Em toda
organização tem-se que ter um administrador das despesas. Saber quanto entra e
quanto se gasta. É essencial para qualquer um que queira levar adiante sua
casa, sua empresa ou qualquer empreendimento.
Pois bem, nos
grupos formados pelos bandidos e aqueles que os perseguiam, também havia as
despesas a serem contabilizadas. Despesas com munição, armas, vestimentas e
alimentação, coisas que diariamente eram usadas, diminuídas suas reservas,
necessitando de um reabastecimento.
Lampião
pagando um coiteiro. próximo estão, sentado, o cangaceiro "Sabonete"
e em pé o cangaceiro "Juriti".
As volantes
tinham o amparo estatal e as despesas ficavam por conta do governo, ou seja, o
dinheiro do contribuinte era sacrificado para esse fim. Já os bandos de
cangaceiros tinham que auto sustentarem-se. Se bem que esse ‘auto’ também era
do dinheiro do povo, roubado, tirado e extorquido. Os bandos, ou para eles, a
coisa tornava-se mais dispendiosa, pois havia a necessidade de aumentá-las para
cobrir as despesas com os coiteiros, informantes, em todas as camadas sociais
em que o ‘braço’ do chefe mor do cangaço alcançava. Também tinha a obrigação,
podemos assim dizer, de serem pagas as criações, rapaduras e outros alimentos
fornecidos pelos protetores para que os mesmos ficassem de ‘bico’ calado e
sempre terem algo para fornecerem. Para as volantes, quando a ração acabava e
eles chegavam a alguma morada de algum catingueiro, no mato, Povoado, Vila,
Distrito ou pequena cidade, usavam sua total autoridade para que fosse servida
alimentação sem gastarem nada, tudo ficava em nome do governo.
Lampião
acompanhado com Maria de Déa, sua companheira, na caatinga.
“(...) A
manutenção de um grupo de cangaceiros envolvia uma série de estratégias que
exigia muita habilidade para se atingir os resultados e, se tratando de um
numeroso bando como o de Lampião, as despesas aumentavam de forma considerada
(...).” (MARCENA, 2015)
Além das
despesas serem alta, havia o problema da compra. Não era em todo
estabelecimento de venda que um cangaceiro, por estar com os bolsos cheios de
dinheiro, poderia chegar e fazer suas compras. Havia necessidade de uma boa
‘manobra’ para, em muitos lugares, os comerciantes não saberem, realmente, para
quem iriam suas mercadorias vendidas, usando um ou mais coiteiros para fazerem
as compras.
Em outras
oportunidades, havia os comerciantes que vendiam diretamente aos bandos,
principalmente ao de Lampião, necessitando apenas dos intermediários das
entregas, coiteiros, informantes e protetores, até as ‘encomendas’,
mercadorias, chegarem ao destinatário.
Foto de Maria Bonita colorizada, digitalmente, pelo amigo, professor rubens antonio
“(...) O
alimento se fazia presente entre os cangaceiros pela intermediação da rede de
coiteiros; através dos saques em pequenos comércios ou propriedades rurais como
fazendas; pelo acolhimento de alguns coronéis que recebiam os bandos em suas
propriedades; por via da coleta na natureza; raras capturas de algumas pequenas
caças ou pela compra direta feita pelos cangaceiros (...) Todavia, esta última,
era prática bem menos comum por coloca-los em grande exposição, a não ser
quando se livravam dos seus trajes inerentes(...).” (MACENA, 2015)
Em entrevista,
o próprio Lampião cita, por diversas vezes, a dificuldade para manter um bando
numeroso como o seu.
“(...) se não
o organizo conforme o meu desejo é porque me faltam recursos materiais para a
compra de armamentos e para a manutenção do grupo – roupa, alimentação, etc.
(...).” (MACÊDO, 1926)
Na entrevista,
o chefe cangaceiro relata ao entrevistador, sem omitir nada, a maneira, forma,
que exercia para conseguir o dinheiro usado para pagamento das despesas. Ele
referi como sendo ‘trabalho’, aquilo que pratica, exercia, para conseguir,
junto a população o total para as despesas com seus ‘cabras’. Usando até de um
pouco de política, ele defende a maneira que usa.
Nenê
do Ouro com um cangaceiro, dançando e tocando uma gaita. Provavelmente
"Novo Tempo".
“(...) consigo
meios para manter meu grupo pedindo recursos aos ricos e tomando à força aos
usuários que miseravelmente se negam de prestar-me auxílio (...) tudo quanto
tenho na minha vida de bandoleiro mal tem chegado para as vultosas despesas do
meu pessoal – aquisição de armas, convindo notar que muito tenho gasto, também,
com a distribuição de esmolas aos necessitados (...).” (MARCENA, 2015)
Quanto a
aquisição das armas, até pode-se pensar que fora da maneira que narrou o líder
dos cangaceiros, quanto a ‘ajuda’, distribuição, junto aos necessitados sabe-se
que nada tinha a ver, ele nunca que fizera isso, a não ser, jogar moedas para
algumas crianças. As moedas, além de terem um valor mínimo, pesavam bastante,
duas causas que fizeram Virgolino jogá-las para os meninos.
Lampião em demonstração, fazendo uma 'partilha' com seus 'cabras'.
Junto aos
saques, roubos e extorsões, segundo alguns autores, Virgolino emprestava
dinheiro a juros a determinadas pessoas, coisa que dava um rendimento muito
maior, mais vultoso, pela soma ‘empregada’, ou emprestada.
“(...) Havia
outro lado da moeda, bem mais rentável, que incluía negociatas e expressivas
somas de dinheiro: “Lampião, além de avaro, reconhecidamente um bom financista,
diz-se ter brigado com o coronel José Pereira, de Princesa, Paraíba, por esse
ter-lhe aplicado mal o capital levantado no saque de Souza, em 1924” (...).”
(MACENA, 2015).
'Hora
do rango', almoço, dos cangaceiros num coito, acampamento.
A maior dureza
que existia, era estar com o ‘papo de ema’ recheado e não poder usufruir,
muitas vezes ter que se alimentar de cactos e tubérculos ‘doados’ pela
caatinga. Sem poder, muitas vezes, acender fogo, pois a fumaça os denunciariam
as volantes, os coiteiros já traziam a comida pronta até o acampamento, ou em
um lugar próximo a sua casa. O cangaceiro pode ter sido tudo, menos infantil ou
burro. Certa feita, a mando do chefe, um deles retira todos os apetrechos que o
identificava como cangaceiro, pega uma quantia e vai a sede de uma fazenda
fazer compras.
“(...) depois
de tirar todos os enfeites característicos dos cangaceiros, para esconder sua
identidade, conseguiu comprar queijo numa fazenda (...).” (CHANDLER, 2003)
Além das
despesas costumeiras que falamos, também havia aquela das festas, forrós, onde
duravam dois ou três dias. Tinha também a propina aos informantes, a nosso ver,
os telegrafistas foram os principais, pois não há registros, pelo menos que
lembre, de que o chefe mor do cangaço tenha torturado e matado algum. Lampião,
após usar sua maior e eficaz arma, o medo e o terror, começa a enviar seus
famosos ‘bilhetes’ de extorsões. E aqueles a quem a danada da ‘correspondência’
chegava, a maioria pelo menos, pagavam o total ou parte do que vinha escrito
‘pedindo’. Assim, o famoso chefe cangaceiro ia ‘arrumando’ a quantia necessária
para as despesas do bando e, como fica comprovado após sua morte, em seus
espólios, uma vultosa quantia em dinheiro, joias e ouro no decorrer da
existência do seu sangrento reinado. Essa força, o medo e terror, após sua
morte acaba-se. Por mais que enviem 'bilhetes', os outros chefes que ficaram,
não recebiam o que pediam nas extorsões, pelo contrário, recebiam em resposta,
outros contento desaforos.
Fotos Benjamin
Abrahão
PS// FOTO DE
MARIA BONITA COLORIZADA, DIGITALMENTE, PELO AMIGO, PROFESSOR Rubens Antoni
Fonte: facebook
Página: Sálvio Siqueira
Grupo: OFÍCIO DAS ESPINGARDAS
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