A PRIMEIRA
VISTA PARECE UMA IMAGEM DO HOLOCAUSTO... MAS FOI REGISTRADA AQUI NO BRASIL,
PARA SER MAIS EXATO NO ESTADO DO CEARÁ. CONHEÇAM A
HISTÓRIA DO MASSACRE DO CALDEIRÃO DE SANTA CRUZ DO DESERTO (CRATO/CE). "DO CÉU
CHOVEU BALAS EM VEZ DE BÊNÇÃOS"!
“No mês de
maio encerrado (a sete dias atrás), completou-se (78) anos da primeira vez que
civis brasileiros foram mortos pela aviação militar de seu próprio país.
O massacre
ocorreu no dia 11 de maio de 1937 na região do Crato, no sul do Ceará. As
vítimas: camponeses da comunidade Caldeirão de Santa Cruz do Deserto. Ali
morreram 700 pessoas. Nenhum soldado morreu.
A ordem para
abrir fogo das metralhadoras dos aviões da FAB (Força Aérea Brasileira) contra
os lavradores partiu do general Eurico Gaspar Dutra, então ministro da Guerra
do governo Getúlio Vargas.
A comunidade
agrícola-religiosa era liderada pelo beato José Lourenço.
Paraibano, José Lourenço decidiu mudar-se para Juazeiro do Norte (CE). Lá
conheceu Padre Cícero, e caiu nas graças dele. Logo o beato arrendou um lote de
terra, onde se instalou com alguns romeiros. A produção de frutas e cereais
cresceu rápido. Os plantadores dividiam tudo entre si, em partes iguais”.
“Padre Cícero
mandava para as terras de José Lourenço ladrões, prostitutas, assassinos e todo
tipo de “vidas-tortas”. O beato os consertava fazendo-os trabalhar da manhã à
noite, em meio a muitas rezas.
A cada melhora
na comunidade de José Lourenço, crescia a ira dos políticos e fazendeiros da
região. Em 1921, conseguiram prendê-lo, acusando-o de fanatismo e adoração de
animal como objeto de culto religioso. O bicho não passava de um boi, chamado
Mansinho, dado de presente por Delmiro Gouveia ao Padre Cícero, que o deixou
aos cuidados do beato. Os donos das terras acusaram o beato de atribuir poderes
milagrosos às fezes e urina do boi. Mataram o animal e forçaram José Lourenço a
comer sua carne.
As humilhações
e maus tratos sofridos na prisão aumentaram a devoção do povo com o beato”.
“Tudo era de
todos”.
“Em 1926 José
Lourenço mudou sua comunidade para a Fazenda Caldeirão dos Jesuítas, pois a
antiga terra que ocupava fora vendida. Foi na fazenda Caldeirão que o beato
fundou sua Irmandade de Santa Cruz do Deserto. De novo, o trabalho agrícola
prosperou logo. Além de alimentar toda a comunidade, sobrava para abastecer
toda a região do Crato e Juazeiro. Tanto os produtos colhidos quanto o lucro
obtido com a venda dos excedentes, eram divididos em partes iguais. Apesar de
analfabeto, José Lourenço tinha talento para dividir tarefas e ensinar medicina
caseira.
Em 1932 o
Governo do Ceará criou campos de concentração para os flagelados da seca. A
intenção era manter os famintos e sedentos longe de Fortaleza, capital do
estado. Nestes lugares, severamente sob os fuzis das sentinelas, morria gente
feito moscas. Quem conseguia fugir, ia para o Caldeirão. Ali a fartura nunca
acabava, graças ao sistema ecológico do plantio e técnicas de conservação de
água, com construção de micro-barragens. A Irmandade de Santa Cruz do Deserto
crescia, e a ira dos latifundiários também.
Com a morte de
Padre Cícero em 1934, José Lourenço perdeu seu grande aliado e defensor. Era a
chance que os poderosos esperavam há anos...
Começaram a
comparar o Caldeirão a Canudos e dizer que José Lourenço adotara o regime
comunista com seus romeiros.
Em 09 de
setembro de 1936 um batalhão da Polícia do Ceará expulsou o povo do Caldeirão e
queimou suas 400 casas. Os sobreviventes fugiram para o mato, onde se
reagruparam”.
AO INVÉS DE
BENÇÃOS, BALAS CAÍRAM DO CÉU.
“No ano
seguinte, um incidente serviu como sentença de morte para a comunidade do
Caldeirão. Um capitão da polícia militar e quatro soldados morreram em uma
escaramuça com membros de uma facção da Irmandade.
Dias depois
vinha a ordem do Governo Federal para o massacre final. O general Dutra liberou
200 soldados por terra, e três aparelhos de guerra do Destacamento de Aviação.
As metralhadoras da FAB despejaram chumbo quente sobre os colonos indefesos.
José Lourenço
refugiou-se em Exu, no Pernambuco, onde morreu em 1946 de peste bubônica. O
povo carregou seu caixão por 70 quilômetros a pé, até Juazeiro. Os padres
negaram-se a celebrar seu funeral.
Os fiéis
seguidores então o enterraram no Cemitério do Socorro”.
PACTO DE
SILÊNCIO
““Foi uma
coisa tão triste, que minha memória esqueceu”. Assim disse o lavrador
aposentado João Batista de Morais ao repórter Paulo Mota, da Folha do Ceará,
numa entrevista realizada com sobreviventes em fevereiro de 1998. “Já sofri
muito, meu filho”, emendou a também aposentada Alexandrina Tavares de Líria,
com 81 anos quando a reportagem foi publicada. “O que posso dizer é que
Caldeirão foi um sonho que passou e nada mais”.
Até hoje este
episódio sangrento não é incluído nas aulas de História do Brasil.
Em 1986 o
cineasta Rosenberg Cariry lançou o documentário longa-metragem Caldeirão de
Santa Cruz do Deserto.
Em setembro de
2008, a organização não governamental SOS Direitos Humanos entrou com ação
contra o Governo Federal e do Ceará, exigindo que o Exército indique o local
exato da vala comum onde foram jogados os corpos das 700 vítimas. Exige ainda a
exumação e identificação delas por DNA, enterro digno e R$ 500 mil de
indenização para seus familiares”.
Obs: Acima uma fotografia de uma cova coletiva de mortos do Caldeirão (Crato/CE)
Fonte: facebook
Página: Geraldo Júnior
Grupo: O Cangaço
Link: https://www.facebook.com/groups/ocangaco/1208180832528366/?notif_t=group_activity¬if_id=1461019127651799
http://blogdomendesemendes.blogspot.com