Nada de mais nem anormal nisso, não fora, nesse período, nessa data, nesse ano,
terem ocorrências políticas nacionais que terminaram por ter um levante no
quartel onde ele prestava serviço militar.
Os jovens Cristino, como outros, achavam que por terem se rebelado, mesmo
cumprindo ordens, iriam ser condenados a morte. Onde essa punição não caberia,
pois, a pena de morte já fora extinta, menos no caso de haver guerra, e nela
haver traição e/ou deserção.
“Sergipe viveu um dos capítulos mais emocionantes de sua História. O fato pouco
conhecido pela população em geral foi a revolta de 13 de julho de 1924. O
tumulto começou ainda de madrugada no quartel do Exército, que à época estava
localizado na Praça 24 de Outubro, atual General Valadão. “De lá o capitão
Eurípedes Esteves de Lima, e os tenentes Augusto Maynard Gomes, João Soarino de
Mello e Manoel Messias de Mendonça ordenaram a ocupação de prédios públicos e a
prisão das autoridades que discordavam do levante, a exemplo do comandante do
28º BC, major Jacintho Dias Ribeiro, e do governador Maurício Graccho Cardoso”.
“Os militares rebeldes enviaram tropas para São Cristóvão, Itaporanga, Rosário
do Catete e Carmópolis. Depois disso a população começou a retornar para
Aracaju. A movimentação das tropas legalistas comandadas pelo general Marçal
Nonato de Faria inquietava os líderes da revolta em Sergipe e alarmava os
moradores das cidades por onde passavam.”
“(...)Por fim os rebeldes viram-se num redil. Tropas enviadas pelo Governo
Federal avançavam pelo norte e sul do estado. E o contratorpedeiro Alagoas
posicionava-se a oeste, de frente para Aracaju. Sem comunicação, cercados por
todos os lados e contando com o desafeto dos coronéis do interior, os líderes
da revolta fugiram e os praças ficaram atônitos(...)”. (Andreza Maynard,
Doutoranda em História)
Mesmo assim se inicia uma grande busca pelos jovens desertores.
Cristino segue numa alucinada fuga sem poder se mostrar para ninguém, travessa
seu Estado natural, Alagoas, e segue, entrando em Pernambuco, rumo a Paraíba,
em busca de um lugar para arriar seu matulão. Essa ‘viagem’ é feita no mais
absoluto silêncio, tensão e medo.
Chega, na metade do ano de 1924, mais ou menos, num lugar chamado Alagoa do
Monteiro, no Estado paraibano, um dos municípios palco da “Guerra de 12”, o
outro é Prata, no mesmo Estado, travado entre as forças dos Governos
pernambucano e paraibano, contra o “Guerreiro Togado”, Augusto Santa Cruz.
Cristino, vaga pelo município, na zona rural e termina por encontrar trabalho
em uma das muitas fazendas que cercam a sede. Não vai muito a cidade por medo
de ser reconhecido e preso por soldados do Exército.
Cristino tinha um habito de extrapolar na bebida e, depois disso, a coisa
ficava feia pois cantava todos para uma briga. Nas cercanias do sítio em que
trabalha sempre havia sambas, forró, e ele ia. Num desses forrós, ele, já
bastante alto pela quantidade de bebida ingerida, convida uma moça para dançar,
e a moça, notando o estado de embriaguez em que se encontrava, não aceita o
convite. O homenzarrão, ruivo, não aceita, por sua vez, a negativa da moça. E
continua insistindo para que ela fosse dançar com ele. A coisa começa a
engrossar e, o som do palavreado já bastante alto, chega aos ouvidos de um
parente da moça que também estava no samba. Logicamente o rapaz, primo da
jovem, vai em seu socorro.
Ao chegar junto onde está havendo a teima, o rapaz e Cristino se desentendem ao
ponto de irem aos bofetões. A ‘roleta’ é estabelecida e, só um tempo depois, é
que a turma do ‘acaba com isso’, conseguem separar os dois. Só que a polícia já
estava presente e prende os dois.
Dr. Sérgio Dantas
Segundo o pesquisador/historiador Sérgio Dantas, em seu sensacional livro, “Corisco
– A sombra de Lampião”, o rapaz é logo solto, por ser natural da região e ter
pessoas e parentes influentes que pedem por ele.
Não sendo da região nem tendo parentes nem amigos influentes que tomem seu
partido, Cristino passa vários dias no xilindró. Após sair da cadeia, o jovem
alagoano decide mudar, mais uma vez, de ares. Naquela região não mais poderia
viver.
Lasca-se no meio do mundo novamente, dessa vez rumo ao interior pernambucano e,
tempos mais tarde, chega na fazenda Condado, no município de Vila Bela.
Demora-se pouco ali e, seguindo para o município de Bom Nome, ele vai até a
fazenda Boa Vista, propriedade rural do Sr. Manoel Pereira Valões, casado com
uma parente sua.
Só que, parece que o destino lhe arma constantemente uma cilada. O dono da
fazenda, certo dia, recebe a visitas de alguns senhores vindos das bandas de
Vila Bela. Dentre os visitantes está o filho do Intendente de Vila Bela. Esse
Sr. Chama Manoel Pereira em particular e diz que aquele rapaz que está vivendo
em seu imóvel rural era um foragido, tanto da justiça comum como do Exército.
Resultado, o próprio esposa da sua parente, aconselha e serve de intermediário
entre ele e o já bastante afamado, Lampião.
“(...) A escolha de Cristino – independentemente da razão que o motivara – seria
amplamente justificável naquela quadra temporal. O cangaço era uma forma de
agrupamento que seduzia um sem número de jovens que buscavam proteção,
vingança, dinheiro ou, simplesmente, fama. Assim, Cristino decide se refugiar
debaixo de um chapéu de couro, tomar por escudo um refli municiado e bradar,
sempre que possível, a justificativa de que seria ‘um homem perseguido pela
polícia’. Todas as circunstâncias pareciam, naquele instante, convergir
naturalmente para o cangaço(...)”. (“CORISCO – A Sombra de Lampião” – DANTAS,
Sérgio Augusto de Souza. 1ª edição)
Naquele mês de agosto, um jovem alagoano, narra para um chefe cangaceiro,
chamado Lampião, o ou os motivos que o fizeram procurar-lhe. Após escutar o que
o rapaz tinha a dizer, o “Rei dos Cangaceiros” o admite de imediato. A partir
daquele momento, reluzindo de forma triste e indomável, um “Corisco” cortava as
brenhas pajeuzeiras sob o comando direto de um ‘cabra’ de alcunha “Jararaca”...
na região do Navio nas quebradas do Sertão.