Por: Rostand Medeiros
Fazenda
Mato Verde e a Ladeira do Mato Verde
Na tarde do
dia 12 de junho de 1927 Sabino estava a frente da coluna, comandando um
subgrupo que se deslocou com a intenção de atacar a Fazenda Mato Verde, tida
como local de pessoas abonadas. Ao chegar ao casarão ele e seus homens
perceberam que o mesmo estava abandonado, praticamente vazio e quase nada foi
trazido de proveitoso.
O cangaceiro Sabino
Seus
moradores, comandados pela matriarca Tionila Nogueira Barra, buscaram refúgio
na Fazenda Passagem Funda, a cerca de três quilômetros de sua propriedade, onde
se abrigaram por 30 dias em uma gruta denominada “Taipa de Zé Felix”. Clique
e confira artigo já publicado sobre este local
Sobre esta questão vale ressaltar que muitos moradores desta região buscaram
esconderijo em cavidades naturais da zona rural de Felipe Guerra,
principalmente na área do chamado Lajedo do Rosário.
Atual situação
da antiga sede da fazenda Mato Verde atacada por Sabino e seus homens.
O casarão do
Mato Verde chama atenção pela imponência de sua construção. Atualmente, como é
possível observar a foto anterior, o local se encontra em ruínas, sofrendo um
processo de franca degradação. Entretanto comprovamos que foi erguida uma
reforçada cerca de arame farpado, fechando exclusivamente a área do casarão.
Segundo pudemos apurar, os descendentes da família Barra realizaram este
trabalho na tentativa de proteger o que resta deste patrimônio.
A casa estava sendo destruída para a retirada de materiais de construção e por
escavações realizadas nas suas paredes, na tentativa de serem localizadas e
retiradas às conhecidas “botijas”, como no caso anteriormente comentado da
fazenda Aroeira, onde foi sequestrada a senhora Maria Lopes.
Vista da
antiga ladeira do Mato Verde, hoje praticamente sem uso.
Em relação a
ladeira do Mato Verde, através do relato do agricultor João de Deus de
Oliveira, conseguimos algumas informações. Ele nasceu na antiga gleba, até hoje
mora em uma propriedade próxima a fazenda Mato Verde e da famosa ladeira
homônima. Ele nós esclareceu que na época da passagem de Lampião, seus pais
trabalhavam para Tonila Barra e junto com seus familiares fugiram em direção a
Passagem Funda. Segundo informações transmitidas pelos seus pais, no passado a
ladeira do Mato Verde era a principal passagem para os tropeiros e viajantes
que seguiam entre a região salineira e a fronteira entre a Paraíba e o Rio
Grande do Norte.
Visual da casa
da fazenda Mato Verde e do carnaubal característico da região.
Era normal o
tráfego de comboios formados por carros de boi rangendo na subida e na descida,
transportando rapadura do Cariri, algodão, sal, cera de carnaúba, produtos
alimentícios diversos e outros gêneros. Seus antepassados lhe comentaram que os
primeiros automóveis e caminhões que circularam na região, igualmente seguiram
por esta ladeira.
Vista do alto
da ladeira do Mato Verde, local onde Lampião passou com seu bando.
Devido a este
aclive ter sido feito em um local íngreme, nos períodos de chuva era normal o
pavimento ficar deteriorado. Foi então criada outra ladeira, localizada a um
quilômetro a leste do Mato Verde, denominada ladeira do Riacho Preto, onde
atualmente circulam inúmeros veículos entre as cidades de Governador Dix Sept
Rosado e Felipe Guerra.
Não conseguimos apurar a informação se a ladeira do Mato Verde foi criada pela
família Barra, ou se eles edificaram esta casa nas proximidades deste local,
com o intuito de aproveitar a passagem de viajantes e assim facilitar possíveis
negociações. Entretanto visitando o local é fácil compreender a importância
deste local para a história da região.
Percebemos igualmente que, mesmo sem a participação de Massilon neste ataque,
este local certamente lhe era conhecido e a família Barra. Logicamente Massilon
transmitiu as informações para Lampião e Sabino e este último realizou a
“visita” ao local.
Em nosso entendimento, acreditamos que a passagem de Sabino igualmente serviu,
até pela proximidade entre a velha casa e a ladeira atualmente com pouco
utilizada, para um reconhecimento tático desta passagem. Verdadeiro ponto
nevrálgico do trajeto, onde a coluna teria de passar em fila e uma pequena
quantidade de policiais bem posicionados poderia infringir sérios reveses aos
cangaceiros.
No retorno ao sítio Santana, onde estava o resto do bando, Sabino e seus homens
se depararam com automóvel onde se encontravam um motorista e o fazendeiro
Antônio Gurgel do Amaral, que se tornaria a mais famosa vítima da passagem de
Lampião pelo Rio Grande do Norte.
Sítio Tabuleiro Grande – Esta propriedade situa-se após a ladeira do Mato
Verde, em uma área onde atualmente as carnaubeiras desaparecem e retorna a dura
vegetação típica da caatinga. Esta região atualmente é entrecortada por
diversas estradas de barro, que servem e são mantidas em ótimas condições pela
Petrobrás e suas inúmeras empreiteiras.
A partir deste ponto, com suas inúmeras tubulações, poços de petróleo onde se
encontram as bombas do tipo “cavalo de pau”, o pesado tráfego de caminhões
tanque, a ação de extração de petróleo por parte da Petrobrás se torna uma
imagem constante na paisagem.
Na época de Lampião o que se via era um deserto de mata crestada e algumas
poucas casas. Esta situação de certa maneira perdura, pois durante toda a nossa
jornada seguindo os rastros dos cangaceiros esta foi a zona mais desabitada que
encontramos.
Uma das poucas casas atacadas foi à sede da propriedade Tabuleiro Grande,
atualmente demolida. Entretanto, através do relato de Edmundo Paulino da Silva,
morador do sítio Arapuá, ele nos informou sobre um interessante relato que lhe
foi passado pelo seu pai e avô, respectivamente João Paulino da Silveira e
Pedro Filho.
Um conjunto de casas alteradas e abandonadas, ainda existentes a margem da
mesma estrada que serve como ligação entre as cidades de Governador Dix Sept
Rosado e Felipe Guerra, pertencente às terras do Tabuleiro Grande, foi
igualmente invadido pôr uma tropa avançada do grupo de cangaceiros.
O lugar
pertencia a Pedro Jurema, que tinha uma pequena mercearia no lugar. No momento
da passagem do bando um pequeno grupo de comboieiros de algodão estava no
local. Pedro Jurema jogou pela janela um saco com suas parcas economias e saiu
pela mesma janela em desabalada carreira. Segundo Edmundo, Pedro Jurema fugiu e
deixou “que seus fregueses se entendessem com os homens de Lampião”.
Segundo
o agricultor Edmundo Paulino da Silva, estas casa abandonadas, já bastante
alteradas, teriam sido o local onde existiu a mercearia de Pedro Jurema,
invadida por membros do bando, que só não atearam fogo em um comboio de
algodão, por ordem de Lampião.
Os cangaceiros
então invadiram a bodega, passaram a beber cachaça tranquilamente e a “aliviar”
os comboieiros de seus pertences. Logo, movido pelo álcool, um dos cangaceiros
teve a infeliz idéia de queimar o algodão transportado. Neste momento chega
Lampião que interrompe a farra.
Ele prontamente cancela a ordem de tocar fogo no produto transportado elos
comboieiros. Estes ficam muito agradecidos ao chefe do bando. Logo os
transportadores de algodão começam a tanger seus animais e se afastam
rapidamente do local.
Rostand Medeiros é escritor e pesquisador do cangAÇO
Natl/RN
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