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sábado, 27 de abril de 2019

HISTORIANDO NA FILA

Clerisvaldo B. Chagas, 26 de abril de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.099


E enquanto se aguarda na fila o dever com a saúde, entra-se também na conversa alheia. A mulher da frente diz que a sogra não quer vacina contra a Influenza. Repassamos os inúmeros conselhos para se proteger da gripe que matou milhões de pessoas desde a I Guerra MundialE nas palavras vamos até a igrejinha de São João no subúrbio Bebedouro/Maniçoba, em Santana do Ipanema. Erguida em 1917, juntamente como motivo de promessa ao santo, contra essa mesma gripe de hoje. Foi o senhor João Lourenço, morador local e grande promotor de festas no lugar, o responsável pela igreja. Trabalhava ele no artesanato em couro de bode produzindo chapéus juntamente com a família.
RUÍNAS DA IGREJA DE SÃO JOÃO EM 1994. (FOTO: B. CHAGAS/LIVRO 230).

Devido as constantes notícias de mortes em massa, pelo mundo, procissões eram realizadas com velas acesas da igrejinha de São João até o centro da cidade.  A igreja do Bairro São Pedro – localidade mais próxima ao Bebedouro/Maniçoba – ainda não existia porque apenas fora iniciada em 1915 e somente concluída na década de 30. A igreja de São João foi profanada, mais ou menos na era 1960. Os santos foram retirados e o templo foi acabado ao abandono.  Minhas fotos mostram os seus estertores. O senhor João Lourenço, já idoso, veio a falecer devido às consequências de uma mordida de cobra jiboia, conduzida por um soldado do Coronel Lucena. O praça, além da bebida, havia surtado e percorria a feira com a jiboia retirada do quintal de Lucena que criava animais presenteados. O praça, ao passar por Lourenço, jogou a cobra estressada nas suas partes íntimas.
Não sei se consegui sensibilizar a senhora da fila para tentar convencer a sogra pela opção da vacina Mas, de qualquer maneira contei a narrativa, episódio da cidade e exclusiva do nosso livro: “O boi, a bota e batina; história completa de Santana do Ipanema”.
Fila também é lugar de “casos” e me faz lembrar o compositor que fala sobre o canário-do-reino, lembra-se?
Fui.


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PELA NUDEZ DA PALAVRA

*Rangel Alves da Costa

Não, não me venha com floreios nem academicismos. Não me venha com léxicos, sufixos, prefixos, consonâncias, hipérboles, sinonímias ou quaisquer hipocrisias gramaticais. Teça a teia da gramática quem quiser, mas eu prefiro a nudez da palavra e o seu cheiro de terra. Que os verbos e as conjugações ficam num canto. Preciso, isto sim, daquele dizer que desponta na cuia ou da boca da moringa.
O pau torto da palavra é madeira de lei na sabedoria. O sábio não precisa escrever com letras douradas ou expressar seu conhecimento entre os ramos dourados da latinidade gramatical. Como dito, chega de floreios e adornos, chega de redondilhas ou alinhavamentos para dizer o simples, o inteligível, o que realmente possa ser entendido. Besteira besta usar anela e gravata na boca. Besteira besta pensar que o sentido da palavra vem acompanhado da formação.
A boca até entorta na palavra escolhida, forjada, forçada no egoísmo verbal. Ao invés de um leve sopro, de uma brisa, de um aroma singelo, muita boca prefere se abrir em tempestade. Será que é para assustar ou para amedrontar o ouvinte? Pra que dizer “Você Excelência é um digníssimo canalha!” ou “Vossa Senhoria possui a sabença suficiente que não passa de um verme asqueroso”. Melhor dizer: “Um fi da gota é o que você é!”. Ou apenas: “Seu fi da égua imprestave!”. Tá entendido?
Na verdade, a palavra clama por entendimento, e não por incompreensão. Ou pede apenas que seja ela mesma, e não um significado mirabolante. E o que é mesmo a palavra senão o encontro do dito com o significado? Por que ósculo se beijo ecoa muito mais bonito? Por que arma perfurocortante se faca peixeira faz a mesma sangria? Por isso que prefiro outra palavra.
Prefiro a palavra matuta. Uma escrita que berre, que cacareje, que relinche alto. Prefiro essa palavra suada, encourada, de gibão e roló. Uma escrita que tenha mato e espinho, que tenha chão e mandacaru. Prefiro não ter nome de poeta ou de escritor. Apenas sertanejo. O que sempre sou.
Prefiro a palavra troncha, mal pronunciada, até errada. Uma escrita com flor de cacto e também com o queimor da urtiga e do cansanção. Prefiro a palavra no calor do sol, na dureza do barro do fundo do tanque, na desvalia de tudo. Prefiro não ser visto como poeta ou escritor. Apenas das distâncias matutas. O que sempre sou.
Prefiro a palavra pouca, miúda, quase sem falar. Uma escrita humilde, de roupa rasgada, de chapéu na cabeça e bolso vazio. Prefiro a palavra sem luxo, sem arrogância, sem petulância, sem anel dourado. Uma palavra que venha como sopro de vento e consigo traga o cheiro bom da natureza. Prefiro escrever para ser compreendido ou mesmo apenas imaginado pelo meu irmão sertanejo.
Prefiro a palavra cheirando a bolo de feira, a mungunzá, arroz-doce e doce de leite. Uma escrita doce sem ser enjoativa, temperada na panela de barro e não no vasilhame de cozinhas desconhecidas. Uma palavra que seja colocada no meio do pão, que seja tomada com café batido em pilão, que desça na garganta como um amém. Prefiro a palavra de mesa tosca e de tamborete, de rede armada e de lua maior. Um dizer bem sertanejo.
Prefiro a palavra montada em cavalo, correndo na mataria, sacolejada no lombo do animal sobre a estrada de chão. Uma escrita povoada de bicho do mato, de ninho de passarinho, de sombreado de arvoredo, de fonte d’água escondida. Prefiro a palavra oca, seca, vazia como o fundo do poço. Uma palavra que não precise de rebuscamento para ser entendida nem escrita com pontos e vírgulas para se mostrar importante. A palavra sertaneja, apenas.
Prefiro a palavra da mocinha tímida, do velho vaqueiro, da rezadeira, do curador, da benzedeira. Uma escrita milagrosa como a folha do mato, a raiz de pau e a reza mais forte. Prefiro a fé na escrita à descrença do palavreado bonito, quero mais a letra caída como gota d’água num sertão esturricado ao caderno aberto para o que jamais será lido. Uma escrita tão terna e cativante que seja como um dengo, que seja como um cafuné. Uma palavra que vingue do fundo do pote e seja bebida com a maior sede do mundo.
Prefiro a palavra fugida da tocaia e da emboscada e renascida na força de sua própria crença. Uma escrita nascida como benzimento, como prece e oração daquele que sabe o valor de um povo. Prefiro carregar minha dita no fundo do embornal e do aió, derreada na cangalha e no cantil, de modo que esteja ao meu alcance toda vez que eu deseje mostrar ao mundo como é o viver sertanejo. Em cada palavra minha não estará além do que a fundura da terra e a superfície do espinho pontudo.
Prefiro escrever vosmicê, oxente, vixe, cumé, adispois, munto, quarque, quartinha, estambo, prumode, perfessor, arriba, fi da peste, cabrunco, lambisgóia, mio e mió. Prefiro uma palavra assim. Escrita desconhecida da cidade grande. Uma palavra que não seja nada. Mas que seja tudo pela feição descrita da terra sertão.

Escritor
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NA COVA DOS PAIS DE LAMPIÃO

Por Geraldo Junior

Dessa vez o nosso "enviado especial" para assuntos relacionados ao cangaço e Nordeste, Sandro Leite Cavalcanti "Sandro Lee", juntamente com João de Sousa Lima e Glauber Araújo, fez uma excelente matéria em Santa Cruz do Deserto em Alagoas, no local exato onde estão enterrados os pais de Lampião. José Ferreira dos Santos e Maria Sulena da Purificação (Maria Lopes / Maria Jacoza). 

Imperdível. 
Geraldo Antônio De Souza Júnior



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LEMBRANÇAS.


Por Geraldo Antônio de Souza Júnior



Uma imagem que vocês não verão nos tradicionais livros da história cangaceira.

Trata-se uma fotografia que foi a mim gentilmente cedida pela minha amiga Gilaene “Gila” de Souza Rodrigues (In memorian), filha do casal cangaceiro Sila (Cila) e Zé Sereno, ambos antigos integrantes do bando de Lampião.

Na fotografia vemos Sila (Cila) e sua neta Patricia Rodrigues Szabo em registro realizado, provavelmente, no decorrer da década de 1970. Um momento de felicidade de Sila (Cila) que ficou registrado para a posteridade.

Um registro fotográfico exclusivo, que apesar da pouca qualidade, tenho o prazer de trazer ao conhecimento de todos vocês, para que conheçam um pouco da vida desses importantes personagens da história cangaceira, no período pós-cangaço.

Espero que apreciem.


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LAMPIÃO, ISAAC "SINGER" MARIA BONITA E, A MÁQUINA DE COSTURA À MÃO.


Material do acervo do pesquisador do cangaço Voltaseca

Isaac Singer: o visionário da máquina de costura.


Em 1851, Isaac Singer obteve a patente da primeira máquina de costura realmente prática. Foram necessários 11 dias de trabalho que resultaram em cinco pontos firmes e contínuos, para que Isaac tivesse certeza de ter criado um novo produto que iria revolucionar o milenar processo de recortar,modelar, armar e unir pedaços de tecidos para confeccionar, calças, camisas, casacos, vestidos, corpetes e tantas outras peças para o vestuário.

Curiosidades:

Em visita a Feira Internacional de Filadélfia em 1876, o Imperador Dom Pedro II comprou máquinas de costura Singer e trouxe ao menos duas para o Brasil.

Em 1888, a princesa Isabel assinou a autorização para a SINGER funcionar no Brasil.Em 1955, foi inaugurada a fábrica Singer em Campinas, pelo então presidente Dr. João Café Filho.

OBS: No coito do cangaceiro, geralmente quando era seguro, eles costuravam peças de roupas; couro; embornais; etc... A máquina SINGER MANUAL, geralmente era cedida por pequenos coiteiros, amigos..,,As cangaceiras, Maria Bonita, Dadá, Sila e outras eram exímias costureiras. Também, alguns homens costuravam, a exemplo de Lampião, Luiz Pedro e outros...
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Fotogramas: Lampião e Maria (Filmagens de B. Abraão / Abafilm/ Família . Ferreira Nunes.
Foto de Isaac Singer/Máquina : Google


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FATO ÚNICO UMA CRIANÇA AO RELENTO EM PLENO SERTÃO



Uma das maiores dificuldades da mulher cangaceira ao parir, era sem dúvida decidir, como e com quem ficaria o 'rebento'.

Não era permitido que o recém-nascido ficasse com o grupo de cangaceiros e, ao ser exposta às intempéries da natureza (sol, chuva, falta de abrigo, alimentação, água etc..), falecia. Para evitar isso, logo que o bebê nascia, com poucos dias era doado, a um vaqueiro, padre, coronel ou alguma pessoa de confiança.

As vezes, acontecia de uma cangaceira parir e, sem tempo, ainda, de doar a criança a uma pessoa com as referências supracitadas, Acontecia um tiroteio e, o recém nascido ficava no meio da caatinga, entregue a sua própria sorte e a Deus.

Abaixo, temos uma foto rara, mostrando uma situação dessa do filho do cangaceiro Ângelo Roque, em que a criança foi recolhida da caatinga através do Tenente Noblat e, posteriormente, foi criada pela família do sargento. Edgar.

Fonte da Foto: Lampeão, Ranulfo Prata.
Créditos: Ivanildo Silveira (Grupo Lampião Grande Rei do Cangaço - Facebook).


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SE TODOS OS BRASILEIROS PROTESTASSEM CIRCUS QUE USAM ANIMAIS FEROZES NO SEU PICADEIRO NÃO ACONTECERIA O QUE ACONTECEU COM O GAROTO DE 6 ANOS, ATACADO E COMIDO POR LEÕES.

Por José Mendes Pereira

O lugar de animal feroz é no seu habitat, na selva e não misturado com seres humanos. O que aconteceu com o garoto  José Miguel dos Santos Fonseca Júnior, de 6 anos de idade, foi triste, porque foi atacado e morto no domingo do dia 9 de abril do ano 2000, às 19h, por cinco leões do circo Vostok, que se instalara no estacionamento do shopping center Guararapes, em Jaboatão dos Guararapes, no Estado de Pernambuco. Segundo a Agência Folha em Recife cerca de 3.000 pessoas presenciaram o triste ataque à criança.

Diz o jornal: "Houve tumulto, e a plateia teve de ser retirada do local. Segundo José Miguel dos Santos Fonseca, pai do menino, o ataque aconteceu durante o intervalo da apresentação, quando ele, seus dois filhos, Júnior e Mirela, de 3 anos, e outras pessoas foram tirar fotos dos cavalos, em um cercado fora do picadeiro.

A fotografia foi autorizada pelo apresentador do circo, que indicou o caminho. O trajeto incluía uma passagem ao lado da jaula dos leões, que estava no picadeiro. O avanço do leão aconteceu na volta para a plateia.

Um dos cinco leões puxou o menino das mãos de Fonseca. “Minha menina viu o irmãozinho ser arrastado”, afirmou o pai.

“O leão colocou as duas patas para fora da jaula, puxou o menino para dentro, abocanhou a cabeça e balançou o garoto. Aí, os outros leões o atacaram”, disse o músico Severino Ferreira da Silva, 32, que estava a dois metros de Júnior.

A força com que o leão o puxou chegou a envergar as grades da jaula. O espaço entre uma barra e outra era de 10 centímetros. O menino, depois de agarrado foi arrastado cerca de 30 metros por um corredor de aço, que termina em uma caçamba de caminhão também gradeada.

A Polícia Militar chegou ao local às 20h, uma hora depois do ataque. Primeiro, tentou afastar os leões do corpo do menino, dando tiros para o alto. Como eles não se afastavam, a polícia atirou em dois deles, que acabaram sendo mortos, segundo o tenente Adriano Freitas. Os outros três leões foram isolados.

“Meu filho foi morto por imprudência. Vou processar o circo. Não pelo dinheiro, mas pela irresponsabilidade”, afirmou Fonseca. Ele disse que não sabe como contar o fato à sua mulher, que está grávida de oito meses.

O delegado do distrito de Prazeres, Dorgival do Carmo Accioly, instaurou inquérito por homicídio culposo.

Às 22h10, houve um tiroteio. Dois dos três leões que estavam isolados em um compartimento dentro da jaula estouraram a grade e voltaram a atacar o corpo.

A polícia interveio e atirou com revólveres e fuzis contra os animais. Os dois morreram. Houve correria e um dos policiais ficou ferido ao tropeçar em uma grade.

Até as 22h30, o corpo do menino, totalmente dilacerado, ainda permanecia dentro da jaula à espera do IML (Instituto Médico Legal). A área está isolada, e cerca de 50 policiais militares estão no local.

José Nemésio de Sena, perito do Instituto de Criminalística, constatou que o vão da grade da jaula, que era de 10 cm, abriu para 16 cm com a força do leão.

Segundo ele, existem evidências de supostas falhas de segurança, como a falta de grade de proteção perto da jaula do picadeiro.

Ele disse ainda que o túnel que liga o caminhão à jaula está amarrado com cordas de náilon e deveria ser com barras de ferro.



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ROXANA BONESSI, BRUTALMENTE ASSASSINADA EM MANAUS POR UM COMPANHEIRO DE FARDA EM 2002

Por Marcus Pessoa
Tenente Roxana Pereira Bonessi Cohen / Divulgação

Amigos e familiares homenagearam a militar assassinada a golpes de punhal em dezembro de 2002, a tenente Roxana Bonessi.


Em 31 de março de 1975, data do nascimento da Roxana Pereira Bonessi. Essa data coincide com o término das Olimpiadas Militares da Guarnição de Porto Velho-RO. O então Sargento Bonessi disputava uma partida final de volei de quadra entre o 5º Batalhão de Engenharia e Construção e a 10ª Brigada de Infantaria de Selva.

O jogo, muito disputado, entrava no seu último e derradeiro set, aproximadamente as 22:40 hs, quando a sra Filomena Bonessi, grávida de mais de 8 meses, das arquibancadas do ginásio de esporte onde o jogo estava sendo realizado, lhe acenava constantemente e gritava pelo seu nome porque estava sentindo as cólicas iniciais de parto.

O Sargento Bonessi as voltas com o jogo respondia com gestos que a esposa esperasse. O Sargento Bonessi nem pode comemorar com seus companheiros a vitória no jogo e das Olimpíadas da Guarnição porque teve de ir às pressas para o Hospital Militar e Maternidade do 5 BEC conduzindo a sua esposa. As 23:40 hs nascia uma linda menina que se chamaria Roxana, em homenagens a Princesa Roxana – esposa de Alexandre da Macedonia – O Grande.

A Roxana desde pequena sempre foi alegre, responsável, obediente, sincera, comunicativa, amiga, correta em todas as suas atitudes. Nunca mentiu, nunca fez uma maldade a ninguém, nunca destruiu nada, nunca matou.

Considerava importante todos os seres existentes em nosso planeta. Nunca matou, nem mesmo um inseto. Tudo que era dela, seus brinquedos, seus presentes, suas roupas, sua mesada, dividia com seus irmãos e com as pessoas que pedissem. Possuía desprendimento das coisas materiais. Preferia a oração e a comunhão com Deus as coisas mundanas. Ao seu redor tudo era alegria, era vida, era amor.

Dava amor, mas nem sempre recebia amor das pessoas estranhas e que não lhe conheciam o caráter. Mas as desfeitas que recebia não lhe causavam mágoas, nem a deixava triste. Perdoava sempre. Extremamente religiosa, rezava diariamente, três ou mais vezes ao dia. Na maioria das vezes não pedia nada para si mas rogava a Deus pelos aflitos e necessitados. Não possuía vícios. Nunca os teve. Seu prazer era brincar com seus familiares e adorava dançar. Foi estudante sem problema.

Nunca foi preciso mandar fazer seus deveres escolares; foi sempre uma aluna querida e exemplar. Suas notas sempre foram altas e nunca foi reprovada. Quando criança, pequena demais em idade e muita adiantada nos estudos teve, por orientação pedagógica, que esperar um ano, até que sua idade fosse compatível com o grau de estudo em que estavam seus colegas de mesma idade. Nunca desobedecera pai e mãe. Nunca atacou um irmão ou qualquer outra pessoa. Ficou moça. Era atleta.

Gostava de equitação, natação, pescaria e de outros exportes como vôlei e futebol, jogando-os muito bem. Sua beleza era natural. Possuía um corpo escultural e para realçar essa beleza não era necessária a maquiagem. Possuía dezenas de títulos de beleza e as vezes que não ganhou ficou em segundo lugar. Era denominada e reconhecida pelo título “Rainha da Natureza”, que lhe foi conferido em programa de televisão no Estado do Ceará. Com 27 anos de idade já estava formada em Contabilidade, possuía Pós-Graduação em Auditoria e Pós-Graduação em ReAdministração, cursava Direito e 21 dias antes de ser assassinada concluíra o curso de Mestrado em Administração.

O tema da sua Dissertação é: “Amazônia, Vida, Riqueza e Morte: O Turismo Sustentável como Atividade Sócio-econômica para Ambientes de Significativas Mudanças Ecológicas”. Nesse trabalho se mostra inconformada com a destruição da Floresta Amazônica e preocupada com as origens e as consequências dos problemas Amazônicos, com o futuro das gerações carentes, principalmente a população ribeirinha. Nesse trabalho de pesquisa aponta as soluções para preservação da vida de todos os seres que habitam a floresta.

No momento de sua morte era Professora Universitária e, por seus próprios valores reconhecidos documentalmente, seu caráter integro e sua aprovação nos testes militares a que foi submetida, foi incorporada nas fileiras do Exército e considerada “Combatente de Selva”, sendo designada para servir na 12a ICFEX, onde desempenhou várias atividades, sendo uma delas “Tomadora de Contas”, uma espécie de Fiscal dos trabalhos de outras Organizações Militares, onde era mais orientadora e esclarecedora do que julgadora.

Como Professora foi exemplar em todos os aspectos. Como Militar foi modelo de virtude, um exemplo a ser seguido de devotamento à Pátria, amor à profissão, camaradagem e espírito de corpo. Morreu em serviço, no cumprimento do dever, às 11:05 hs, do dia 02 de dezembro de 2002, em Manaus – AM, no interior do aquartelamento onde servia, assassinada pelas costas, a punhal, por um companheiro de farda e ex-namorado.

A Roxana foi muito homenageada pela Comunidade Amazonense, seu nome é nome de uma importante avenida de dupla via em Manaus, é também nome de uma eficiente e premiada escola no bairro Colônia Oliveira Machado em Manaus, também é nome de uma escola infantil da capital amazonense, foi também homenageada na Assembleia Legislativa do Estado do Amazonas e nas Câmaras Municipais de Presidente Figueiredo e de Manaus.

A contribuição científica deixada pela Roxana Bonessi para a integração-desenvolvimento e preservação da Amazonia foi um trabalho de pesquisa que realizou fundamentada no Turismo Sustentavel como alternativa socio-economica para uma região que fora devastada pela construção da Hidreletrica de Balbina, na Região de presidente Figueiredo -Am – trabalho esse reconhecido mundialmente pelo BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) e que estimulou o progresso ambiental de todas as regiões ribeirinhas do Amazonas pelos recursos alocados desde então pelo BID.

A Roxana foi também homenageada pela Comunidade do Amazonas com dois monumentos, um no bairro onde ela morava, monumento esse em homenagem as mulheres e crianças, vítimas de violencia no Amazonas e no Brasil, e outro monumento foi construído como marco localizatório onde fora colocado o seu corpo por ocasião de sua prematura morte. A Roxana nos deixou muitas saudades – somos agradecidos e honrados por termos tido o privilegio de sua encantadora companhia.

Obrigado Familia Bonessi


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QUEM FOI LAMPIÃO


Por Alfredo Bonessi

Alto, magro, moreno escuro, quase pardo, esguio, meio corcunda, ágil, saudável, resistente a fadigas, manco do pé direito por causa de bala - segundo quem lhe conheceu - por causa de calos no pé segundo declarações dele mesmo, em estado espiritual, a um programa de televisão, com belida no olho direito, um leucoma, assim era o corpo de Virgulino Ferreira, vulgo Lampião.

De personalidade alegre, disposto, temperamento inconstante, sujeito a crises de fúria e descontrole, místico, religioso, rezador, intuição apurada, perspicaz, agudeza de raciocínio, inteligente, líder nato, exímio atirador de armas curtas e longas, fazendeiro, domador de animais de montaria, vaqueiro campeão, amante de bebidas finas, cigarros, charutos e mulheres, excelente trabalhador em couro e tecidos, narcisista, jogador de baralho sem sorte, impiedoso, cruel, vingativo, justiceiro - falso moralista, abusou sexualmente de algumas mulheres, embora, hoje, não sabemos se eram esposas ou filhas de inimigos. – mesmo assim são fatos lamentáveis e inaceitáveis para qualquer época de uma geração.

Desconfiado, prudente, calculista, infiel mas respeitador das opiniões da companheira, maleável até certo ponto, principalmente em algumas decisões a ponto de alterar as ordens dadas por interferências dela, respeitado, temido, considerado, perigoso, astuto, inquisidor, julgador, musico, dançarino, corajoso, amigo, leal, acreditava nas pessoas, perfeccionista , gostava de tudo o que era bom, rico, comerciante, artífice, laborioso, habilidoso e estrategista.

Lampião foi um homem notável para o seu século. Não existiu até o presente momento ninguém mais do que ele, igual a ele, em mesmas circunstâncias, fazer o que ele fez em um ambiente hostil, carente de meios e desprovido de tudo, por tanto tempo assim – mais de vinte anos - acossado por centenas de volantes policiais.

A impressão que se tem pela fotografia acima, é que em 1928 – na visita a Pombal, possuía um relógio de pulso no braço esquerdo.

Não sabemos até hoje como conseguiu gravar o seu nome e o de sua mulher no interior das alianças que ambos portavam e que simbolizavam a paixão que um nutria pelo outro. Gostava de tudo que brilhava, que reluzia. Quem o avistasse pela primeira vez ficava impressionado com aquele homem impecavelmente trajado de azul, ou brim caqui, apetrechos ricamente ornamentados de variadas cores e matizes, armas luzidias nas mãos prontas para o uso, tez da cor de cuia, olhar firme, voz rouca, sons profundos que calavam fundo na mente de quem o ouvia – de repente a pessoa, em seu intimo, sentia um arrepio, um frio, um medo, um temor – sentia a impressão que estava correndo um grande perigo, e aguardava, apavorada, a qualquer momento o bote daquela fera perigosa, de punhal em riste, e com a ponta do aço duro cutucar a veia jugular na tábua do pescoço, sangrando a vítima em questão de segundos.

O pavor que os nordestinos sentiram quando estiveram frente a frente com Lampião, sentiram também os homens que outrora conviveram com pessoas diferentes e superdotadas, como por exemplo, quem esteve nas presenças de Alexandre, O Grande, Julio César, Nero e Napoleão Bonaparte. – personagens da História, grandes personalidades em suas diferentes épocas, alguns líderes excepcionais, guerreiros, vencedores, que sucumbiram pela vontade do destino, dono absoluto da vida das pessoas importantes. Quem os visse, a princípio, sentiam-se admiradas diante de tanta beleza, depois de contemplá-los por alguns instantes sentiam um respeito profundo pelo que viram, depois eram possuídas por um temor inexplicável que lhe arrebatavam a alma e que lhes causavam calafrios, palidez nas face, suor frio e tremores nas pernas.

Não se pode desejar que lampião nasça em outro lugar, em outro país, em classes mais abastadas. Lampião nasceu e se criou no lugar exato em que todo o homem valente deseja nascer e ser criado - uma terra de homens corajosos, valorosos, que não tem medo de nada e de ninguém. Homens acostumados a vida dura, difícil, onde só o destemido, o persistente, o audacioso, os corajosos sobrevivem, tiram raças e prosperam em cima do solo duro, pedregoso, domando o gado hostil - animais bravios - em meios a serpentes venenosas, como a cascavel e rodeado de mata espinhenta por todos os lados.

Quem visita o lugar onde Lampião nasceu sente a alma envolta por um romantismo inexplicável, o ar circundante é adocicado pelo aroma das flores silvestres. Ainda pode se escutar o gorgeio livre da passarada ao amanhecer e ao entardecer; pode-se sentir o cheiro natural que brota da terra estrumada; pode-se ouvir o guizo da cobra oculta; pode-se escutar ao longe o mugido do gado na invernada; pode-se imaginar o fogo aceso, panelas ferventes, chiando nas trempes, o prato de bolinhos feitos pela Dona Jacosa, sua avó, o café fumegando na caneca, e as suas mãos ágeis enfeitando o couro dos arreios, o seu semblante concentrado mas feliz pela alegria que sentia de viver e de trabalhar, o prazer de tudo e por tudo, o gosto pelo que é bom.

Toda essa vida boa, doce, tranquila, prazeirosa, o destino ingrato retirou dos caminhos de Lampião, menos a fé em Deus e o amor puro que nutria pelos seus familiares. Mesmo nas horas mais difíceis de sua vida atribulada a paixão pela Virgem Santíssima nunca se arrefeceu de seus pensamentos ardorosos, forjados por uma fé inquebrantável – sentia um amor infinito e incompreensível pela Santa, a ponto de sempre rezar em sua homenagem, ao deitar, ao levantar, ao meio dia e as seis horas da tarde.

Lampião queria viver bem e feliz. Queria ser o melhor em tudo e por tudo, de acordo com o que Deus lhe dera. Por ser portador de qualidades inerentes a poucos seres humanos, foi invejado, odiado, perseguido, traído e levado a morte, embora tenha feito de tudo para que isso não acontecesse, pois era um amigo leal e de confiança, era muito bom para quem fosse bom para com ele – Lampião era um homem de palavra e não se apossava das coisas alheias por ser ladrão vulgar, salteador de beira de estrada, fazia o saque por necessidade de manter o bando de cangaceiros e por esse fato pedia sempre dinheiro as pessoas mais abastadas, por carta, bilhetes ou mensageiros, ou simplesmente tomava delas.

Lampião a frente de seus homens mantinha uma rede de informantes pagos a peso de ouro. Aliciava policiais e pessoas influentes, e quando não conseguia demover o perseguidor por bons modos, difamava-os, inventava historias cômicas sobre eles, dava-lhes apelidos depreciativos, contava piadas que fazia brotar risos na turma acampada aos redores das fogueiras, sobre esse e aquele oficial. Era temerário, mas não poderia ter negligenciado a capacidade combativa de Bezerra - o oficial que o matou- segundo Lampião, dito por ele mesmo, não tinha medo de boi brabo, quanto mais de bezerra... o descuido, esse erro de avaliação foi-lhe fatal e custou-lhe a cabeça naquela manhã de 28 de julho de 38.

Criou para si e para seu bando sinais, códigos e gírias que significavam algo entre eles, que conheciam a chave para decodificação, como por exemplo o L formado pelo indicador e o polegar da mão direita que devia ser mostrado quando se aproximavam das sentinelas do grupo. A três pancadas nos troncos das árvores - mas não eram pancadas comuns, elas tinham intensidade, ritmo e freqüência, que só os do bando sabiam executa-las.

A manutenção dos esconderijos, os depósitos escondidos nos interiores dos troncos das árvores, de dinheiro, munição e armamento; a ocultação do cadáver do seus comandados, o sumiço dos rastros, a camuflagem, a dissimulação, a finda, o drible, a manobra audaciosa, o descarte dos dejetos dos acampamentos, a busca pela água e pelos alimentos, - o lampejo na mente iluminada pela escolha da decisão mais acertada, na hora certa e diante de grande perigo - fizeram o bando sobreviver por longos anos, diante de volumoso número de perseguidores, graças ao tirocínio de seu comandante, de sua visão combativa, de seu planejamento bélico, do seu sentido de direção, de seus objetivos previamente ajustados e na maioria das vezes bem sucedidos, e por esse fato granjeava a admiração e o respeito dos seus seguidores, a ponto de sempre confiarem nele e o considerarem invencível. Seu bando nunca andava a ermo, sem um roteiro estabelecido, se um objetivo, sem uma missão a cumprir. Seus deslocamentos sempre tiveram início, meio e fim.

Lampião morreu no tempo certo e na hora certa. Morreu no apogeu da vida e da saúde. Morreu em combate. Após o mortífero impacto da bala que lhe pos por terra, enquanto pode, enquanto tinha uma pouco de energia, tentou ficar de pé, não conseguiu, se contorceu até que o tiro final esgotou todas as possibilidades de vida. Um espírito muito forte retornava a sua morada divina.

Lampião pode ter sido o que seja, mas um dia voltará para cumprir a sua missão terrena em uma nova chance dada pelo criador. Esperamos que tenha mais sorte desta vez. Analisando a vida de grandes malfeitores podemos dizer que Lampião não teve as mesmas chances e as oportunidades de fazer o bem que tiveram Reis, Rainhas, Religiosos e Políticos da Nova Era. – pelo contrário – foram até muito pior do que ele. As centenas de pessoas que caíram pelo aço de seu punhal ou pelas balas de suas armas nem de longe se comparam aos milhões de mortes causadas pela inquisição religiosa e nos porões das masmorras ideológicas. Talvez seja por isso que Lampião mereça uma nova chance nesse mundo de pecado.

Alfredo Bonessi. (Foto: Coroné Severo)
                    
Estudante Pesquisador – Membro da GECC - Grupo de estudos do cangaço do Ceará e SBEC - Sociedade Brasileira de estudos do cangaço.

Trasladado do lampiaoaceso


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LUÍS CARLOS: NA SUA VEIA CORRE SANGUE DE CANGACEIRO Ele é bisneto do cangaceiro Zabelê se veste de cangaceiro em homenagem ao bisavô.


O Grupo de Xaxado Cabras de Lampião tem no seu quadro de dançarinos um bisneto de cangaceiro, trata-se de Luís Carlos de Araújo Alves, bisneto de Izaías Vieira dos Santos, que entrou para o cangaço como Zabelê, um dos compadres e homem de confiança do bando de Lampião, Luís Carlos, trabalha como mecânico, mas é na arte dos antepassados que ele encontra alegria de viver.


Além de dançarino, é músico e ator, representa no espetáculo de Xaxado o cangaceiro Gavião, morto em 1929. O dançarino é bisneto do cangaceiro Zabelê, cuja história lhe foi contada com detalhes pelo seu pai. “Meu bisavô era coiteiro de Lampião. Ele era dono de um bar. Certa vez, ao receber Lampião, a Polícia cercou o local e começou um tiroteio. Nesse momento, Zabelê recebeu uma arma do próprio Lampião para se defender. A partir de então, ele não teve outra escolha, a não ser entrar no bando e seguir como cangaceiro”, conta.

O artista interpretou o bisavô no filme “Lampião e Fogo na Serra Grande”. Aliás, foi após o combate na Serra Grande, na divisa entre Serra Talhada e Calumbi, em novembro de 1926, que Zabelê se entregou à Polícia acreditando no perdão. Era tudo mentira. Ele acabou sendo condenado a 90 anos de prisão. Depois de cumprir 15 anos, recebeu um indulto do governador de Pernambuco Agamenon Sérgio de Godoy Magalhães e ficou livre. O ex-cangaceiro morreu aos 82 anos, em casa, após almoçar.

Sobre a sensação que está todo vestido de cangaceiro para dançar Xaxado, ele diz: “chega a dar arrepios. Tá no sangue, tá na raça”.

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