Por Sálvio Siqueira
Não podemos
retirar Lampião do Fenômeno Social Cangaço. Ele, o Fenômeno, tem que ser visto
por inteiro. Só assim se consegue ter uma noção da amplitude, causas e motivos
do seu surgimento, mais ainda por ter sido ‘gerado’, criado, nascido, dentro de
outro fenômeno social.
Especificamente, a personagem inquerida pelo amigo, assim como tantas outras,
foram vítimas de um sistema. Nesse sistema faltava-lhes comida, moradia,
educação e, principalmente, o que seria e é, prioridade para o cidadão,
“liberdade”, e que a Lei, assim como o condenava lhe protege-se. No entanto,
tanto a respeito dela, a personagem, como em várias outras, a Lei os condenou
quando preciso foi, e foi correta. Porém, jamais os protegeu, condenando seus
agressores. O exercício das autoridades, da época, deixou muito a desejar.
Mandava e era protegido quem posse possuía, quem nada possuía, nada valia, como
nada valeram. E o ‘cabra’ tendo em suas raízes, a índole, basta um empurrão.
Dentre aqueles que sempre estiveram sob o jugo do maior, debaixo das suas
ordens, chicotes e ameaças, surgiram alguns que não mais aceitaram serem
subjugados. Sabiam eles que estavam totalmente errados, contrários a Lei. Mas,
que Lei? Aquela que não os protegiam e sempre os condenava? Resolveram impor as
suas, que eram à base de balas e pontas de punhais. Escolheram matar ou morrer
pela espingarda em vez de darem o ‘lombo para ser chicoteado’, em vez de
permanecerem de esmolas e humilhações daqueles que eram protegidos pelas
autoridades e governantes.
Lampião de maneira alguma foi um herói. Não tinha meta social e política.
Jamais conduziu uma bandeira revolucionária. Ele criou seu ‘mundo’, seu
‘comércio’ e, por fim, estabeleceu o seu nefando reinado, à custa de lágrimas,
sofrimento, dores, sangue e ceifando muitas vidas.
O que nos leva a estudar essa personagem, assim como a História do tema, é o
entrelaçamento que ela teve com a História do Brasil, dos fatos políticos
históricos da Nação brasileira. Desde os ido do Império, acompanhando a
passagem para a República, o Estado Novo, etc., e por aí andou, que a história
do cangaço se interliga, faz parte, está entre e dentre, aos fatos nacionais.
Sobre aquelas personagens que tombaram na senda da guerra, nada podemos dizer,
sobre sua reintegração, se assim ocorre-se, na sociedade. No entanto, que
saibamos nenhuma daquelas que sobreviveram ao final do fenômeno voltaram ao
crime, pois tiveram uma regeneração total. Não se sabe se alguma delas, pelo
menos foge ao nosso conhecimento, ter voltado ao banditismo. Constituíram
família e foram viver criando seus filhos e tomando conta das suas casas.
Vejo, e admiro até, os modos, a maneira, a astúcia de um ‘cabra’ do Pajeú
daqueles, sem escola militar, ter exercido um exemplar sistema de guerra de
movimentos, para alguns, uma guerrilha, e que deu muitas dores de cabeças aos
comandantes militares de vários Estados nordestino. Assim como a arquitetura e
formação de um sistema de colaboradores, em todas as camadas da sociedade, que
dá inveja aos Chefões do crime organizado norte americano e europeu. Abraços.
Fonte: facebook
Grupo: Ofício das Espingardas
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