas e pesquisadores estarão por aí. Quem quiser participar basta entrar em contato com o documentarista Aderbal Nogueira. Assim, nos dias 29 e 30 de julho, Poço Redondo se tornará num livro vivo para o conhecimento da história cangaceira nos sertões sergipanos do São Francisco.

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VENDE-SE O CARRO DE BOI

 Clerisvaldo B. Chagas, 22 de agosto de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.755


MANOEL DANIEL E SEU CARRO DE BOI, RODA DE PNEU (FOTOS: B. CHAGAS).
 

A visita não foi programada. Uma surpresa nas pesquisas sobre o padre Cícero, nos fizeram chegar até a casa do senhor Manoel Daniel Filho, após visita a uma área invadida pelo Ipanema na grande cheia deste ano. O lugar chamado “Volta” ou “Volta do Ipanema” – expressão muita usada no passado – hoje está bem habitada, às margens do rio, parte mais baixa no extremo oeste do Bairro São José. Entretanto, esse ponto onde o rio faz uma curva, daí a denominação, continua com os mesmos aspectos de antigamente. Ali as águas subiram muito e invadiram residências no final de ruas que se cruzam em forma de “L”.  Várias casas foram invadidas e outras derrubadas pela cheia. Até hoje permanecem os chamados “basculhos” secos nas pedras do Panema.

A cheia não chegara à casa do Sr. Manoel e podemos conversar à vontade na sua garagem em que está seu carro de boi de rodas de pneu, fruto de decreto do, então, prefeito Ulisses Silva, proibindo carros de boi de rodas de aros de ferro circularem no novo calçamento de paralelepípedos de Santana do Ipanema. Vendidos os bois, o carro bem feito aguarda comprador enquanto serve de depósito de madeira e panos do funcionário público aposentado. Seu Manoel fala da perna quebrada no seu trabalho caseiro, suas dificuldades para locomoção, mas não deixa em paz seus instintos de trabalhador: “enquanto descansa carrega pedras”, diz o homem conformado com sua deficiência. Devoto de Santa Quitéria, fala da vila pernambucana com grande propriedade.

Enquanto isso, sua esposa conta a graça alcançada com o padre Cícero do Juazeiro. Senhor Manoel Afirma sobre o carro: “Não tem uma folga em nada, é todo de craibeira e ninguém faz um igual a esse pelo preço que está à venda”. Continuo dialogando com aquele cidadão que eu, ainda criança e rapaz tanto o vi passando na minha Rua Antônio Tavares, ora a pé, ora comprando cinzas em um jumento, para os curtumes da Maniçoba. Agora na terceira idade. Nunca tive coragem de falar com ele, mas nas voltas que o mundo dá chego de cara com aquele adulto de outrora.  E com tantas conversas agradáveis – até parecia que queríamos descontar o tempo de tantas eras em nosso mutismo. Ele muito me agradeceu pela minha palestra e eu saí de alma vibrante de alegria, pela oportunidade que a vida me dava e pelo muito que aprendi naquela rodada de simplicidade, segredo da vida.



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CARIRI CANGAÇO PIRANHAS 2022, UM ESPETÁCULO A CÉU ABERTO!

 Por Luci França Araujo

Luci e Sérgio França no Cariri Cangaço Piranhas 2022

Respeitável Público! A Vida tem o prazer de lhes apresentar: Cariri Cangaço Piranhas 2022, um espetáculo a céu aberto!

Tendo como palco giratório o Centro Histórico de Piranhas e a Grota do Angico e, como cenário o “encantado” rio São Francisco, sob os cuidados (cuidado essa é a palavra) do atencioso e afetuoso, Manoel Severo... e equipe, fez-se o espetáculo: Cariri Cangaço Piranhas 2022.

Depois de um tempo com a ribalta sob a meia luz (devido, dentre outras a necessidade, a de isolamento), ter a oportunidade de vivenciar a experiência desse evento para mim foi um privilégio.

Nos palcos, na coxia, nos corredores, todos fomos protagonistas, espectadores e admiradores. Além   de interagir, exercitamos lindamente naqueles dias, a troca de conhecimento, a paixão e curiosidade pelo tema. Vivenciamos a arte essencial e necessária ao ser humano, a arte do encontro. Celebramos a vida!

Momento solene em que são depositadas as cinzas do Mestre Antônio Amaury no leito do Rio São Francisco...Cariri Cangaço Piranhas 2022

"Foi muito especial ter sido “apresentada” ao brilhante pesquisador, Antônio Amaury Corrêa de Araújo, da maneira que fui. No meu aprendizado sobre a vida, conhecê-lo no ato solene de sua semeadura no rio São Francisco, foi um recorte místico: “...ser semeado no velho Chico, algo encantado!”

O tema Cangaço sempre me despertou muito interesse. E, ao longo da pesquisa acadêmica do mestrado do meu companheiro Sérgio Ricardo Morais de Araújo França, que trazia ao centro das nossas conversas inúmeras vezes o tema, fez com que a minha curiosidade fosse ainda mais aguçada. Daí, materiais que trazem e tratam o tema   e os desdobramentos do que ele reverbera na compreensão sobre as questões socioeconômicas do nosso país, tem me despertado cada vez mais o olhar e o pensar.

A História tem mesmo esse poder místico, de nos transportar para um tempo/espaço que não vivemos, ou que pelo menos pensamos não ter vivido. E essa história, sendo contada por descendentes de personagens reais de episódios tão marcantes no cenário real foi mágico para mim.

Foi muito especial ter sido “apresentada” ao brilhante pesquisador, Antônio Amaury Corrêa de Araújo, da maneira que fui. No meu aprendizado sobre a vida, conhecê-lo no ato solene de sua semeadura no rio São Francisco, foi um recorte místico: “...ser semeado no velho Chico, algo encantado! ”. Não sei se haveria algo mais simbólico ao reconhecimento da vida e da história de um homem apaixonado pela vida, pela história, pelo Nordeste, pelo cangaço, pelo País.

Luci e Sérgio França e Manoel Severo no Cariri Cangaço Piranhas 2022

E ainda, como falar desse momento sem falar e saudar a uma das sementes, cria de Dr. Amaury, o Carlos Elydio, meus sentimentos e respeito pelo momento que passa e, carinho e admiração pela presença generosa, pela força e gentileza que é Ele.

Gostaria também de destacar dentre tantos encontros felizes, Luciana Nabuco e Ricardo Beliel, ouvi-los, estar com eles, mesmo que em breves momentos, foi um presente. Meus queridos Neri e Kydelmir Dantas, encontro com jeito de reencontro. A atenção e a delicadeza da Maria Otília Cabral Souza e a atenção, simpatia e generosidade de Gilmar Teixeira. Além de todos e todas, que tive o privilégio de compartilhar de alguma forma essa experiência.

Nessa vivência do Cariri Cangaço de Piranhas 2022, foram sopradas no solo fértil do conhecimento e da paixão pelo Cangaço, muitas sementes de amizades e afetos que brotaram ao longo do tempo e serão regadas com os abraços e novas histórias dos próximos encontros.

Que venha Cariri Cangaço Serra Talhada! Novo Palco, novo espetáculo e novos encontros! Gratidão, abraços, aplausos, saudações a todos!

Luci S. de França Araújo, Recife 18 de agosto de 2022

O Cariri Cangaço Piranhas aconteceu entre os dias 28 e 30 de julho de 2022 na cidade ribeirinha de Piranhas, baixo São Francisco, no estado de Alagoas, nordeste do Brasil.

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