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quinta-feira, 24 de outubro de 2019

MEMÓRIA DO CANGAÇO EM ADUSTINA, BA

Zé Pequeno Caçador... coiteiro de Cangaceiros

Por Kiko Monteiro


Com mais uma preciosa informação colhida pelo amigo professor Salomão o Cariri Cangaço foi levemente esticado para mim e para o confrade Narciso Dias, presidente do Grupo Paraibano de estudos do Cangaço – (GPEC).

No último dia 2 de agosto rumamos novamente para Adustina, logo alí no sertão baiano fronteiriço com Sergipe para conhecer mais uma das testemunhas oculares da saga 'lampiônica' naquela área que era considerada na época um “corredor de cangaceiro”.

Em breve reunião com nosso anfitrião resolvemos de supetão esticar até o município vizinho de Coronel João Sá, pra visitar as cruzes dos cangaceiros Mariquinha, Sofrê e Pé-de-Peba, mas por conta da distância que restava e horário incompatível com compromissos dele concordamos em adiar para uma próxima “incursão”.

No caminho da volta paramos no terreiro do seu José Dantas de Oliveira, exímio atirador que ficou conhecido como “Zé Pequeno Caçador”. 

104 anos de idade, espanta tanto pela aparência quanto pelo ritmo e disposição, só se queixa de uma "dor nas juntas". Apesar do seu documento indicar Paripiranga ele afirma ter nascido no Arraial da Mãe D’Água de Cipó, (hoje Cipó), também no sertão Baiano. Mudou-se  para o Bonfim do Coité, atual Adustina, quando ficou órfão de pai e mãe ainda menino e foi morar com parentes no sítio Algodão que já tinha este mesmo nome desde a época do cangaço.


Seu Zé, de memória ainda acesa nos relatou que assim como Seu Atanásio ele também foi coiteiro ou faz-tudo dos cabras de Lampião naquelas bandas. 

Essa história ele mesmo conta.

“Conheci Corisco, Boa Vista, Balão, “Anjo” Roque, o Saracura que era daqui e sabendo que eu atirava bem o próprio Virgolino pelejou que eu entrasse no meio deles.
Eu disse – “não, capitão, no que eu puder servir eu sirvo, trago caça, peixe, aponto caminhos, mas virar cangaceiro, quero não”.
Também fui amigos dos ‘macacos’, arrumei muita caça para Odilon “Fulô”, comandante da volante que perseguia os cabras por aqui. Mas eles jamais souberam que eu era amigo dos cangaceiros, nem Lampião soube que eu me dava com os soldados.

"Deus o líve”, os soldados faziam muita malvadeza quando pegava um coiteiro que soubesse o rancho dos cabras e não entregasse pra eles.
Seu Zé ainda contou que chegou a ficar por quinze dias acoitado com os cangaceiros. Ele diz que não presenciou nenhum fogo, ou morte isolada. Mas viu os cangaceiros Mariquinha, Sofrê e Pé-de–Peba, mortos no Curral do Saco pela Volante de Odilon.

A cangaceira Doninha
Um dos fatos mais interessantes narrados por ele foi o de quando encontrou a cangaceira 'Doninha'*, companheira do cangaceiro Boa Vista, perdida na mata. Ele não lembrou se ela estava tentando fugir do coito como outras assim tentaram.

O certo é que seu Zé pequeno cuidou da moça durante três meses, até que um dia estava caçando, topou com os cabras e perguntou se Boa Vista ainda era vivo, com resposta positiva pediu para informar a ele o paradeiro da companheira e precavido rogou:

“Diga a Boa Vista que a muié dele ta lá em minha casa, mas que fique certo que o que eu devo a ela eu devo a minha mãe, apesar de ser jovem e solteiro".

Na linguagem sertaneja ele não se relacionou com a moça.

De acordo com a literatura, Doninha voltou para o convívio com Boa Vista e permaneceu com ele até o período das entregas.   

Professor Salomão, Kiko Monteiro e Narciso Dias.
Antes de nos despedirmos perguntei a seu Zé, o que foi confirmado pela sua esposa, que essa foi a primeira visita de pesquisadores do cangaço que ele recebeu durante todos estes anos. Tanto eu quanto Narciso não identificamos nenhuma afirmação que destoasse da historiografia fiel do cangaço naquela região. Até onde sua memória lhe permitiu não citou nome de nenhum cabra fora do território de atuação de seu subgrupo na época em questão, nem fantasiou combates ou eventos que não tenha presenciado.

A convivência de seu Zé Pequeno com os cangaceiros só foi citada em 1980 no livro ‘A Serra dos dois meninos’ de autoria de Aristides Fraga Lima (1923-1996) que narra em um dos capítulos quando ele ajudou a encontrar os garotos que se perderam nas famosas matas de Paripiranga.


*A Doninha em questão era a "cabrocha" alagoana Laura Alves que a primeira vista chegou a escolher como companheiro o cabra Moita Brava, que a recusou. Ela findou se juntando com o Boa Vista. Consulta: ARAÚJO, Antônio Amaury Corrêa de. Lampião: as Mulheres e o Cangaço, Editora Traço 2ª Edição, 2012. Pág. 279

PÁ BUTÁ NA AGENDA SEMINÁRIO CANGAÇO CAMPINA 2019

Campina Grande, PB

Quando: 22 a 24/11

Onde: Sítio São João - Centro - Campina

Breve traremos a programação oficial.






PETROLINA REALIZA "O JULGAMENTO DE LAMPIÃO:UM JURI ÉPICO".

E se os crimes de Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, fossem julgados? Essa é a proposta do júri histórico: O julgamento de Lampião. Em sua primeira edição, o evento acontecerá às 8h do dia 31 de outubro, no Teatro do Centro Cultural Colégio Dom Bosco, localizado na Rua Cel. Amorim, s/n. Idealizado pelo advogado e professor Anderson Wagner Araújo e pelo promotor de Justiça Fernando Della Latta, o projeto pretende reunir anualmente grandes nomes do cenário jurídico nacional para simular uma sessão jurídica, esclarecendo como funcionam os sistemas do direito.
“A intenção do evento é difundir a atuação dos profissionais do direito, espalhando a cultura do júri de forma didática. A ideia é que todo ano, no mês de outubro, tenha algum júri, sempre com casos de bastante repercussão da cultura nordestina e nacional. No final, os inscritos poderão escolher, por meio de votação, o próximo caso para ir a julgamento”, ressaltou Della Latta.
Os participantes vão incorporar os personagens de um júri imaginário, de acordo com suas profissões. Entre as partes envolvidas na acusação, estão os promotores de Justiça: Eliane Gaia, coordenadora do Caop Criminal do MPPE; Dalva Cabral, coordenadora do Caop Cidadania do MPPE; Rinaldo Jorge, corregedor auxiliar do MPPE; Fernando Della Latta, promotor titular do Júri de Petrolina e Cíntia Micaela Granja, promotora de Justiça titular da Promotoria Cível de Petrolina.
Quem irá defender o cangaceiro serão os advogados criminalistas Marcílio Rubens, presidente da Comissão de Direito Penal da OAB Petrolina; Wank Remy Medrado e Henrique Marcula; o professor Anderson Araújo; e o defensor público Francisco Jairo de Siqueira. A sentença da culpa ou inocência de Lampião será dada pelo juiz da Vara de Infância e Juventude, Marcos Bacelar e pela juíza titular da Vara do Júri de Petrolina, Elane Brandão Ribeiro. Além disso, atores também participarão da ação encenando os personagens primordiais do caso, como o próprio Lampião.
“O júri histórico será um grande momento de integração entre os acadêmicos de diferentes cursos e universidades da nossa região. É grande a expectativa para o evento, percebo grande empenho dos alunos que estão compondo as equipes organizadoras e os que participarão como ouvintes. As inscrições para a participação esgotaram em 30 minutos, após a abertura. Estamos analisando a possibilidade de alteração do local da realização do evento para favorecer a participação de mais pessoas. O evento será épico e abordará a ciência do Direito de forma interdisciplinar: histórica, sociológica, filosófica, entre outras”, destacou Anderson Araújo. 
“A sociedade está sendo convocada para analisar as justiças privadas praticadas e comandadas pelo líder Virgulino Ferreira, o Lampião. Esta sessão nos dirá, de forma atual, como a população lida com a realidade aos pedidos de Justiça de homicidas reincidentes, crimes tentados ou consumados nos crimes de ódio e em conexão com os crimes de estupro, roubo, realizados por grupos organizados e armados”, ressaltou a promotora Eliane Gaia. “O júri é esse termômetro social, onde poderemos analisar como esse personagem histórico e memorável é enxergado pela sociedade. Iremos ver como os moradores do Sertão de São Francisco enxerga a criminalidade e a figura do Lampião, que ainda hoje inspira muitos matadores, chefes de milícias armadas, de crimes organizados”, complementou a promotora Dalva Cabral.
Para a promotora de Justiça Cíntia Granja, o julgamento épico de Lampião será uma grande oportunidade de, revisitando o passado e a história do Nordeste, promover, junto à sociedade local, valiosas reflexões sobre o Tribunal do Júri, sobre banditismo, Justiça, vingança, cidadania e consequências da desordem social. “São temas que, assim como na época do Cangaço, possuem imensa relevância nos dias atuais”, destacou a promotora Cíntia. “Espero que o evento ocorra de maneira a movimentar a sociedade e os operadores do direito de Petrolina em torno de um mito, além de proporcionar uma reflexão atual sobre o crime e suas justificativas, aproximando a sociedade com toda a liturgia do júri”, finalizou o promotor Rinaldo Jorge. 
Para quem não conseguiu se inscrever, será aberta uma lista de espera, caso algum participante desista ou não compareça no dia do evento. A inscrição será efetivada mediante pagamento de taxa de R$ 25, pelo link https://bit.ly/30Pt6Ws
A iniciativa está sendo realizada pelo Ministério Público de Pernambuco (MPPE) em parceria com a Ordem dos Advogados de Pernambuco (OAB/PE); a Defensoria Pública de Pernambuco; o Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE); a Faculdade de Ciências Aplicadas e Sociais de Petrolina (Facape); e a Faculdade de Tecnologia e Ciência (FTC).
Por Pedro Araujo  
http://cariricangaco.blogspot.com

EXPERIMENTE O SERTÃO


*Rangel Alves da Costa


Experimente viver o sertão que há em você. Experimente caminhar pelas estradas de terra batida e chão nu, e se admirar com as flores do campo, com o alaranjado da flor da jurubeba e o encanto da florada do mandacaru.
Experimente o sertão que é sua casa e lar.  Experimente avistar o por do sol de uma porteira nas distâncias matutas. Experimente sentir pulsando no coração o seu berço de nascimento.
Experimente tomar água de moringa, matar a sede em caneca limpinha pendurada na parede de barro, sentir o cheiro oloroso do café fervendo em fogo de chão. Experimente viver e ter o que é seu.
Experimente uma varanda com rede armada e um radinho de pilha cantarolando “de que me adianta viver na cidade se a felicidade não me acompanhar...”. Ou ainda: “eu vim embora e na hora cantou um passarinho, porque eu vim sozinho, eu a viola e Deus...”.
Experimente sair da cidade e ir mais adiante, pelas curvas de matos rasteiros e catingueiras ladeadas de mandacarus e xiquexiques. Experimente ser tomado, envolvido e abraçado, pelo entardecer sertanejo, e olhando os horizontes em cores abençoadas benzer-se de comoção.
Experimente fechar a porta de casa e tomar as portas do mundo-sertão. Experimente bater à porta da casinha de beiral de estrada e prosear com Seu João e Dona Maria, oferecer uma bala a Tiquinho e um pirulito a Lurdinha.
Experimente o orgulho bom de ser sertanejo. Experimente estender a mão à mão calejada, abraçar o amigo reencontrado e falar sua língua sem invenção no falar. Experimente ser o sertanejo que há em você e não o outro que insiste em lhe tirar a feição sertaneja.
Experimente sentar no tamborete e ouvir e contar histórias, causos e proseados. Experimente ser você mesmo no sertão que é todo seu. Experimente andejar por aí, como um São Francisco sertanejo e conversar com o bicho do mato, com a pedra, com o passarinho.
Experimente amar seu sertão. Experimente avistar sua terra com os olhos da sabedoria, vendo sentido em tudo e em tudo sentindo uma razão de ser e de existir. Experimente o amor de um filho que ama a semente da qual foi brotado.
Experimente conhecer, conviver, viver, sentir e dizer: Eu amo e tenho orgulho de ser sertanejo!


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

“PAJEÚ EM CHAMAS: O CANGAÇO E OS PEREIRAS”


Recebi hoje do Francisco Pereira Lima (Professor Pereira) lá da cidade de Cajazeiras no Estado da Paraíba uma excelente obra com o título "PAJEÚ EM CHAMAS O CANGAÇO E OS PEREIRAS - Conversando com o Sinhô Pereira" de autoria do escritor Helvécio Neves Feitosa. Obrigado grande professor Pereira, estarei sempre a sua disposição.


O livro de sua autoria “Pajeú em Chamas: o Cangaço e os Pereiras”. A solenidade de lançamento aconteceu no Auditório da Escola Estadual de Educação profissional Joaquim Filomeno Noronha e contou com a participação de centenas de pessoas que ao final do evento adquiriram a publicação autografada. Na mesma ocasião, também foi lançado o livro “Sertões do Nordeste I”, obra de autoria do cratense Heitor Feitosa Macêdo, que é familiar de Helvécio Neves e tem profundas raízes com a família Feitosa de Parambu.

PAJEÚ EM CHAMAS 

Com 608 páginas, o trabalho literário conta a saga da família Pereira, cita importantes episódios da história do cangaço nordestino, desde as suas origens mais remotas, desvendando a vida de um mito deste mesmo cangaço, Sinhô Pereira e faz a genealogia de sua família a partir do seu avô, Crispim Pereira de Araújo ou Ioiô Maroto, primo e amigo do temível Sinhô Pereira.

A partir de uma encrenca surgida entre os Pereiras com uma outra família, os Carvalhos, foi então que o Pajeú entrou em chamas. Gerações sucessivas das duas famílias foram crescendo e pegando em armas.

Pajeú em Chamas: O Cangaço e os Pereiras põe a roda da história social do Nordeste brasileiro em movimento sobre homens rudes e valentes em meio às asperezas da caatinga, impondo uma justiça a seus modos, nos séculos XIX e XX.

Helvécio Neves Feitosa, autor dessa grande obra, nascido nos Inhamuns no Ceará, é médico, professor universitário e Doutor em Bioética pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (Portugal), além de poeta, escritor e folclorista. É bisneto de Antônio Cassiano Pereira da Silva, prefeito de São José do Belmonte em 1893 e dono da fazenda Baixio.

Sertões do Nordeste I

É o primeiro volume de uma série que trata dos Sertões do Nordeste. Procura analisar fatos relacionados à sociedade alocada no espaço em que se desenvolveu o ciclo econômico do gado, a partir de novas fontes, na maioria, inéditas.

Não se trata da monumentalização da história de matutos e sertanejos, mas da utilização de uma ótica sustentada em elementos esclarecedores capaz de descontrair algumas das versões oficiais acerca de determinados episódios perpassados nos rincões nordestinos.
Tentando se afastar do maniqueísmo e do preconceito para com o regional, o autor inicia seus estudos a partir de dois desses sertões, os Inhmauns e os Cariris Novos, no estado do Ceará, sendo que, ao longo de nove artigos, reunidos à feição de uma miscelânea, desenvolve importantes temas, tentando esclarecer alguns pontos intrincados da história dessa gente interiorana.

É ressaltado a importância da visão do sertão pelo sertanejo, sem a superficialidade e generalidade com que esta parte do território vem sendo freqüentemente interpretada pelos olhares alheios, tanto de suas próprias capitais quanto dos grandes centros econômicos do País.

Após a apresentação das obras literárias, a palavra foi facultada aos presentes, em seguida, houve a sessão de autógrafos dos autores.

Quem interessar adquirir esta obra é só entrar em contato com o professor Pereira através deste e-mail: franpelima@bol.com.br
Tudo é muito rápido, e ele entregará em qualquer parte do Brasil.

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A RETIRADA


Por Rangel Alves da Costa

“Capitão, já tamo arranchado aqui pra mais de três dia, e adescupe dizê mai já tô achano tempo demais a gente num mermo lugar. Quano o Capitão pensa em levantar coito?”. Lampião baixou a cabeça, um tanto pensativo, e sem nada responder naquele instante, mas não demorou muito, depois de levantar os olhos em direção aos horizontes da noite, para afirmar: “Cangaceiro nunca tem hora de chegar nem de partir. É o sopro do vento, o desassossego do bicho e o zunido da mata quem tudo diz. Sinta o que tô dizeno e vai saber a hora da gente levantar coito”.

Noite fechada, de breu. Vaga-lumes voejavam pelo coito sem imaginar sobre quem jogavam suas faíscas de luz. Lampião chamou Maria Bonita e juntos seguiram até a encosta de um lajedo grande mais adiante. A companheira do Capitão se mostrava inquieta, nervosa, assombrada com qualquer coisa. E foi por esse motivo que seu companheiro logo lhe perguntou: “O que lhe aperreia, Maria. Tô sentindo uma estranheza e não gosto que teja assim. Me diga, o que tá acontecendo?”.

“Meu Capitão, nada não. Nem em todo momento a gente se mostra despreocupada. Preocupada eu num tô não, mai também num deixo de tá. Nessa madrugada me veio um sonho que nada lhe contei sobre ele, mai depois que a noite caiu eu comecei a sentir quase tudo que se passava no sonho. Uma noite fechada como essa, com vaga-lumes pelo coito, e também um silêncio estranho que parece trazendo voz, que parece anunciar a presença de gente vigiando a gente. Outra coisa. Também ouvi um piado tão assombroso de passarinho que mais parecia o anúncio de um tempo ruim que chegava. Ainda bem que esse piado não apareceu...”.

Maria Bonita ainda falava quando um piado medonho, o mais arrepiante e espantoso que pudesse existir, surgiu tão alto que mais parecia de um pássaro agourento pousado no meio do coito. Não se sabe sequer de qual lado veio, mas trinou como um terrível prenúncio de algo muito ruim. Maria Bonita se lançou nos braços do Capitão e não pôde conter as lágrimas. Trêmula, perguntou: “Ouviu, meu Capitão?”. Lampião não respondeu. Abraço ainda mais forte a sua Santinha, mas sem demora já estava dando o sinal por todos conhecido. Era hora da retirada, e naquele mesmo instante, sem qualquer demora.

Toda a cangaceirama parecia permanentemente preparada para receber esta ordem a qualquer momento. No coito, o repouso não contava com a total retirada da roupa pesada nem com o descanso das armas. Mesmo sem as cartucheiras e embornais, sem os chapéus e jabiracas, a cangaceirama mantinha sobre o corpo o necessário ao enfrentamento dos contratempos. Sempre uma arma ao redor, sempre um olho aberto enquanto o outro tentava dormir, sempre a constante vigília daqueles que nunca descansavam na paz e na despreocupação. Até mesmo os encontros sexuais se davam por entre roupas.

Assim, poucos instantes depois da ordem do Capitão e todos já estavam prontos para a partida. E não havia tempo sequer de perguntar o que tinha acontecido e o porquê daquela pressa toda. Os apetrechos foram juntados nos embornais, as cartucheiras apressadamente repostas, os armamentos deitados ao largo do corpo, as pequenas tendas desfeitas e os canecos e cantis dependurados. “Seguir por onde?”, um cangaceiro perguntou. Mas nem houve tempo de qualquer resposta. Quando a mata adiante se abriu e a bala começou a zunir, então a direção tinha que ser ao contrário.

Mas assim não ocorreu. Quando o primeiro tiro inimigo faiscou na pedra e a cangaceirama sentiu que estava sendo atacada, a voz de Lampião se fez mais alta e uma ordem inesperada ecoou: “Sem recuar. Atacar de frente!”. Então a cangaceirama começou a abrir fogo frente a um inimigo invisível. A terrível escuridão não permitia avistar quase nada que estivesse à frente. Os vaga-lumes agora eram os cuspidos das armas chispando no meio da noite. Numa vontade cega de lutar, de atacar o que estivesse pela frente, as armas vomitavam de lado a lado e os gritos anunciavam as investidas e os açoites recebidos. Brados de dor, urros e silêncios mortais.

A mataria amanheceu em estado de devastação. Galhos retorcidos, troncos cravejados de balas, folhagens tingidas de sangue. O combate travado fora tão violento que urubus e outras aves carnicentas despontavam pelos ares em busca de sangue ainda latejante. Mas nenhum morto por ali, nenhum cangaceiro ou volante prostrado em suas dores e aflições. Ora, em guerra tão feroz as vítimas teriam de estar por ali. Mas nenhum morto e nenhum ferido.

As marcas da guerra ainda continuam pelos arredores daquele coito. Até hoje, contudo, ninguém sabe o final daquela vindita travada em meio à escuridão. Entre vencidos e vencedores, apenas a certeza de que os heróis não se eternizaram. Os cangaceiros colocaram a volante em forçado recuou, ou a soldadesca fez com que os homens do Capitão abrissem fogo somente para fugir? Ninguém sabe. Não precisa saber. Não há nenhum herói nem bandido nessa história. Apenas homens que nem sempre sabiam a bandeira de luta que carregavam.

Apenas ficção. Mas bem que poderia ter acontecido assim.
Escritor
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ARMA QUE MATOU O PRESIDENTE NORTE-AMERICANO ABRAHAM LINCOLN



Esta é a arma que matou o Presidente norte-americano Abraham Lincoln. Uma pistola Philadelphia Derringer, calibre .44 de um único tiro. A arma está exposta no museu do teatro Ford e pode-se dizer que é pistola mais cara do mundo e tem um valor incalculável.


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PRÉ-HISTÓRIA NO BRASIL: A VIDA DO INDÍGENA BRASILEIRO ANTES DA COLONIZAÇÃO PORTUGUESA


Primeiros registros indígenas têm mais de 50 mil anos e mostram a origem da humanidade na América - GABRIELA MARTIN ÁVILA PUBLICADO EM 22/10/2019, ÀS 10H00
- Crédito: Wikimedia Commons


Falar sobre a Pré-História do Brasil é escrever a história do indígena brasileiro antes da colonização portuguesa. É narrar o processo de ocupação das terras amazônicas, do litoral, das grandes extensões semiáridas, do cerrado e das regiões temperadas do sul.

Em 1500, em seu estágio mais avançado de desenvolvimento, o indígena vivia em moradias multifamiliares para até 50 indivíduos, organizadas em aldeias. Não chegou a construir cidades ou grandes santuários, como em outras regiões das Américas.

No entanto, é completamente errado chamar essas populações de primitivas, desde uma visão eurocêntrica de falsa superioridade: elas souberam se adaptar e sobreviver em meios hostis como o semiárido nordestino ou a floresta amazônica.

O indígena brasileiro foi capaz de criar uma arte única, a exemplo das pinturas rupestres sobre os paredões de rocha que se espalham por todo o país, especialmente nos sertões nordestinos.

O Parque Nacional Serra da Capivara (PI), declarado Patrimônio Histórico da Humanidade pela Unesco, reúne mais de 800 sítios com pinturas rupestres. São cenas de grande expressividade onde se retratam diversas atividades da vida pré-histórica. Há também pinturas e gravuras de grande beleza na região do Seridó (RN), na Bahia, na Paraíba e no Pará, entre outros.

No sítio do Boqueirão da Pedra Furada (PI), Niède Guidon e outros arqueólogos acharam vestígios dos primeiros caçadores que povoaram o Brasil desde antes de 50000 a.C. Os achados demonstraram que esses antigos habitantes conheciam o fogo e talhavam a pedra para obter armas e vários tipos de ferramentas.

Há 10 mil anos, grande parte das terras que hoje formam o Brasil já tinham sido ocupadas por grupos humanos que viviam da caça e da coleta de frutos diversificados.

Nesse contexto, uma pergunta se faz obrigatória: de onde vieram esses primeiros habitantes?

Os indígenas brasileiros modernos e os que entraram em contato com os portugueses são e eram de origem asiática. A constatação desse fato levou à teoria, nunca bem demonstrada, de que todos os nativos do Novo Mundo seriam descendentes de levas chegadas às Américas através do estreito de Bering, principalmente na época em que a glaciação Wisconsin fez descer o nível dos mares, criando-se um istmo entre a Sibéria e o Alasca.

Esse istmo teria permitido a passagem por terra de animais e dos caçadores que os perseguiram. Pesquisadores também defenderam que aportaram nas Américas, a partir de 3000 a.C., levas originárias das ilhas do Pacífico Sul. Grupos teriam navegado de ilha em ilha até as costas da América do Sul e seriam já portadores de conhecimentos, além da navegação, de agricultura e de cerâmica.

Na década de 1970, o estudo de um crânio escavado pela arqueóloga Annette Laming Emperaire mudou o panorama sobre os primeiros colonizadores. As pesquisas indicaram que se tratava de uma mulher cujas características apontavam uma origem africana em vez de asiática.

Esse crânio de 11 mil anos foi chamado Luzia. O achado levantou, de novo, a teoria já antiga, embora adormecida por falta de provas sólidas, da chegada às costas brasileiras de grupos vindos através do Atlântico navegando desde a África.

Essas levas africanas seriam pouco numerosas e podem ter-se extinguido antes da chegada dos grupos asiáticos, maiores, os quais vieram por caminhos múltiplos durante milênios.

A agricultura nas Américas é muito antiga. No nordeste do Brasil e na Amazônia, pequenas roças de subsistência podem ter começado em 3000 a.C. Acompanhando o desenvolvimento da agricultura, os indígenas fabricaram, também, cerâmica utilitária e cerimonial de grande beleza e apurada técnica.

A arqueologia pré-histórica está revelando, cada vez com maiores detalhes, que a História nacional não começou em 1500 com a chegada de Cabral e que as raízes indígenas são, sem dúvida, um dos pilares da nacionalidade brasileira.

Por Gabriela Martin Ávila: Professora do curso de pós-graduação em Arqueologia da UFPE e autora de Pré-História do Nordeste do Brasil.

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A MENINA DO NAPALM: A ICÔNICA FOTO QUE REVELOU O HORROR DA GUERRA DO VIETNÃ


Do acervo do Sálvio Siqueira

A foto icônica da guerra do Vietnã quando a Coreia do Sul por erro bombardeou seus cidadãos com Napalm um destruidor terrível que queimava pessoas e deixou a menina toda queimada, mas hoje ainda viva.


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MARIA DO SOCORRO

Por José Mendes Pereira

Esta é Maria do Socorro Tavares neta do ex-cangaceiro Antonio Luiz Tavares conhecido no mundo crime por "Asa Branca". Ele fez parte do nando de Lampião e veio com ele à Mossoró entrando na cidade no dia 13 de junho de 1927. Mas não obtiveram resultado satisfatório, ele e seu bando tiveram que sair da cidade às carreiras.

Asa Branca seu avó - Eu conheci pessoalmente o Asa Branca, mas nunca falei com ele. Faleceu em Mossoró no ano de 1981 aos 81 anos. 

O Asa Branca após a tentativa de assalto à Mossoró foi capturado e segundo o historiógrafo e pesquisador do cangaço Rostand Medeiros me falou certa vez no Hotel Thermas de Mossoró que o Asa Branca após ser capturado foi recambiado para Natal e por lá começou a sua pena. Posteriormente veio para Mossoró onde cumpriu uma pena de 10 anos.  

Francisca da Silva Tavares sua madrasta. Uma pessoa de coração cheio de carisma. Ela é minha amiga há mais de 8 anos. Reside no bairro Bom Jardim em Mossoró.

Maria do Socorro eu a encontrei no Rio de Janeiro, e depois que eu a descobri faz mais de cinco anos que ela se contata com os seus tios aqui em Mossoró. Não se conhecem pessoal mente.

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