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quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Lampião e outras histórias - Mulheres do cangaço

 Sinhô Pereira, sentado e Luiz Padre, seu primo - que morreu muito antes do Sinhô Pereira

Sinhô Pereira nunca aceitou mulher no cangaço. Segundo ele, Lampião ficou fraco depois que admitiu esta prática. As mulheres do bando foram: Maria Déia, ou Maria Bonita, mulher de Lampião; Sérgia da Silva Chagas, Dadá, a famosa Princesa de Corisco, que viveu muito para contar a história do cangaço; Lídia, mulher de Zé Baiano, que foi morta de uma maneira bárbara; à paulada, pelo próprio companheiro, que tomou  conhecimento da sua traição com outro cangaceiro; Nenen, de Luiz Pedro; Moça; Otília; Durvalina; Inacinha; Cila; Áurea, mulher de Mané Moreno; Mariquinha, mulher de Labareda; Maria dos Santos; Enedina; mulher de Cajazeura ou Zé de Julião; Cristina, mulher de Português; 

Dulce ao centro e o escritor João de Sousa Lima a frente

Dulce, mulher do cangaceiro Criança, e é a única cangaceira que está viva; Lili, que vivia com Moita Brava; Verônica; Maria, a mulher de Pancada.

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Lampião e outras histórias - O ambiente de Lampião

Por doizinho Quental

 

A região nordestina ocupa 1.500.000 quilômetros quadrados. Extensão de terras grandiosa para os domínios do Rei do Cangaço. Na verdade, somente sete Estados foram percorridos pelo maior mito do cangaço. Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas Sergipe e Bahia.

Nestes Estados ele percorreu suas cidades, vilas, serras, caatingas, fazendas, sítios, rios e riachos. Desde menino palmilhou esta região, tangendo animais, atravessando os limites de Pernambuco, da Bahia e do Maranhão. A sua preferência foi sempre viver livre andando pelas cercanias como vaqueiro e almocreve.

No sertão propriamente dito, em tempo de verão, a miséria campeia solta. A caatinga, tostada pela inclemência do sol causticante, fica toda ressequida. A mata apresenta o xiquexique, a macambira, o rasga-beiço e a jurema preta, mais como espectros de ramos tortos e secos, do que como arbustos verdes e viçosos. Contudo, quando a chuva cai, mesmo que miúda, vemos rapidamente o sertão tomar outra forma. Uma vegetação rasteira toma logo conta da terra; as árvores cobrem-se de folhas, os pequenos animais saltitam cruzando as estradas; é outra visão, outra paisagem muito bonita de se ver.

Foi neste meio, ora tórrido e espinhento, ora aprazível, com belas paisagens com caça e pesca abundante, que Lampião viveu. Ele, desde menino, conhecia os segredos, as malocas, os esconderijos que se encontram nesta vastidão de terras.

Tendo sangue indígena, originário dos cariris e tapuias, herdara o espírito guerreiro e a incapacidade de perdoar destes homens primitivos.

Sabemos, por outro lado, que não foram somente estes requisitos que transformaram Virgulino Ferreira da Silva neste aguerrido homem do cangaço. As prepotências dos coronéis de barranco, as injustiças que permearam a sua vida de pequeno agricultor, contribuíram sobremaneira para o desfecho da história do bandoleiro, querido por uns e odiado por outros. 

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Bangu, Memória de um Militante - Lauro Reginaldo da Rocha - Bangu - Parte XII

Por Brasília Carlos Ferreira – Organizadora, 1992

“DÉCIMO PRIMEIRO E DÉCIMO SEGUNDO DIAS”

Vou perdendo a noção do tempo e das coisas. Os meus sentidos se embotam. As vezes tenho dificuldade em saber que parte do corpo me dói, onde estou, o que está havendo. Quando a mente se aclara, sinto que está se esvaindo o que me resta de existência, que minha vida está por um fio, a qualquer momento os prognósticos do doutor Mariosinho poderão ir “pro beleléu”. Os “tiras” já não insistem para que fique de pé durante o dia – insistência que agora seria improfícua, a não ser que arranjassem um meio de escorar o meu esqueleto.

Desperto constantemente de um estado de inconsciência, como se acordasse de um sono profundo, e fico em dúvida se tive um desmaio ou se simplesmente dormi. Acredito que esses intervalos de inconsciência são momentâneos, mas a recuperação dos sentidos traz de volta as dores, a angústia, a apreensão.

Ouço vozerio na sala vizinha. Os torturadores chegaram. Ordenam que me levem ao “quadrado” dos suplícios. Faço esforço para caminhar mas o estado de fraqueza me faz cambalear, os tiras me seguram pelos braços. Me carregam. Me amarram nas maçanetas das portas, fico dependurado pelas cordas, oscilando como um pêndulo. As torturas recomeçam. Param quando sentem que preciso ser reanimado. Reiniciam depois, para depois parar e depois recomeçar.

No 12º dia chegou ao fim. Entrei em agonia. Fui estendido de costas ao chão. Perdi os sentidos. Não sei quanto tempo permaneci nesse estado de coma. Também não sei o que fizeram para que eu voltasse à vida. Ao que parece, esta voltou lentamente. Aos poucos fui recuperando os sentidos.

Primeiro vi umas sombras que se moviam confusamente. Depois verifiquei que estava deitado no chão e em volta de mim estavam os espancadores e seu estado-maior, todos de cócoras, me olhando com curiosidade. O doutor Mariosinho estava mais perto, ergueu minha cabeça e passou a despejar lentamente uma xícara de leite na minha boca, o líquido desceu aos poucos na garganta, aos poucos fui me reanimando.

Depois de permanecer nesse estado por muito tempo, o doutor Mariosinho segurou meu pulso e ao cabo de alguns segundos sentenciou: “Não adianta insistir. Este não agüenta mais”. Outro chefe me ordenou, aborrecido: “Levem esse queixo-duro para a sala dos detidos”.

Dois “tiras” me ergueram e me carregaram, através de salas e corredores, para o local indicado. E me deitaram no chão de uma solitária, onde só cabia uma pessoa.

CONTINUA... 

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