Por José de
Paiva Rebouças
Até àquela
altura, tudo estava dando certo para Lampião no Rio Grande do Norte, bem como
discutido com o coronel Isaías Arruda.
Coronel Isaías Arruda - Fonte da imagem: https://www.google.com.br
Mas, desde a fazenda Caiçara, ele tinha
informações de um possível levante no povoado Vila de Vitória, hoje município
de Marcelino Vieira. Aproximadamente 60 homens armados, tinha alertado o refém
Antônio Dias de Aquino.
Antônio
Dias de Aquino - Fonte
da imagem: http://jotamaria-fogodacaicara.blogspot.com.br/
O coronel José
Marcelino de Oliveira líder local, organizou o piquete contando com
voluntários. O tenente Napoleão de Carvalho Agra, representante da Polícia Militar do Estado, foi incumbido de organizar força armada para enfrentar os
cangaceiros.
Para percorrer
os 18km até a fazenda Aroeiras, de José Lopes, contaram com o empréstimo dos
automóveis do boticário Álvaro Andrade, de Pau dos Ferros, e de Emiliano Arnaud
e Antônio Caetano de Alexandria.
CONFRONTO NA
ANTIGO MARCELINO VIEIRA
Cangaceiro Sabino Gomes - Fonte da imagem: https://coisasdecajazeiras.com.br
Sabino comandava
a tropa quando teve a impressão de ouvir barulho de motor à explosão. Levantou
o braço em sinal de comando. O grupo parou atento. Numa curva do caminho,
apontaram os veículos perfilados de soldados.
A resistência
também viu os cangaceiros, mas foi obrigada a parar os veículos em declives
desfavoráveis. Sabino deu comando e a bateria de tiros começou. Soldados entrincheirados. As balas resvalavam nas baterias dos automóveis, fazia menos
barulho que a algazarra dos bandidos.
Sem saída, o
tenente ordenou o revide. O guia Antônio Dias de Aquino aproveitou o
confronto para empreender fuga. Foi
baleado, mas mesmo assim, conseguiu escapar.
Mais
experientes, os cangaceiros dominaram a batalha, praticamente cercando a tropa
comandada por Agra. Sabino aproveitou-se do fumacê provocado pelas armas e
mandou que cinco homens, sob comando de Moreno, forçassem um fogo por um dos flancos.
Moreno antes e depois do cangaço - Fonte da imagem: https://www.youtube.com/watch?v=biQEQTcGWMs
Inexperientes
e com armas inferiores, os soldados se precipitam. Os cangaceiros ouviram
quando o corneteiro Francisco Sales gritou que a munição estava acabando,
motivo para os bandidos ampliarem o fogo.
Capitão Lampião - Fonte da foto: https://pt.wikipedia.org/wiki/Lampi%C3%A3o
A chegada da
tropa de Lampião encerrou o confronto. A ofensiva forçou o recuo do regimento
comandado por Agra. Ferido, o soldado José Monteiro de Matos dava cobertura
para seus colegas fugirem. Tinha dito em Vila que morreria, mas não recuava.
Assim fez. A resistência sumia na curva da estrada.
Fim do
confronto, os cangaceiros encontraram morto o bandido Patrício de Souza,
conhecido como Azulão. O cabra conhecido como Cordeiro também foi ferido com
bastante gravidade. Pouco diante, o soldado Monteiro agonizava.
Coqueiro lhe
tomou o fuzil, atirou contra ele várias vezes e terminou a atrocidade
desferindo diversas cutiladas de punhal no homem já morto.
Recolheram o
que se aproveitava de armas e munição e atearam fogo nos automóveis. Enterraram
Azulão em cova rasa.
A RETOMADA
RUMO À MOSSORÓ
Depois do
confronto, os cangaceiros decidiram passar longe de Vila de Vitória. Lampião
estava contrariado com a resistência e se dirigia a Massilon.
Retomaram com
os assaltos na fazenda Lajes, onde fizeram reféns o rendeiro João Bevenuto e
seu irmão Emídio. Conquistaram o sítio São Bento e Poço de Pedras, de
propriedade de Francisco Germano da Silveira, preso por dez contos de réis.
Francisco Germano da Silveira - Fonte: http://blogdomendesemendes.blogspot.com.br
Atacaram a
fazenda Caricé, do capitão Marcelino Vieira, que tinha se evadido com a
família. Na fazenda Morada Nova, surpreenderam o proprietário Antônio Januário
de Aquino. Preocupado com as filhas adolescentes Raimunda, Arcanja e Maria,
expressou aflição. Foi atendido, mas teve que disponibilizar dinheiro e comida
para a cabroeira.
Em terras do
município de Martins, saquearam o sítio Ponta da Serra. O agricultor Francisco
Dias foi pego de guia e obrigado a conduzir a tropa até a fazenda Morcego de
Manoel Raulino de Queiroz, que foi espancado junto com esposa. Um filho
conseguiu fugir e foi baleado, mas escapou por sorte.
Em seguida,
invadiram os sítios Ribeiro, Pintada, Garrota Morta e Corredor. O
agricultor Manoel Barreto leite cruzou o caminhos dos cangaceiros e foi pego de
refém por 50 contos de réis.
No sítio
Buraco, espancaram e fizeram refém o fazendeiro Sebastião Ferreira de Freitas,
o Sebastião de Marcolino. No sítio Carnaubinha tomaram o cavalo de Manoel
Ricarte e assaltaram Olinto Martins e Francisco Ferreira. De lá, cruzaram o
sítio Cajueiro, maltratando os moradores, e, mais à frente, prenderam como guia
o tangedor de rebanhos João de Doca e um companheiro.
INVASÃO NA
ANTIGA ANTÔNIO MARTINS
Justino Ferreira de Souza - Fonte da imagem: http://oestenews-etcetera.blogspot.com.br
Era festa de
Santo Antônio no pequeno povoado de Boa Esperança, hoje cidade de Antônio
Martins. Justino Ferreira de Souza, fundador do lugar, foi avisado da presença
de Lampião pelas redondezas, mas não deu ouvidos. Acreditava que poderia
recebê-lo como convidado em sua casa.
Os homens
cercaram o lugar e proibiram as pessoas saírem de casa ou das novenas. Lampião,
Ezequiel Ferreira, Virgínio e Luiz Pedro invadiram a residência de José
Silvestre. O comerciante entregou o pouco que tinha e saiu ileso.
Lampião e seu bando - Fonte da imagem: http://blogdomendesemendes.blogspot.com
Vicente Lira
foi preso como guia. Obrigado a correr na frente dos cavalos, tropeçou e se apoiou nos arreios do cavalo de Lampião.
Por pouco não derrubou o cangaceiro. Furioso, o bandido apunhalou Vicente pelas
costas. Botou uma bala na agulha do fuzil e mandou que o sertanejo corresse,
mesmo sangrando.
No pátio da
igreja, os cangaceiros ainda obrigaram o homem a tomar cachaça. Um copo atrás
do outro. O infeliz vomitou grossa mistura de álcool e sangue. Quando não
aguentou mais, foi abandonado como morto, mas escapou milagrosamente.
Os cangaceiros
ainda atacaram o estabelecimento de Justino Ferreira de Souza, mas, devido a
seu tom de respeito e disponibilidade em colaborar, conquistou atenção de
Lampião e foi poupado, assim como seu comércio.
Augusto Nunes
de Aquino também teve seu comércio e casa saqueados. Espancaram o homem na
frente da família. Decidiram fazer sua esposa, Rosinha Novaes, de refém, mas
ela resistiu. “Como é que posso viajar com uma criança nos braços? Que terra
sem proteção é essa? Parece que não tem homem! Na minha terra ninguém se
atrevia a fazer isso!”, esbravejou.
Sabino se
aborreceu e quis saber de onde ela era. Disse ser de Floresta do Navio/PE. A
informação pegou Lampião de surpresa. Descobriu que a mulher era parente de
Elias e Emiliano Novaes, amigos do cangaceiro. “É, eu não sabia desse
parentesco não. Que coisa medonha. Mas o que tá feito, tá feito, não tem mais
remédio”, teria dito o Lampião, segundo conta Sérgio Dantas.
Desculpou-se e
saiu apaziguando as coisas pelo povoado. Soltou os reféns com aval de Augusto e
recusou o dinheiro do resgate cobrado na prisão do comerciante.
FRUTUOSO
GOMES, LUCRÉCIA E ALMINO AFONSO
Por volta das
oito e meia da noite, o grupo chegou ao sítio Mumbaça, atual cidade de Frutuoso
Gomes. O saque teve início na casa de José Gomes, irmão de Frutuoso Gomes,
chefe do lugar. O agricultor Raimundo Inácio foi preso como guia.
Saquearam o
sítio Cachoeirinha e Cacimba da Vaca, próximo à Lucrécia, um lugarejo na época.
No sítio Castelo, balearam Raimundo Alves, que também sobreviveu.
Chegaram ao
sítio Serrote quase meia noite. Por lá só encontraram Egídio Dias da Cunha,
filho de Joaquim Dias, dono do sítio Cacimba da Vaca. O levaram de refém por 10
contos de réis.
Seguiram para
Gavião, assaltado por Massilon havia um mês. No caminho, passaram no casebre de
José Alavanca. Exigiram silêncio sobre a presença deles e foram descansar no
sítio Caboré, já próximo do destino.
Continuaremos amanhã com o título:
"A CHACINA DE CABORÉ"
Fonte: Jornal De Fato
Revista: Contexto Especial
Nº: 8
Páginas: 17,18 e 19
Ano: 6
Cidade: Mossoró-RN
Editor: José de Paiva Rebouças
E-mail: josedepaivareboucas@gmail.com
Ilustrado por: José Mendes Pereira
http://blogdomendesemendes.blogspot.com