No tempo do cangaço os sertanejos do nordeste brasileiro não sabiam bem de que lado deveriam ficar, se eram obedecendo às volantes polícias dos governos estaduais, que viviam os acusando de darem abrigos aos cangaceiros, ou aceitando as terríveis exigências dos marginais que confiando nas suas armas mortíferas não respeitavam ninguém. Mas o que se sabe é que, se os facínoras eram perversos quando escolhiam as suas vítimas, bem mais eram as próprias volantes políciais, as quais tinham obrigação de protegerem os sertanejos, mas elas faziam o contrário, ditavam as suas regras maldosas e impiedosas contra os sofridos homens camponeses. Ou eles indicavam o rumo que haviam tomado os cangaceiros quando por lá passavam, ou iriam ser judiados com surras e outras tristes formas de agressões e violências, e muitas vezes, havia deramamento de sangue, matando algum membro daquela família, e geralmente, o marcado para morrer sem dúvida era o patriarca.
João de Sousa Lima
O escritor e pesquisador do cangaço João de Sousa Lima quehoje tem mais de 20 livros publicados declara que quem mais fazia perversidade com os camponeses era a própria polícia, e para confundi-los, usava o mesmo tipo de uniforme que era usado pelos cangaceiros, somente para atribuir os crimes feitos por ela nos sertões ao bando de cangaceiros ou ao próprio perverso e sanguinário capitão Lampião.
E assim os pobres catingueiros não tinham a quem recorrer segurança. Ali estavam entre a cruz e a espada. Ou eram amigos dos cangaceiros e inimigos da polícia ou eram amigos dos policiais e inimigos dos cangaceiros, mas numa condição, morrerem nas mãos de um grupo ou do outro não seria tão difícil. E para que isso não acontecesse o melhor mesmo era venderem o que tinham adquirido com muito trabalho, e se mandarem para outro Estado que os cangaceiros ainda não haviam feitos seus coitos por lá.
Rubens Antonio
O baiano professor e pesquisador do cangaço Rubens Antonio diz em um dos seus trabalhos com o título "Joanna Facão" que Joanna Epiphania Cardoso foi uma das vítimas do capitão Lampião em 11 de abril do ano de 1931. O motivo desta vingança foi porque o seu esposo Manoel José Cardoso foi acusado pelos facínoras da "Empresa de Cangaceiros Lampiônica & Cia." de ser informante da polícia. O sertanejo que por ventura dedurasse os cangaceiros à polícia, jamais seria perdoado, porque com certeza, tinha feito a encomenda da sua morte.
A gestante Joanna Epiphania Cardoso não dedurou ninguém, mas a suspeita de dedurar fora atribuída ao seu marido pelos cangaceiros, e por isso ela foi capturadajuntamente com ele no lugar chamado de Arraial São Paulo, próximo à Uauá, em terras baianas.
No período deste ocorrido ela estava com 23 anos de idade e no oitavo mês de gravidez, sendo o 3º. parto. Assim que os bandoleiros dominaram o casal resolveram de imediato assassinar o esposo da Joanna, e em seguida, ela foi brutalmente espancada com violentas chibatadas e laterais de facão, todas aplicadas pelo próprio capitão Lampião.
Joanna foi obrigada a montar num burro totalmente despida e sair desfilando pelo arraial. Os seus cabelos da cabeça e genitália foram cortados a facão por este cangaceiro. Terminado o serviço em espécie de vingança os cangaceiros obrigaram a gestante ir com eles, e só foi
liberada a quilômetros de distância do arraial. A infeliz vítima de Lampião foi nomeada pela população do Arraial de "Joanna Facão". E conta o professor Rubens Antonio que ela viveu muito e só veio a falecer na década de 1990.
Sepultura de Joanna Facão
Imagens gentilmente
disponibilizadas por Basílio Gomes Gonçalves.
Naquela época de intranquilidade dos matutos era um verdadeiro inferno, porque as esperanças de um dia reinar novamente a harmonia no pedaço de chão sofrido do nordeste era uma incerteza total. Os perseguidores tanto os cangaceiros como os policiais não davam tréguas aos catingueiros, e com isso viviam num desassossego dos danado. Num descuido de olhos apareciam as almas perversas na caatinga dos infelizes catingueiros.
O cangaço
percorreu quase o Nordeste inteiro. De Pernambuco ao Ceará, foram muitos os Estados que sentiram no chão e na pele, nos ódios e nos afetos, as marcas e as
consequências da presença cangaceira. Homens do mundo, sem lar nem parada
certa, o cangaceiro vivia à mercê da força da caminhada ou do encalço do
inimigo. Num repente, e tudo já se modificava, o coito era levantado, o passo
era apressado, o mosquetão começava a cuspir fogo. Daí as mortes também serem
ao largo das vinditas, em qualquer terra, em qualquer chão.
Cangaceiro
nascido num lugar, acaso encontrasse a morte como desfecho, esta poderia
acontecer nas mais distantes lonjuras de seu berço de nascimento. Virgulino
Lampião, por exemplo, veio ao mundo em Vila Bela, Pernambuco, e dele se foi no
então distrito sertanejo e sergipano de Poço Redondo. Muitos se foram assim,
distantes dos lares, das famílias, de tudo o que haviam deixado para trás. Mas
noutras situações o destino, com suas forças e mistérios, acabou levantando na
própria terra as cruzes daqueles que nela haviam nascido.
Poço Redondo,
no Alto Sertão Sergipano do São Francisco, (localidade sertaneja da Gruta do
Angico, do Fogo da Maranduba, das Cruzes dos Soldados, do Coito da Pia das
Panelas, e muito mais), também foi destino de morte de muitos de seus filhos
que um dia deixaram seus lares para seguir os passos de Lampião. Canário,
Enedina, Diferente, Mergulhão, Elétrico, Moeda, Alecrim, Rosinha, todos, após
as carrasquentas andanças debaixo de distantes luas e sóis, acabaram retornando
para o repouso final na própria terra.
Todos estes
poderiam ter dado seus últimos suspiros em terras distantes. Por situações de
perigo haviam passado, pelo fogo da morte haviam cruzado, na direção da
matadeira haviam estado. Mas não, saíram ilesos para, já dentro da terra natal,
terem suas vidas ceifadas. E tendo a vastidão sertaneja como último leito, vez
que nenhum dos mortos foi velado pelos parentes e amigos nem teve sepultura
minimante digna. Entre mandacarus e xiquexiques, os gravetos em cruzes e seus
epitáfios sem nada dizer.
Canário
(Bernardino Rocha) foi morto em 06 de setembro de 38, após a Chacina de Angico,
na Fazenda Coruripe, nos arredores da sede de Poço Redondo. O companheiro da
também poço-redondense Adília, foi morto à traição, com um tiro pelas costas,
desferido pelo também cangaceiro Penedinho (que era primo de sua companheira
Adília). Mesmo tendo sido morto tão próximo da sede, jamais teve digno
sepultamento. Sua cabeça foi posteriormente decepada e levada por Zé Rufino
(comandante de volante sediado na baiana Serra Negra), e o restante do corpo
enterrado acerca de cem metros do local da traição.
Rosinha, no
contexto cangaceiro mais conhecida como Rosinha de Mariano, havia nascido na
região poço-redondense da Maranduba, sendo filha da afamada família Soares,
irmã da também cangaceira Adelaide e prima de Áurea de Mané Moreno (o da
Bahia). Após a morte de seu companheiro, Rosinha pediu permissão para se
afastar temporariamente do cangaço. Permissão concedida, mas não retornou no
prazo dado pelo Capitão. Após seu intempestivo retorno, sua sina já estava
traçada: seria morta. A incumbência foi dada aos cangaceiros Zé Sereno, Juriti,
Balão e Vila Nova. Assim, ao lado do Coito da Pia das Panelas, nas beiradas do
Riacho Quatarvo, na região das Areias, em Poço Redondo, a cangaceira tombou sem
vida.
Por sua
vez, Mergulhão (Gumercindo Braz, irmão da cangaceira Sila e também dos
cangaceiros Novo Tempo e Marinheiro, filhos de Paulo Braz São Mateus), Elétrico
(filho de Pedro Miguel), Moeda (João Rosa, da região da Guia), Alecrim (José
Rosa, irmão de Moeda) e Enedina (Enedina do Nascimento, esposa do também
cangaceiro Cajazeira), todos estes foram mortos na Chacina do Angico de 38, nas
beiradas poço-redondenses do São Francisco, na região ribeirinha do Cajueiro. E
todos, tão próximos de suas moradias e de suas famílias, mas tão distantes de
qualquer retorno, tombando sem vida no próprio chão onde um dia nasceram.
Os túmulos destes,
contudo, jamais foram abertos em cemitérios locais. Alguns, como Canário
(enterrado sem a cabeça) e Rosinha, sepultados na solidão do meio das matas
fechadas, espinhentas, assim como foram suas vidas nas desvalias cangaceiras.
Já outros, aqueles do Angico, enterrados ao desvão do tempo, tiveram suas
cabeças cortadas e levadas como provas da derrocada de Lampião. E de um Cangaço
que jamais foi vencido.
Em meio a tantas notícias péssimas, chega alguma coisa mais agradável aos sentidos sertanejos: a verba para dá continuidade às obras do Canal do Sertão, maior obra hídrica de Alagoas. Iniciado no município de Delmiro Gouveia o canal é planejado para percorrer 250 quilômetros, de Delmiro a Arapiraca, isto é, passando pelo Sertão e entrando no Agreste. Foi dividido em oito trechos, dos quais três deles já estão funcionando plenamente, de Delmiro Gouveia a São José da Tapera, trechos I ao IV, com 123 km, sendo beneficiadosalém de Delmiro, Água Branca, Pariconha, Mata Grande, Canapi, Inhapi, Olho d’Água do Casado e Piranhas. Foram registradas mais de 500 captações para atividades pecuárias e comunidades rurais. Essas são informações do Ministério do Desenvolvimento Regional encontradas no site Sertão na Hora.
(CRÉDITO: MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO REGIONAL).
Devido a grande importância da obra, achamos que as informações do andamento dos trabalhos – sonho e luta de mais de 40 anos – precisaria estar sempre na pauta das divulgações. Acontece tanto tempo de silêncio sobre o tema levando tudo para um esquecimento temporário que parece esfumaçado o projeto de redenção. Somente quem vive no semiárido compreende a importância desse trabalho que orgulha a engenharia brasileira. A realidade já apresentada é coisa fantástica com suas pontes, túneis, passarelas e extensão. Caso seja administrado com a competência que exige uma das maiores obras do mundo, o Canal do Sertão irá transformar aquele pedaço de Nordeste sofrido em “Terra de Leite e Mel”.
Alagoas recebeu agora, uma parcela de 36,04 milhões para a continuidade dos trabalhos, diz a divulgação. Passou voando por Santana do Ipanema que não foi contemplada em suas terras com essa extensão do “Velho Chico”. Não houve luta de políticos santanenses para defender sua inclusão na obra. Isso, porém, é passado e o importante é que muitos outros municípios do alto sertão e da Bacia Leiteira foram incluídos. Esperamos que no final dos trabalhos a convivência com as secas ocasionais seja até motivo de orgulho e contentamento da fibra sertaneja, da raiz blindada e persistente por um futuro poderoso.
Gravado aproximadamente no ano 2000, quando dona Antônia contava com 98 anos. Graças ao amigo e pesquisador João de Souza Lima conseguimos esse depoimento. Aqui uma pequena parte desse registro.
Antônia Pereira da Silva foi
casada com o cangaceiro Gato e ambos eram índios descendentes da tribo
dos Pankararés.
Anos após o casamento com Antônia Gato resolveu carregar a índia Inacinha que era prima de
Antônia, e fez a proposta de ficar com as duas, mas Antôni não aceitou e por ele foi espancada violentamente por ter recusado a proposta sem graça do seu marido.
Prejudicada Antônia conta ao chefe maior do cangaço Lampião que diante da sua confissão prometeu falar com Gato. Os dias foram se passando e Lampião não resolveu. Ela não esperou e fugiu do coito à noite enquanto todos dormiam, e foi se refúgiar na casa de um tio patenteado capitão reformado da polícia, que residia na margem do Rio São Francisco no lado baiano, e ficou com ele até o término do cangaço.
Essa
entrevista foi feita por mim no dia 14 de outubro de 2017, na cidade de
Nazaré do Pico em Pernambuco, por ocasião das comemorações de 100 anos da
cidade. O Senhor Pedro Ferreira, fala-me da visita que o irmão de Lampião
Ezequiel Ferreira, na cidade de Serra Talhada, para tirar documentos.
O escritor do
livro LAMPIÃO A RAPOSA DAS CAATINGAS, José Bezerra Lima Irmão, nos faz um
relato detalhado desse episódio. Ele nos diz:
Para os
leitores do Diário de Notícias, A Tarde, A Noite e Diário de Pernambuco, que
não perdiam os relatos dos feitos de Lampião, 1931 estava sendo um ano
"morno". A impressão que se tinha era de que não acontecia quase
nada. Nas feiras, os cantadores e violeiros só falavam em Maria Bonita. Mas, na
verdade, muita coisa estava acontecendo. A polícia é que tinha perdido o
entusiasmo, alegando falta de verbas para continuar a campanha. Limitava-se a
traçar planos para extinguir o cangaço. Em virtude disso, os informes passados
à imprensa rareavam. Porém, nas caatingas, Lampião continuava em plena
atividade. Três fatos marcaram aquele ano na história do cangaço: a admissão de
mulheres no bando de Lampião, a morte de Ezequiel Ferreira e o esquartejamento
de Herculano Borges. Dos homens, Ezequiel Ferreira da Silva era o irmão mais
novo de Virgulino. Era um rapaz moreno-claro, simpático e brincalhão. Quando os
manos mais velhos — Antônio, Livino e Virgulino — viraram cangaceiros, nos
episódios que culminaram com a morte do pai, Ezequiel era um menino de apenas 9
anos. À. época, ficou com as irmãs solteiras, sob os cuidados de João Ferreira,
o único dos adultos que não entrou no cangaço, se bem que pretendesse, pois
Lampião decidiu que alguém tinha que se manter na legalidade para cuidar da
família. Depois, em 1927, em face das perseguições sofridas pelos Ferreira,
Ezequiel resolveu ser também cangaceiro. Tinha então 15 anos de idade. Lampião
relutou, mas acabou cedendo. Quando Ezequiel entrou no bando, havia morrido um
cangaceiro apelidado de Ponto Fino e, como de costume, o novato ficou com o apelido
do finado. Os autores se repetem dizendo que esse apelido era devido à precisão
da pontaria de Ezequiel, considerada infalível. Muito pelo contrário, Ezequiel
nunca se distinguiu como atirador. Não se sabe de nenhuma morte atribuída a
ele. Era um cangaceiro discreto, comedido. Atuava mais como guarda-costas de
Lampião, quando este precisava fazer alguma coisa fora do olhar dos outros ou
resolvia tirar um cochilo, deixando Ezequiel de prontidão. Não se prevalecia do
fato de ser irmão do chefe para obter vantagem de qualquer espécie. Ocupava um
lugar indeterminado na hierarquia do bando, já que o homem forte, depois de
Lampião, era o cunhado, Virgínio, conhecido como Moderno, e as grandes
atribuições eram confiadas a Luís Pedro e Mariano. Essa postura de Virgulino
talvez fosse uma forma de preservar o caçula.
A
"morte" de Ezequiel e a sua aparição em Serra Talhada Como tempo, a
versão da fuga passou a ser ridicularizada porque tudo ficava por conta de
boatos e conjeturas. Mas foi então que se verificou um fato que reacendeu a
hipótese da fuga: em novembro de 1984, um homem já idoso, de 70 para 80 anos de
idade, residente no Piauí, chegou a Serra Talhada para tirar os documentos a
fim de se aposentar. Ele procurou a casa de Genésio Ferreira, primo de Lampião,
e apresentou-se: — Geneso, eu sou seu primo Ezequié. Genésio Ferreira
assustou-se: — Ezequiel? O irmão caçula de Lampião? — É, sou eu — confirmou o
homem. — Eu fui dado cumo morto, mais aquilo foi um jeito qui meu irmão deu pra
me tirá daquela vida. E se aperpare pra iscutá mais: Lampião tamém tava vivo
até treis ano atrais. Depois eu lhe conto tudo direitim. Vim aqui purgue tou
quereno me apusentá e nun tenho documento nlhum. Nun sou nem registrado. Vim
aqui pra me registra. Genésio Ferreira tinha visto Ezequiel quando garoto. Não
havia como saber se aquele era de fato seu primo, dado como morto fazia mais de
cinquenta anos. Genésio começou a fazer perguntas sobre coisas do passado,
envolvendo a família, os lugares. O homem lembrava-se de episódios familiares,
citava nomes, descrevia a forma das casas, as estradas...
Genésio foi com o
sujeito ao cartório de registro civil e expôs o fato. O tabelião recusou-se a
fazer o registro. Disse que só podia registrá-lo se o juiz autorizasse. Foram
ao juiz. O Dr. Clodoaldo Bezerra de Souza e Silva, juiz de direito da comarca
de Serra Talhada, impressionado com a história, mandou chamar antigos moradores
da cidade, dos tempos da gloriosa Vila Bela. Conversou com pessoas da família
Godoy, pois o estranho personagem dizia que seu padrinho era Quinca Godói
(Joaquim Godoy). Ao final, convencido de que aquele senhor falava a
verdade, o juiz autorizou o registro.2118 Ezequiel passou cerca de vinte dias
na casa de Genésio Ferreira, na Rua Agostinho Nunes Magalhães. Várias
personalidades importantes da cidade estiveram com ele: o monsenhor Jesus
Garcia Riallo (que foi vigário de Serra Talhada por mais de meio século), o
padre Afonso de Carvalho (da paróquia de Nossa Senhora do Rosário), o médico
Dr. Elias Nunes, o tabelião e vereador Luiz Andrelino Nogueira, o ex-prefeito
Luiz Conrado de Lorena e Sá (Luiz Lorena), o agricultor Luiz Alves de Barros
(sobrinho de Zé Saturnino) e o tenente João Gomes de Lira, de Nazaré,
ex-soldado de volante. De todas as pessoas com quem ele conversou, três merecem
destaque neste caso. Uma é Luiz Alves de Barros, o famoso Luiz de Cazuza,
companheiro de infância de Ezequiel na Serra Vermelha. Antes das desavenças dos
Ferreira com os Saturnino, as duas famílias eram amigas, moravam vizinhas. Luiz
de Cazuza e Ezequiel eram quase da mesma idade.
Acompanhado de Genésio
Ferreira, no dia 26 de dezembro de 1984 Luiz de Cazuza conversou durante mais
de quatro horas com o estranho personagem. José Alves Sobrinho, filho de Luiz
de Cazuza, escreveu um livro em que aborda a questão havida entre Lampião e Zé
Saturnino, no qual há um capítulo com a descrição do encontro de seu pai com o
tal indivíduo. Luiz de Cazuza conversou com o forasteiro sobre vários fatos da
infância: quem estava presente em determinados eventos, quem morreu, como foi
programado o cerco da fazenda Pedreira, como foi que Lampião atacou e queimou a
casa-grande da fazenda Serra Vermelha. O homem se recordava de muitos detalhes,
e em relação a outros alegou que não se lembrava mais. José Alves considera
razoável o esquecimento, haja vista tratar-se de um homem com idade bastante
avançada." Luiz de Cazuza deu um depoimento, gravado em videocassete, aos
pesquisadores Paulo Medeiros Gastão, presidente da Sociedade Brasileira de
Estudos do Cangaço (SBEC), e Aderbal Nogueira. Alcino Costa assinala que
naquele depoimento existem "pelo menos dois preciosos detalhes que
comprovaram ser aquele senhor do Piauí, sem sombra de dúvidas, o próprio
Ezequiel, em carne e osso. [...] Em dado momento o forasteiro perguntou a
Cazuza se ele tem lembrança do encontro que o mesmo tivera com Lampião na
Cacimba do Gado, no ano de 1927, e, como querendo refrescar a memória do velho
caboclo, diz que naquele dia estavam presentes dezessete cangaceiros, dentre os
quais Mourão, Sabino, além dele e Antônio, o outro irmão. Perguntou a Luiz
Cazuza se ele tem lembrança do episódio dos dois pares de alpercatas
encomendadas por Lampião e Sabino e que ficaram guardados por mais de cinco
meses na casa de uma senhora dali do São Domingos e que naquele dia as mesmas
foram entregues aos bandoleiros". Alcino Costa conclui: "Estas
minuciosas particularidades desvaneceram as dúvidas de seu Luiz que ficou
convicto de que aquele homem era realmente o mano mais novo de Lampião".
A segunda
pessoa cujo testemunho merece destaque é Luiz Lorena, que foi quatro vezes
prefeito de Serra Talhada, considerado a "história viva" da cidade.
Conhecedor da história do cangaço, Luiz Lorena fez várias perguntas ao referido
senhor sobre combates travados por Lampião nos quais Ezequiel, o Ponto Fino,
estava presente. O sujeito narrava os fatos, dando detalhes: a hora do combate,
quem morreu, para onde o bando foi depois... Ele conhecia todos os caminhos que
ligavam as fazendas da beira do Riacho São Domingos. Falava de antigos
moradores. Perguntava: "Sabe de fulano de tal? Ele ainda mora em tal
lugar?". Luiz Lorena dizia: "Não posso afirmar que aquele sujeito era
Ezequiel, mas, se era um impostor, tinha decorado tudo e sabia representar bem
o seu papel terceira é o tenente João Gomes de Lira, um dos famosos
"Cabras de Nazaré", que pelejou nas volantes de Manoel Neto e de Davi
Jurubeba. João Gomes é autor de um livro que constitui referência indispensável
para todos os pesquisadores do cangaço. Quando a obra estava pronta para
publicação, ocorreu o encontro do autor com o homem que se dizia irmão de
Virgulino. João Gomes acrescentou então um capítulo final, relatando a história
contada pelo suposto Ezequiel. João Gomes expõe a celeuma que houve em Serra
Talhada quando o povo soube da presença de Ezequiel na cidade, todo mundo
querendo ver o ex-cangaceiro. Uns afirmavam que aquele era mesmo Ezequiel,
outros ponderavam não ser possível, pois Ezequiel morrera na Bahia, outros
diziam que o homem não parecia com os membros da família Ferreira. Os parentes
ficaram em dúvida, pois as informações que tinham era de que Ezequiel havia
morrido na Bahia em 1931. João Gomes conclui que, embora muita gente ficasse em
dúvida, "Chegaram à conclusão de que, na realidade, era mesmo Ezequiel,
quando aos poucos foi ele se identificando, como seja procurando por pessoas da
região se ainda eram vivas ou mortas. Como também procurava saber se em
determinados lugares ainda existiam velhas árvores, como procurou saber se, no
terreiro da casa em que residiu seu velho José Ferreira, no lugar Poço do
Negro, ainda existia um pé de umbuzeiro-cajá; na realidade lá está o frondoso
pé de umbuzeiro. Foi assim chegando na mente daquela gente que na realidade era
mesmo o Ponto-Fino".
Segundo João Lira, desapareceram todas as dúvidas
quando o homem passou a relatar os fatos e a expor o motivo de ter abandonado o
cangaço. Aquele era Ezequiel. Não fosse ele, como seria possível uma pessoa
residente no Piauí saber daquelas coisas?
Esse indivíduo
foi entrevistado por Hilário Lucetti e Magérbio de Lucena, autores de Lampião e
o Estado-Maior do Cangaço. Ele assegurou ser o irmão mais novo de Lampião. Os
autores perguntaram por que era que todo mundo dizia que ele tinha morrido na
Bahia em 1931, e "Ele respondeu que tudo era mentira, que o irmão tinha
inventado a estória prá ele poder sair do cangaço". Porém os citados
pesquisadores se desinteressaram pelo caso porque o velho, ao ser
"Inquirido sobre o nomes dos seus pais, respondeu errado", e "Disse
ainda ter tido 3 irmãos e 3 irmãs, o que não é verdade". Além disso, ele
errava os nomes dos irmãos, fantasiava a descrição dos combates e citava
cangaceiros que não foram seus contemporâneos. Hilário e Magérbio, apesar de
admitirem que o homem "tinha mais ou menos a mesma idade e aparência
fisica" que teria Ezequiel se fosse vivo, consideram que "na verdade
era uma farsa, não se sabe com que finalidade, pois não havia dinheiro na
estória, nem estava muito interessado em promover-se". Os citados
pesquisadores consideram que os familiares de Lampião "acreditaram
realmente tratar-se do primo" por nada saberem sobre a vida do parente
depois que ele foi embora, ainda menino. Hilário e Magérbio concluem dizendo
que aquele homem "Morreu certo que era Ezequiel Ferreira, o irmão mais
novo de Lampião".
Não obstante
seus inegáveis conhecimentos sobre o cangaço, Hilário e Magérbio interpretaram
mal as respostas daquele cidadão. Eles fizeram perguntas a um velho sobre
coisas de sua infância e juventude. Após a morte de seus pais, a família andara
de déu em déu. Ele não tinha nada anotado, pois era analfabeto. A rigor, suas
respostas eram mais que razoáveis, pelo seguinte: Hilário e Magérbio
consideraram que ele "respondeu errado" os nomes dos pais. Ora, como
é que ele respondeu errado, se ninguém, nem mesmo o mais perspicaz estudioso do
cangaço, sabe ao certo como eram os nomes dos pais de Lampião? Basta notar a
divergência entre os dados da certidão de casamento em cotejo com as certidões
de nascimento dos filhos. José Ferreira ora aparece como "dos
Santos", ora como "da Silva", ora como "de Barros", e
sua esposa, que devia chamar-se Maria Vieira Lopes, ora aparece corno Maria
Sulena da Purificação (registro civil de nascimento de Virgulino), ora como
Maria Vieira da Solidade (batistério de Virgulino), ora como Maria Santina da
Purificação (batistério de Livino), ora como Maria Vieira do Nascimento
(certidão de casamento religioso). Quanto aos nomes dos irmãos, é provável que
em casa todos fossem tratados apenas pelos prenomes e apelidos. Ezequiel não
tinha como saber ao certo os nomes completos dos irmãos, pois nem mesmo estes
sabiam. Virgulino, por exemplo, que foi registrado simplesmente como
"Virgolino" (sem sobrenome), tirou o título de eleitor com o nome de
Virgulino Lopes de Oliveira. Durante algum tempo, se assinou Virgulino Ferreira
dos Santos, até se decidir por Virgulino Ferreira da Silva. Ezequiel certamente
não sabia o nome verdadeiro de Mocinha.
Como Ezequiel
não sabia assinar o nome, quem assinou por ele foi João Soares de Souza, tendo
como testemunhas Genésio Ferreira Lima e Luiz Andrelino Nogueira (que era o
tabelião público).
Fonte da matéria: LAMPIÃO a raposa das caatingas de José Bezerra Lima Irmão.
Quando Lampião
retorna de Mossoró, RN, para a região do Pajeú das Flores, com pouca gente, em
pouco tempo tem que tocar a mula para terras baianas. As baixas sofridas em
território potiguar, mais propriamente no ataca a cidade, não foram tantas,
porém foram significativas por ter sido dois dos melhores homens que combatiam
ao seu lado.
Lampião
sozinho não era nada em relação ao assombro que seu bando causou nas pradarias
sertanejas. Sempre tendo ao seu lado homens de têmpera forjada a coisa ficou da
maneira que vemos. Em sua saga vemos que, antes de 1928, os cangaceiros
Esperança, Vassoura, Jararaca, Meia Noite e Sabino das Abóboras fizeram parte
do sustentáculo do bando em anos e épocas distintas. Perdendo-os a coisa fica
sem a fortaleza natural que eles faziam em seu derredor. Fragilizada sua força
maior, parte para terras distantes de seu torrão natal com apenas cinco homens,
Luiz Pedro, Mariano, Moderno, Ponto Fino e Mergulhão. Desses, apenas quatro
sabemos serem arrochados e que participaram de inúmeros combates dando
sustentáculo e proteção ao “Rei”.
Por Traz: Antônio do
Gelo e Livino Ferreira. Na frente, Virgolino e Antônio Ferreira.
O tempo passa,
a Revolução de 1930 estoura e Lampião, aproveitando o ensejo, dá um pulinho em
Pernambuco, mais precisamente no município de Floresta, a fim de acabar com a
vida de alguns inimigos. Não tendo o êxito esperado retorna à Bahia.
Nos anos
vindouros, sequência da década de 1930, Virgolino consegue a adesão de alguns
‘cabras’ de têmpera forte como Gato, Mané Moreno, Zé Baiano, Quinta Feira e
Juriti. Fora esses, também fizeram parte do bando Corisco, Labareda, Português
e Zé Sereno dentre outros. Cada um desses tinham lá suas linhas a seguirem sem
serem totalmente adeptos ao “Rei”.
Corisco tinha
sua maneira e forma de agir dentro de um território quase que exclusivamente
seu e na maioria do tempo estava longe do ‘cumpadre’ só vindo de vez em guando
quando convocado era.
Labareda,
apesar de ter entrado no cangaço exclusivamente pela fuga, para proteger-se sob
os braços de Lampião, não conviveu diretamente, por muito tempo, e lascou-se de
mata adentro com seus homens, isolando-se.
Português não
tinha coragem para nada, era um covarde nato, vivia a sombra da coragem e
valentia dos seus ‘cabras’ vivendo de migalhas.
Por fim, Zé
Sereno que não vemos tanta têmpera nem destaque em sua jornada como chefe de
subgrupo, pelo contrário, também mostrou covardia e sua força resumia-se apenas
em sobreviver seja lá do jeito que fosse.
Pois bem, de
1933 a princípios de 1938 o “Rei do Cangaço” perdeu, novamente, seu Estado
Maior. Homens fortes, valentes e que sempre seguraram as pilastras de seu
‘reinado’ sucumbiram na senda da guerra como fora o caso de Gato, Mariano,
Mergulhão, Mané Moreno, Zé Baiano juntamente com os homens que os mesmo
comandavam. Não houve mais tempo para que recoloca-se, ou repusesse, ‘peças’
equivalentes em seu contingente particular, pois a morte vagava a galope em seu
encalço.
No fim do
primeiro meado de 1938, fora poucos homens de sangue no olho, por volta de três
‘cabras’, como Luiz Pedro, Juriti e Quinta Feira, não havia outros para darem a
devida proteção ao cangaceiro mor.
Há muito que
as arestas do cangaço vinham sendo ‘aparadas’ pelas Forças Públicas de vários
Estados da Região Nordeste. Essas ações ficaram mais acirradas e constantes
após a implantação do Estado Novo pelo então Presidente da República Getúlio
Vargas. Com a ordem vinda de cima, Palácio do Catete, a coisa ficou sem
condições para aqueles colaboradores de classes econômicas e sociais mais
elevadas darem seu apoio e retirarem seu ‘quinhão’.
No decorrer do
temo o arrocho foi apenas aumentando e eles debandaram. O fornecimento e
informações para Lampião quase que pararam. Aos poucos, Lampião foi ficando
encurralado, tanto que nos últimos meses de seu cangaço restringira-se as
divisas dos Estado da Bahia, Alagoas e Sergipe, as quais são próximas e até
conjuntas em determinados locais.
O que
aconteceu no amanhecer do dia 28 de julho de 1938, uma quinta-feira, foi apenas
o desfecho de uma consequência iniciada há vários anos antes.
Graças à mediocridade-plural.blogspot.com.br (Laélio Ferreira). Currais Novos
na vida de Chico Pereira
“Desde o dia em que um desconhecido foi morto pela polícia na estrada de
Currais Novos, espalhou-se pelo sertão, vaga mas persistente, a suspeita de que
ali morrera outro que não Chico Pereira”.
(Padre Pereira – Vingança, não!).
Derna do tempo d'eu menino”, quando a escritora pernambucana Aglae Lima de
Oliveira respondia sobre “Lampião” no Programa J. Silvestre, na extinta TV
Tupi, que eu comecei a me interessar, a ler e a pesquisar sobre o cangaço – e
isso já vão mais de 30 anos.
Tempos depois,
ao passar pela BR 226, quase a entrada da cidade, deparei-me com um cruzeiro
erguido para sinalizar o local onde morreu o cangaceiro paraibano Chico
Pereira. Depois disso, ao visitar o Museu do Acari (onde funcionou a antiga
Cadeia Pública), vi a foto do citado cruzeiro, com uma outra foto de Chico
Pereira, aí comecei a nutrir a curiosidade de ler o livro “Vingança, não! -
Depoimento sobre Chico Pereira e Cangaceiros do Nordeste”, 5ª ed. Rep's Gráfica
e Editora – João Pessoa / PB – 2004, de F. Pereira Nóbrega (Padre Pereira),
filho do cangaceiro Chico Pereira, que naquele quase amanhecer do dia 28 de
outubro de 1928, pereceu macabramente, exatamente no KM 177 da hoje rodovia BR
226, próximo a cidade de Currais Novos, pelas mãos de uma escolta policial, que
tinha no comando nada menos do que o famigerado então Tenente Joaquim de Moura.
A escolta era
ainda composta pelo sargentos Luís Auspício e Feliciano Tertulino, sendo o
“chofer” o sargento Genésio Cabral de Lima. O livro citado, na época, era
difícil, pois até hoje só foram feitas cinco edições do mesmo, e é esta última
que encontra-se em minhas mãos hoje, que me foi entregue pelas mãos de um
companheiro também pesquisador, a quem agradeço que, dia 08 de Janeiro,
colocou-lhe sobre a minha mesa, no Detran. Ali estava mais de 20 anos de
espera, por aquele que, um dia, seria o delator da verdadeira história da morte
do cangaceiro Chico Pereira, nos “aceros” de Currais Novos.
A história se
inicia quando Chico Pereira, paraibano de Sousa, já envolvido numa questão de
vingança familiar e já andando debaixo da “canga”, é acusado – injustamente,
segundo relatos da época – de ter, junto com um pequeno bando, assaltado uma
propriedade, na Rajada, de Joaquim Paulino de Medeiros, o legendário coronel
Quincó da Ramada. Chico foi preso na Paraíba e recambiado para a detenção de
Natal, onde responderia juri no Acari.
No dia 28 de
Outubro de 1928, a escolta que o recambiava algemado para o Acari, comandada
pelo Tenente Joaquim de Moura, estanca a poucos quilómetros da entrada de
Currais Novos, numa parte da estrada de terreno elevado, tirando-o da
carroceria e o golpeando a coices de fuzil. Já no chão, ferido de morte, o
Tenente Moura ordena ao sargento Genésio para precipitar o carro sobre o corpo
de Chico Pereira, numa altura de alguns metros, o que fez com que o corpo fosse
esmagado em algumas partes (cabeça e abdómen).
Os participantes
da escolta passaram então a ferirem-se mutuamente, para fazerem crer que
realmente tinham sido vítimas do desastre que vitimou fatalmente somente o
preso. Enquanto eram “atendidos” em Currais Novos, o corpo de Chico Pereira era
levado para a Cadeia, na então Rua do Rosário (hoje Vivaldo Pereira), onde
permaneceu exposto á visitação pública até a hora do seu sepultamento, que
ocorreu lá pelas 21 horas, no Cemitério Público de Santana, em cova hoje não
mais identificada.
A verdade é
que Chico Pereira jamais havia posto os pés em Currais Novos, e quando o fez
foi tão somente por alguns minutos, que separaram a sua vida da sua morte.
Pisou no solo curraisnovense o tempo necessário para permanecer de pé e receber
as coronhadas de fuzil que o vitimou e ser também vítima de um plano macabro, e
por que não dizer “político”.
O advogado de
Chico Pereira, em Natal, era ninguém menos do que João Café Filho, o criador de
dezenas de sindicatos na capital, e que por isso ganhou a pecha de “comunista”.
Era plano de Café Filho acompanhar a escolta, de seu carro, de Natal ao Acari,
para assim ter certeza da integridade física do seu constituído. Mas, uma
pessoa do seu relacionamento, alertou-o: “Se a polícia vai mesmo matar Chico
Pereira, pelo caminho, não vai deixar testemunhas sem farda. Na certa você
morrerá também”. Café então retornou para Natal.
No dia
seguinte, lá pelas 10 horas da manhã, recebe telegrama narrando-lhe o
“desastre” e a morte “acidental” do seu constituído. O Tenente Moura era
“pau-mandado”, como se dizia, do governo do estado, que tinha Juvanal Lamartine
no poder. O coronel Quincó era gente grande no dinheiro e na política regional,
influente nas eleições de voto de cabresto e possuidor de curral eleitoral
nutrido. Por isso, gente grada aos interesses da burguesia instalada no comando
do poder estadual.
Mas, se a morte
de Chico Pereira se deu, involuntariamente, em Currais Novos, a do Tenente
Joaquim de Moura, por ironia do destino, também. Anos mais tarde, já nos anos
40, o já então Coronel Joaquim de Moura vem a Currais Novos, sob pretexto de
participar de uma festa numa fazenda avizinhada á cidade. Mas o verdadeiro
motivo da estada do coronel Moura em Currais Novos, segundo me relatou o
saudoso Euzébio Hipólito de Azevedo, carnaubense, octogenário, que conheceu o
Coronel Joaquim de Moura de perto e privou de sua amizade, que o motivo da sua
vinda a Currais Novos era para se “acertar” com uma certa mulher – casada –
oriunda de uma família “importante” do município, que havia tido um caso com
ele na capital.
Como o coronel
apaixonou-se pela tal mulher, veio disposto a tudo, até ameaçando matar o
marido dela, caso ela não aceitasse juntar-se a ele. Pela tarde, o coronel
Moura sente-se mal e é acometido de um ataque cardíaco, vindo a falecer.
Contou-me ainda Euzébio que, seu corpo foi vestido com a farda da Polícia -
mandada buscar em Natal ás pressas - numa casa de esquina, que depois pertenceu
a Severino Maroca, na atual Rua Dix-Sept Rosado (hoje residência de Maria José
Mamede Galvão). O destino fatal uniu as duas personagens: Chico Pereira e
Joaquim de Moura. Vítima e algoz, ambos finando-se em Currais Novos, em épocas
diferentes, numa cidade em que ambos não tinham a menor relação.
O capítulo que
trata da morte de Chico Pereira, em Currais Novos, é intitulado “O Morto que
Ninguém Chora”, e é escrito de uma forma, digamos, poética, dada a verve do
autor, que não conhecia Currais Novos, mas a descreveu tão bem, como resultante
dos depoimentos, que mais parecia um curraisnovense contemporâneo dos fatos,
descrevendo a vida e os costumes da nossa comuna, naquele distante e fatídico
1928.
Quem passa
diariamente por aquele trecho da Maniçoba, talvez não perceba esta capelinha lá
existente, a esquerda da Rodovia BR 226, sentido Currais Novos-Natal. Foi o
exato local que o cangaceiro Chico Pereira foi assassinado quando vinha
responder júri no Acari. E o pior é que Chico Pereira morreu inocente, pois
nenhum crime seu foi constatado pela justiça norte-riograndense.
*Volney Liberato é filho de Currais Novos, Seridó - RN. Bacharel Bacharel em Administração pós-graduado pela UFRN; repórter pela Oficina de Jornalismo "Genival Rabelo"; pesquisador do cangaço, história regional e cultura popular.
Novamente o mestre das imagens, Aderbal Nogueira, nos brinda com mais um momento ímpar de uma de nossas edições do Cariri Cangaço. Desta vez Aderbal nos traz "recortes" da noite de abertura do Cariri Cangaço 2010 em Crato com a Conferência de Antônio Amaury Correa de Araujo contando com uma mesa composta ainda pelos pesquisadores Ivanildo Silveira, o próprio Aderbal, Lemuel Rodrigues e Honório de Medeiros. Logo após a conferência daquela noite houve debate envolvendo vários pesquisadores de todo o Brasil, com destaque para Alcino Alves Costa, Rostand Medeiros e Alfredo Bonessi, essa noite marcou ainda homenagem prestada pelo escritor João de Sousa Lima, ao conferencista da noite, Antonio Amaury Correa de Araujo. Antes de dá inicio a palestra foi apresentado um vídeo mostrando várias imagens da vida do escritor paulista e ao final foi entregue ao mesmo uma Placa Comemorativa por seus mais de 50 anos dedicados ao estudo e pesquisa da temática cangaço.As boas vindas foram do curador do Cariri Cangaço, Manoel Severo Barbosa.
Para Relembrar
Noite de Abertura do Cariri Cangaço 2010
17 de agosto de 2010, Salão de Atos da URCA, Crato-CE
O Cariri
Cangaço é uma "Marca Registrada" do Instituto Cariri do Brasil;
instituição privada sem fins lucrativos, de personalidade jurídica com sede e
foro na cidade de Fortaleza no Estado do Ceará.
O Cariri Cangaço é um evento de
cunho turístico-cultural e histórico-científico que reúne alguns dos mais
destacados pesquisadores e historiadores das temáticas; cangaço, coronelismo,
misticismo, messianismo e correlatos ao sertão e ao nordeste do Brasil,
configurando-se em seu décimo ano de realização, como o maior e mais
respeitado evento do gênero no país. Conheça de perto o Cariri Cangaço !!!