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terça-feira, 17 de março de 2020

MEMÓRIAS DE UM LAR

*Rangel Alves da Costa

A casa. Lar que era vivo e transbordante  nos tempos idos, com portas e janelas abertas, pessoas chegando e saindo, fumaça subindo da lareira e cheiro de café torrado ao entardecer.
A casa. O ninho familiar, com pessoas vivendo os seus destinos, compartilhando instantes de alento e desalento, sem imaginar quanto o tempo vai transformando a existência, tornando solidão aquilo que era tão presença.
“Menino cuidado com pingo de chuva, pra cair gripado e febril é num instante. Menina venha cá arrumar essas bonecas dentro da casinha. Pensa que boneca de pano não tem sentimento, é? Maria coloque o café no pilão e depois estenda a roupa no varal...”.
“Zezinho, já avisei que não quero ver você subindo sozinho naquele cavalo alazão. O bicho ainda tá brabo, arreliento, e é arriscado por demais que desembeste com você em cima. Também não quero que saia por aí de arapuca na mão pra pegar passarinho. Tem cobra e bicho perigoso por todo lugar. Se quiser brincar que vá correr na malhada com seu cavalo de pau ou cuidar da sua fazenda de ponta de vaca...”.
“Mãe, Zezinho roubou o cabo de minha vassoura. Mãe, eu vi Aninha pegar seu talco de pó pra botar nas bonecas dela. E também saiu do quarto com uma alfazema escondida. E também ouvi quando conversava com uma boneca e dizendo que um príncipe encantado qualquer dia vai aparecer na janela do quarto dela. E que vai mandar o bicho-papão ficar debaixo de minha cama...”.
“Cale a boca vocês dois. Mas quem já se viu duas criaturinhas iguais a vocês duas? Um vem e diz que a outra fez isso, a outra vem e diz que o outro fez aquilo. Mas que coisa mais feia. Agora venha cá Zezinho, e depois venha você Aninha, pois quero saber direitinho dessas histórias. E vão preparando o lombo...”.
Os anos foram passando e a movimentação na casa continuava intensa, mas as vozes tomavam outros tons, os gritos já não eram da criançada nem dos pais ordenando a convivência. Outras palavras, e até alvoroços, começaram a se espalhar pelas paredes e arredores.
“Corra, corra Zezinho, vá chamar o doutor. Aninha se apresse aqui, me ajude a abanar sua mãe que parece sufocada, sem um pingo de ar. Abra a janela, tire essa cortina da porta. Faça uma garapa, traga aquele chá. Abane aqui que ela parece que nem pode mais respirar...”.
“Corra aqui pai, chega, venha logo pelo amor de Deus. Não estou sentindo mais nenhuma respiração. Será que ela morreu, será que ela morreu? Responda, será que ela morreu? Ela não pode morrer, ela não vai morrer. Será que ela morreu? Responda, responda pelo amor de Deus...”.
No mês seguinte o pai não suportou a dor do luto e também faleceu. Estava de lenço à mão sentado numa cadeira na varanda quando pendeu a cabeça para o silêncio da vida. Parecia sorridente na feição envelhecida mil anos em poucos dias. Quando a filha encontrou-o assim, talvez já caminhando em busca de sua amada, pela última vez um grito ecoou na casa.
Foi o último grito, mas cujo som continua ecoando nas sombras escondidas do passado. Apenas os dois irmãos continuando ali, apenas as palavras inevitáveis eram pronunciadas.
“Não suporto mais viver aqui nesse sofrimento. Vou embora daqui. Vou morar na casa de Tia Tonha, lá na cidade. Só tenha pena de lhe deixar sozinho aqui. Nessa idade e ainda não pensou em casar. Parece que nossa sina é viver na solidão pela vida...”.
“Também vou sentir muito sua falta. Mas também sei que não pode continuar nessa situação de desalento. Ninguém vive feliz numa casa que só traz tristeza e dor no coração. Olho pro lado e parece que vejo nossa mãe, olho pra outro e sinto a presença do nosso pai. E eles olhando tudo pelos retratos na parede. Mas vá. Também não vou demorar aqui não. Vou vender tudo, entregar a sua parte e depois penso que estrada tomar...”.
Vendeu a casa. Quem a adquiriu nunca usou como habitação. Os anos foram passando e tudo envelhecendo, se deteriorando, numa dolorosa paisagem. As janelas abertas, a porta caída. Folhagens mortas sendo levadas pelo vento e ali fazendo moradia. Tudo abandono e solidão, apenas a ventania zunindo triste ao redor.
Quando chegava o entardecer um cheiro forte de café torrado era sentido por quem passava ao redor. E vozes, e vozes na noite. E depois um grito desesperado. E novamente o silêncio dos tempos.
E tudo nos idos da memória que alegra e chora. Tudo na relembrança daquela casa, tudo na folha do tempo, tudo no sopro do vento.


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com  

Novo livro na praça - Lampião em Alagoas

Autores: Clerisvaldo B. Chagas e Marcello Fausto

O livro tem 468 páginas.

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BOM DIA AMIGOS!!! VAMOS QUE VAMOS...


Por Sálvio Siqueira

“PEÇO LICENÇA PRO CÊS”.

ESTOU UM POUCO AFASTADO DOS ESTUDOS SOBRE A HISTÓRIA DO FENÔMENO CANGAÇO, MAS NÃO DEIXO DE SEMPRE DAR UMA ‘ESPIADINHA’. REVENDO MEUS ARQUIVOS, QUE NÃO SÃO MUITOS, ESTAVA VENDO CAPTURAS INÉDITAS DAQUELES QUE FIZERAM PARTE DO FENÔMENO... CANGACEIROS, VOLANTES, COITEIROS E VÍTIMAS, QUANDO PAREI EM UMA E RESOLVI DIVIDIR COM VOCÊS. O ANIVERSÁRIO DE LOURIVAL BATISTA, LOURO DO PAJEÚ, É NO DIA 6 DE JANEIRO. NESSA DATA, TÍNHAMOS O PRAZER DE REVERMOS E/OU CONHECERMOS PESSOAS, FIGURAS IMPORTANTES, QUE VINHAM PARABENIZAR O ILUSTRE ANIVERSARIANTE, COMO GERALDO AMÂNCIO, PINTO DO MONTEIRO, GREGÓRIO BEZERRA... A FAMÍLIA CONTINUA REALIZANDO A FESTA TODO DIA DE SEU ANIVERSÁRIO. POIS BEM, EM UMA DESTAS DATA, TIVEMOS O IMENSO PRAZER DE CONHECERMOS A EX-CANGACEIRA SILA. HOSPEDOU-SE NA CASA DO ILUSTRE ANTÔNIO BEZERRA, ANTÔNIO DE CATARINA, 1º TENENTE REFORMADO DA AERONÁUTICA. ELA PERNOITOU DO DIA 5 PARA O DIA 6 NA CASO DO AMIGO. AINDA HÁ OS DOIS TORNOS, NOS QUAIS FOI ARMADA A REDE EM QUE SILA DORMIU. O QUE CHAMOU ATENÇÃO FOI O RELATO DE QUE ELA USOU UM ‘TAMBORETE’ PARA PODER DEITAR NA REDE, POR TER RODAS DE ARAME FARPADO NO CHÃO, A REDE FICOU MUITO ESTICADA, MUITO ALTA, MAS, A FERA NÃO SENTIU RECEIO E NELA DORMIU. NA MANHÃ DO DIA 6, FOI À CASA DE LOURIVAL BATISTA. EM CERTO MOMENTO, PEGOU UMA VIOLA, E JUNTO A ANTÔNIO DE CATARINA, CANTARAM UM ‘BAIÃO’. ESTA CAPTURA FOI REALIZADA NA ÁREA DA CASA DO ANIVERSARIANTE. COISA MUITO BOA, E QUE FOI O QUE ME CHAMOU A ATENÇÃO PARA O CANGAÇO... POESIA, VIOLA E CANGAÇO. PARA MIM, NÃO SÃO SEPARADOS, SE INTERLIGAM HISTORICAMENTE.

Foto arquivo pessoal de Antônio de Catarina.


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HOJE QUEM CHEGA PARA DEPOR É O EX-CANGACEIRO "COBRA VERDE"...



... sobrevivente de Angico que no passado fez parte do bando do mais famoso cangaceiro do sertão. Lampião.

Um depoimento que foi publicado no extinto Jornal carioca "A NOITE" em sua edição de 14 de novembro de 1938.

Confiram.

Geraldo Antônio De Souza Júnior


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CANGACEIRO "VILA NOVA IV" - DEPOIMENTOS E RELATOS.



Iziano Ferreira Lima o "Vila Nova", quarto cangaceiro a utilizar a alcunha, pertenceu ao bando de Lampião e nos últimos tempos do cangaço lampiônico foi um dos Cabras mais próximos e leais ao rei do cangaço, sendo inclusive um dos cangaceiros que estavam mais próximos do casal Lampião e Maria Bonita no momento do ataque da Força Policial Volante alagoana à Angico, Força que na ocasião tinha o comando do Tenente João Bezerra da Silva e o apoio do Aspirante Francisco Ferreira de Melo e do Sargento Aniceto Rodrigues dos Santos.
Em outubro de 1938 se entregou às autoridades em troca de anistia à exemplo de tantos outros remanescentes do bando. Sofreu agressões e espancamentos por parte da polícia por se recusar a denunciar os coiteiros e apoiadores do bando e a perseguir, ingressado na polícia, os antigos companheiros de cangaço.

Após se entregar concedeu algumas entrevistas como essas que foram concedidas aos jornais "Correio de Aracaju" e "A Noite" e que são narradas nesse documentário.

Assistam e deixem suas opiniões, críticas e sugestões.

/www.youtube.com/watch?v=wFlwvF--5sg&t=10s


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VOCÊ SABIA?


Por Geraldo Júnior

Que o cangaceiro Jurity (Manoel Pereira de Azevedo), após ter se entregado às autoridades, à exemplo de alguns outros cangaceiros, ingressou na polícia e saiu em perseguição aos antigos companheiros de cangaço?

Consta ainda na literatura cangaceira que Jurity delatou à polícia a existência de Expedita Ferreira, filha do casal Lampião e Maria Bonita, cuja existência era até então desconhecida e que secretamente era criada pelo casal Severo e Aurora da Fazenda Enxu localizada no município de Porto da Folha em Sergipe.

Fica a informação.


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