Por: Honório de Medeiros(*)
Segunda
teoria acerca da invasão: o ataque a Mossoró resultou da paixão de Massilon por
Julieta, filha do coronel Rodolpho Fernandes (terceira e última parte)
Pois bem,
Massilon teria uma paixão por Julieta, filha do Coronel Rodolpho Fernandes.
Temos, aqui,
um entreato:
Coronel Isaías Arruda
Em virtude da
amizade com o ‘coronel’ Isaías Arruda, na verdade um dos grandes coiteiros de
Lampião no Ceará, o Rei do Cangaço, como era chamado, esteve, mais de uma vez,
no município de Aurora. Em suas incursões pelo município sul-cearense, o
bandoleiro se acoitava na fazenda Ipueiras, de José Cardoso, sobrinho de Isaías.
Uma dessas
vezes foi nos primeiros dias de Junho de 1927. Na fazenda Ipueiras, onde já se
encontrava Massilon Leite, que chefiava pequeno grupo de cangaceiros, Lampião
foi incentivado a atacar a cidade norte-rio-grandense de Mossoró – um plano que
o bandoleiro poria em prática no dia 13 do citado mês. Em razão do incentivo,
Lampião adquiriu do ‘coronel’ um alentado lote de munição de fuzil que, de mão
beijada, Isaías havia recebido do Governo Federal (Artur Bernardes), quando
este promoveu farta distribuição de armas a ‘coronéis’ ‘para alimentar o
combate dos batalhões patrióticos à coluna Prestes’.
Presente
àquela negociação, que rendeu ao ‘coronel’ Isaías a considerável quantia de
trinta e cinco contos de réis, esteve o cangaceiro Massilon, que teve valiosa
influência junto a Lampião, no sentido de atacar Mossoró, cujos preparativos
tiveram lugar na fazenda Ipueiras. Consta que
O cangaceiro Massilon Leite
Massilon Leite – associado a
Lampião no sinistro empreendimento – tinha em mente assaltar a agência local do
Banco do Brasil e sequestrar uma filha do cel. Rodolfo Fernandes.
Alexandro
Gurgel conta que Pedro Dantas Filho, natural de São José do Brejo do Cruz e
morto em 2002, aos 88 anos, conheceu Massilon, que comerciava gado na cidade, e
este lhe informou que o cangaceiro nutria uma paixão platônica pela filha de
Rodolpho Fernandes e via no ataque a Mossoró uma oportunidade de raptar a moça.
Calazans
Fernandes[2], no seu livro histórico “O Guerreiro do
Yaco”, a vida romanceada do Coronel Childerico Fernandes, nos conta o seguinte:
O cangaceiro Lampião
Do Alto da
Conceição, na entrada de Mossoró, Lampião avaliou o tamanho da cidade que via
pela frente. Ao contar as igrejas, sua reação imediata foi segurar Massilon
pelo cangote:
“Cidade de
quatro torres é demais para cangaceiro atacar. Você ainda me paga”.
Vinha
contabilizando os insucessos da carreira do bandido e ainda ignorava
completamente que, devido a ele, Mossoró recebia sinais de alerta através de
Esther Fernandes, uma das filhas de Rufino, da Maniçoba, mulher de Ezequiel
Fernandes de Souza, sócio de Alfredo Fernandes e Cia., da família de Rodolfo
Fernandes.
Coronel Rodolfo Fernandes
Ela fazia a ponte entre o irmão Zé Rufino, de Vitória, e o prefeito
de Mossoró.
Ao mesmo tempo
em que Zé Rufino, então com 26 anos, conhecera Massilon, havia conhecido o
jovem Virgulino, de 20. Tropeiros nos mesmos caminhos, os dois se cruzavam ao
abrigo das oiticicas na travessia do rio nas cercanias de Apodi. Num desses
encontros, nos tempos perversos de 1918, Zé Rufino assistiu a Virgulino surrar
de chicote uma velha que roubava farinha para alimentar a penca de filhos.
Desentenderam-se, trocaram advertências, mas o episódio encerrou-se aí.
Nas mesmas
sombras e lazer, desde essa época Massilon e Zé Rufino encontravam-se na lide
dos comboios de algodão, de peles de oiticica, dos sertões para Mossoró, de
onde, dos armazéns de Alfredo Fernandes & Cia., tiravam o sal para os
varejos da Tromba do Elefante, as charqueadas do Cariri no Ceará e do Gurguéia
no Piauí, de rotas mais curtas do que as de antigamente para o São Francisco e
as Minas Gerais, porém mais freqüentes naqueles anos de expansão da carne de
sol.
Das estradas,
a parceria dos dois chegou à mesa do café da manhã dos Fernandes, que Massilon
associava a milhões e a mulheres perfumadas. Na casa de Esther, na intimidade
da família, o cabra de olhar trigueiro deslumbrou-se no luxo do mobiliário e no
jeito fortuito das moças orgulhosas nos seus vestidos de seda.
Mesmo nas suas
suspeitas, Lampião só desconfiou de que a obstinação de Massilon em atacar
Mossoró escondia uma paixão quando já era tarde. Pelo resto da vida, aliás, ele
nunca saberia que seu cabra alimentava a intenção única de se valer do chefe e
seu bando como escudos, para raptar a irmã[3] do prefeito Rodolfo:
“... que
fiquem com todo o dinheiro. Eu só quero a minha Julieta”...
Como se diz no
Sertão:
“é tudo
“foquilore”!
Ou será
verdade? Agreguemos aos depoimentos de Amarílio, Alexandro e Calazans o fato,
que pode ter outra conotação, como será analisado mais adiante, de Massilon ter
assumido para si a responsabilidade de atacar a casa do Coronel Rodolpho
Fernandes enquanto Jararaca e seus parceiros distraia os defensores pela
frente.
Por qual razão
houve o ataque à residência do Intendente e, não, ao comércio? Por qual razão
Massilon comandou o ataque? Por qual razão os cangaceiros, comandados por
Jararaca, antes de se posicionarem para o ataque à residência do Intendente
invadiram a residência de Joaquim Perdigão, seu genro, mas não atacaram seu
vizinho?
CONTINUA...
Leiam,
anteriores a este texto, em
www.honoriodemedeiros.blogspot.com:
1) O
ATAQUE DE LAMPIÃO A MOSSORÓ: UM MISTÉRIO QUASE CENTENÁRIO;
2) O
ATAQUE DE LAMPIÃO A MOSSORÓ: COMO ERA A CIDADE NA ÉPOCA DA INVASÃO;
3) O
ATAQUE DE LAMPIÃO A MOSSORÓ: PRIMEIRA TEORIA ACERCA DA INVASÃO(Primeira
Parte);
4) O ATAQUE DE
LAMPIÃO A MOSSORÓ: PRIMEIRA TEORIA ACERCA DA INVASÃO (Segunda Parte);
5) O
ATAQUE DE LAMPIÃO A MOSSORÓ: SEGUNDA TEORIA ACERCA DA INVASÃO; PRIMEIRA PARTE.
6) SEGUNDA
TEORIA ACERCA DA INVASÃO: O ATAQUE A MOSSORÓ RESULTOU DA PAIXÃO DE MASSILON POR
JULIETA, FILHA DO CORONEL RODOLPHO FERNANDES (SEGUNDA PARTE).
[1] “AURORA HISTÓRIA E FOLCLORE”; TAVARES,
Amarílio Gonçalves; 2ª. Edição; Ceará.
[2] “O GUERREIRO DO YACO”; Fundação José
Augusto; 2002; Natal, RN.
[3] Aqui o autor equivocou-se: é a filha do
Coronel.
(*)Mestre em
Direito; Professor de Filosofia do Direito da Universidade Potiguar (Unp);
Assessor Jurídico do Estado do Rio Grande do Norte; Advogado (Direito Público);
Ensaísta.
honoriodemedeiros.blogspot.com.