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domingo, 24 de abril de 2011

A história do amigo da onça


Bom para professores e alunos

O personagem foi criado pelo cartunista pernambucano Péricles de Andrade Maranhão, em 1943, e publicado de 23 de outubro de 1943 a 3 de fevereiro de 1962. 


Péricles de Andrade Maranhão


             Os diretores da revista "O Cruzeiro" queriam criar um personagem fixo e já tinham até o nome, adaptado de uma famosa anedota...

             Dois caçadores conversam em seu acampamento: 

           - O que você faria se estivesse agora na selva e uma onça aparecesse na sua frente?

             - Ora, dava um tiro nela.

             - Mas, e se você não tivesse nenhuma arma de fogo?

             - Bom, então eu a matava com meu facão.

             - E se você estivesse sem o facão?

             - Apanhava um pedaço de pau.

             - E se não tivesse nenhum pedaço de pau?

             - Subiria na árvore mais próxima!

             - E se não tivesse nenhuma árvore?

             - Sairia correndo.

             - E se você estivesse paralisado pelo medo?

             Então, o outro, já irritado, retruca:

             - Mas, afinal, você é meu amigo ou amigo da onça? 

A Serpente e o Caluniador

Por: Malba Tahan
 
Bom para professores e alunos
 
             Conta uma lenda que os animais, um dia, interpelaram a serpente:
            - O leão - alegaram eles - atira-se contra a presa, mata-a e devora-a. Estraçalhada pelo lobo, a ovelha serve de alimento. O tigre, quando faminto, acata o carneiro a arrasta-o para o seu covil. E tu, hedionda serpente, que fazes? Mordes e inoculas veneno. Ora, que proveito tiras da tua perversidade peçonhenta?
              Respondeu a serpente, retorcendo-se, esverdeada:
 
              - Nada espero dos golpes venenosos que desfiro. Do mal que faço não tiro o menor proveito. E procedendo assim, traindo, envenenando, semeando a dor e a morte, não sou pior que o caluniador.”

O valente - Textos para estudos

Por: José Cândido de Carvalho



 Bom para professores e alunos

Gaúcho à cavalo

O Valente
           Chegou na cidadezinha de Pedras Altas numa chuva antiga. Em boa sela e melhor estribo veio ele. Falava pelo canto da boca – do outro lado a brasa do seu charuto espiava o mundo. No Hotel Chic, tirando uma pesada e alentada garrucha, deu nome e patente:

             - Sou o Capitão Quirino Dias.

            Mandou que arrumassem o seu baú de viagem dentro do maior cuidado:

             - É tudo munição, coisa de muita responsabilidade.

             A cidadezinha de Pedras Altas viu logo que estava diante de um pistoleiro de marca. E isso ganhou raiz quando um tropeiro, indo ao Hotel Chic levar encomenda de boca, espalhou que o sujeitão do charuto era um perseguido da Justiça, que matava pelo gosto de ver de que lado o cristão caía:

              - Vou simbora, que esse capitão é o capeta.

             E foi. Atrás da poeira do tropeiro a fama de Quirino Dias cresceu. No Hotel Chic o melhor prato era para seu dente, o melhor doce era para sua língua. De tarde, em cadeira de palhinha, o capitão montava a sua pessoa na porta da rua. Pedras Altas passava por ele de cabeça baixa, acanhada, fazendo questão de salvar o pistoleiro. E no dia em que bebeu cachaça, com pólvora, na vista de todo o Hotel Chic, então não teve mais tamanho a sua fama. Bebeu e disse:

              - Tenho trabalho longe. Só volto na semana entrante.

              No quarto, remexeu o baú, limpou a garrucha e sumiu nas patas de seu brasino. O povo comentou:

               - É viagem de tocaia.

              Foi e voltou dentro do tempo estipulado. De novo montou seu charuto na porta do Hotel Chic. Com o rolar dos dias, o capitão ficou mais exigente. Uma tarde, como não apreciasse o canto choco de certo galo-capão, foi ao quarto, mexeu no baú e despojou dois tiros no infeliz. Fez o mesmo com um bem-te-vi que gozava as suas tardes fagueiras em galho de jaqueira. Desde essa precisa hora em diante, toda vez que o capitão ameaçava recorrer ao baú, Pedras Altas tremia:

               - Capitão, não faça isso, capitão, tenha dó.

              A bem dizer, a cidadezinha era dele. Seus pedidos de dinheiro corriam nas pernas dos moleques de leva-e-traz. E era quem mais queria municiar o capitão, no medo de que fosse ao baú.

               Ele mesmo dizia pelo canto desocupado da boca:

               - Não abro aquela peça sem ganho.

               Aconteceu, então, o caso da onça. A notícia veio ligeira e ligeira parou no Hotel Chic. A pintada fazia e acontecia, comia bezerro com casco e tudo. O recadeiro mediu o tamanhão da bichona:

               - É de porte alentado, para mais de duzentas arrobas.

              Pedras Altas riu da onça, da desgraça da onça. Tanto pasto para vadiar e logo veio a pobre tirar carta de brabeza! Em Pedras Altas do Capitão Quirino Dias! Pepito Rosa, dono de um comercinho de cachaça, riu da pouca sorte de onça:

              - Vai ser azarada assim na casa dos capetas.

             Uma embaixada de coronéis, com todos os seus pertences, na mesma tarde foi pedir a Quirino Dias providências contra a onça. Logo na abertura da conversa, o capitão arregalou os olhos e gritou:

             - Onça? Está dando onça em Pedras Altas? Socorro! Quero lá saber disso!

             E a cidade inteira viu assombrada, de queixo caído, o pistoleiro sumir de ladrão, fugindo nos cascos de seu cavalo. Nem teve tempo de levar o baú, uma peça de folha onde o capitão guardava suas bugigangas – pentes, rendinhas, frascos de cheiro, alfinetes e águas de moça. Quirino dias era caixeiro-viajante.


Blog: "Páginas literárias"