Por Junior
Almeida
Existe na
vasta literatura cangaceira centenas de narrativas de passagens sangrentas em
solo nordestino. Algumas mortes aconteceram com certo heroísmo, outras por
encomenda, algumas por azar e muitas por inveja, cruzetas, ou mesmo por puro e
simples fuxico, o mal que assolou o Sertão naqueles tempos, como disse tão bem
o mestre Alcino Alves Costa. De certo é que em nossa terra jorrou o sangue de
muitos inocentes.
Muitos homens caíram em desgraça, entrando para o cangaço ou para as volantes,
por falta de perspectivas de vida, ou faziam isso ou morriam. Já outros tantos,
participavam da luta indiretamente e lucravam muito com as desgraças alheias.
Lampião, como ele mesmo disse em Juazeiro do Padre Cícero em 1926, era um pé de
dinheiro. Era bom negociar com o rei de todos os cangaceiros. Ele comprava em
quantidade e pagava muito bem o que comprava. Muito enriqueceram às suas
custas.
Se um coiteiro
ganhasse a confiança do “Rei Vesgo”, estava feito na vida. Além de faturar alto
com isso, financeiramente falando, tinha a vantagem de ninguém se atrever mexer
com ele, e não era difícil, por exemplo, que comprasse uma propriedade por
muito menos do que ela valia, só por ser amigo de Lampião. Quem danado queria
se indispor com Virgulino ou um protegido seu?
O cangaceiro
mor era leal a quem o servia com a mesma lealdade, e de sua maneira, tratava
bem seus colaboradores. Esses por sua vez, não tinham qualquer tipo de escrúpulos
para que tão vantajosa relação fosse mantida. Valia tudo. Foram dezenas,
centenas de servos de Lampião durante o seu reinado e para esses, o que valia
era o dinheiro e outras vantagens que Virgulino podia lhes proporcionar, não
importando laços de amizade ou sangue, se muitas pessoas ficariam na orfandade
por conta de seus atos ou mesmo que sofrimentos sem fim seriam vitimados vários
desditos, por conta de determinada atitude covarde e muitas vezes mentirosa do
coiteiro caluniador ou do simples adulador de bandidos.
Quem mais
sofria era quem não tinha um lado na peleja, o roceiro simples, o cidadão de
bem. Envolvido com as partes, ninguém era santo, isso é certo. Foram muitos
cangaceiros e volantes sanguinários. Pessoas que nem sei se pode-se chamar de
gente, pois eram feras humanas, carniceiros da pior qualidade. Gato, Moreno, Zé
Baiano, Corisco ou o próprio Lampião, dentre outros, estão nessa lista, pois
foram tudo de ruim já descrito pela história, mas algumas pessoas daquela época
foram até piores mesmo sem estarem presentes no campo de luta, pois com seus
atos foram responsáveis por grandes atrocidades.
Os casos são muitos, os personagens mais ainda, mas particularmente destaco
três que são símbolos do que pior pode existir no ser humano e do que existiu
na triste história do cangaço. São NA MINHA OPINIÃO seres desprezíveis do
cangaço.
Foto de Joca Bernardo do Blog do Mendes e Mendes
Joca Bernardo,
essa ignóbil criatura é foi uma dessas pessoas que infelizmente a história tem
que registrar. Invejoso, cruzeteiro, mentiroso e extremamente covarde. Por
conta de sua aversão aos cangaceiros, por ser corneado por um, o cabra Jacaré,
do bando de Corisco, Joca decidiu procurar o sargento Aniceto, e delatou quem
sabia onde Lampião com seu bando estavam acoitados. Por conta do seu fuxico
morreram doze em Angicos, e para piorar, esse cabra ainda mentiu para Corisco,
para que esse cometesse mais uma barbaridade, matando mais seis pessoas da
Família Ventura. Ou seja: Joca Bernardo foi o responsável direto por 18 mortes,
sendo seis inocentes, que nada deviam a cangaceiros ou volantes. Dizem que em
Piranhas morreu no desprezo, que quando passava na rua, as pessoas davam-lhe as
costas.
Horácio
Grande, ou Horácio Novaes foi outro bandido de atitudes bem reprováveis.
Ladrão, covarde e mentiroso, esse ser que não se sabe se tinha alguma virtude,
além de ter roubado a tropa de burros da honrada família Gilo, se sentiu
ofendido em ser pego com a boca na botija e ser desmoralizado por ser ladrão.
Quis se vingar dos Gilos, numa total inversão de papéis, como se a honrada família
fosse a errada da história. Na primeira investida se deu mal, pois perdeu um
companheiro de empreitada, o cabra Brasa Viva, e ainda levou um tiro no saco,
que quase lhe capa. Não desistindo de seu intento, Horácio Grande se aliou a
Lampião e o envenenou contra a família do Sítio Tapera em Floresta. O
cangaceiro tão esperto caiu nas mentiras do sicário florestano, e em agosto de
1926 com cerca de cem homens cometeu uma das maiores atrocidades que se tem
conhecimento em sua vasta história de crimes. Por conta da sórdida atitude de
Horácio Grande morreram treze pessoas da família e mais um soldado que veio em
socorro dos desafortunados Gilos.
Outro
personagem de triste memória também tem seu nome ligado à hecatombe da Tapera
em Floresta. Antônio Muniz de Farias, oficial da polícia pernambucana, que
teoricamente deveria dar segurança aos cidadãos de Floresta e região, foi
também responsável pela morte da Família Gilo e um dos seus comandados, mesmo
sem ter apertado o gatilho. O capitão Muniz Farias tinha dado a sua garantia
aos Gilos que se Lampião fosse atacar a Tapera, ele mesmo iria com seu efetivo
do quartel em Floresta, para acudi-los. Balela. Em cerca de dez horas de
tiroteio o covarde oficial não só deixou de cumprir com a palavra empenhada,
como proibiu seus comandados de agirem. Só o destemido Manoel Neto, num ato de
insubordinação foi em auxílio do Gilos, perdendo com isso um soldado. Conta-se
em Floresta, que o portador do pedido de socorro no quartel argumentava com
água nos olhos que o oficial tinha dado a sua palavra, por tanto deveria Muniz,
como homem que acreditavam que fosse, deveria cumprir.
Antônio Muniz
Farias com esse ato de extrema covardia apagou da sua história qualquer ato de
bravura que tenha feito e manchou de forma vergonhosa o nome da corporação.
Sicários da pior espécie existiram muitos, mas um covarde como esse, que se
escondia atrás da farda e foi responsável pela perda de 14 vidas, é um dos
piores.
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