Por João de Sousa Lima
Manoel Messias e João de Sousa Lima
OS VELHOS
MOTOCICLISTAS DE PAULO AFONSO
Centenas de
motocicletas cruzam as ruas de Paulo Afonso, tanto pela a atração e sensação de
liberdade que exerce sob a juventude, passando pelo modismo e tanto ainda pela
alta economia de locomoção motorizada.
Muitos se
definem como “Motociclistas” e taxam os menos responsáveis no trânsito como
“Motoqueiros”. Com o surgimento dos motos taxistas e as motocicletas de baixas
cilindradas a cidade ganhou um verdadeiro exército de motos cruzando suas ruas,
os bairros e povoados e os hospitais viram crescer seus pacientes acidentados,
tanto sendo guiadores de motos ou como pedestres.
Padre Lourenço
Dos acidentes
de motos que tantas vidas ceifaram a mais trágica e que deixou a cidade de
luto, causando uma tristeza generalizada, foi a do Padre Lourenço Tori,
acontecida no dia 03 de fevereiro de 1973, quando uma caçamba passou por cima
dele e sua moto.
Solon Siqueira
A morte de
Padre Lourenço tocou a todos, adultos e crianças, como uma notícia trágica da
perda de uma pessoa tão querida e amada.
Há tempos a
cidade realiza um dos mais importantes eventos de motociclismo no Brasil.
Dentre os
vários moto clubes existentes na cidade, oficialmente o Moto Clube Cavalo Doido
foi o pioneiro como instituição criada com estatuto, em 17 de junho de 1998.
Muitos outros grupos surgiram depois, tais como: Asas da liberdade, Grilo do
Asfalto, Rota da Energia, Clandestinos do Asfalto, Pitbull do Asfalto, Águia
livre Moto Família, Guerreiros da Ilha, Águia Negra, Dragões Templários,
Abutres, Maluco Beleza e Falcões da Ilha. Também tem as motos trilhas: Kalango
Louco e Bicho do Mato
João Mariano
O Moto Clube
Cavalo Doido começou um evento na cidade como Moto Energia e agora em 2014
a prefeitura realizou um encontro como Moto Paulo Afonso.
Apesar de todos esses grupos constituídos e dos festivos encontros acontecidos
a história do motociclismo em Paulo Afonsocomeçou muito antes com um grupo
de carpinteiros da CHESF que trabalhavam na “Nova Brasília”. Foi o auge das
velhas “JAWAS”, com seus motociclistas usando Calças “Coringa”, óculos Ray-Ban
“Aviador” e Chapéus de Massa.
JAWA
Os primeiros motociclistas reunidos na Carpintaria da CHESF eram antes de tudo
artistas na arte de criação de peças em ferro, aço e alumínio e muitas peças
das motos eram confeccionadas por eles e muitos deles realizavam trabalhos
mecânicos. Podemos citar entre tantos motociclistas pioneiros que eram da
Chesf como também profissionais anônimos da cidade, tais como: Irineu “Brabo”
(pai de Gilvan da Prefeitura e Juvenal: que foi um dos talentos musicais
descoberto no Coliseu Show), Miguelzinho da Oficina, Ulisses, Alceu, Jonas,
Ocílio, Raimundo Carpinteiro, Rocha, Seu Luizinho “Frezador”, Manuel Galdino,
Manuel Bundinha, Seu Odilon, Branco, Otávio, Seu Nelson, Aluísio, Manuel
Messias, João Mariano, Antonio Galego, Ferrugem, Zuza, Zé da Geladeira, Simeão,
João Batista (relojoeiro), Sólon Siqueira de Lima (pai da Nael da Retífica), os
irmãos dentistas: Dedé e Duda, Joaquim do Couto, Rocha, Zé Pimenta, Jeová,
Cirilo, Simeão, Reginaldo da Aviação, Zito, Zé Bico Fino, Erasmo Quixaba, Neco
Relojoeiro, Rocha, Zé Pitó, Manuel Messias do DNER, Zé Cearense,
Milton Relojoeiro, Dom Ratinho, Juarez Eletricista, Beneval Teixeira,
Manoel Teixeira, Vítor Relojoeiro.
JAWA
Os grandes
mecânicos foram: Gama, Branco, Dedé Dentista, Seu Luizinho e Irineu.
Branco além de
mecânico confeccionava descargas, manetes, coroa e pinhão.
Um dos
motociclistas folclórico é o Zé do Fogão, conhecido como o "Vei do
Fogão", que realizou dentre outras coisas a famosa passagem por entre
arcos de fogo. O cinegrafista que realizou essas imagens em Super 8 mm foi o
Osvaldo Maciel.
JAWA
As famosas
JAWAS “Monark” CZ 125, 150, 175 e 250, fizeram grande sucesso, mais além das
motos surgiram às famosas “LAMBRETTAS” LI Stand e LD Luxo e as “VESPAS” M3 e M4
que se transformaram em “modismo” nas décadas de 1950 e 1960.
Jawa de Manoel Messias
Os que
marcaram época com suas vespas e lambretas foram: Aldetino (o Cabra da
Lambreta), Tico da Oficina, Pedrosa, Severino Cangainha, Manuel Barros, Gama,
José Mariano de Lima (Caneco Amassado), Paulo da Lanchonete, Mozart, Pedro
Neto, Gogó, Lourinaldo Relojoeiro, Adonias, Maninho, Ananias Eletricista,
Manoel José, Aristóteles do Riacho, José Manoel, Chiquinho Enfermeiro,
Eronildes, Israel, Vivaldo, Raimundo Enfermeiro, Pedro Santos, Gordinho da
Bicicleta, Farrone, Zé Cabeça Branca, Zezito de Antonio Exalto, , Valter
do Tingui, Ratinho do Cinema, Sebastião do Posto, Zé Rildo, Diniz da
Rádio, Cláudio Xavier, Agenor, Messias do Caminhão, Brito, Éder Napoleão,
Benedito, Osmar, Sandoval, Zé Bucho, Gilberto da Acalanto.
Uma viagem memorável realizada em duas JAWAS aconteceu com os dois
irmãos dentistas Duda e Dedé.
Moto Jawa
Dedé se
encontrava em São José do Egito, Pernambuco; Duda viajou de Paulo
Afonso pra encontrar o irmão e lá tentar comprar uma moto JAWA. Os dois
irmãos se dirigiram pra Patos na Paraíba e lá compraram uma moto Syster. Os
irmãos vieram pra Paulo Afonso nas motos e quando chegaram em Monteiro
Dudatrocou a moto Syster em uma Royal. Quando chegaram nos
“Grossos” a moto Royal partiu ao meio e quase que Duda morria no acidente. Um
conhecido chamado Mansula socorreu o ferido e Dedé Santos consertou a moto do
irmão. Colocaram a moto em uma caminhonete e chegaram a Paulo Afonso. A viagem
acontecia pela famosa “Reta do Mirim” e por ela Dedé Santos retornou sozinho
gastando dois dias de viagem retornando a São José do Egito.
Nas décadas de
1970 e 1980 eu, o primo Everaldo Sousa Lima e o amigo Willians Vieira
realizamos várias viagens de Paulo Afonso a São José do Egito e Itapetim,
cruzando a Reta do Mirim, em motos 125 cc.
Motocicletas da CHESF
Curioso diante
de algumas fotografias antigas onde aparecem os velhos motociclistas saí
procurando pra ver se encontrava os velhos aventureiros do passado e pude
conversar com Antônio Galego, Aldetino e por fim com Manuel Messias. Manuel
ainda guarda carinhosamente em sua casa uma moto JAWA 175 cc, ano 1963 que ele
adquiriu em 1965. Manuel falou dos velhos tempos, contou histórias, revirou
memórias, viajou nas lembranças e com alegria e lágrimas nos olhos reviveu
aventuras passadas, compassadas lembranças que teima em guardar, momentos felizes
que marcaram sua juventude.
Irineu Brabo
Hoje, olhando
tantas motos que cruzam velozmente as ruas e avenidas de nossa cidade, me
transporto aos velhos motociclistas do passado e tento entender os grandes
momentos que vivenciaram em suas motocicletas, símbolos de uma época de ouro
que embalavam as aventuras dos jovens que guardam em suas lembranças passadas a
sensação de liberdade causada pelo ronco dos velhos motores que cruzaram as
estradas de suas mais doces recordações.
João de Sousa Lima é escritor e pesquisador do cangaço.
http://www.joaodesousalima.com/
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