Por Geziel Moura
Eu sempre
penso o cangaço, como acontecimento histórico, que foi produzido e produziu
na/pela cultura do Nordeste, dessa forma, sua historiografia foi/é formatada, a
partir de diversos olhares: Escritores, Pesquisadores, Leitores, Jornais,
Revistas, Livros, Documentos, Imagens, Filmes, Depoimentos e outros agentes,
cada um com sua perspectiva, verdade e juízo de valor.
Entretanto,
alguns termos, há muito, deixei de utilizar, tais como: Verdade, Aproximações
da Verdade, Fontes Fidedignas e não Fidedignas, pois para afirmar que algo é
verdadeiro, fiel e certo, precisamos que nosso referencial esteja acima de
qualquer suspeita, e qual deles podem assumir esta condição?
Para ilustrar
este pensamento, lembrei do famoso acontecimento, ocorrido em 04 ou 06 de março
de 1926 (A discordância começa logo na data do episódio), que foi o encontro,
pela primeira e provavelmente a única vez, entre o cangaceiro Lampião e o,
então, prefeito e líder religioso de Juazeiro (CE), Padre Cícero Romão Batista.
Nessa direção,
duas perguntas simples, reverberam até nossos dias cujas respostas são
diversas, dependendo em qual "verdade" se queira adotar. Antes de
citá-las vou contextualizar na história, a motivação oficial, para a presença
de Lampião e seus cabras em terras do Cariri cearense, mais precisamente em
Juazeiro.
O levante
militar ocorrido na década de 1920, chamado de "Tenentismo"
produziram quatro movimentos de rebelião no seio do exército brasileiro:
Revolta do Forte de Copacabana (1922), Revolução de 1924 (O cangaceiro Corisco
participou desta"), Comuna de Manaus (1924) e a Coluna Costa - Prestes
(1925), sendo nesta o destaque que ora faço.
O principal
movimento da Coluna Costa - Preste foi a trajetória que os militares revoltosos
fizeram, desde a cidade de Alegrete (RS) atravessando parte do nordeste
brasileiro e dissipando-se na Bolívia. Na ocasião do episódio, o então,
presidente da república, Arthur Bernardes, se viu numa enrascada, para combater
os revoltosos.
Segundo, o
escritor Daniel Walker, em sua obra Padre Cícero, Lampião e Coronéis, o
ministro do exército General Setembrino de Carvalho, lembrou do sucesso de
Padre Cícero e de Floro Bartolomeu da Costa, durante a Sedição do Juazeiro, em
1914, á frente de exército formado por jagunços, romeiros e cangaceiros, e que resultou
na queda de Franco Rabelo.
Assim, o
governo federal, pediu a Floro Bartolomeu, na época deputado federal, que
arregimentasse grupo parecido, ao utilizado na Sedição, e receberia o nome de
Batalhão Patriótico, cuja função seria combater os revoltosos, quando estes
passassem, na região.
Em sua obra,
"Padre Cícero: Poder, Fé e Guerra no Sertão" Lira Neto diz que no dia
09 de Janeiro de 1926, a tropa paramilitar, do Batalhão Patriótico estava
formado com cerca de mil voluntários, todos uniformizados, armados e municiados
com o que se tinha de melhor na época, isto é, fuzis Mauser modelo 1908. Floro
Bartolomeu foi promovido a General de Brigada do Exército, e o comando da tropa
foi entregue ao coronel Pedro Silvino de Alencar, que estivera com ele no tempo
da Sedição.
Ora construído
um razoável panorama histórico, da formação do Batalhão Patriótico em Juazeiro,
emergem duas perguntas: Quem convidou Lampião e seu bando para compor, tal
grupo paramilitar? Quem chancelou a patente de capitão a Virgolino? Vamos à
literatura.
Para Lira
Neto, o convite partiu de Floro Bartolomeu e chancelado por Cícero, por meio de
bilhete, em que prometia, dinheiro, patente e anistia de seus crimes. Inclusive
o comunicado foi testemunhado pelo Coronel Né da Carnaúba, coiteiro famoso de
Lampião em Pernambuco. Este entendimento é confirmado por Frederico
Pernambucano no livro Benjamin Abrahão ; Entre anjos e cangaceiros.
Segundo, o
escritor Daniel Walker a vinda de Lampião a Juazeiro foi "acidental",
somente Floro Bartolomeu sabia, portanto, Padre Cícero era inocente.
Otávio Aires,
em sua obra O Joaseiro antigo, afirma que a história que Padre Cícero chamou
Lampião é deturpada.
O jornalista
Pedro Coutinho na obra Padre Cícero, pessoas, fotos e fatos de Walter Barbosa,
declara que Floro Bartolomeu utilizou o nome de Padre Cícero, ao fazer o
convite a Lampião. Temos, portanto, pelo menos cinco versões sobre a primeira
pergunta.
Vamos a
segunda pergunta: Afinal quem outorgou a patente de capitão a Lampião?
Lira Neto diz,
que Lampião cobrou de Cícero o prometido, dinheiro, armas e patente e que não
sairia de Juazeiro antes disto. Assim, o padre arquitetou um embuste, mandou
chamar, o único funcionário público federal, que trabalhava como inspetor
agrícola em Juazeiro, o agrônomo Pedro de Albuquerque Uchôa, e pediu que este,
lavrasse o documento da patente de capitão do Batalhão Patriótico, a Lampião, e
assim foi feito. Nesta mesma pisada, concorda Frederico Pernambucano de Mello.
Sobre a
patente de capitão, a escritora Fátima Menezes diz que Cícero estranhou o
pedido, e de que nada sabia sobre a promessa da patente, e que o embuste foi
organizado por Benjamin Abrahão, e ratificado por Pedro Uchôa.
Ainda, segundo
Senhorzinho Ribeiro, em seu livro, Juazeiro em corpo e alma, e que esteve no
momento da visita de Lampião, declara que a patente foi assinada apenas por
Pedro Albuquerque Uchôa, logo, nem padre Cícero nem Floro Bartolomeu, pode ser
responsabilizado pela autorização desta.
Finalmente,
fica o dito pelo não dito, sobre Lampião e Padre Cícero as verdades estão
lançadas, cada um se apropriem da forma que melhor lhe aprouver.
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