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segunda-feira, 2 de outubro de 2023

ATÉ TU, COITEIRO MANÉ FÉLIX, QUE COMIAS NO MEU PRATO, TAMBÉM QUERES CONDENAR UM POUCO A HONRA DA MINHA RAINHA MARIA BONITA?

 Por José Mendes Pereira.

Neném do Ouro, Luiz Pedro e Maria Bonita

Pensando bem, é verdade o que afirma o escritor Rostand Medeiros, que muitas histórias sobre o cangaço são motivos de piadas, mesmo por depoentes que tentaram enfeitar o que aconteceu no movimento social dos cangaceiros, e principalmente, no dia que os cangaceiros foram chacinados.

As respostas do cangaceiro Balão, ao repórter da "Revista Realidade", em novembro de 1973, foram mais do que fantasiadas, muito embora, existem outras que têm fundamentos.

Existem informações, que quem armava Lampião, era o tenente João Bezerra da Silva, mas na minha humilde opinião, não há fundamento, uma razão é que: qual é o inimigo que arma o seu próprio adversário para depois arriscar a vida? Só em vídeo game, quando muitos morrem e depois voltam a viver novamente para darem inícios aos ataques.

Coiteiro Mané Félix

O coiteiro Mané Félix, pessoa de alta confiança do rei do cangaço capitão  Lampião, disse coisa com coisa, e eu acredito que ele deu uma deslizadinha, não tão pequeninha, quando afirma que Luiz Pedro meteu uma palmadinha meio forte nas nádegas de Maria Bonita, e o capitão Lampião que assistia de camarote não disse nada. 

Leia:

"Nessa tarde - dizia o coiteiro Mané Félix ao reporte da "Revista Realidade" - por sinal, depois de "caçoar" com Luiz Pedro, deixando de fazê-lo somente no momento em que se dirigia para o riacho, o bandoleiro que estava sentado sobre uma pedra, deu-lhe uma palmada mais ou menos forte nas nádegas (de Maria Bonita), fazendo-a correr na direção do pequeno córrego, enquanto Lampião que a tudo assistia, sorriu como se nada tivesse acontecido".

Lampião e Maria Bonita

Quando se respeita alguém, não há brincadeiras. O respeito de todos os cangaceiros com Maria Bonita e com Lampião, era preservado. Lampião era na verdade um empresário, pois se contratava alguém, tinha a sua empresa, muito embora, para ele, do bem, e para nós, do mal. 

Qual é o patrão que se mistura com os seus funcionários? Nenhum! Do contrário, perderá o respeito e não saberá mais como contornar. 

Por que era que no acampamento o capitão Lampião se isolava dos seus comandados, armando a sua central administrativa um pouco longe dos asseclas? Justamente para que eles o respeitassem. Se ele vivesse misturado com os cangaceiros, salvo uma reunião, chegaria o dia em que perderia por total o seu respeito.

Sobre como era Maria Bonita fisicamente, o coiteiro Mané Félix acertou, descreveu para o repórter, a fiel e corajosa companheira de Virgulino Ferreira da Silva, assim à vontade como uma: "mulher baixinha, toda redondinha, uma carinha bonita, e com dois olhos pretos e grandes, morena clara, cabelos negros e lisos, quadris relativamente largos, cintura fina, tendo os braços e pernas roliços e muito bem feitos". Muito "prosista e conversadeira" - disse ele ao entrevistador - brincava bastante com alguns dos bandoleiros, e pelos quais era respeitada, apesar de muitos deles, levarem essa brincadeira mais além, como Luiz Pedro, por ela chamado de “Caititu”, e que gozava da maior confiança e intimidade da mesma, e do próprio Lampião, seu compadre.

Eu acredito na honestidade de Maria Bonita.

Essas informações, para mim, são meio "pruéticas", como dizia o humorista coronel Ludugero. Mas isso é a minha opinião, que poderá nem ter nenhum sentido, e nem ficarei chateado se algum dos amigos discordar. Cada um tem a sua visão, e sou apenas um estudante do cangaço sem rumo e sem muito conhecimento sobre o tema.

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LAMPIÃO E OUTRAS HISTÓRIAS - CANGACEIROS, COITEIROS E VOLANTES

Por Doizinho Quental

O coiteiro Mané Félix

O conhecimento mais apurado das origens dos cangaceiros, coiteiros e volantes do tempo do cangaço se fazem necessário, para situarmos melhor os nossos contos e curiosidades.

Nada mais plausível do que recorrermos ao livro "Cangaceiros, coiteiros e volantes" do mestre e escritor José Anderson Nascimento, com a sua prestimosa autorização, para situarmos estes integrantes do cangaço no seu tempo e sabermos suas origens.
  
“A partir da primeira metade do século XIX, a dura realidade do sertão nordestino, onde predominava intensa miséria e injustiça social, criou-se uma manifestação caracterizada pelo banditismo, com a denominação de cangaço”.
  
O termo cangaço já era conhecido desde 1834, e se referia a certos indivíduos que andavam armados, com chapéus de couro, carabinas, cartucheiras e longas facas enterçadas batendo na coxa. Levavam as carabinas passadas pelos ombros, tal como um boi no jugo, na canga. Daí decorreu a significação cangaço e dela derivando o vocábulo cangaceiro, para identificar aquele bandido do sertão nordestino, que andava sempre fortemente armado.
  
A fama de Jesuíno Brilhante, Antônio Silvino, Lampião e mais alguns cangaceiros que se tornaram lendários, ofusca os nomes de outros bandidos rurais tão famosos quanto eles em sua época. Famosos, frios e destemidos, a exemplo de Diogo da Rocha Filgueira, o Dioguinho, que agia no oeste paulista no final do século passado.
  
Mais cruel que Dioguinho só mesmo Lucas da Feira, escravo fugitivo que atacava nas redondezas de Feira de Santana, na Bahia.
  
Tanto Lucas da Feira, como Dioguinho, apesar de agirem em área rural não podem ser considerados "bandidos sociais". O baiano não passava de um salteador de estrada e o paulista, de um bandido bem protegido.
  
O banditismo social nasceu de forma muito diferente. Teve a sua base em fatos de natureza econômica e social.
  
Jagunço, cabra, bandoleiro ou cangaceiro, era o inadaptado à civilização litorânea, o retardatário, o reacionário contra as normas de uma nova sociedade.
  
Surgiram, em grupo, ao aceno de um companheiro mais terrível.
  
Banditismo grupalista, banditismo tribal ou familiar, banditismo social, impulsionados todos por fatores de ordem social ou antropológica.
  
No quadro do banditismo do Nordeste houve uma divisão em dois grandes grupos: o primeiro constituído pelo jagunço ou capanga que sempre figurou como bandido comum, um mercenário ou guarda-costas, também conhecido como pistoleiro, a serviço do poder econômico nas lutas em torno de limites de propriedades entre famílias ou políticas; o segundo formou-se com os cangaceiros que, de certa forma podem ser apresentados como "bandidos sociais", uma vez que eram apoiados pela comunidade, a qual legitimava os seus atos e colaborava no fornecimento de alimentos, esconderijos e informações.
  
Vingar a honra da família constituía o portão de entrada do jovem sertanejo para o cangaço. Foi por essa causa que Jesuíno Alves de Melo Calado, o Jesuíno Brilhante, "caiu" no cangaço, no Rio Grande do Norte. Ganhou fama ao ajudar os flagelados da seca de 1877, e morreu lutando com a polícia, na Paraíba.
  
Na mesma época, afora Brilhante, surgiram os bandos dos Viriatos, Quirinos e Calangros.
  
No início da República era famoso o cangaceiro Antônio Silvino, que só foi preso em 1914. Conduzido à cadeia do Recife e condenado a 32 anos de prisão, cumpriu 28 e foi indultado pelo Presidente Getúlio Vargas. Faleceu em 1944, aos 79 anos de idade.
  
“Outro bandido famoso foi Sinhô Pereira, que só aderiu à vida cangaceira para vingar a morte do seu irmão Né Pereira, no sertão pernambucano de Serra Talhada.”
  
Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, o mais famoso cangaceiro do Nordeste,  segundo alguns historiadores, nasceu em 7 de julho de 1897, no sitio Passagem de Pedra  município de Vila Bela ( hoje Serra Talhada); estado de Pernambuco.
  
Outros afirmam categoricamente que este famigerado cangaceiro nasceu em 6 de junho de 1898.
  
Dotado de uma inteligência acima do normal, Virgulino tinha facilidade de trabalhar com qualquer atividade. As funções de vaqueiro, almocreve, soleiro, pedreiro, tocador de sanfona, poeta e cangaceiro, executou  sempre com a mania de perfeição. 
  
Ainda jovem, juntamente com os seus dois irmãos mais idosos, Antônio Ferreira e Livino, meteram-se em encrencas com os vizinhos, Zé Saturnino e João Nogueira, genro e sogro, considerados  homens ambiciosos e maus, terminando por entrarem nas desgraças do cangaço, fazendo justiça com as próprias mãos, já que as autoridades da época, foram partidárias, levianas, e coniventes com  Zé Saturnino e João Nogueira, agricultores mais abastados. Alguém declarou que se não tivesse existido Zé Saturnino, não teria havido Lampião. Entretanto, escritores célebres asseguram que a sua índole perversa e má terminaria aflorando, até mesmo se ele tivesse sido educado em seminário de jesuítas: “o carneiro aprende a dar marrada, nem que seja criado em chiqueiro de cabras".
  
Lampião foi considerado, por muitos entendidos, como um cangaceiro de personalidade múltipla; um esquizofrênico, mau e vingativo. A história mostra que este celerado praticou atos vis, desumanos e de um sadismo que revoltou o mundo. No entanto, vários autores escreveram sobre atos de humanismo, 
  
Em entrevista prestada pelo ex-cangaceiro  Oliveira ou Alagoano, aos autores do livro Lampião e o Estado Maior do Cangaço, de Hilário Lucetti e Magérbio de Lucena - Edição de 1985, declara: - "Durante o tempo que andei com Lampião, quando a gente estava no Ceará, ele dizia logo: - Cuidado que este é um Estado que eu respeito! E ninguém tomava nada de ninguém, não matava ninguém. Lampião não gostava de dar surras. Para pegar um pobre paisano  desarmado e dar-lhe  uma pisa, dizia, não é vantagem para um homem. Vantagem para um homem é falar alto para outro armado! Não se davam bolos. As moças tinham que ser respeitadas. O padre Cícero tinha pedido para ele respeitar moças, senhoras casadas e seus romeiros, dizendo que se fizesse isso, ele morreria de velho em sua cama."
  
Portanto, momentos ensandecidos e rasgos de humanismo, foram perpetrados por essa personalidade controvertida.
  
Lampião foi proclamado por seus asseclas, como vimos acima, de justo e defensor das mulheres e donzelas, todavia, temos relatos de que nem sempre agiu assim, pois chegou a ferrar senhoras e moças, como se fossem animais.  Em outras ocasiões,  investiu   contra mulheres de bem e pacatas donzelas,  satisfazendo os seus instintos bestiais de sexo, onde todo o seu bando de réprobos o acompanhou, numa sevícia e torpeza inigualáveis, deixando as vítimas em estado de torpor.

Apesar de, em 4 de abril de 1926, na cidade de Juazeiro do Norte, quando entrevistado pelo repórter Otacílio Macedo, ter confessado que agia sempre com justiça, os fatos comprovam seus crimes hediondos, de uma perversidade que extrapolam os limites do irascível.
  
Com toda a sorte de crimes hediondos praticados por ele e pela turba de demônios que o acompanhavam, é de admirar que este celerado ainda seja lembrado como um defensor  do sertão nordestino. A verdade, cremos, é que Lampião, quando defendeu seus interesses, foi amigo do pobre, do miserável e do rico coronel de barranco, se estes fossem os seus provedores. Defendia a ferro e fogo os seus coiteiros, e os trucidava quando era traído pelos mesmos.
 
Virgulino Ferreira da Silva, Lampião, foi fruto da sanha perversa e doentia, de um tempo onde o coronel de barranco era o senhor absoluto de tudo e de todos. Aqueles que "não honravam os dois maracujás que carregavam na forquilha", eram vilipendiados, espezinhados e difamados pelos potentes régulos da época do cangaço. Porém alguns, como o rei do cangaço, não transportavam nas suas veias o sangue do pacífico homem ou do medroso renegado, que suja as calças na hora da luta. De uma impetuosidade sem tamanho, partiu inicialmente com seus dois irmãos, para as vinditas ferrenhas pelas injustiças sofridas.

Como muitos imaginam, ele não entrou no cangaço porque mataram seu pai, José Ferreira;  o seu genitor foi morto covardemente por José Lucena, em consequência de Lampião e seus irmãos já terem abraçado o cangaço.
 
Daí para frente as suas "vinganças tornaram-se malignas".
  
Agora você pergunta: - como pode existir oportunidade para se realizar um trabalho de humor, sobre este ser cruel e vingativo? Matutamos por bastante tempo sobre esta verdade incontestável e ficamos espantados com o resultado das  pesquisas que fizemos; mais uma vez comprovamos que "o que dá pra rir dá pra chorar", como enfatiza a  canção.
  
A nossa  intenção  não  é   contar  a história de Lampião, mas relatar, como já dissemos, fatos, histórias jocosas, curiosidades que grassaram naquela época de trancos e barrancos, onde o trabuco falava mais alto do que os poderes da justiça.
  
Para aqueles que realmente querem saber sobre a vida de Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, no final deste livro, fazemos recomendação das principais obras que devem ser consultadas.
  
“Como componentes do cangaço estão os coiteiros e as volantes”.
  
Os coiteiros eram os indivíduos que davam asilo aos bandidos ou os protegiam, em decorrência de parentesco, simpatia, interesse ou medo.
  
As volantes eram tropas ligeiras e contavam com 20 a 60 soldados (macacos) das Forças Públicas dos estados. apoiados por guias, rastejadores e pombeiros (alcaguetes).
  
Algumas usavam metralhadoras Hot kiss (beijo quente), de 32 tiros. Muitas volantes se notabilizaram na caça aos bandidos, especialmente as de Teófanes Torres, Manuel Neto, Quelé, Zé Lucena, Baltazar, Zé Rufino e a de João Bezerra.
  
A caatinga, tipo de vegetação característica do Nordeste brasileiro, formada por pequenas árvores, comumente espinhosas, que perdem as folhas no curso da longa estação seca, era o habitat natural dos cangaceiros.”

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LAMPIÃO E OUTRAS HISTÓRIAS - FUGAS DE BANDOLEIROS

Por Doizinho Quental

Depois da sangrenta batalha de Serrote Preto PE, diversos bandoleiros arribaram do bando de Lampião, não suportando os truculentos embates. 

Dentre os que fugiram estão: Beija-Flor , Gavião e Zabelê, presos em Boa Vista do Cabrobó, as margens do rio São Francisco, Quixabeira e Capuxu, capturados em Rio Branco (Arcoverde). 

Facilitando as perseguições 

Somente em 1932, no governo de Getúlio Vargas, os governadores resolveram construir estradas para facilitar a perseguição dos bandoleiros.

As volantes, até então, perseguiam os cangaceiros, como o valente vaqueiro do sertão, nas quebradas. Como é sabido, os cangaceiros conheciam estas regiões como a palma da mão. Com exceção de alguns mestres das caatingas, como: Manuel Neto, Arlindo Rocha, Odilon Flor e alguns outros nascidos e criados no sertão, os demais participantes das volantes achavam a empreitada bastante difícil. Portanto, foi de uma utilidade imensa a construção da Rodovia Central de Pernambuco, BR – 232 antigamente, BR-25, construída no ano de 1932, de Caruaru a Salgueiro, mas, por esse tempo, Lampião já havia ido dançar mulher rendeira na Bahia.

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LENDA SOBRE O REI LAMPIÃO.

Recontada por: Joaquim Nóbrega

A lenda do cigarro, como toda lenda, é contada em várias versões. De acordo com o escritor Leonardo Mota em seu livro "No tempo de Lampião", que foi publicado originalmente em 1930, a estória se dá quando o mesmo esteve na casa de correção da capital Pernambucana, e conversou com vários cangaceiros que ali se encontravam encarcerados. 

Leonardo Mota

O autor os perguntou se eles lembravam de algum episódio engraçado envolvendo o grande Lampião. O cangaceiro Canção que lá se encontrava, junto a mais um punhado de outros facínoras, lembrou-se de um episódio e o contou da seguinte forma:

Cangaceiro Canção

"A coisa mais engraçada que eu tive de assistir passou-se numa fazenda do município de Princesa, na Paraíba. O velho dono da casa tremia que era ver uma vara verde, Lampião botou ele debaixo de confissão, riscando o punhal nas costelas e ele acabou descobrindo o rumo da volante do tenente Mané Binisso. 

Lampião

Virgulino queria dar uma surra de relho, mas era tanto choro de muié e menino, que o jeito foi se perdoar. Mais com pouca, Lampião tirou do bolso um maço de cigarro e ofereceu:

- Pita?

O velho ficou calado, fez que não tinha ouvido e Lampião tornou a perguntar, desta vez gritando no pé do ouvido dele:

-Pitaaaaaaaaaa? 

Ai todo tremendo, o velho disse:

-Pito, mas vamincê querendo eu largo o viço."

É isso aí. Um grande abraço a todos.

Joaquim Nóbrega - Fortaleza/CE

Fonte: 

http://lampiaoaceso.blogspot.com

http://www.jarlescavalcanti.com

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EM UM DADO MOMENTO NA HISTÓRIA DO BRASIL

Por: Alfredo Bonessi


Incentivado  por Chico Pereira, o único cangaceiro cowboy do sertão, pois usava botas, chapéu de mocinho de cinema e rifle, Lampião enviou seus irmãos Antonio e Levino, com o bando de cangaceiros, para atacar a cidade de Sousa na Paraíba. Lampião não foi ao ataque – estava ferido no pé por bala da volante de Theofannes Torres.  

Theofannes Torres

Para Chico Pereira o ataque serviria como vingança contra os desafetos que tinham  feito atrocidades contra o seu pai naquela cidade. Nessa ocasião Lampião e o seu bando estavam a serviço do Coronel  José Pereira, de Princesa, na Paraíba.  Esse coronel não gostava de Lampião e nem dos cangaceiros – tinha em seus mandos  centenas de jagunços, pistoleiros e muita gente que não prestava – ele era o manda-chuva na região.

Coronel José Pereira de Lima

Com o ataque dos cangaceiros a cidade de Sousa o Coronel Pereira rompe em definitivo com Lampião e seu bando e os expulsa das suas fazendas, mas um cunhado de Pereira continua amigo de Lampião e  o recebe em sua casa, almoçam juntos e são amigos do peito. Essa amizade é do conhecimento do Coronel Pereira que não podendo fazer nada, apenas tenta aconselhar o cunhado a se desligar desse tipo de má gente. Mas ele continua amigo do Rei do Cangaço e é coiteiro dele.

O cangaceiro Chico Pereira

Essa amizade com Chico Pereira não dura, esse cangaceiro quando ferido, foi traído,  e abandonado pelos irmãos Ferreira em um canavial quando estava cercado pelas volantes, estava sem forças e quase moribundo e ainda, nessa ocasião, estava picado de cobra venenosa.

Surge a questão entre João Pessoa e João Dantas – dizem alguns por ciúmes e interesse na namorada de João Dantas. João Pessoa manda a polícia atacar e prender João Dantas na casa da namorada. Esta estaciona o automóvel nos fundos da casa e João Dantas escapole pela janela dos fundos. Mas a policia invade a casa e vasculha todos os aposentos e se apossa das cartas de namoro entre os dois. Essas cartas vão parar nos jornais e os ataques pela mídia da época fica acalorado entre os dois e como decorrente surgem  as ameaças entre ambos: João Dantas avisa: - Se você vier a Pernambuco, morre!

A política  brasileira na ocasião ferve no Sul do País e João Pessoa é o candidato  para a posse  política  – seu prestigio  e fama  estão em alta – todo o País sabe quem é ele.

João Pessoa decide ir ao Recife, mas é avisado pelas pessoas mais chegadas: - Não vá! Você está ameaçado de morte!

- Que nada! vou ao Recife!  e fez pouco caso dos avisos.

João Dantas vem de bonde – está em pé e uma pessoa está sentada  lê o jornal do dia. João Dantas dá uma brechada  na página principal do jornal e vê a noticia que João Pessoa está na cidade. No mesmo bonde ele volta para casa e apanha o revolver.  Procura por João Pessoa e o encontra na confeitaria – espera por ele. João Pessoa sai da confeitaria e João Dantas se aproxima pelas costas. Grita para ele: eu não te disse que não viesse ao Recife!!!! – João Pessoa se vira e investe contra ele de bengala em punho: - Ora seu! .................e leva três tiros.

A noticia se  espalha que nem fogo Brasil afora – João Dantas é considerado o Judas Nacional.  O  crime imediatamente serve de pretexto político e passa a ser considerado político e vira  motivo  principal para a sublevação nacional. Forças Getulistas  tomam o poder e João Dantas é preso com um parente seu que nada tinha a ver com o caso.

Ao lado da cela de João Dantas está o cangaceiro Antonio Silvino cumprindo pena. Tempos antes ele se oferece para pegar Lampião a unha, vivo ou morto e dá até um prazo para o feito:  20 dias.  Mas ninguém acredita nele e o deixa mofar atrás das grades. Você já pensou se houvesse esse encontro?

- quem mataria quem nesse embate?

Antonio Silvino fora um cangaceiro justiceiro, respeitador de lares e de mulheres, pedia antes de se apossar, se alguma mulher  o repreendesse ele até pedia desculpas e ia se embora. Praticava a justiça por onde andava e casou muita gente nesse sertão na marra, às vezes a coice de rifle, outras vezes a ponta de punhal. Não digo que era um homem corajoso, mas astucioso, esperto, muito precavido – andava sempre com pouca gente e se fazia obedecer pelos seus comandados.

Lampião

Lampião era aguerrido, ágil,  não fazia esse tipo justiça, não respeitava as mulheres, permitia que elas fossem estupradas e marcadas a ferro, ele mesmo forçou algumas delas,  não tinha dó de ninguém,  não ligava para a tortura que sofria as suas vitimas, desprezava a morte e sabia que um dia morreria por uma bala qualquer – sua estratégia maior era  não ser pego pela policia. Diversas vezes quis se entregar e seus irmãos não o deixaram.  Levino Ferreira, seu irmão, dizia para ele: você é um frouxo, um covarde – não serve para ser cangaceiro.  Lampião  sabia quando era a hora de lutar e a hora de escapar. E dizia sempre: - Não enfrente os macacos.  Lampião tinha a sua própria justiça, a justiça lampiônica, pois  a justiça era dele – a justiça era ele – ele fazia as suas  vinganças  a sua moda, muito  cruel. Lampião andava quase sempre com muita gente no bando e permitia que   chefes previamente designados mandassem nos seus grupos e decidisse a sorte daqueles cangaceiros  que por acaso fizesse algo que deveria  ser punido com a expulsão do bando ou até mesmo a morte.

- Ele sempre dizia:

“cangaceiro é para morrer no mato, de bala, feito bicho!”

Cumpriu-se essa profecia.

Antonio Silvino sempre afirmava: Lampião é um príncipe!

Lampião sempre dizia:

- Antonio Silvino é um covarde, pois se entregou!

A polícia invade a cela de João Dantas e a luta é ferrenha. Antonio Silvino escuta tudo – foi uma longa briga que acabou com a morte de João Dantas e do seu parente. A população fica sabendo do ocorrido e comemora o acontecido – a vingança fora feita.

Novamente  procura-se um responsável  pela ideia e autorização para a chacina de João Dantas: quem mandou?

A culpa cai em cima do Deputado  Suassuna que nada tem a ver com o caso. Ele mesmo decide ir ao Rio de Janeiro se explicar e  provar que não tem nada a ver com o assassinato de João Dantas. Seus familiares  o aconselham que não vá. Ele vai e é assassinado no Rio de Janeiro.  A questão esfria e a política continua – tudo abafado, mas não para os familiares do Deputado Suassuna que até hoje estão indignados por esse crime e procuram pelos mandantes. Na época o criminoso é mandado trabalhar  próximos as fazendas do Deputado assassinado - mas a viúva  não autoriza a vingança. Depois o criminoso vem trabalhar nas fazendas da  família do Deputado Suassuna, mas a viúva não deixa que o matem.

Final

Com a Revolução de 30 o Coronel Pereira  é derrotado e expulso de suas propriedades e vai se esconder no interior do Sertão  - errou de lado no apoio militar. Somente voltou as suas terras  muito  tempo depois do fato, mas nunca mais se recuperou no poder de mando e decisão, pois a revolução de 30 acabou com a poder dos coronéis e criou a classe política.

Chico Pereira, escapou das balas da polícia e do veneno da cobra mas acabou preso  e covardemente assassinado pela polícia.

Lampião reinou  absoluto no sertão durante o período da revolução de 30 – os militares e as volantes que o perseguiam foram brigar em outra praça de guerra. Por estar tudo calmo e bom demais arrastou  mulheres para o seu bando – Sinhô Pereira comentou; acabou-se a invencibilidade dele.

Dois irmãos Ferreira já estão mortos, Antonio e Levino e em breve morrerá o caçula da família, Ezequiel Ferreira e o cunhado Virginio, ferido em combate mas executado com um tiro no peito pelo cangaceiro Moreno que acabou ficando com a mulher  do “Juiz do Cangaço”.

Lampião sempre dizia; o cabra mais safado que eu conheci foi o Coroné Pereira de Princesa – mas Lampião nunca dizia o porque. Essa rusga começou por um erro de estratégia de Lampião em atacar a cidade de Sousa na Paraíba – como vimos – cidade protegida pelo Coronel Pereira que ali tinha vários amigos.

Hoje, se me perguntarem qual foi o principal fator que desencadeou a revolução de 30 – eu digo: foi um crime passional.

Se me perguntarem quem matou João Dantas na prisão ? – eu respondo que foi a policia a mando dos revolucionários de 30 – para  eliminar a dita causa que deflagrou o conflito. Se ouvissem João Dantas sobre os reais motivos do crime, a tese  inicial da morte política iria por águas abaixo e o caso poderia dar uma reviravolta.

Quem matou o Deputado Suassuna ? – também acredito que foi os revolucionários de 30 para eliminar todas as duvidas de quem mandou matar João Dantas na prisão – acredito que ele estava inocente do fato, até mesmo na morte de João Pessoa que como vimos a causa foi passional e não política.

Por fim veio a morte de Lampião e  o Estado Maior do Cangaço em Angicos - Sergipe.

Corisco

Estava certo Corisco, que na ocasião, com os olhos cheios de lágrimas e riscando o chão com a ponta do punhal profetizou:

-acabou-se a alegria do sertão.

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CANGACEIRO CARACOL.

 Acervo do Guilherme Machado historiador

Cangaceiro Caracol, preso em Salvador no ano de 1944 durante a entrevista com o sergipano Joel Silveira. Vocês sabem porque alguns cangaceiros não foram presos (Sila e Zé Sereno, por exemplo) e outros sim? Uns foram anistiados em 1938, outros executados depois disso. Dadá foi absolvida em 1942 e outros, como Ângelo Roque ficou preso entre 1940 e 1950. Pesquisar sobre o cangaço é muito importante.

Fonte: Cangaço na Literatura.

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COMBATE DO TENÓRIO E O CORPO DE LEVINO FERREIRA

 Por Luiz Ferraz Filho

Uma das mais confusas e esquecidas passagens sobre o período do cangaço é a morte de Levino Ferreira. Estive no local do combate juntamente com os amigos pesquisadores Geraldo Antônio Junior (pesquisador e youtuber), Fabiano Ferreira (historiador de Flores-PE) e João da Capoeira (membro do IHGPAJEU), onde colhemos alguns relatos de moradores descendentes de quem viu de perto o Combate da Baixa do Tenório, entre 4 e 5 de julho de 1925.

Lampião estava na Fazenda Melancia, município de Flores - PE, onde torturou o fazendeiro José Calú e liberou alguns viajantes que ele havia sequestrado na estrada. Depois partiu com seus cangaceiros até chegar na casa de Sebastião Cordeiro (Sebasto), morador da localidade Baixa do Juá, no Tenório. Lá foi bem recepcionado pelo fazendeiro onde jantou e encontrou dormida para todos. A casa ficava no pé da Serra Vermelha, marco divisório entre os municípios de Flores e Betânia, e onde existe um local conhecido por Furna de Lampião. 

Na região encontramos o agricultor Raimundo Cordeiro, 79 anos, neto de Sebasto. 'Meu pai contava que Lampião estava muito desconfiado. Alguns cangaceiros jantaram e armaram rede para dormir nas árvores do terreiro da casa. Meu avô ofereceu uma rede, mas Lampião não quis e disse que iria ficar em pé. Quando foi meia noite ele disse que a casa estava cheirando a sangue e mandou os cangaceiros se levantarem. Saíram da casa e com pouco tempo o tiroteio começou', falou Raimundo Cordeiro. O combate foi contra a volante paraibana do tenente José Guedes que vinha em perseguição ao bando e acabou perdendo o seu sub-comandante, sargento Cícero de Oliveira, que tombou com um tiro na testa.

Luiz Ferraz Filho e a pesquisa do combate do Tenório

Várias versões já foram ditas e escritas sobre o Combate do Tenório (Baixa do Juá). Alguns escritores relatam que Levino morreu dentro da cozinha de uma casa na escuridão da noite. Uma segunda versão cita que o rastejador Belarmino Morais viu o vulto de um cangaceiro em cima do serrote de pedra gritando e atirou. Já outra versão sobre a morte de Levino diz que ele foi ferido no terreiro de uma casa, foi socorrido e morreu oito dias depois. 

Na mesma região outro relato interessante encontramos do morador Luis Pereira da Silva (Luis de Puliça), nascido e criado no lugar e que foi nosso guia até o local do combate. Eles nos confidenciou uma versão local totalmente diferente das outras versões sobre a morte de Levino Ferreira. Segundo ele, os moradores mais velhos diziam que o combate aconteceu a tarde e no início da noite o irmão de Lampião foi ferido pela volante paraibana do tenente José Guedes. Ao ver o irmão ferido, o Rei do Cangaço - que já conhecia bastante o lugar - providenciou fazer o transporte do ferido nas costas rumo a furna da Serra Vermelha, enquanto outra parte do bando seguia atirando pela estrada para distrair e confundir a polícia. Transportado nas costas de um dos cangaceiros, Levino Ferreira faleceu no meio do caminho antes de chegar na furna da serra. 

Quando amanheceu o dia, Lampião deu a ordem pra cortar a cabeça de Levino e mandou sepultar o corpo. Durante os anos seguintes nunca se soube o local exato ou qual a identidade dos três cangaceiros que faleceram no combate da Baixa do Juá, no Tenório. Sabe-se pela tradição oral dos moradores que um corpo foi sepultado embaixo de um juazeiro e outros dois corpos tiveram a ossada encontrada nos anos 60 e 70 no local do combate quando fizeram o alicerce para construir uma casa e no arado da terra para plantar. Vale ressaltar que anos depois há relatos de fragmentos de ossos humanos também encontrados na furna da serra que segundo moradores o cangaceiro Lampião se escondeu. 

O corpo do cangaceiro sepultado no Juazeiro foi o único desenterrado posteriormente pelas volantes que chegaram na localidade dias após o combate. Uma moradora da época indicou o local para o capitão José Caetano e o tenente Higino Belarmino fazerem a identificação. Como estava sem a cabeça, não houve certeza na identificação. 

Eis a dúvida. Porque sepultar o corpo de apenas um cangaceiro embaixo de um juazeiro e deixar os outros dois corpos de cangaceiros ao relento no campo de batalha sem nenhuma sepultura. Alguém pode até cogitar que esse corpo sepultado no juazeiro venha a ser o sargento Cícero de Oliveira, porém, a Força Volante encontrou o corpo sem a cabeça. Se fosse um policial volante não necessitaria de uma pessoa da região pra localiza-lo, pois, a própria volante já saberia o local e não utilizaria dessa prática de cortar a cabeça de um companheiro de farda. Pelo visto, esse corpo sepultado no juazeiro era um importante cangaceiro do reinado lampiônico. Seria este o corpo do famoso Levino Ferreira da Silva ???.

Luiz Ferraz Filho, Pesquisador ;Presidente da Comissão do Cariri Cangaço Serra Talhada

FONTE CONSULTADA:

(CARVALHO, Rodrigues de; Serrote Preto, Lampião e seus Sequazes)

(AMAURY, Antônio & FERREIRA, Vera; O Espinho de Quipá) 

(FERRAZ, Marilourdes; O Canto do Acauã)

(MACIEL, Frederico Bezerra;  Lampião, seu Tempo e seu Reinado) 

(LIRA, João Gomes de; Memórias de um Soldado de Volante)

http://cariricangaco.blogspot.com/2021/05/combate-do-tenorio-e-o-corpo-de-levino.html

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

OS ÓCULOS DE LAMPIÃO

 Por Betina Moura

O cangaceiro os usava para esconder a cegueira em um dos olhos.

Nos primeiros dias de julho de 1925, o bando de Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião (1898-1938), fazia uma de suas muitas incursões pelo sertão pernambucano. Os cangaceiros foram surpreendidos por agentes do governo e começou um tiroteio. Um dos membros, Livino – o irmão mais novo de Lampião, foi atingido. O líder reagiu. No confronto, um soldado atirou em um cacto e a bala da escopeta fez com que um espinho fosse parar no olho direito de Lampião.

Livino acabou morrendo. Lampião, levado à cidade de Triunfo, perto do campo de batalha, foi atendido por um médico que retirou o espinho, mas não conseguiu salvar o olho do cangaceiro. Resultado: ele ficou cego de um olho. “O bom humor o impedia de esconder o problema, e ele brincava dizendo que não adiantava nada ter dois olhos, pois é preciso fechar um deles para atirar”, diz o pesquisador Antonio Amaury Correa de Araújo, autor de dez livros sobre a história do cangaço. O incidente transformou o cangaceiro em canhoto – ao menos na hora de atirar, mas não atrapalhou sua fama de justiceiro. E o levou a usar óculos até o fim da vida. “Os óculos, que aparecem em quase todas as fotos, escondiam a deficiência de quem não a conhecia e protegiam os olhos do sol escaldante do sertão”, diz Antonio. Há notícia de pelo menos três óculos diferentes – sobre um deles há a história, nunca confirmada, de que os aros eram de ouro.

Dois dos óculos de Lampião, simples, redondos, de aro comum, foram deixados por ele nas casas de pessoas que o abrigaram durante o chamado “ciclo de Pernambuco”, antes de os cangaceiros cruzarem o rio São Francisco em direção à Bahia, em agosto de 1928. Há cerca de oito anos foram doados por essas pessoas à Casa de Cultura de Serra Talhada, em Pernambuco, onde se encontram até hoje.

Sobre os óculos que usava quando morreu, tudo indica que foram entregues para a polícia de Alagoas, que expôs as cabeças dos cangaceiros mortos após dizimar o grupo de Lampião numa emboscada na gruta do Angico, em Poço Redondo, Sergipe. No ataque-supresa, 11 cangaceiros foram mortos – entre eles, Lampião e sua mulher, Maria Bonita.

A própria polícia promoveu a rapinagem do tesouro do bando. Ficaram com eles jóias, dinheiro, perfumes e tudo o mais que tivesse valor – inclusive os óculos.

Extraído do blog: "História Licenciatura"

http://hid0141.blogspot.com/2010/07/os-oculos-de-lampiao.html

Independente do texto acima

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